domingo, 24 de abril de 2022

AlmanaCULTURA In DICA: “As Aventuras de Sherlock Holmes”, de Berardi e Trevisan (Mythos Editora)


Para minha sobrinha Maria Flach

 

Adquiri, ainda este ano, um exemplar de As Aventuras de Sherlock Holmes (Mythos Editora, 2021) em quadrinhos.

O que me chamou a atenção, logo de cara, foi a familiaridade da ilustração da capa. Bastou pouco para perceber a “assinatura” no seu canto inferior direito: (Giancarlo) Berardi & (Giorgio) Trevisan. Não à toa reconheci o “traço”, confirmado depois pelo meu embevecimento diante do estilo (meios-tons, hachurado...) e técnicas empregados no miolo da obra, realçando um londrino e cinematográfico panorama – muitas vezes noturno, nebuloso e misterioso – em pleno século XIX.

Berardi e Trevisan, ao lado de Ivo Milazzo, ganharam o Troféu HQMIX em 2001 pela edição brasileira de Ken Parker, personagem western de fummeti (quadrinhos italianos), um tanto cult, que sempre me impressionou muito, ao lado de outros dos quais é possível que eu escreva futuramente.

O roteirista Berardi também é o criador da incrível criminóloga Júlia Kendall – da mesma forma que Ken Parker traz as feições de Robert Redford, a Júlia é Audrey Hepburn e a amiga/empregada é a Whoopi Goldberg –, que arrisco-me dizer ser uma das melhores revistas do gênero quadrinhos lidas hoje no país – também publicada pela Mythos Editora e precariamente distribuída nas quase desaparecidas bancas de revistas, sendo mais facilmente encontradas nas revistarias especializadas ou no site da editora, muitas vezes em pré-venda – sempre priorizo as revistarias para contribuir que não desapareçam também.

Júlio Schneider, tradutor e apresentador da obra, nos conta que, motivados pelo centenário da criação do detetive da Baker Street, em 2021, foi sugerida a publicação dessa obra, originalmente quadrinizada entre 1986 e 1989 e composta dos primeiros 6 contos de sir Arthur Conan Doyle (1859-1930), reunidos em 146 páginas com o título As Aventuras de Sherlock Holmes: “Um Escândalo na Boemia”, “Um Caso de Identidade”, “A Liga dos Cabeças Vermelhas”, “O Mistério do Vale Boscombe”, “As Cinco Sementes de Laranja” e “O Homem da Boca Torta”.

Arthur Conan Doyle escreveu 4 romances cujo personagem é o nosso famoso mestre da observação, da lógica dedutiva (ou raciocínio abdutivo, como alguém defende) e dos disfarces, o “maior detetive do mundo” – contestando os criadores do “homem morcego”... –, são eles: Um Estudo em Vermelho (1887), O Signo dos Quatro (1890), O Cão dos Baskervilles (1902) e O Vale do Terror (1915).

A partir de 1891, escreveria 56 contos do personagem distribuídos em 5 grupos: As Aventuras de Sherlock Holmes, Memórias de Sherlock Holmes, A Volta de Sherlock Holmes, O Último Adeus de Sherlock Holmes e Os Arquivos de Sherlock Holmes.

As Aventuras de Sherlock Holmes original é composto de 12 contos. Infelizmente, devido a restrições de mercado na época, a dupla quadrinizou apenas 6 deles, como já citamos acima.

A adaptação da dupla é belíssima e bem fiel a esses contos. Quanto aos aspectos técnicos, estamos falando de mestres na arte, e assim não preciso dizer mais nada.

Importante lembrar, para aqueles que não visitam regularmente as livrarias – não desistam delas, por favor –, que a Martin Claret editou um volume com todos os contos (livro azul) e outro com todos os romances (livro vermelho), além de enfeixar neles alguns estudos e trazer ilustrações originais de Sidney Paget da época de publicação na The Strand Magazine. Muito boas edições.


P.S.: nasci achando que conhecia o detetive Sherlock Holmes, assim como conhecia o Drácula, o Frankenstein, o homem invisível e outros personagens que já estão geneticamente incluídos em nosso inconsciente coletivo. Contudo, um dia, recentemente, decidi ler os originais para conhecê-los da “boca” de seus autores. Que surpresa eu tive... e que você pode ter também. No caso, passei a ler o Sherlock após a minha sobrinha Maria, a quem dedico esse artigo, em visita a Fortaleza, me dizer que estava lendo a obra. Foi quando conheci Um Estudo em Vermelho, o delicioso princípio de tudo... mas esta é outra história.




 

"Bonança", de Raymundo Netto para O POVO (na íntegra)


Bonança era uma pacata e acolhedora cidade interiorana, arrostada a uma sempre verde serra, quase uma janela mitológica, costumeiramente fonte das histórias ancestrais do local. Não fossem alguns poucos representantes comerciais a abastecer-lhe mercearias, farmácias, oficinas e papelaria, não haveria comunicação nenhuma entre Bonança e o mundo.

Um dia, chegou por lá, rompendo a serena rotina da Câmara Municipal, um homem grande, todo em preto, de cara amarrada e de poucas palavras, dizendo-se ser a LEI, e que iria arranchar-se por ali. Um dos vereadores estranhou: “Mas lei para quê? A cidade é quase uma família, há anos não sabe nem o que é crime!” O homem, puxando o edil pela gola, vociferou: “Onde não há lei, imperam os criminosos!”.

Largando o homenzinho contra a parede, perguntou onde ficava a Delegacia. Amedrontados, todos se entreolharam: não havia nenhuma. Perplexo e impaciente, a LEI dirigiu-se à praça da matriz, sede social de Bonança, e lá encontrou gente dormindo em bancos, soltando arraias, jogando futebol de meia, damas, gamão, baralho... Apresentando, à cintura, a sua arma – a chamava de “bacamarte” –, espalhou no ar a sua voz estrondosa: “Teje tudo preso, cambada de vagabundos!” Eles não estavam fazendo nada demais, todavia, de tão pacíficos, quase choraram com aquele anúncio: “Vadiagem e jogo de azar são intoleráveis... Prisão em flagrante!”  Um deles, o mais velho, ousou: “Mas presos onde, doutor, se não existe Cadeia na cidade?” De imediato, a LEI respondeu: “Não tem hoje, e por isso vocês construirão uma. Trabalhando, pode ser que consigam remição de pena. Pode ser... Vamos logo, seus preguiçosos!”

Daí, durante dias e noites de trabalho interminável, com pausas apenas para refeições, o clima da cidade era de completo desassossego e terror. Ouvia-se aqui e acolá que todos os dias aumentava, a olhos vistos, o número de condenados na cidade. Eles não entendiam, mas segundo a LEI, todos eles eram de alguma forma criminosos.

Logo de início, o mais antigo jornalzinho da cidade, que denunciou a arbitrariedade da LEI, foi empastelado sob a acusação de crime de imprensa e contra a honra. O prefeito já suava na obra, acusado de cobrança indevida de impostos e corrupção passiva. Os fumantes, assim como aqueles que tivessem um papagaio ou bicho do mato em casa ou colhessem flor do jardim da praça para dar a namoradinha, eram “presos” por crime ambiental. Caso tirassem essa mesma flor ou colhessem frutas do jardim alheio, pedissem qualquer coisa emprestada e não devolvessem, corressem nas calçadas sem motivo que justificasse, eram enquadrados em crime contra o patrimônio: furto, receptação, dano etc. Quem se deixasse ficar em espreguiçadeiras ou cadeiras nas mesmas calçadas após às 21h era recolhido, acusado de crime contra o respeito aos mortos – na cidade havia um cemiteriozinho tão mixuruca que não dava gosto ficar por ali nem alma penada. Namorassem na calçada ou na pracinha, e dependendo de como tomassem sorvete em público, poderiam ser enquadrados sob a acusação de crime contra a dignidade sexual. Deixassem um menor em casa, mesmo que por pouco tempo, ou fizessem parte de pequenas discussões, eram vistos como crime contra a pessoa: abandono de incapaz, lesão corporal, constrangimento. Até fofoca era motivo de prisão, considerada ameaça e inviolabilidade de segredo. Assim, com o crescente número de operários dedicados à obra, com muito pouco Bonança ganharia a sua primeira Delegacia e Cadeia.

A LEI, arrogante e orgulhosa, não pouparia esforços e conseguiria que a imprensa, também a título de remição, divulgasse ao mundo a inauguração da nova sede da justiça no município.

No dia acertado, porém, uma desconhecida van aportou-se na praça e homens em jalecos brancos logo identificaram e pularam com uma camisa de força em cima da LEI. Ele, surpreso, tirou seu “bacamarte” do cós das calças e começou a tirar sons com a boca: “Bang! Bang! Você tá morto...Você também...” Mas aquela gritaria não impediu que eles “envelopassem” a LEI. Sim, meus amigos, a LEI era uma lunática, louca, pirada, mentecapta...

Devido a uma série de explicações, depoimentos e protocolos, os paramédicos decidiram recolher naquelas celas, provisoriamente, o paciente fugido do Asilo, conhecido como Casa Verde de Itaguaí, enquanto resolviam a sua transferência, inaugurando assim a Cadeia de Bonança.

Ao final da tarde, a van se foi da cidade, levando com ela a inconformada LEI a esmurrar o vidro traseiro.

Todos os moradores estavam presentes à pracinha, assistindo à confusão. Caía o avermelhecer do horizonte e já pintavam algumas estrelas no céu, e eles, como tomados por detestáveis constrangimento e vergonha, permaneceram imóveis ali, olhando uns para os outros, até que o prefeito, do nada, pegou uma picareta e pôs-se a enfiá-la freneticamente nas paredes recém-caiadas daquela Delegacia. Então, um a um dos moradores pegaram outras picaretas e marretas e deitavam a sua ira naquelas paredes até não restar nenhuma em pé.

Era tarde demais: a LEI acabara de vez com a ingenuidade, a segurança e a paz, tudo em ruínas, da hoje paranoica e sombria Bonança.




 

sexta-feira, 22 de abril de 2022

Programa AGIR, rádio O POVO CBN, discute sobre o Dia Mundial do Livro e dos Direitos Autorais


Na entrevista do Agir desta sexta-feira, 22 de abril de 2022, Cliff Villar conversa sobre o Dia Mundial do Livro e dos Direitos Autorais com Raymundo Netto, Gerente Editorial e de Projetos da Fundação Demócrito Rocha.

Acompanhe também nas rádios O POVO CBN FM 95.5, em Fortaleza, CBN Cariri FM 93.5 e no portal http://radios.opovo.com.br/opovocbn/. #Agir


 

quinta-feira, 21 de abril de 2022

"Centro de Estudos Juvenal Galeno", de Ednardo Honório Lima


AlmanaCULTURA In DICA:

Mais uma obra fruto de pesquisa em Literatura Cearense nos chega.

É Centro de Estudos Juvenal Galeno: juventude, literatura e civismo num momento de escolhas (Imprece, 2021), do historiador Ednardo Honório de Lima (1978), com o apoio da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará.

Ednardo teve a sua estreia como historiador na produção de pesquisa sobre Mário Kepler Sobreira de Andrade, o nosso Mário de Andrade (do Norte), tema do qual me interesso há anos, e não por menos: muito jovem, ele foi um dos responsáveis pela revista modernista Maracajá (1929), diretor e idealizador do suplemento Cipó de Fogo (1931), além do autor do manifesto lido no I Congresso de Poesia (1942), que daria origem ao Grupo CLÃ, sendo também coautor da primeira publicação das Edições Clã: Três Discursos (1943), ao lado de Antônio Girão Barroso e Eduardo Campos.

Ednardo também pesquisaria o “Grupo CLÃ: os intelectuais de Fortaleza nos anos de 1940”, monografia de conclusão do seu curso.

E foi remexendo esses caixões dos anos de 1940 que se deparou com um ainda intacto, o que acolhia os jovens integrantes do grêmio intitulado Centro de Estudos Juvenal Galeno, que teria como sede, obviamente, a Casa de Juvenal Galeno, patrimônio ainda hoje em pé, contra tudo e a favor de todos, desde 1886.

O grêmio, segundo Honório, foi criado em junho de 1938 e perdurou até agosto de 1945. No entanto, baseou-se, principalmente nos Estatutos da agremiação – que não encontrou integralmente –  e nos seus livros de atas, que também não teve acesso a todos, mas apenas aos livros de setembro de 1940 a junho de 1942.

Entre seus fundadores, Francisco Silva Nobre, nome que seria mais reconhecido futuramente, e que assumiria a presidência provisória em junho de 1938, Lima Leite (vice-presidente), Amauri Saraiva (secretário), Hélio Melo (orador) – que ingressaria no Instituto do Ceará em 1975 e seria um dos fundadores da Academia Cearense da Língua Portuguesa em 1977 – e Majela Nobre (bibliotecário).

Mais tarde, entre os centristas, teríamos a presença de Alberto Galeno, descendente do poeta das Lendas e Canções Populares, além de Aluízio Fernandes Bonavides, Flávio Passos Quintela, Francisco Barros Fontenele, Isac Sombra Rodrigues, José Palácio de Queiroz etc.

A princípio, os centristas – como se denominavam – eram secundaristas, a maioria, provavelmente, católicos – alguns de seus informes saíam no jornal O Nordeste, da Arquidiocese de Fortaleza –, e se reuniriam, ordinariamente, aos domingos à tarde, com o pensamento de louvar e exultar o nome do dono da casa, a quem a literatura cearense tanto devia, tudo isso por meio de um discurso cívico, respeitando as restrições do rigoroso Estado Novo. Na continuidade, alguns se tornaram alunos do curso pré-jurídico do Liceu do Ceará, alcançando a cobiçada Faculdade de Direito, enquanto outros estudantes ingressariam na Faculdade de Agronomia do Ceará – chegaram a conhecer e a ouvir Mário Sobreira de Andrade. Entre estes, o mineiro José Sebastião da Paixão, que Honório defende ser o primeiro estudante preto a ingressar no ensino superior cearense. Na foto da capa, entre os centristas, é o único preto. Interessante é que, mais tarde, em um Torneio de Oratória criado pelo grêmio, um dos primeiros temas apresentado pelo associado Flávio Quintela foi “Influência do negro na Literatura do Brasil”.

Durante o lançamento da obra – em 4 de fevereiro de 2022, na Gibiteca da Biblioteca Municipal Dolor Barreira –, na qual fui convidado na qualidade de mediador, questionei sobre alguns pontos curiosos do grêmio. Por exemplo, entre os 31 patronos originais, havia apenas 4 cearenses, todos de projeção nacional: Juvenal Galeno, José de Alencar, Farias Brito e Capistrano de Abreu (entre outros, havia José Bonifácio e até d. Pedro II, em plena República?). Posteriormente, seriam admitidos como patronos Antônio Sales, Araripe Jr e Alberto Nepomuceno. Outro ponto: eles faziam estudos de obras literárias – como de Telmo Vergara, Érico Veríssimo, Alberto Torres, Cléomenes Campos, Alexis Carrel etc. –, e entre essas obras não havia de cearenses (?). As homenagens: a biblioteca do Centro de Estudos se chamava Adelmar Tavares da Silva Cavalcanti, uma homenagem ao jurista e poeta pernambucano(?), membro da Academia Brasileira de Letras desde 1926 – havia um controle rigoroso para evitar a entrada de obras consideradas amorais e que maculassem o nome do sodalício. Sim, eles eram bem conservadores. E sobre a participação de mulheres: como de se esperar, eles permitiam a participação de mulheres em suas atividades – Honório em seu livro cita algumas dessas participações, que inclusive deveriam ser várias, lembrando que o grêmio atuava sob o olhar da dra. Henriqueta Galeno, uma feminista primeva –, mas como na Padaria Espiritual, elas participavam, porém não eram integradas ao grêmio. Destaco a participação de Reine Limaverde, irmã de nosso querido radialista Narcélio Limaverde, no canto de “A Deusa da Minha Rua”.

Para não sair desse caldo imenso de agremiações literárias cearenses, não poderíamos nem sonhar que os centristas também não tivessem ímpetos de lançar uma revista própria, não é? Pois teriam, mesmo que apenas o seu primeiro número, datado de 18 de dezembro de 1938: Jangada era o seu título. O diretor era F. Silva Nobre. Os redatores: Hélio Melo, Antônio B. de Menezes, Gabel Gomes, Evangelista Campos e Ferreira Ângelo.

Os centristas também recebiam intelectuais nas suas sessões: Gomes de Matos, João Otávio Lobo, Euclides César (da escandalosa Academia Polimática), Perboyre e Silva, Martins D’Alvarez, Pierre Luz, Joaquim Alves, Carlyle Martins, entre outros.

Ao final da obra, Honório traça um perfil dos principais nomes do Centro de Estudos Juvenal Galeno.

Muitas lacunas ficaram em aberto ou sob suposições do historiador, é verdade, mas por outro lado, é admirável seu esforço em “tirar leite de pedra”, além de que, em paralelo à pesquisa, vimos outra, sobre o contexto de Fortaleza naqueles anos, a escola secundarista, a Faculdade de Direito e a de Agronomia, entre outros elementos interessantes para pensarmos nossa cidade e seus equipamentos.

Contudo, lamentamos profundamente não termos tido acesso à produção literária desses jovens da qual Honório atribui um distanciamento ainda, em plenos anos de 1940, das “novidades” do Modernismo.

 

Quem quiser adquirir a obra:

Livraria Arte & Ciência (Av. Treze de Maio, 2400) – Tel: (85) 3283.4422

Contatos com o autor:

Telefone: (85) 3484.6310

e-mail: lima78.ed@gmail.com

Instagram: @honorio.ed

Facebook: ednardo honorio de lima




 

SEBO NAS CANELAS: “Nada de Novo sob o Sol”, de Lúcia Fernandes Martins


Para ler mulheres que sejam boas escritoras, uma boa indicação é Nada de Novo sob o Sol, romance de Lúcia Fernandes Martins, a única mulher do Grupo Clã, agremiação responsável pela consolidação do Modernismo cearense.

A obra, que recebeu o Prêmio José de Alencar, foi editada pela primeira vez em 1967, pelas Edições Clã, usando Lúcia o pseudônimo "Sandra Lacerda". Esta edição da foto é de 1996, editada pelo programa editorial da Casa de José Alencar - UFC, com apresentação de Rachel de Queiroz – que enaltece as qualidades daquele “romance diferente” – e a orelha de nosso querido professor Vianney Mesquita.

Uma curiosidade é que a obra, numa tirada só, foi editada em português e em espanhol, um caso raro.




 

SEBO NAS CANELAS: “Os Condenados”, de Oswald de Andrade


Os Condenados, de Oswald de Andrade (1890-1954), obra parcialmente lida (sob vaias desejadas, diga-se) durante a Semana de Arte Moderna de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo.

A obra, o primeiro volume da “Trilogia do Exílio”, ao lado A Estrela de Absinto e A Escada de Jacó. A trilogia, assim como as suas partes, mudou de título ao longo do tempo.

Em 1941, a trilogia é publicada em único volume com o título de Os Condenados e a parte que teria o título de “Os Condenados” passa a ser denominada “Alma”.

Oswald afirmava que a trilogia teria sido escrita entre 1917 a 1921.

A minha edição é a do Círculo do Livro e, provavelmente, já que não tem data, é de 1970 (data assinalada por Mário da Silva Brito, autor do maravilhoso estudo inicial).




 

SEBO NAS CANELAS: "Literatura de Cordel: Antologia", organização e notas de Ribamar Lopes


Uma relíquia, entre tantas da minha estante, esta é uma das mais caras: A Literatura de Cordel: Antologia (1982), publicação comemorativa do 30º aniversário do Banco do Nordeste do Brasil (BNB).

O que a encarece para mim, além de ser uma referência obrigatória aos estudos do gênero, em suas mais de 700 páginas, é o fato de ser organizada e conter notas de um amigo querido: o pesquisador, poeta e contista RIBAMAR LOPES (1932-2006).
Conheci o Ribamar ainda criança. Ele era paciente de minha mãe, que era dentista e tinha um consultório instalado em nossa casa.

Ele sempre chegava com livros (sabia que a minha mãe sempre atrasava) e, cruzando as pernas, se punha, sereno, a ler ou a conversar com aquele menino curioso, que ousava em apresentar-lhe alguns versos muito bobos, mas que ele avaliava e criticava com muita seriedade, pedindo e esperando outros.

Quinze Casos Contados, de sua autoria, foi o primeiro livro de contos que li na minha vida.

Mais tarde, seria o único escritor presente – e que eu conhecia pessoalmente – no lançamento de meu primeiro livro, Um Conto no Passado: cadeiras na calçada, em 2005. Depois disso, virou personagem de uma das Crônicas Absurdas de Segunda, obra ganhadora do Edital da Secult-CE e finalista do Prêmio Jabuti de Literatura em 2016.

Para melhorar, é amigo comum de vários outros também queridos amigos cordelistas e, como para mim, sempre é lembrado com muito carinho.

Viva para sempre, Ribamar Lopes.




 

"Espelho Partido", de Pedro Salgueiro para O POVO

 

Corria a primeira metade dos anos 1970, e uma terrível ditadura militar varria o país, mas nós – reles meninos de Tamboril no interior do Ceará – ignorávamos tudo isso, sequer desconfiávamos que bem ali de lado, em Crateús, o heroico paraibano-cearense-brasileiro Dom Fragoso resistia bravamente junto com seus padres e religiosos das Comunidades Eclesiais de Base. Queríamos mesmo era correr estradas, varrer caminhos, se esconder em quintais, tomar banho de açude nos raros invernos, e caçar passarinhos...

Sabendo das traquinagens, meu pai insistia vigilante, às manhãs no colégio, às tarefas de cuidar da vaca, limpar o quintal, aguar plantas e, sem folga, às horas das lições de casa, sagradas e severamente vigiadas por minha mãe. Mas tínhamos as possibilidades das fugas, que se renovavam em mil artimanhas e criatividades: mentíamos muito para lograr êxitos.

E dessas fugas estão quase todas as nossas lembrança de infância, raras são as memórias guardadas das “horas oficiais” de bons meninos, porém os momentos forjados a fórceps ficaram grudados na mente e mesmo depois de 40 anos escorrem vivas nas noites de insônia, pelas frestas do tédio.

Só uma obrigação nos dava interesseiro prazer, nos dias de feira do sábado meu pai nos levava, a mim e ao meu irmão, para vigiar as bicicletas no quintal da sua pequena sapataria, que era dividido ao meio entre os ganhos de algumas moedas já no meio da tarde: meu irmão, sempre muito zeloso, guardava cada centavo; eu, mais desastrado, corria para comprar o que desse o apurado: fosse bola, calção de jogador, canivete... Mas um dia descobri uma banca que vendia pequenos espelhos redondos, com fundos que me causava êxtase: escudos dos clubes de futebol e mulheres peladas.

Passei a andar sempre com um desses espelhinhos mágicos no bolso do calção, de dia me deslumbrava o mundo através de seus muitos reflexos e ângulos invertidos, pela primeira vez na vida conhecia o outro lado das coisas comuns, usava mais a imaginação que o real das figuras – que deixava para as horas noturnas, destas vezes usando o inverso do vidro, viajava frenético nas imagens de times e garotas.

Entretanto logo passei a fugir dos espelhos: num começo de tarde uma leva de meninos corria em direção à cadeia pública no bairro dos Pereiros, ligeiro atalhei a dianteira que já passava no velho hospital abandonado na entrada das Pedrinhas: cheguei ao pelotão de curiosos que formava fila na frente do presídio – uns entravam com olhos arregalados de curiosidades e outros saíam com os olhos arregalados de medos: chegou minha vez de pegar o pequeno espelho quebrado e tentar, nervoso, localizar o preso que se enforcara com o punho da rede no canto mais escondido à esquerda das grossas grades da cela.

O que vi ou o que imaginei ter visto na imagem partida e embaçada daquele espelho trêmulo ainda hoje nem desconfio – mais tarde passei temeroso, e só olhei da janela, no velório na casa de dona Sé, parenta distante do caçador injustamente acusado de roubo, que não suportou o peso da vergonha e se jogou de joelho naquele abismo no canto mais escuro do desespero.

Sei que nunca mais possuí espelhos, enterrei todos (mas antes os quebrei, até esqueci-me de salvar o papel plastificado das figuras de trás) debaixo do mulungu no fundo do quintal: ainda hoje tenho medo de espelhos quebrados... E do que possa ver de estranho em seus fundos partidos!

 

segunda-feira, 18 de abril de 2022

Sobre o "Fantasismo", de Carlos Emílio Corrêa Lima


O fantástico de uma literatura fantástica que está sendo imposta à nação e os responsáveis por esse vexame literário e cultural

Carlos Emílio Corrêa Lima, escritor

De início que esses novos escritores duma tendência chamada de “fantasismo”, cujo paradigma reside na cultura de massas, não leem mais da alta literatura. Nem pensar na alta literatura fantástica brasileira, como a de um Murilo Rubião, Guimarães Rosa, Ledo Ivo, José Alcides Pinto, José J. Veiga, Moacyr Scliar, Gilmar de Carvalho ou mesmo de Tolkien, C.S. Lewis, entre outros, que há muito foram diluídos por imitadores aos milhares e é exatamente do que se trata essa mesma literatura brasileira desviada se alastrando por aqui, até no Ceará, dessa mídia impulsionada de diluição mercantil.

O mesmo pode-se dizer da literatura popular, do cordel, por exemplo, que é um gênero literário, como bem alertou o poeta e pesquisado Aderaldo Luciano, seja culpada de não ter motivação de leitura pelos autores cultores de literatura fantástica de sua própria região, de sua terra, quanto mais dos autores mais recentes do passado ou de seus contemporâneos um pouco mais velhos que escrevem ou escreveram ficção fantástica.

E cumpre-se notar que o Ceará tem uma das melhores, senão a melhor antologia de literatura fantástica já produzida no Brasil, digna e poderosa antologia organizada minuciosamente por Pedro Salgueiro, Raymundo Netto e o Poeta de Meia-Tigela, O Cravo Roxo do Diabo: o conto fantástico no Ceará, de deixar babando de inveja pelo tamanho, quantidade de autores e pesquisa empreendida, qualquer scholar de Oxford ou doutor em Literatura da USP.

Mas seria pedir muito, demais a eles, a toda essa nova geração, quando foram bombardeados pela mais pesada indústria de entretenimento de massas do planeta, a anglo-saxônica e suas principais máquinas de guerra: o cinema, os jogos, as séries de TV, a internet, os quadrinhos e a literatura infantil e juvenil (traduzida do inglês diretamente para o português e lançada pelas editoras hegemônicas), sem falar na nossa imprensa subalterna e aviltada, totalmente antinacional. Seria um verdadeiro milagre se fosse o contrário. Não é.

Os culpados não são esses jovens que fazem o que podem dentro dessa selva de aves amestradas e fauna mecânica. O campo de visão deles foi alterado e eles foram separados ardilosamente de sua cultura, de sua literatura. Não todos, é claro, mas determinados nichos grupais mais alvoraçados e mais coloridos e impulsionados pelas tendências artificiais disseminadas pela mídia alienante globalizada (leia-se, “americanizada”), que nos são impostas a partir de um subfantástico manipulado e manipulatório, com uma mitologia toda pré-fabricada e/ou distorcida, e moldes narrativos e conteudísticos todos produzidos em série.

A culpa não é deles, mas de seus professores, mentores, coleguinhas mais velhos, e, sistemicamente, de todos os governos desde 1964, que nunca se propuseram a enfrentar a indústria cultural, a invasão cultural Made in Usa,

Na outra ponta, a mídia colonizadora, as redes de televisão, as rádios, o sistema educacional, as Secretarias de Cultura que fazem das politicas para a literatura um mero penduricalho beletrístico; as Secretarias Estaduais de Educação que não ensinam sobre as literaturas produzidas nos estados; as Academias de Letras; os políticos que não sabem nem mais o que seja literatura, nem pensam nela como a fonte dos estados-nacionais dos quais fazem parte. Sem a literatura brasileira não existiríamos. Sem ela, na mídia, nos currículos, na atmosfera cultural, deixaremos, se é que já não deixamos, de ser uma nação.


 


 

sábado, 16 de abril de 2022

SEBO NAS CANELAS: "O Canto Novo da Raça" (1927), marco inaugural do Modernismo cearense


A obra O Canto Novo da Raça (1927) me foi apresentada pelo prof. Sânzio de Azevedo em 2010. Na época, eu atuava como coordenador da Coordenadoria de Políticas do Livro e de Acervo (Copla) da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará, responsável pela publicação da Coleção Nossa Cultura, entre 2009 a fevereiro de 2012, pois em março passaria a integrar o quadro da Fundação Demócrito Rocha.

Recebi o livro xerocopiado. A capa do original estava em frangalhos, mas permitia a leitura do seu título, seguido de uma inusitada e declarada homenagem a Ronald de Carvalho (1893-1935) – poeta e jornalista, o “Príncipe dos Prosadores Brasileiros” (Diário de Notícias, 1935), responsável pela leitura do famoso poema “Os Sapos”, de Manuel Bandeira, durante a Semana de Arte Moderna de São Paulo (1922) –, os nomes dos autores (Jáder de Carvalho, Franklin Nascimento, Sidney Netto e Mozart Firmeza/Pereira Junior), da Tipografia Urânia (a mesma que imprimiria, 3 anos depois, O Quinze, de Rachel de Queiroz) e, curiosamente, no seu centro, a ilustração de um pequeno mosquito, talvez por imaginarem o incômodo que essa obra poderia causar aos seus leitores “passadistas”, o que de fato aconteceria.

O livro tinha um formato horizontal e trazia 18 poemas distribuídos em cerca de 40 páginas sem numeração.

Entre os autores, apenas Sidney Netto, o mais velho deles (34 anos) já teria livro publicado – A Noite Coroada de Rosas e de Mirtos (1921). Entretanto, Jáder (26 anos), desde os seus tempos de aluno do Liceu já era engajado na literatura, participando, em 1922, da antologia poética de Aldo Prado: Os Novos do Ceará no Centenário da Independência. Franklin Nascimento (26 anos) nunca publicaria outro livro, nem como coautor, e Mozart Firmeza (21 anos), também pinto e crítico de artes, ao contrário, publicaria bastante, no Rio de Janeiro, nos anos seguintes.

Durante o período em que editei mais de 100 títulos pela Secult, havia sempre a preocupação – denominamos “critério” – de elencar obras da Literatura Cearense que, se não tivessem uma relevância estética, possuíssem uma importância histórica que justificasse a sua publicação.

Qual não foi a minha alegria de perceber, após a leitura, que O Canto Novo da Raça teria as duas: a histórica e a estética.          

Debrucei-me sobre a obra. Contratei o meu amigo e grande talento Audifax Rios para ilustrar as fotos dos quatro autores e o prof. Sânzio para elaborar um estudo inicial a ser publicado como apresentação da obra. Como na Secretaria não tínhamos equipe de edição, apenas uma pessoa que diagramaria o texto, eu sempre tive que fazer o resto: digitei e revisei o texto e o diagramei no Word; elaborei e diagramei a capa; compus o projeto gráfico; selecionei os textos de orelhas; busquei e fotografei a capa de um exemplar em bom estado – geralmente colocava capas ou folhas de rosto originais no início dessas publicações –, pesquisei por autógrafos dos quatro autores para inseri-los no livro (um “mimo” ao(à) leitor(a); inseri, após uma pesquisa de muitos meses, a biografia de Franklin Nascimento – além de ter conseguido com a família a única foto existente do autor até hoje e a cópia de uma carta que ele enviou a Carlos Drummond de Andrade em 1974, e que seria, a original, enterrada com ele em sua última morada, assim como foi feito também com seus inéditos.

Todo o trabalho empreendido para a realização desse título resultou em uma experiência que, além do aprendizado, foi demais emocionante. Ali estava o editor, o pesquisador, o escritor, todas essas facetas voltadas para trazer do esquecimento próprio dos cearenses, após 84 anos, a segunda edição da obra considerada o marco inaugural do Modernismo no Ceará, hoje acessível, mesmo apesar da sua má distribuição.

Concluí assim, o texto “História de uma Biografia Perdida”, que escrevi e também enfeixei na obra, como relato da minha pesquisa:

“[...} Para nós que integramos a coordenação editorial, poucas foram as emoções que podem ser comparadas às de se ler, mesmo por telefone, um poema desconhecido de um pai a uma filha, e ter a certeza de que, após tantos e tantos anos, a voz do poeta se faz imortal, forte, clara e melódica, transcendendo a tudo, inclusive à vida, e tudo aquilo que ela, pessoalmente, lhe negou.”



Na ordem dos autógrafos: 

Jáder de Carvalho, Sidney Netto, Mozart Firmeza e Franklin Nascimento






 

domingo, 10 de abril de 2022

"Um Filho de Ouro", de Raymundo Netto para O POVO


Júnior era cria de um renomado desembargador.

Chegou a este mundo montado numa realidade mais surreal do que a de Aladim, cuja lâmpada mágica lhe concedia apenas três desejos, enquanto que, para ele, um hedonista de berço, não haveria limites. Para o pai, a causa era tão justa quanto original: “Terá tudo o que eu não tive. E muito mais!” Supomos assim ter a palavra “dificuldade” caído em desuso no seu curso de vida, ao contrário de “tédio”. Morria de tédio, sofria de tédio, num marasmo ansioso, repleto de vazios existenciais e terrenos, como se fosse um Pequeno Príncipe sem a sua rosa.

Frequentou, não digo estudou, nos melhores colégios, usou e logo abusou das melhores grifes, se empanturrou em fast-foods, teve o melhor atendimento médico, não precisou de ônibus – não confio no caráter de quem nunca chacoalhou dentro de um –, não encontrou um único motivo para sofrimento e aflição, e se o encontrasse, certamente seu pai o contornaria: “Tenho direitos, usarei todos!”, bradava ele com a dignidade exacerbada de cidadão com foro e furico privilegiado.

O Júnior crescia. Não falava em profissão, trabalho, entre outras coisas desagradáveis. Restringia-se a comer, jogar videogames, passear, beber e dormir. Mas o pai queria o filho doutor. Médico? Por que não? Tentou. Todavia, Júnior não passava nos vestibulares. O pai, sempre assessorado de qualificados puxa-sacos, optou em fazê-lo prestar concurso em faculdade particular no interior, cuja primeira prova é a da mensalidade. Depois, daria um jeito. E deu: tornou-se o maior benfeitor da instituição, quase um sócio. Tivesse ali um busto, seria o dele. Contudo, durante o curso, com pouca aptidão às aulas e aos estudos, Júnior ligava sempre ao pai, contando de “pequenos” entraves jurídicos daqueles professores mais exigentes, de maneira que o pai, na ânsia da aprovação do rebento, não descansava enquanto não resolvesse todos eles.

Nos períodos de plantões hospitalares, Júnior descobriu a sala dos médicos e percebeu que ali estava seguro, longe dos apelos dos pacientes e mais próximo dos jogos de futebol na TV. Na mesma sala, uma fila de médicos concursados, “medalhões”, que não botavam os pés nos corredores, sempre se justificando: “Estou pagando para trabalhar!”

Ao concluir a faculdade, uma nada surpresa: “Pai, não gosto de ser médico. Detesto falar com aquela gente... Reclama demais, só fala em doença!” O pai, visivelmente emocionado, compreendeu a angústia do filho e até o abraçou: “Você puxou a mim... é um humanista!” No entanto, se não Medicina, faria o quê? Era de uma incompetência diluviana. Não sabia fazer nada, não tinha opinião própria sobre assunto nenhum e bater ponto, então, seria como dar de cara todos os dias com a esfinge tebana.

Os assessores do magistrado cavaram um fosso no piso de tanto andar em círculos na busca de uma opção, até que um deles iluminou-se: “Política! Esse rapaz tem de sobra todas as qualidades necessárias para se dar bem na política”.

O desembargador não perdeu tempo. Exigiu que o filho utilizasse ali o seu nome pomposo e extenso, antecedido pelo “doutor” que ele não era: “Médico dá voto, parece humano...” E não se preocupasse: assessoria cara e perfeita. Falaria e faria apenas o recomendado. Fora isso, acenasse, sorrisse e pegasse em algumas mãos e bebês: “E não têm germes, não?”, retrucava.  Respondiam, esfregando rápido as suas mãos: “Álcoolgel! Álcoolgel”.

Daí, com tudo isso e uns 5 milhões, é eleito. Na sua posse, o pai chorava a cântaros: “Filho, você é um político, um legislador!” Júnior, inquieto em seu outro mundo, refletia: “Pai, os colegas tavam dizendo que fazer ‘rachadinha’ é uma boa. Isso é legal?” O pai assombrou-se: “Filho... se ninguém souber... é legal!”

Depois, num abraço que justifica a própria existência, prenunciou: “Ainda hei de te ver, meu adorado filho, no Planalto, presidente deste país... Ora, qualquer idio... indivíduo pode ser presidente. Você será, meu filho, um presidente de verde e amarelo!”

Não convencido, o jovem deputado encostou-se numa poltrona tão preguiçosa quanto um Macunaíma: “Mas, pai, presidente tem que trabalhar?”