É salgado o gosto deste solo agreste
Pelo pranto da seca, da fome e da peste.
É doce o sabor deste asfalto tão quente
Ao molho de sangue, de violência inclemente.
É triste o olhar da infância-ameaça
Fugindo da vida, do medo e da caça.
É trêmula a mão do idoso que aguarda
A consulta, o salário e a esperança roubada.
É preconceituoso todo olhar que ignora
Feridas expostas e a indigência que implora.
É covarde toda força que age escoltada
Tirando a vida de quem não tem mais nada.
É falsa a democracia que a poucos banqueteia
E destina à maioria as sobras da ceia.
É muita comissão para tão pouco inquérito
E parcos resultados a merecer tanto mérito.
É lama, é brejo, é areia movediça
Engolindo a verdade, a honra, a justiça.
É avalanche que arrasta, oprime e apequena,
E a sociedade? – De costas para a cena.
É bonito, saudável, feliz, que imagem
O sorrir do poder e da politicagem.
É sem teto, saúde, comida ou brejeiro
O olhar que se esconde no sorrir brasileiro.
Poema selecionado junto com outros 59, em Londres, Inglaterra, integrante da “Coletânea Internacional de Poesia” e de áudio-CD do “Cantinho do Poeta”, ficando também entre os 20 melhores na 6ª edição do “Expressão da Alma”, no Rio, em junho/2000.
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