quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Leitura de Cinema: "Gravidade" (30.10)



Ontem tive a oportunidade de assistir à película norte-americana "Gravidade". Tinha receio do filme ser muito enfadonho, afinal, a história se passa no espaço orbital da Terra, onde a vida nem a graça são possíveis.
Nele, a atriz Sandra Bullock interpreta a dra. Ryan Stone, uma mulher apática, em missão de conserto do Hubble com uma equipe composta, dentre outros, por Matt Kowalski (interpretado pelo inexpressivo George Clooney de sempre. Anteriormente, fora pensado em Robert Downey Jr, mas...). Durante a operação uma imprevista "chuva de destroços", consequência da destruição de satélites por um míssil, claro, russo, destrói também o telescópio, além de estações espaciais de apoio e os coloca num perdido e silencioso espaço sideral. Os momentos seguintes, com ajuda de muitos jogos e alternância de planos de câmera, são de angústia, de quase asfixiar-se com a dra. Ryan. A partir daí, a NASA se cala, e o deus "às cegas" Houston sai de cena. O experiente (personagem, não o ator) Matt consegue encontrar a Ryan. Então, a reboca, a acolhe e, aos poucos vai nos mostrando dela a vida vazia, sempre a dirigir a esmo, em extrema solidão e silêncio, e a perda da filha num acidente banal. Sem marido, sem namorado, sem família. Nada. Nem saudade, pois, claro, saudade é coisa para quem tem alma.
O roteiro e a direção do filme é do mexicano Alfonso Cuarón (diretor de alguns filmes, dentre os quais, "Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban").
O enredo, apenas descrito, nos parece simples, mas o roteiro e a narrativa fazem o serviço que vale à pena - aliás, na arte é sempre o "como" que faz a diferença. Ah, aos românticos: não há nada de historinhas adocicadas ali. Nada mesmo. Ainda bem.
O contraponto da grandeza da conquista humana e de sua fragilidade diante do todo e do imprevisível são marcantes. Há uma metáfora que acompanha com muita gravidade o filme desde o princípio, além de momentos quase contínuos de grande tensão e desesperança. Algo que no reporta à escolha de viver ou não, seguida pelo momento uterino até o (re)nascimento, a presença de nossos "anjos", o consolo da vida e da morte, o prêmio para aqueles que resistem e optam pela vida, mesmo quando tudo nos empurra para o fosso negro do esquecimento e abandono de nosso eu. A cena final nos remete a isso: reaprender a caminhar. Sempre necessário. Mesmo sem Coca-Cola e amendoins achocolatados, mesmo sem sorrisos e com muito silêncio. Pipocas!

RÁDIO AlmanaCULTURA: "Olhos Vermelhos", Capital Inicial (31.10)



Para Ouvir:



Os velhos olhos vermelhos voltaram
Dessa vez
Com o mundo nas costas
E a cidade nos pés
Pra que sofrer se nada é pra sempre?
Pra que correr, se nunca me vejo de frente
Parei de pensar e comecei a sentir

Nada como um dia após dia
Uma noite, um mês
Os velhos olhos vermelhos voltaram de vez

Os velhos olhos vermelhos enganam
Sem querer
Parecem claros, frios, distantes
Não têm nada a perder
Por que se preocupar por tão pouco?
Por que chorar, se amanhã tudo muda de novo?
Parei de pensar e comecei a sentir
Nada como um dia após dia
Uma noite, um mês
Os velhos olhos vermelhos voltaram de vez

Parei de pensar e comecei a sentir
Nada como um dia após dia
Uma noite, um mês
Os velhos olhos vermelhos voltaram de vez

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

"Entre Páginas, Entre Vidas", de Raymundo Netto para O POVO (30.10)

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O escritor, médico, bibliófilo, acadêmico e político Lúcio Alcântara convidou-me tal dia para escrever um conto, um poema, uma narrativa que fosse a versar sobre “marcadores de páginas”. Achei estranho, não vou mentir, mas acabei por escrever um conto que se passa no século XIX, onde um rico e obsessivo (serão todos assim) colecionador de marcadores de páginas se frustra diante da constatação de não poder de nunca possuir uma espécie única do gênero a cruzar as suas vistas na mão de um jovem bibliófila. Não sabia qual o destino do texto quando o escrevi. Não sabia, na verdade, um monte de coisas, dentre as quais, que o próprio Lúcio há muito teria, dentre outras, uma dessas coleções.
Foi em seu aniversário, cuja promoter era naturalmente a esposa Beatriz, que reuniu os amigos e os presenteou com Entre Páginas, Entre Vidas, título inusitado e poético, a ampliar a dimensão de um objeto que é, aparentemente, um acessório muito simples: o marcador de página. A obra, publicada pela Fundação Waldemar Alcântara, é um curioso livro de arte, em capa dura, onde expõe, num belíssimo e colorido projeto gráfico de Álvaro Beleza, parte de sua coleção, fotografada por Jarbas Oliveira, numa seleção de Silvia Furtado e do próprio Álvaro. Um primor visual e estético. Não poderia ser diferente.
Ubiratan Machado, jornalista carioca que prefacia a obra, deita uma afirmação de Mallarmé: “tudo que existe nasce para terminar em livro”. E a vida, sabemos, é o que recheia os livros. Quanto mais vida, mais verdade, mais sabor. Mas por falar em recheio de livro, não podemos esquecer aquele acessório tão frequente a partir do século XIX – conta-se que a Rainha Elizabeth I foi uma das primeiras a utilizar-se de marcadores pessoais –, atualmente distribuído por editoras, livrarias, museus, casas de arte, ou mesmo feitos por mãos habilidosas, em caráter artesanal, como forma de transmitir afeto àqueles cujo coração bate ao cheiro do papel que estala e cai suave como se desse as mãos no folheado primeiro de pré-leitura.
Eu mesmo já tive e tenho vários. Depois de inclinar-me no Entre Páginas..., me perguntei se seria comum esse tipo de coleção. Na verdade, comichava no próprio organizador essa dúvida. Acabou por descobrir serem bastantes os amantes de bookmarks no mundo. A Biblioteca Pública do Paraná, por exemplo, lança periodicamente coleções de marcadores, distribuídos gratuitamente a seus usuários. A Livraria Cultura os vende, com motivos diversificados e, literalmente, atrativos, pois são de imã. Aliás, nos prova o livro a variedade de gênero de marcadores: de papel, seda, palha, metal, couro, origami, etc. A extensa trajetória política e a afinidade literária de Lúcio, o fizeram viajar bastante e, nos percursos – ele não sabe precisar exatamente quando deu início à coleção –, pôs-se a guardá-los, e daí encontramos marcadores de livrarias, editoras e bibliotecas portuguesas, inglesas, norte-americanas, argentinas, chilenas, uruguaias, japonesas, dentre outros, e, obviamente, brasileiras, de épocas diferentes, sendo alguns, certamente, raridades, e outros, bastante curiosos, marcadores produzidos com finalidade de promover medicamentos, inclusive, anticoncepcionais, material de higiene, bebida alcoólicas, hotéis, produtos alimentares (sardinha, por exemplo), candidatos políticos, serviços gerais. Algumas das peças são feitas com requinte, retratando escritores e frases famosas de uma literatura elegante. O colecionador surpreende indo além, registrando peças mais simples, feitas em tipografia, em material barato, o que muito impressiona. Alguns são recentes, outros são relíquias, marcadores de couro, tecido, palitos de picolé, plástico, metal, comemorativos (efemérides), até numerados com tíquetes destacáveis para sorteio. Em sua apresentação, Lúcio expõe a sua surpresa em saber da existência de outros colecionadores, conta histórias e ainda divaga sobre a temática do fim do livro, consequente causa da extinção dos futuros marcadores que não conheceremos. Em sua pequena arqueologia marcadorística, descobriu: não está só! E não mesmo. Então, convidou algumas pessoas para se chegar com ele nessa aventura “Entre Páginas...”: Beatriz Alcântara (“O primeiro marcador”), Diogo Fontenele (“Marcador de livro do meu tempo de menino”), Giselda Medeiros (“De volta ao lar”), Natércia Pontes (“Cadernos de nijinski”), Horácio Dídimo (“O marcador de livro”), Marly Vasconcelos (“Azul”) e eu (“Marca dor”).
Na experiência de “puro afeto”, o Lúcio, agora o poeta, se explica (como se fosse possível fazê-lo em palavras): “O marcador/É pausa/É hiato/É uma vírgula/No texto [...] Achá-lo um dia/ É ver sem saber/ Um hífen de vida/ Correio de saudades.”
Beleza, também, pura!

Serviço: o livro pode ser encontrado na livraria Arte & Ciência, na av. 13 de Maio, próxima à Reitoria da UFC.



segunda-feira, 21 de outubro de 2013

"Ad Verso", poesia para a vida não ficar tão vazia, de Raymundo Netto (21.10)


Esqueço-me entrestrelas que temem a escuridão
Permanentes, incendiadas
No alto da virgem solidão
A curtir na minha pele o esmigalhar de infinitos.
Em seus ritos, despejam os dias cinzentos, como nos ventos a carrear as tristezas,
As amarguezas,
As palavras a me virem secas como gretas em meu chão.
Nunca de o amor chegar à hora marcada
Nunca de o desejo minar exposto
Nunca de o sorriso brilhar o rosto

Morro, morro, morto.

E, após a morte, renasço na sorte tão igual em minha diferença,
Em minha crença, em meus sonhos doentes,
Nas tardes de meus dias, tais quais manhãs sonolentes.
Recebo a noite dum silêncio antecedo a escorrer no telhado
Do seu céu a me chegar num arremedo tão azul quanto o pejo estrelado.
Face, doce, beijo, molhado.


sexta-feira, 18 de outubro de 2013

“Que mania é essa de expulsar o pobre poeta da cidade, Platão?”, crônica de Ângela Calou (18.10)


Como seria uma cidade sem poetas? Seria um condado anestesiado, com monólitos imensos e blocos de vida amorfa. As pessoas teriam gosto de farinha de milho estragada na boca, e a pele seria pesada e adoecida por falta de sol e brisa. Teríamos pilhas de papéis cheirando a mofado, contendo a lista infinita dos conceitos possíveis. O estatuto ontológico do ser, o princípio de razão suficiente, a natureza essente das coisas do mundo… Tudo isso teríamos em dispositivos fabulosos, hábeis na produção do cerco à vida… Mas o mundo mesmo, as coisas e o ganido forte do que é vivo, isso não caberia numa cidade-sem-poetas. Uma cidade sem poetas nem mesmo um nome teria! E todos os dias seriam o mesmo dia e todas as horas apenas mortificações em 60 minutos. Os sinos das igrejas parariam de trabalhar e os anjos-meninos, escondidos nas nuvens de chuva, marchariam em retirada. As nuvens e a chuva fariam o mesmo. Os encontros entre amigos (de fato, é apenas uma suposição essa coisa de amigos numa cidade como esta) seriam sinistras emplastificações de sorrisos, reconhecidos por códigos de série colados no molar esquerdo, e nem com o mais potente instrumento de auscultação o coração de tais homens e mulheres deixar-se-ia perceber. As pessoas seriam como máquinas de vender coca-cola: uma moeda e um botão; e as crianças conversariam sobre o câmbio e as taxas reguladoras da política de redução dos recolhimentos compulsórios sobre os depósitos bancários. As aquarelas e o arco-íris teriam uma cor apenas, e poder-se-ia, finalmente, banhar-se duas vezes em um mesmo rio. As moças comprariam seus príncipes em doze vezes, na mesma loja onde suas mães lhes compraram há alguns anos o sonho desse mesmo príncipe. Nos circos os palhaços teriam o rosto limpo, havendo a hora certa para rir, indicada no catálogo da programação do espetáculo vendido junto ao ingresso. Ouso dizer ainda que, nessa cidade, as avós fariam apenas miojo para o almoço de domingo e que o único vestígio de música seria o som dos pés nas ranhuras do asfalto quente e insondável das ruas. Nem me atrevo a falar do amor, pois sem poetas, ele seria um deslocamento constrangido e, não tendo a quem inspirar, logo sucumbiria num frêmito exangue de solidão. Numa cidade sem poetas seria barata, prática e segura a ordem instaurada da monotonia, com seus cálculos infinitesimais sobre seres de finitude. Então, não se leria Rimbaud, Pessoa, Quintana, ou João Cabral… e desse modo, nunca a eternidade no mar misturado ao sol, nunca o humano em demasia nas portas da Tabacaria, nunca a salvação por letras de um afogado, nunca um Severino entreaberto com a ponta de dedos aguerridos… nunca um arriscado gole na sede do estranhamento que é ser… pois poetas não haveria e nem tristeza ou alegria, apenas o fato cru – empobrecido, biológico, redundante.

Ângela Calou é escritora. Autora do livro “Eu tenho medo do Górki e outros contos”, 2011.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

"Surtando no Divã", crônica de Raymundo Netto para O POVO (16.10)


Diante da revelação da amiga a lancetar em meu espírito as pseudomazelas de uma fingida solidão, larguei a covardia selada num trauma passado, juntamente com um molho de manias e manoias, saltei do trampolim e busquei ajuda profissional. Não sabia lá o que seria de mim: se me curasse, parasse de me vitimar, de reclamar, o que me restaria, assistir à TV?
Dentre alguns misteres adquiridos na experiência matrimonial, acostumei a não falar tudo o que pensava. Após separação, contudo, esforcei-me para fazer justamente o contrário, descobrindo que o estado civil nada tem a ver com os dissabores advindos de tamanha translouquice, pois o mundo está preparado, sim, é para a mentira, a omissão, nunca para a sinceridade falsamente tão querida. Outra grande e fulminante descoberta foi a de que eu nunca serei o que penso ser. Numa relação é assim, onde o companheiro não possui tal certeza, a companheira, não tem dúvida: ele será sempre o que ELA pensa.
Chegando ao consultório, dei por mim numa acanhada sala com alguns vasos de plantas, um quadro de gosto duvidoso e, por detrás de desatualizadas revistas de assinaturas, alguns olhos desconfiados. Num momento de empatia, pensei: “Por que não lhes poupam do constrangimento e abolem aquela antessala?”. Sentei-me, após a secretária anunciar em bom som o meu nome e a minha colocação naquele páreo.
Um vizinho simpático perguntou-me se era a primeira vez e logo se apresentou: “Raymundo, prazer. Meu nome é Gerúndio.” “Gerúndio?”, ri. “Sim, este é o meu nome. Vê, não poderia estar em outro lugar, poderia?” Envergonhado, me desculpei e perguntei-lhe de quem fora a ideia do nome: “De meu pai, enquanto ouvia os gritos do parto de minha mãe. Ele me contou que a empregada, que acompanhava a parteira, aparecia de vez em quando à porta e só repetia: ‘Tá nascendo, nascendo, nascendo.’ Foi tudo muito demorado e difícil. Ele já estava maluco, quando finalmente veio à luz seu filho: eu! Então, com lágrimas nos olhos, meu pai sentenciaria: ‘Vai ser Gerúndio, em homenagem ao santo’.”
O Peixoto, um outro sujeito, com pernas compridas e olhos azuis, na escuta da conversa, impulsivo, não se conteve: “Tudo em nome do amor, meu amigo. Do amor. Sabe o que penso? Pois sim, o amor é um despropósito! Só serve para nos tolher a liberdade e nos tomar de nós mesmos. Aqueles que lhes estão à sombra, são inevitavelmente arrastados à rósea infelicidade.”
Uma senhora, com a neta a tiracolo, asseverou: “Meu senhor, me desculpe, mas eu conheço muitos outros que amam e se dizem felizes...” “Os outros, ora os outros – respondeu-lhe na oratória mórbida dos que sofrem –, muitos, minha cara, não sabem absolutamente nada sobre tal monstruosidade. E, vem cá, a senhora ainda crê em felicidade, é? E em Papai Noel, também crê?”
Eu, obsessivo, intitulei: “Só os egoístas serão felizes!” Mas a senhora, pobrezinha, puxou um lenço de papel e, com olhos perdidos numa esquina do infinito que vem de dentro, surpreendeu: “Não, meu senhor, felicidade não existe. O que existe é algodão-doce.” A netinha, numa inocência lúcida e pragmática, impressionou: “Algodão-doce é bom, mas enquanto adoça a boca apodrece os dentes.”
“Contraditório, não?” – acrescentou o Gerúndio, enquanto o Peixoto caía os olhos amorosos na pródiga menina: “A contradição, mocinha, é o combustível do planeta. Sem ela, nada se move, nada se cria. O exagero é a verdade zenital e o sincretismo é uma merda! Nem de café com leite eu gosto. Por isso eu vim aqui, para arrebatar de vez esse furúnculo de mim!”
Todos calaram solenemente, por uns instantes. Eu, que havia visto o diabo de perto, corpo fechado de flores do mal, incompreendido de mim, preferi não desfolhar meu malmequer. Melhor.
Por fim, um a um dos “debatedores”, chamados formalmente pela secretária, entravam na sala da analista. Primeiro o Gerúndio – “estou chegando...” –, a netinha da senhora e, então, o Peixoto. Impossível exigir deles o mínimo aceno de adeus na saída. Vinham mexidos, transtornados, vermelhos, chorosos, inconformados, sei lá. Veio então o fatal:
– Senhor Raymundo Netto, pode entrar.
– Eu?
Sim, era a minha vez, a primeira em que encontraria a doutora K. Chamo de doutora, mesmo quando ela dispensou o tratamento formal, mas achei de ocasião manter a distância. De cara, literalmente, um alivio: era adjetivalmente feia, com toda a gravidade do termo, o que me pouparia desvio da atenção durante as sessões, se eu tivesse coragem de continuar, assim como espero ter a coragem de expurgar esta primeira sessão na próxima crônica, é claro, pois agora: água com açúcar e lenços de papel!


sábado, 12 de outubro de 2013

"Sempre Não é Todo Dia" (Oswaldo Montenegro)







“A outra abordagem da solidão, é a solidão que a gente acha que não vai aguentar, que é carga demais, solidão que, se jura por Deus, não merecia.”


Eu hoje acordei tão só
Mais só do que eu merecia
Olhei pro meu espelho e há!
Gritei o que eu mais queria

Na fresta da minha janela
Raiou vazou a luz do dia
Entrou sem me pedir licença
Querendo me servir de guia

E eu que já sabia tudo
Das rotas da astrologia
Dancei e a cabeça tonta
O meu reinado não previa

Olhei pro meu espelho e há!
Meu grito não me convencia
Princesa eu sei que sou pra sempre
Mas sempre não é todo dia

Botei o meu nariz a postos
Pro faro e pro que vicia
Senti teu cheiro na semente
Que a manhã me oferecia

Eu hoje acordei tão só
Mais só do que eu merecia
Eu acho que será pra sempre
Mas sempre não é todo dia


sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Entrevista de Ana Miranda sobre "O Peso da Luz, Einstein no Ceará" (com lançamento em 18.10, na Cultura)

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Lançamento:
Data: 18 de outubro de 2013.
Hora: 19 horas
Local: Livraria Cultura (av. Dom Luís, 1010, Ljs. 8,9 e 10. Fone: (85) 4008.0800)
Editora: Armazém da Cultura (3224.9780)
Preço de capa:        R$ 40,00

Entrevista com Ana Miranda, autora de O Peso da Luz, Einstein no Ceará.

A novela O peso da luz, Einstein no Ceará, foi escrita para homenagear seu tio-avô, que era inventor?
Sim, claro, é uma história fascinante que corre na minha família, mamãe sempre a repete. Esse tio, que se chamava Inácio Nóbrega, e morava em Cajazeiras da Paraíba, inventou nos anos 1930 um controle remoto, e cedeu os desenhos e cálculos a um viajante alemão, que prometeu patentear o invento em seu país. Mas desapareceu com os esquemas, e meu tio Inácio nunca mais teve notícias. Foi uma consternação para ele e para a família. É uma homenagem aos inventores em todas as áreas, às utopias e quimeras. Mas também é uma homenagem ao Ceará, pois aborda um tema cearense, que é a comprovação da teoria da relatividade geral, de Einstein, ocorrida durante um eclipse em Sobral, em 1919. Para lá foi enviada uma comissão científica com a missão única de comprovar a teoria do cientista nascido na Alemanha. Interessante é que foi na época da Primeira Grande Guerra, e britânicos e alemães eram inimigos. Além da grande conquista científica, que revolucionou o mundo em tantos aspectos, a comprovação foi uma espécie de vitória do espírito de cooperação contra o espírito bélico.

É seu primeiro livro que se passa em sua terra natal, o Ceará?
De certa forma, sim. O Ceará sempre esteve presente em mim, assim como a Paraíba e todo o Nordeste, em alguns de meus modos de ser e ver o mundo. Em Dias & Dias eu pisei pela primeira vez o solo cearense, quando personagens passam por Fortaleza. Eu sentia uma falha no conhecimento de minhas origens, pois saí de Fortaleza aos quatro ou cinco anos de idade. Voltei a morar no Ceará, e a me imbuir de seus elementos culturais, históricos, tenho conhecido muitos aspectos dessa terra, e isso me inspira livros com temas locais.

O fato de a comprovação se passar no Ceará tem alguma relevância para a teoria?
Tem relevância para o Ceará e para o Brasil, por extensão. Tudo o que acontece em nosso país passa a fazer parte de sua história, e tudo deixa consequências que devem ser examinadas, lembranças que devem ser preservadas. O fato traz à luz, por exemplo, aspectos importantes de nossa história científica, como o conflito entre ciência utilitária e ciência pura, ou a dificuldade, falta de tradição, de apoio à pesquisa científica. Pelos relatórios dos cientistas das comissões inglesa e brasileira, podemos verificar nitidamente as nossas dificuldades. E se não tratarmos de nossos temas, se não os conhecermos e examinarmos, e criarmos nossas próprias referências, estaremos sempre como repetidores colonizados de conhecimentos externos, li, dia desses, essa frase no jornal.

Por que a senhora escolheu um poeta para acompanhar o cientista inventor, narrador do livro?
Para tecer laços entre a ciência e a poesia, ambas têm exatidão, ambas se compõem de imaginação e exigem ousadia. Também para criar um parâmetro de comportamento entre duas figuras quase marginalizadas na sociedade, o poeta e o inventor, tidos como quixotescos, por abordarem reinos do conhecimento humano que são essencialmente subjetivos, e saírem em busca do desconhecido. A alma humana e o moto-perpétuo. Einstein achava que a imaginação é mais importante do que o conhecimento. É por essa vereda...

Einstein esteve realmente no Ceará?
Esteve, como símbolo. Na verdade toda arte é simbólica, e a presença dele no Ceará significa a chegada de um novo tempo, e a ânsia de estabelecer contato com o mundo, até mesmo com o tão misterioso universo, com as origens da vida, com os significados da existência, porque a física abstrata tenta vasculhar o mistério, assim como a poesia. Num mundo em que se acreditava em verdades e certezas, houve um momento em que a “realidade” tomou um aspecto relativo. Houve um como que desmanche cultural, uma fragmentação atômica. O livro aborda a questão do sentimento de provincianismo, e o exílio pessoal e cultural. Também, as possibilidades de renovação, um sentimento que inquieta a humanidade, porque encerra o tema da vida & morte.

O narrador do livro dá de presente a Einstein um papagaio. É sabido que Einstein teve em sua casa um papagaio. Qual o significado do papagaio?
O papagaio é um elemento da vida de Einstein, que cuidou de uma dessas aves. O biógrafo Walter Isaacson diz que ele recebeu o papagaio de presente de um centro médico, em 1954, deixaram a ave na porta da sua casa. Einstein andava doente, já no fim da vida, e o presente deve ter sido terapêutico. Talvez ele falasse que gostava de papagaios, talvez já tivesse tido um. Os jornais brasileiros mencionam que durante a visita ao Rio um cidadão lhe entregou um papagaio, e Einstein teria levado essa ave para sua casa. Se for verdade, é fascinante a coincidência, pois deve ter algum significado que pode ser examinado. Soube que o papagaio mais inteligente do mundo, que vivia num zoo nos Estados Unidos, se chamava Einstein. De toda forma, é uma ave bem popular, domesticável, humanizada a tal ponto que chega a repetir os sons, como se falasse, e há uma força afetiva entre essa ave e a pessoa que dela cuida. Levar do Brasil um papagaio pode ser levar um símbolo da nossa natureza e cultura. A inserção do Novo Mundo no Velho Mundo, poderia ser... A invasão da cultura popular, do folclore, na erudita... A natureza que existe na cultura... O idílio da floresta primitiva... Abordagens assim. Para Roselano o papagaio era uma ligação afetiva com Einstein, o personagem lhe ensinava apenas frases em alemão.

A sua admiração por Einstein é patente no livro. Que características desse cientista a entusiasmam?
Tudo nele é entusiasmante, sua personalidade ao mesmo tempo meiga e insolente, seu senso de humor, sua simplicidade e despojamento de bens materiais, e o que ele disse de si mesmo, numa carta a um filho: “a capacidade de se elevar acima da mera existência, sacrificando sua própria pessoa ao longo dos anos em prol de um objetivo impessoal”. E a inteligência brilhante dele, que se expressava em ideias científicas, mas também nas frases que ele despejava com espontaneidade.

O conflito de Einstein, em relação à criação da bomba atômica, não está no livro. Por quê?
Porque se passou depois da ação do livro, que se resume ao período de 1919 a 1925. No entanto, apesar de o narrador ser um apreciador irrestrito do trabalho de Einstein, a polêmica sobre sua vida e obra se encontra nas páginas da novela, dentro das perspectivas da época e local, o Brasil. Apesar de uma pureza apaixonada na visão do narrador, Einstein aparece com suas contradições.

Por que a senhora chama o livro de novela, e não romance?
A novela é um romance abreviado, com trama contida numa só linha de narração, poucos personagens, nada daquela voz polifônica, daquele longo devaneio, fugas, daquelas tramas paralelas, que caracterizam o romance. O peso da luz se encaixa bem melhor nas definições de novela.

A linguagem de O peso da luz é bem mais simples do que a de seus romances. A que se deve isso?
Deve-se à época em que se passa a trama, século 20, não estou recriando nenhuma dicção antiga, e as dicções antigas hoje nos parecem complicadas, quanto mais antigas, mais desconhecidas, dando a sensação de estranheza. Também o fato de ser novela leva à simplificação da estrutura ou vice-versa. E o fato de o narrador ser um homem das ciências exatas. As falas do poeta são bem mais rebuscadas, no livro, inspiradas em Augusto dos Anjos, era o tempo do cientificismo poético, ou da poesia cientificista.

A senhora diz que O peso da luz é a primeira das Novelas Cearenses que pretende escrever. Poderia dizer quais são as outras?

Prefiro guardar segredo. O Ceará tem uma riqueza quase virgem, no campo da literatura histórica, e há temas fabulosos. Sinto que tenho condições de fazer um trabalho nesse sentido, animada por uma espécie de amor natural.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Lançamento de AM DO POVO: trajetória de uma rádio pioneira (1982-2012), de Adísia Sá (9.10)


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AM do POVO: trajetória de uma rádio pioneira (1982-2012), escrito pela jornalista Adísia Sá durante o ano em que se comemorava os 90 anos da primeira transmissão radiofônica do Brasil, data coincidente com os 30 anos da inauguração da AM do POVO.
A obra é, acima de tudo, uma homenagem ao rádio, veículo “companheiro”, que resiste até hoje como um dos mais populares e fieis veículos de comunicação, mesmo diante da oferta de informação fácil que prolifera nas redes sociais – na internet de forma geral – fluindo muito acessivelmente em todo tipo de aparato tecnológico móvel.
Após uma breve caminhada pelo início da aventura radiofônica brasileira, passando pela Era do Rádio, a autora chega nas primeiras experiências do rádio no Ceará, com ênfase na Ceará Rádio Clube, a PRE-9, de João Dummar, que transformou o sonho hertziano em realidade, mudando profundamente o cenário da época por meio de seus estúdios, convidados especiais, programação e profissionais que ela formou. Seguindo as ondas do rádio, chega na “companheira” AM do POVO, em 1982, que rapidamente ficou conhecida como a escola do rádio no Ceará, pioneira em quase tudo que se pode pensar em nome de rádio, inclusive criando história por meio de seus quadros, como o “Debates do POVO”, do qual Adísia fez parte. Daí, outras se seguiriam, até mesmo dentro do próprio Grupo de Comunicação O POVO, como, atualmente, na FM, O POVO/CBN (única no Ceará a transmitir 100% de notícias) e a Calypso, e, na AM, O GLOBO/O POVO.
O livro transcreve um conjunto de recortes de jornais da época, mostrando a fidedignidade do apresentado, e encerra com uma série de depoimentos de profissionais que participaram da construção do rádio no Ceará, em especial da AM do POVO, dentre eles: Carmen Lúcia Dummar Azulay, Cid Carvalho, Fátima Abreu, Alberto Rangel, Maryllene Freitas, Nazareno Albuquerque, Nonato Albuquerque, Paulo Oliveira, entre outros.

Edições Demócrito Rocha

Serviço
Adísia Sá lança AM do POVO: trajetória de uma rádio pioneira (1982-2012), pelas Edições Demócrito Rocha. Na ocasião, a jornalista participa de bate-papo sobre sua carreira jornalística e literária e, ao final, sessão de autógrafos.
Mediação: jornalista Ruy Lima.
Quando: 9 de outubro de 2013 (quarta-feira), às 19h
Onde: Espaço O POVO de Cultura & Arte (Av. Aguanambi, 282/A, Joaquim Távora – anexo jornal O POVO)
Horário: 19 horas
Entrada franca/Estacionamento disponível ao lado (na av. Aguanambi, 252-A)
Outras informações e contato: (85) 3366.3785/ 9199.1574 (Mariana Cavalcante) ou pelo e-mail:

"O POVO é FOGO!", crônica inédita de Raymundo Netto (9.10)

 Fonte: O POVO (Deivyson Teixeira)
“Incêndio!” O verbete vaporava vespertino num arrebol domingueiro.
Corria os olhos em busca de notícias, logo elas, pela internet. Uma cortina de fumaça cobria os acontecimentos em tempo real. As fotos postadas angustiavam. As compridas chamas lambiam o céu de uma Aguanambi que ardia.
Também não sabíamos que o legado de Prometeu seria tão afeito a livros. Devorou-os um a um, deliciando-se de uma sentada só, num repousante lusco-fusco de uma tarde de domingo. Passantes alegavam até receber as suas migalhas, em flamas, a pousar nas ruas aledoras de arredores.
E, foi no calor da hora, sem trocadilho, que os jornalistas e outros profissionais se reuniram e, dirigindo-se à redação da TV, se obstinariam a encerrar a edição de segunda, que bem ou mal sairia às ruas. E saiu!
Esse espírito de coragem é uma das marcas presentes na redação de O POVO, conforme lemos nos históricos ou mesmo ouvimos nos corredores nas histórias saborosas de vida contadas pelo Gutemberg ou pelo Mauro Sales. Nem sempre, entretanto, as coisas aconteciam como se queria, pois muitas foram as vezes que o jornal foi impedido de sair ou saiu sobre a pressão de obstáculos ou da intolerância, causando desabores e roendo, aos poucos, o ânimo daqueles que abraçavam o jornal. Logo nos seus primeiros anos, por exemplo, O POVO passou por querelas de foro jurídico por conta de artigos ineditoriais e por salvaguardar as suas fontes fornecedoras, além de ser perseguido politicamente pelo governo cearense por sua ação a favor da Revolução de 30, como também sofrera a censura estadonovista e, futuramente, a censura militar dos “anos de chumbo”, quando, em 1971, ao noticiar a prisão de José Vasconcelos Dantas, a Polícia Federal recolheu toda a sua edição, o que fez O POVO enviar um indignado telegrama ao, então, ministro da Justiça, Alfredo Bussaid. Foi criticado e malvisto quando estampou o anúncio comercial de Luiz Carlos Prestes, na época, exilado em Buenos Aires. Sofreu com a economia desmantelada pela quebra da bolsa em 1929, e durante longos anos, amargou a desvalorização da moeda brasileira e o alto custo dos insumos e do papel, ou, muitas vezes, a dificuldade de encontrá-los nas condições de produção do jornal, razão pela qual teve de, durante o seu percurso, criar formatos diferentes sempre que não os conseguia. No período da II Guerra Mundial, buscava papel em estados vizinhos, ou mesmo os pedia emprestado aos concorrentes – só começou a trabalhar com estoque em 1943. Pela necessidade de atualizar seu maquinário, vários foram os momentos que não pôde imprimir sua folha – poucos jornais da década de 1928 tinham uma gráfica própria. O POVO já começava com a aquisição de uma “Alauzet”, de segunda mão, que com o tempo foi substituída pela alemã “Planeta”, seguida pela rotaplana “Duplex”, posteriormente, pela rotativa MAN, trocada pela Goss – a primeira do tipo off-set –, e assim por diante, sempre comemorando a sua renovação, assim como também a compra da primeira sede-própria, na rua Senador Pompeu, 1082, cuja fachada foi desenhada por Emílio Hinko.  Duras sempre foram, mesmo quando exitosas, as campanhas em busca de assinaturas e de novos anunciantes, que consolidavam o jornal no mercado e popularizava o seu “Populares”. A distribuição também era prejudicada pelas malqueridas quedas de energia de dia inteiro, como em 10 de novembro de 1947, na época da “Light”. Não poderíamos deixar de registrar a alteração de ânimos a cada perda de um de seus líderes, como foi com Demócrito Rocha, Paulo Sarasate, Creuza Rocha, Albaniza Sarasate e, ao fim, de Demócrito Dummar.
Entretanto, curiosamente, vasculhando as memórias de O POVO, é notório perceber que, após o lamento da crise, seguiam-se as comemorações das boas novas e de grandes conquistas.
Neste domingo, a cena parecia triste, mas trazia a feliz surpresa na solidariedade das pessoas a se manifestarem por e-mails, ligações telefônicas, nas redes sociais ou mesmo nos seus portões. Pequenas declarações de reconhecimento que, o próprio fundador, no aniversário em 1941, parecia já assistir: “Temos a impressão de que o Ceará inteiro, numa edificante demonstração de solidariedade, porfia em estimular este órgão da imprensa, evoluindo em suas relações com O POVO, compreendendo-lhe a sua alta finalidade e cooperando, de maneira ativa, na realização de seus melhoramentos.”
Os 46 nomes que figuram na segunda página da edição de 7 de outubro de 2013, a de nº 28.613, têm agora uma história “cujo valor somente os que lutam podem devidamente estimar”.
E O POVO, ainda febril, vai recebendo de volta todos os seus colaboradores. Em seus olhos a temática “é de cortar coração”, o que sobra na disposição do recomeço, na força de criar e garantir a edição de amanhã, a notícia no ar, sempre presente, contando a história de todos nós para as futuras gerações. Que viva O POVO!




quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Lançamento de "Os Dias Roubados", de Carlos Vazconcelos (04.10)


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Lançamento

Data: 4 de outubro de 2013 (sexta-feira), às 19h
Local: Auditório do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (em frente ao Planetário).

Sobre o Autor
Carlos Vazconcelos nasceu em Tianguá, Ceará. É graduado em Letras, pela UECE, e Mestre em Literatura Comparada, pela UFC. Publicou Mundo dos Vivos (contos), ganhador dos prêmios Osmundo Pontes de Literatura e Clóvis Rolim de Contos, ambos da Academia Cearense de Letras. Produz e media o projeto “Bazar das Letras” (um circuito de entrevistas com escritores, seguido de lançamento de livros), no SESC.
Sobre a Obra

O complexo narrador-autor desta obra instigante vai — trazendo sempre junto o leitor — construindo (ou seria desconstruindo?) suas prisões exteriores e, principalmente, interiores. Texto de fôlego do contista de Mundo dos Vivos, que, pouco a pouco, pedra a pedra, vai fincando seu nome neste solo tão árido da Literatura Cearense. 
Pedro Salgueiro

O romance de Carlos Vazconcelos é agudo na temática e bem elaborado na forma, com uma técnica inventiva. No final é que é revelado, por meio de um “posfácio” produzido por um dos organizadores do volume, que a narrativa que lemos (fragmentada, e o recurso soa perfeito, por conta do arranjo que foi possível ser montado pelos organizadores do material recolhido) se trata na verdade da autobiografia do protagonista, que, na prisão, e fazendo de tudo para preservar seus papéis, seus manuscritos, tornara-se escritor. Tornara-se escritor para denunciar a injustiça que o fez padecer durante quinze anos – e que, liberto, não o recompôs como indivíduo, fraturou de vez sua identidade.
Rinaldo de Fernandes

"[...] grata pelo arrebatamento que você me proporcionou com o seu Os Dias Roubados, que li duas vezes (a primeira em algumas horas; a segunda, pausadamente, em pequenos bocados). O narrador e protagonista sem nome é um homem que, tendo passado quinze anos atrás das grades por um crime que não cometeu, desaprendeu seu lugar no mundo. Assombrado pelo passado, destila sua angústia existencial em escritos que o transformarão em celebridade. Realidade e fantasia, sonhos e lembranças misturam-se vertiginosamente no relato desse homem que, privado da voz, faz da palavra sua vingança. Um texto vigoroso e sofisticado, que revela um escritor dotado de sensibilidade e consciência literária. Um escritor em sua plenitude. Aceite meu encantamento.
Marília Arnaud