quinta-feira, 14 de abril de 2011

"Sorriso Brasileiro", poema de Francisco Simões


É salgado o gosto deste solo agreste

Pelo pranto da seca, da fome e da peste.


É doce o sabor deste asfalto tão quente

Ao molho de sangue, de violência inclemente.


É triste o olhar da infância-ameaça

Fugindo da vida, do medo e da caça.


É trêmula a mão do idoso que aguarda

A consulta, o salário e a esperança roubada.


É preconceituoso todo olhar que ignora

Feridas expostas e a indigência que implora.


É covarde toda força que age escoltada

Tirando a vida de quem não tem mais nada.


É falsa a democracia que a poucos banqueteia

E destina à maioria as sobras da ceia.


É muita comissão para tão pouco inquérito

E parcos resultados a merecer tanto mérito.


É lama, é brejo, é areia movediça

Engolindo a verdade, a honra, a justiça.


É avalanche que arrasta, oprime e apequena,

E a sociedade? – De costas para a cena.


É bonito, saudável, feliz, que imagem

O sorrir do poder e da politicagem.


É sem teto, saúde, comida ou brejeiro

O olhar que se esconde no sorrir brasileiro.


Poema selecionado junto com outros 59, em Londres, Inglaterra, integrante da “Coletânea Internacional de Poesia” e de áudio-CD do “Cantinho do Poeta”, ficando também entre os 20 melhores na 6ª edição do “Expressão da Alma”, no Rio, em junho/2000.

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