sexta-feira, 19 de julho de 2019

Fundação Demócrito Rocha finalista no Troféu HQMIX 2019


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A Comissão de outorga do Troféu HQMIX, maior premiação do segmento dos quadrinhos na América Latina, divulgou a lista dos FINALISTAS da referida honraria.
Entre os finalistas, na categoria “Publicação Mix”, a Antologia HQ: quadrinhos para sala de aula (EDR), organizada por Raymundo Netto e com a participação de mais de 30 artistas do segmento. A publicação, a segunda do gênero pelo selo de quadrinhos das EDR, apresenta uma série de peças (tiras, cartuns, charges, histórias curtas, mangás) que se destinam a serem utilizadas para aplicação em sala de aula. Ao final, um anexo que tem por objetivo, a partir do conteúdo da obra, ensinar o professor a exercitar um novo olhar sobre a linguagem, conquistando seu protagonismo na aplicação adequada ou mesmo a elaboração de estratégias de desenvolvimento do ensino-aprendizagem.
Na edição de 2017, a primeira Antologia HQ, organizada por Daniel Brandão, foi finalista em duas categorias.

Concorrendo na categoria “Livro Técnico”, o curso Quadrinhos em Sala de Aula: estratégias, instrumentos e aplicações (160h), em EaD, da Fundação Demócrito Rocha, com coordenação de conteúdo de Waldomiro Vergueiro e coordenação geral de Raymundo Netto, contando com conteudistas, como: Sonia Bibe Luyten, Paulo Ramos, Nobu Chinen, Grazy Andraus, Roberto Elísio dos Santos, Cláudia Sales, Daniel Brandão, Paulo Amoreira, Weaver Lima, Renata Farhat e Rozinaldo Miani, além do próprio Vergueiro. O curso teve, em sua primeira edição, 67 mil inscritos. O curso está com inscrições abertas, em 2ª edição, desde 18 de julho. (Acesse e INSCREVA-SE: ava.fdr.org.br) As videoaulas do curso estão sendo exibidas também pelo Canal Futura da Fundação Roberto Marinho em cadeia nacional.

O Curso Básico de Histórias em Quadrinhos (140h) foi ganhador do Troféu HQMIX na categoria "Grande Contribuição". O curso está com inscrições abertas, em 2ª edição, desde janeiro. (Acesse e INSCREVA-SE: ava.fdr.org.br) 
Também como finalista na categoria “Livro Técnico”, História das Histórias em Quadrinhos no Ceará (FDR), organizada por Raymundo Netto, o primeiro grande registro impresso da história dos HQs no estado. A FDR já havia lançado o documentário em longa-metragem História das HQs no Ceará. Esse excelente resgate de recortes dessa história invisibilizada contou com a participação de jornalistas, quadrinistas e pesquisadores. Entre eles, Raymundo Netto, Weaver Lima, Levi Jucá, Camila Holanda, Marcos Sampaio, J.J. Marreiro, Eduardo Pereira, Geraldo Jesuíno, Fernando Lima e Ricardo Jorge.


segunda-feira, 8 de julho de 2019

"Sombras", de Raymundo Netto para O POVO



Passeava por sobre a própria sombra. Escoava os olhos como rodo pelas ruas cheias de estrelas da noite. O pálido clarão dos postes nas calçadas era o suficiente para não lhe deixar sufocar a sombra, a sua escuridão particular, companheira áspera e segura, a cravar-lhe na ponta dos pés e na alma o breu eterno de seus medos.
Quem o visse passar, ensimesmado e curvo, cabelos torcidos a dedos e tornados à chuva, lhe notava o balbucio, o grunhido de doido indiferente à plateia onomástica.
Mais perto, seria comum lhe sentir ofegante, encostado em paredes, gemendo cansaços. Sempre desesperançado e sem tempo. Sempre imerso na distração. Sempre.
Era assim: durante o dia, evitava as pequenas multidões, estranhava o amor e as pessoas felizes e nunca se deixava chegar perto demais. Às noites, se escondia. Suportava o cricrilar da opaca solidão por detrás daquela sombra a libertar-se ao revés da luz, a tomar-lhe as paredes do quarto, a lhe falar mais alto pela voz rouca do rádio, por trás da persiana da janela, pelo vestíbulo do banheiro, por baixo do travesseiro, na página marcada do livro que não saía da cabeceira. Ele, nunca de dormir, nunca de escrever sonhos, nunca de respirar. Nunca.
Pior quando tentava pronunciar A PALAVRA... sua voz lhe embargava, como se ela, aquela sombra, o estrangulasse.
Numa úmida noite, quando a lua abriu o sorriso minguante, corajou-se: trancou porta e janela da sala, apagou as luzes, tirou o inferno do bolso e, com uma pequena luminária, ameaçou a sombra. Ela zombou e riu. Daquela vez, ele reaproximou a lanterna e a chamou pelo nome e, em seguida, o repetiu! A sombra, então, saltou ligeira para trás, ao teto, pondo-se a tremer bruxuleante. Ferida, berrou, lançando-se sobre ele com a bocarra aberta e denteaguda para a devora de seu crânio ruim de pensamentos. Foi quando, num último golpe de ar, ele enfiou o punho no profundo do peito, arrancando o seu próprio coração e o arremessando para fora, pela janela do quarto.
A sombra não acreditou no que vira. Enlouquecida, largou-o e varou veloz pelo vestíbulo violáceo. Era tarde: lá embaixo, um felino de olhos alaranjados e brilhantes já o jazia frio, entredentes, desaparecendo na obscura melancolia do (esque)cimento.
Cambaleante e debruçado ao parapeito da janela, ele ouvia distante o soluço bizarro daquela sombra, a desaparecer muda e a serpentear entre os pedroiços molhados, de onde, logo, viria uma peste de minúsculos insetos verdes, centenas deles, saindo da obscuridão, preenchendo as paredes, como liquens, em sua direção. Arrogavam-se de tudo no caminho e, ao final, de seu corpo.
Libertara-se da sombra, sabia. Agora, outro silêncio lhe queixava aos ouvidos. Deitado na cama, percebeu-se vazio, distante, completamente esquecido numa solidão então maior do que tudo no mundo, condenado, sem coração, a não morrer nunca mais!