Theatro:
Fernanda Quinderé e Ricardo Guilherme
Terça, 29, homenageamos [o Autor se refere ao Shopping Benfica] o Theatro José de Alencar, esse empreendimento cultural grandioso, concluído do ano 10 do século passado, com visão de futuro, que registra em sua mudez férrea todos os eventos ali acontecidos. Cada uma das suas cadeiras renovadas significa, pelo menos, uma encenação ali realizadas. As balaustradas que faceiam os camarotes dos pisos superiores abrigam, sorrateiramente, vultos de grandes diretores, atores e atrizes que ali mostraram as suas farsas realísticas. Poderemos, ao fechar os olhos, ver, entre outros, Carlos Câmara, Eduardo Campos, Nadir Papi Sabóia, Paurilo Barroso, Cacilda Becker, Walmor Chagas, Eva Tudor, Emiliano Queiroz, Aderbal Freire Jr., Haroldo Serra, Hiramisa Serra, Procópio Ferreira, Chico Anysio e muitos outros.
Não importa que naquela boca de cena tenham montado tragédias, comédias ou sátiras, importa a inscrição desses acontecimentos na memória coletiva do fortalezense. Todos reconhecemos o Theatro, com “h”, como a nossa principal casa de artes.
Era para lá que ia, pixote ainda, para descobrir o mundo das artes. Foi lá que colei grau universitário, pela primeira vez... Mero registro de velha ternura, que é de todos nós, especialmente dos que escrevem, produzem, dirigem, iluminam e encenam.
Aos que o dirigem, nesta data, o cêntuplo Theatro José de Alencar, a homenagem de todos nós, os fortalezenses, mortos ou vivos, que, nestes cem anos, sentaram, essencialmente, nas velhas cadeiras de palhinha.
O Theatro José de Alencar, aos cem anos, ainda carece de público mais qualificado. Sei que é duro. Os que vivem do palco sabem disso. A educação de um povo o faz reconhecer a cultura, em todas as formas. O teatro, como instituição, possui a função e a capacidade de formar público e isso se atribui às lutas incessantes de seus dirigentes, autores, diretores, atores e atrizes que criam, ensinam e atuam de forma fingida a realidade encapsulada em seus atos sequenciados.
Dizia Stanislavski, grande diretor de teatro russo, para os atores que conduzia: “aprendam a amar a arte em vocês mesmos, e não vocês mesmos na arte”. A sutileza de Stanislavski é o imã que reata a graça e o talento dos que mourejam nos palcos teatrais.
Homenageamos, de forma extensiva, a todos os atores e atrizes que, ansiosos, no backstage do José de Alencar, esperaram ou esperam a abertura das pesadas cortinas que os fazem deixar de ser o que foram ou são para encarnar personagens diversos dos dramas reais que possam estar vivenciando. Eles foram representados por Fernanda Quinderé e Ricardo Guilherme, cada um com suas especificidades, evocam lembranças, de um lado, Nadir Papi Sabóia e, do outro, o grande B. de Paiva, ícone vivo de todos.A homenagem que fizemos a Ricardo Guilherme, por seus 41 anos de teatro, como autor, ator, diretor teatral e fundador do dito teatro Radical, e à Fernanda Quinderé, atriz, escritora e apaixonada por teatro, que completa 60 anos de muitas ribaltas, e que deu ao Brasil um dos seus maiores iluminadores, Maneco Quinderé, foi simples, mas significou o reconhecimento dos que, sentados, como espectadores, sabem dos esforços dessa classe tão distinguida para concorrer com a comodidade movediça e malsã das novelas de televisão e das peças aligeiradas de atores televisivos da moda que infestam teatros pelo Brasil afora.
À Fernanda Quinderé e Ricardo Guilherme, o nosso sincero reconhecimento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário