domingo, 28 de setembro de 2014

Rádio AlmanaCULTURA: "Naila", com Lila Downs

Naila
Para assistir ao vídeo (Lila Downs) e ouvir a música, acesse:
https://www.youtube.com/watch?v=WXSzTjXH3Lg#t=160


En una noche de luna
Naila lloraba ante mi.
Ella me hablaba con ternura.
Puso en mis labios su dulzura.
Yo le decia porque lloraba
Y ella me contesto asi:
Ya me embriagué con otro hombre,
Ya no soy Naila para ti.
Ya me embriague con otro hombre,
Ya no soy Naila para ti.
Naila, di porque me abandonas?
Tonta, si bien sabes que te quiero?
Vuelve a mi, ya no busques
Otros senderos,
Te perdono, porque sin tu amor
Se me parte el corazón.

Naila, di porque me abandonas?
Tonta, si bien sabes que te quiero?
Vuelve a mi, ya no busques
Otros senderos,
Te perdono, porque sin tu amor
Se me parte el corazón.


sábado, 27 de setembro de 2014

"De Pedra", de Raymundo Netto para O POVO


Mesmo não suportando a loucura da mulher, vê-la partir lhe seria impossível.
Uma noite, durante angustioso jantar, a dopou. Tomou-a adormecida e a levou para o mato, quase em frente à lagoa, ainda visível da janela de sua casa. Lá chegando, a amarrou rente a um tronco estreito de árvore, onde previamente havia preparado baldes com água, areia e cimento.
Desacordada, ela respirava suavemente, deixando transparecer uma ar de ternura no rosto, enquanto ele punha e moldava sobre seu corpo a massa ainda molhada do cimento. Começou pelos pés e, aos poucos, as pernas, o tronco, os seios, os braços, até, finalmente, cobrir-lhe toda a cabeça.
Amanheceu. O sol o encontrou sentado no capim com uma pequena espátula à mão e olheiras marcadas de despedidas, enquanto iluminava e aquecia a figura tosca daquela mulher. Foi quando teve a impressão de ouvir dela um soluço abafado, quase como um estalo.
Todos os dias, à janela, seria a primeira imagem que veria ao acordar. Tinha pesadelos. Ouvia os seus desaforos, imaginava que ela lá não mais estaria, que mesmo em pedra pudesse lhe escapar, se lançando nas águas lodosas da lagoa. Mas não. Continuava ali, como encantada, a seu alcance, aquecida para sempre em seu amor. E assim permaneceu durante meses.
A ausência dela era quase despercebida. Trabalhava em casa, poucos amigos, filha única de mãe idosa. Quando muito, um telefonema — "Ela não está. Quer deixar recado?" — Não queria. Sabia que a ingrata não retornaria.
Aos finais de tarde, aguardava a noite ao lado da mulher. Falava sobre seus dias, contava-lhe novidades, confidenciava-lhe a falta que lhe fazia e, por fim, numa loucura própria e sincera dos amantes, a cobria de beijos chorosos, se agarrando àquele corpo frio, áspero e inerte.
Numa noite quente, ele acordou e viu ao pé de sua cama a mulher de pedra. Em silêncio, e através dos olhos nus e cinzentos, parecia mirá-lo, até jogar-se sobre ele e, com as mãos, tomar-lhe fortemente o pescoço e o ar. Valendo-se do vagar desajeitado da estátua, ele conseguiu, com esforço, escapar-lhe. Ainda torpe e surpreso, pegou uma marreta e golpeou seu abdome. O corpo começou a rachar, abrir-se de meio a meio. "O que foi que eu fiz, meu amor?", repetia. A estátua fez-se em pedaços e de seu interior apenas um grito moribundo, aterrorizante, de uma agonia jamais ouvido igual.

Ele, abalado, jogou-se sobre os escombros, a procurar a mulher, qualquer pedaço dela, mas nada encontrou. Saiu gritando, com restos de entulho nas mãos, e jogou-se na lagoa, pondo-se no fundo da lama com o peso de sua própria consciência e da imagem perdida de sua mulher amada.

domingo, 21 de setembro de 2014

Rádio AlmanaCULTURA: "Jardim dos Animais" (Raimundo Fagner/Fausto Nilo)




Para ouvir a música e assistir ao video:


Jardim dos Animais
(Fagner/Fausto Nilo)

Amanhece na luz da campina
Anoitece no meu coração
Tanta terra cabe nessa rima
Só não cabe minha solidão.

Maninha, meu amor
Onde é que eu vou?
Qual o caminho
Há de haver lugar
Pra iluminar
Nosso carinho
Eu quero todo teu amor
Que todo mundo saiba
Quero muito fogo
Pra toda essa palha.

Quero um verso novo pra continuar
A fera quer que o mundo morra
E todo mundo corra
Vem rasgando dólar
Vem cuspindo bala
Queimando as estrelas
Respirando gás
Assim a minha natureza não aguenta mais.

Fazer amor, fazer amor
No paraíso
Fazer a luz com teu sorriso é natural
Correr atrás do teu amor
Tão sem juízo
Viver contigo no jardim
Dos animais.

Por isso o coração dispara
Quando você chega
Minha noite é cega
Meu sonho é de brasa
Eu erro de casa
E volto sem chegar
Perigo é tudo que separa
A dor e o sorriso
Porta do inferno
Luz do paraíso
Quando te procuro não encontro mais
Aí a minha natureza não aguenta mais.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

"Enem.com Cidadania", às terças-feiras, gratuitamente, no jornal O POVO


Desde o dia 9 de setembro está sendo encartado, às terças-feiras, no jornal O POVO, GRATUITAMENTE, os manuais da coleção Enem.com Cidadania.
A Fundação Demócrito Rocha, por meio da coleção, pretende contribuir para o fortalecimento do protagonismo de alunos na construção de valores, de conhecimentos pessoais, sociais e políticos, visando à cidadania, e na formação dos educadores, a fim de que possam atuar com a intencionalidade necessária à construção de uma sociedade mais justa, solidária e feliz. 
Na coleção, seis temas: (1) Bullying, (2) Violência, (3) Drogas, (4) Pluralidade Cultural, (5) Meio Ambiente e (6) Ética.

Acompanhe: www.fdr.com.br/enem/cidadania



domingo, 14 de setembro de 2014

"...E o Vento vai Levando", de Audifax Rios, para O POVO

O mesmo ventinho avexado que provocava os redemoinhos da infância naqueles secos meses nos meus cafundós, volta agora remexendo, não folhas secas, mas sacos plásticos, jornais velhos, santinhos de políticos e entulhos de construções. Em setembro de 1958, e lá se vão pra lá de meio século, no auge da seca braba que castigava o Nordeste brasileiro, o Ná (onde ele mora?) mal acabava de varrer a folharada amarela do tamarineiro do mercado no chão do Big Bar e o vento teimoso trazia a sujeira de volta e assim o colega de ginásio mal tinha tempo de cumprir suas obrigações escolares já que os biritinhas contumazes tomavam-lhe outra parte do precioso tempo.
Por conta deste destempero temporal mudei até o foco do ateliê pra dentro da casa, dispensando luz natural e a fresca da maresia iracemal. É que o teimoso ventinho resolveu construir seus torvelinhos em minha área de trabalho, assentando a poeira sobre o branco do papel prestes a registrar a última danação. De sobra, toda sorte de lixo encantoado pelos vãos das paredes onde já demoravam pedaços de madeira, caixotes, livros e a reserva do almanaque querido. Vai chegar o dia em que precisarei usar máscara no nariz e vedar olhos e ouvidos e a obra de arte vai sair sem sabor nem visibilidade, ouviram bem?
Esta poeira é certamente coisa do capeta como diziam os mais velhos e sábios, asseguravam que se a gente desobedecesse os superiores iríamos pretos pro inferno e os “ridimunhos” nada mais eram que o transporte seguro desta fatal travessia.
Mas levantemos, sacudimos a poeira como na canção, ou então escolhemos um papel bege ou da cor de fuligem ou de monóxido de carbono, o pó pode ser usado como crayon ou fousain e poderemos até obter um bom resultado com estes improvisados instrumentos, das tripas coração.
E vem à lembrança outro pó, muito em voga, as cinzas das cremações. Ultimamente, dois amigos preferiram navegar a última viagem através de aprazíveis ambientes, Airton Monte na praia de Iracema, Lustosa da Costa no rio Acaraú. O que me faz lembrar, também, do destino das cinzas do mestre Rubem Braga, que não chegaram a ser sepultadas no leito do Itapemirim pela incompetência (ou ignorância, ou mesmo inocência) da empregada doméstica que empregou o pó dos ossos do cronista como tempero diário do almoço da família. Os Braga do Cachoeiro comeram, literalmente, o grande garanhão.
Enquanto isso vamos comendo poeira até que a crise passe, estamos perdendo tempo por via do perfeccionismo técnico em vez de misturar o pó com as bisnagas coloridas, quem sabe apareça até um cromatismo inesperado e salvador. Comer poeira, aliás, passou a ser eufemismo desde que plantaram grama nos campos de futebol de várzea e de praia (futebol de poeira era o nome oficializado) e mesmo assim a nossa seleção comeu foi o pó da desastrada derrota, junto ao pão que o diabo amassou.
A propósito, os políticos estão aí prometendo distribuir colírio para todos, os eleitores passarão a ver um palmo adiante do nariz e é aí onde corre o perigo. Melhor para os candidatos seria continuar com a cegueira provisória ou definitiva para tudo ficar como dantes, terra de cego com rei caolho. E nesta terra de óticas mil e grossos óculos fundo de garrafa, bifocais e outras novidades, a luz que devia clarear as mentes faz gerar lentes e lucros nos cofres dos intermediários entre o clarão e as trevas.
E a ventania está levando o assunto pra outro rumo, contudo argueiro ou cisco no olho lembra visão que é nome de revista, loja, produtora de cartazes, agência de propaganda. Os políticos se rotulam com esta palavrinha mágica e antecipam o futuro e o panorama global e a felicidade geral da nação, quiçá o paraíso iluminado ou a escuridão dos quintos dos infernos.
E voltando aos brandos tempos de outrora, naquele ontem até que sopravam lufadas agradáveis. Havia o ventinho da praça do Ferreira que mereceu até música do compositor Gordurinha, aragemzinha safada que levantava a barra da farda das meninas da Escola Normal até que a miss Mary Quant inventou a minissaia para destronar o apelido de Esquina do Pecado, a velha Broadway, doce sacrilégio. Mais brando que a poeira escondida debaixo do tapete da Petrobras.

sábado, 13 de setembro de 2014

II Concurso Literário de Crônicas da Associação Cearense de Escritores: inscrições abertas


II CONCURSO LITERÁRIO DE CRÔNICAS
PRÊMIO RACHEL DE QUEIROZ
INSCRIÇÕES: 19/06 a 31/10/2014

REGULAMENTO
A Associação Cearense de Escritores (ACE) e a Premius Editora promovem a 2ª edição do Concurso Literário de Crônicas − Prêmio Rachel de Queiroz − em homenagem ao Dia do Escritor Cearense.
Art. 1º. A Comissão Julgadora selecionará três crônicas de autores cearenses, residentes no estado do Ceará, entre as que forem consideradas aptas ao concurso de acordo às normas deste regulamento.
Art. 2º. O original da obra deve ser enviado unicamente através da internet, no arquivo Word ou PDF, a ficha de inscrição e o comprovante de pagamento da taxa de inscrição para escritoresace@gmail.com
# 1º A crônica não deverá exceder o total de 02 (duas) páginas formatadas em tamanho A4, fonte Times New Roman, tamanho 12 e espaço 1,5 entre linhas.
# 2º Os autores participarão somente com uma crônica.
# 3º O original deverá ser inédito: a divulgação do mesmo, por qualquer meio, no todo ou em parte, eliminará o concorrente.
# 4º O autor, através de sua inscrição, cederá automaticamente à ACE os direitos autorais de sua crônica, para uso e publicação, conforme conveniência da ACE.
# 5º É obrigatório o uso de pseudônimo.
Art. 4º. O recebimento do original do texto configurará, por si só, a inscrição para concorrer à seleção e significará aceitação plena, por parte do autor, de todas as condições deste regulamento.
Art. 5º. O período de inscrições será do dia 19 de junho a 31 de outubro de 2014.
Art. 6º - Será nomeada uma Comissão Julgadora responsável pelo julgamento das crônicas, cujos integrantes serão anunciados no dia da premiação, na XI Bienal Internacional do Livro do Ceará, realizada de 5 a 14 de dezembro de 2014, no Centro de Eventos. O local e hora da premiação serão comunicados por e-mail aos participantes deste Concurso.
# único - As decisões da Comissão Julgadora serão irrecorríveis.
Art. 7º. As três crônicas escolhidas pela Comissão Julgadora integrarão a 1ª Coletânea da ACE, a ser lançada na XI Bienal Internacional do Livro do Ceará.
Art. 8º. Cada participante depositará a taxa de inscrição no valor de R$ 15,00 (quinze reais) na conta-corrente da ACE : conta nº 262-0; Operação 03; Agência 0920, da Caixa Econômica Federal (podendo o depósito ser realizado por meio de agências lotéricas). A inscrição só será validada com o comprovante de pagamento anexo.  
DA PREMIAÇÃO:
As crônicas classificadas nos três primeiros lugares serão divulgadas na XI Bienal Internacional do Livro do Ceará e receberão diplomas.

Fortaleza, 28 de maio de 2014

Fcº de Assis C. Ferreira                   Silas Falcão                          Socorro Cavalcante

   Presidente da ACE                            Vice-Presidente da ACE                 Coordenação editorial



"O Verso Agreste: a poética de Jáder de Carvalho", no Dragão (13/9)


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sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Boto Cinza Cor de Chuva, no Pic Nic Literário do Clube da Sivozinha (DOMINGO)



Para quem quer uma programação divertida e original, o Clube da Sivozinha oferece no domingo, dia 14 de setembro, a partir das 9h, o seu Pic Nic Literário,
realizado na Casa de José de Alencar (Av. Washington Soares, 6055, Messejana).
Dentre as atrações dessa edição, o Palhaço Barruada, o grupo Bola de Sabão e
o lançamento, bate-papo e contação de história do livro
Boto Cinza Cor de Chuva de Raymundo Netto, das Edições Demócrito Rocha.

Traga suas crianças e faça um piquenique embaixo das árvores, com muitas brincadeiras e ao redor de livros infantis, e aproveite para conhecer a casa onde nasceu o nosso grande romancista e as ruínas do primeiro engenho a vapor do Ceará.

A entrada é a doação de 1kg de alimento.

E, na hora do almoço, o restaurante Iracema, da Casa de José de Alencar,
oferece delicioso self-service, culinária regional, e o autêntico forró pé de serra.

Não perca tempo nem o domingo.

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Mais informações: 8867.9870

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Literatura Contemporânea, com Paulo Werneck, no Espaço O POVO de Cultura & Arte (10/9)


Sem limites formais de gênero nem de linguagem, a literatura contemporânea está no centro de um debate que reúne autores, editoras, livreiros e leitores no Brasil. Até que ponto os estranhamentos com novos textos afastam leitores da nova safra de alguns autores contemporâneos? Por que se vende tão pouca literatura contemporânea no Brasil, comparada à venda de contemporâneos estrangeiros?

 Nesta quarta-feira, 10 de setembro, o jornalista, editor e tradutor Paulo Werneck conversa sobre esses temas no "Encontro de Ideias" do  Espaço O POVO de Cultura & Arte, a partir das 19 horas. O debate ocorre com o apoio do Centro Dragão de Mar de Arte e Cultura.  O mote do bate-papo será “Como editar autores contemporâneos?” e terá como mediador o pesquisador Humberto Pinheiro. Paulo Werneck esteve à frente do caderno “Ilustríssima” da Folha de S. Paulo. Foi editor da Cosac Naify e da Companhia das Letras e, em 2014, foi o curador da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip).


SERVIÇO: Encontro de Ideias com Paulo Werneck abordando o tema “Como editar autores contemporâneos”. A mediação será do historiador Humberto Pinheiro. Às 19 horas, no Espaço O POVO de Cultura & Arte.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

VII Sarau Entrepalavras: Inscrições Abertas!


Clique na imagem para ampliar!

Local do Evento: UFC Campus do Pici
Data: 24 de outubro de 2014
Inscrições: até o dia 26 de setembro
Modalidades: dança, música e recital
Premiação (primeiro colocado): R$ 500,00
Inscrições GRATUITAS por meio do link:

http://semanaentrepalavras.blogspot.com.br/p/inscricao-de-artistas.html


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sábado, 6 de setembro de 2014

"A Tormenta", de Raymundo Netto, para O POVO


Apesar de nos ter sido emprestada há milhões de anos, tão limitados e incompetentes que somos, ainda não conseguimos tomar posse da vida.
O ser humano já é incompreensível até por definição, quando diverge daquilo que é, o ser propriamente dito, concebido pela natureza involuntária, talvez pela transa irresponsável de estrelas num orgasmo da via láctea, daquilo que o faz SER humano, em seu caráter integral, consciente e merecido, de quem é pelo que se faz ser.
Viver é tão único e tão solitário que é difícil mensurar o quanto perdemos, ou mesmo o que ganhamos nessa conjunção coletiva, sinuca de alteridades, na complexidade de nossa relação com o que está além de nossa individualidade, de nossos desejos, de nosso ser gratuito, tão desconhecido de nós, mas, certamente, íntimo de todos e qualquer um.
O mundo é um campo minado, e não uma colina de flores do campo, e daí exige a perda da ingenuidade, a atenção redobrada, a sensibilidade e a noção exata do peso de nossa pisada.
No correr da história, e da histeria, rumamos culturalmente num saco de gatos universal, apoteótico, com destino certo ao espetáculo, ao grande teatro do absurdo, cuja nossa audiência útil amuralha o império de forças que tem como argumento, principalmente nos tempos modernos, os caríssimos anúncios e a publicidade chula, criados por agências de pseudointelectuais devoradoradores de long-necks e drinks coloridos. A máquina não para, movida sempre pela intensa e cruel brutalidade financeira, causa maior, quase sagrada, dos espíritos opressores da humanidade, insaciáveis porcos comedores de bacon, genocidas, fascistas e admirados postadores de selfies europeus, levantando taças de vinhos, cor de sangue brasileiro, ou abrindo os braços com manjadas estátuas, pontes e postes dignos de gerar a inveja nos tão medíocres quanto eles.
O fogo do poder e da ambição se alastra nos intestinos magnânimos desses porcos egoístas, corroendo-lhes as vísceras e deixando-lhes em cirróticas cinzas o lúmen de sua alma original. Resta-lhes, para disfarçar o carcoma, cobrir-se com roupas caras, banhar-se com perfumes franceses, andar em carros do ano, comprar toda bobagem ultramoderna, dar de presente garrafas de bebidas envelhecidas para parceiros (leia-se "interesseiros") com quem divide suas aparentes vitórias e conquistas. À noite, o fantasma da ansiedade e do medo não o deixam dormir, ou o acompanham na hemorroida doída ou no desdém  indesejado do(a) companheiro(a) de leito.
Para suportar a dor dessa vergonha inconfessável, adoça a boca com o álcool, entope o sangue com drogas, consome sapatos e acessórios no shopping mais próximo, mas nada, simplesmente nada, afasta dele o medo de perder tudo aquilo que ele bem sabe ser apenas uma farsa.
Porém, mesmo assim, somos nós quem os alimentamos, os incentivamos, permitimos que esses porcos dominem o mundo, subam as rampas, se vistam em togas, nos representem, ganhem voz aos microfones, decidam a nossa vida, gastem nosso dinheiro com armas, com projetos de fachada, náufragos e megalômanos, em negociações vergonhosas. Permitimos que eles decidam os destinos de nossas crianças, que deixem nossos velhos ao relento, que esqueçam das populações mais pobres e sentenciadas pelo não-poder, que cultivem um celeiro de segregação, de injustiça, de desigualdade, de gente que nunca vai saber até onde poderia chegar se tivesse alguma oportunidade. Diante de tão opressora e impassível realidade, sofre quem ainda se indigna com o sofrimento alheio, quem é sensível às possibilidades do ser e do mundo, quem muito gostaria de crer na possibilidade de algo diferente.
Escolher nos parece sempre tão difícil... Mas, sinceramente, o que queremos mudar se nem mesmo aprendemos a colocar o lixo na lixeira?