sábado, 28 de novembro de 2015

"Luar de Luana", de Raymundo Netto, para O POVO


Luana Rachel. A Lua. A de “brinco ouro”, como se distinguia da irmã de abrigo natal, a “de pérola”, por encontramento recente, olhando-nos ainda de estranhos: pais e filhas.
Das duas, a mais simpática. A menor, cujo maior sorriso. Ao traçá-lo banguela, apertava os olhos, mas noutro caso, trazia-os descortinados para o mundo.
Cedo, cedo, convivemos muito próximos, ela por sobre mim, cabeça encoberta em meu pescoço. Era à noite; era ao dia. Quantas vimos o Sol nascer ao balançar lento à cadeira de palhinha. De então, pomos à estreita amizade enamorados a uma ternura gratuita.
Já de pequena, a Lua gostava o desenho — mania de criança expressar-se a toda forma — sem pressa, com detalhes, mundos fantásticos, sempre estrelados, com seres de corpos finíssimos a sustentar uns cabeções, em cabriolas de cores impossíveis — mau hábito de adulto estragar-lhes um céu de ser azul e grama há de sempre verde, num realismo monótono decepcionante.
Já criadas pernas, inda sem cabelos — durante muito tempo só fiapinhos laçados por preciosismo de coração materno —, Lua e Lia me davam as mãos a passeios vesperais. Alumbrava-me a descoberta do “dar de mãos” dos filhos. Engraçado sentir num gesto tão trivial, a entrega absoluta incondicional, algo de nos dar de um todo em confiança e amor, podendo de ali ser levados a qualquer lugar e a tempo, pois que quando um filho nos dá a mão ele se dá por completude, no que confia de vero, na mais autêntica sinceridade.
"Criança não mente", isso, sim, uma mentira. Criança emprega da mentira, e é da dificuldade de pais fazer com que não precisem usar-se dela a costume. Dela o mundo sobeja e se farta.
À criança não se subestima, não se diminui, não se cobra de adulto, não se ensina a ser super, muito menos a faz espelho de corrigir passados e malfeitos. À criança todas as liberdades de ver o mundo, de recriá-lo, de acolhê-lo em significados particulares de nova aurora, mas a saber-se nunca só, pois na solidão o ser padece.
A Lua sempre de vez gostava surpreender com tiradas de espírito sobre assuntos comuns. Curtia-me percebê-la tão menina a maquinar o pensamento em busca de chamar-nos atenção e, exitosa, gargalhar de criança e repetir-se noutro dia, e noutro, para que não mais esquecêssemos seu feito extraordinário.
Escritor, há quem credite, é gente que trabalha ao tempo-vai, mas que ninguém entende. É na beira da praia, enxerido à conversa de ambulante, no ônibus pela cena engraçada de um esquisito trocando falas, na leitura derreada de livro cheio de ideias no sofá, assistindo à película de cinema, enfim. Para minhas crianças, mas como todos, só veem que o pai-escritor está em casa, ali, sentado o tempo inteiro — "será que papai é paraplégico?" — e, em meio àquela cena sofrida escrita a suor, momento particularmente tenso e intenso, me chega Luana, desencucada da vida, e rebola à frente, um desenho a lápis da boca do forno:
— Pai, olha... sabe o que é isso?
Olhando o rascunho de contorno grafite, de ligeiro, para não perder a brasa da forja: "Filha, é um cavalo. Que bonito, meu amor..."
— Ô, Pai... olha direito, não é um cavalo...
Lanço novo olhar, ainda de pressa ao início de nervoso: "Filha, me desculpe, mas isso é um cavalo, sim!"
— Papai — ressentindo-se a tão adulta ignorância. —, é uma zebra...
Paro, então. Respiro fundo de sem jeito. Coloco o desenho no colo. Miro aquele projetinho de artista sério em olhos amendoados e brilhantes, e ainda assim, desconfiando-me, sentencio:
— Luazinha, isso é um cavalo... As zebras têm listras!
— Mas pai, ela tem listras... só que são brancas!


terça-feira, 24 de novembro de 2015

INSCRIÇÕES ABERTAS: Fórum de Reconstrução Social I Encontro Diálogos pela Paz (26, 27 e 28 de novembro)


Clique na imagem para ampliar!

Fórum de Reconstrução Social
I Encontro Diálogos pela Paz
Segurança e cidadania

Quando: 26, 27 e 28 de novembro de 2015
Onde: Escola Superior da magistratura do Estado do Ceará

INSCRIÇÕES GRATUITAS

Convidados
Contardo Calligaris, Alba Zaluar, Silvia Ramos, Camila Dias,
Débora Diniz e Christian Dunker

Sobre o I Encontro Diálogos pela Paz

Considerando a relevância e a urgência de um debate mais amplo com a sociedade, o Fórum de Reconstrução Social realiza o I Seminário Diálogos pela Paz. Com o entendimento de que questões como segurança, violência, sistema penitenciário são problemas sociais, com especificidades históricas e antropológicas, formamos debates com diferentes segmentos políticos e culturais do campo social para viabilizarmos frentes variadas e contínuas de discussões.
Estudantes, pesquisadores, gestores públicos, profissionais do direito, da imprensa, intelectuais, cidadãos, enfim, são convidados a comparecer, acompanhar e encaminhar criticamente as perspectivas dos nossos palestrantes e debatedores.

Assim, pretendemos com nosso primeiro encontro inaugurarmos uma obra aberta, feita de intervenções e ideias que renovem a abordagem e a prática desses temas.

AlmanaCULTURA In Dica: "O Deserto dos Tártaros", de Dino Buzzati


(*) Dica de leitura do quadro "Vamos Ler" da REVISTA O POVO na rádio O POVO/CBN, com Maísa Vasconcelos e participação quinzenal de Raymundo Netto (terças-feiras, das 15h30 às 16h) – 1º de dezembro de 2015

O Deserto dos Tártaros me chegou pela curiosidade e como surpresa. Não conhecia Dino Buzzati, o seu autor. Fui presenteado – devo-lhe ao Pedro Salgueiro, crítico-mor dos sebos da região – com A Queda da Baliverna, cujo projeto gráfico e título, a princípio, não me atraíram. Após a primeira leitura dos contos de tal Queda... , senti uma coceira de conhecer o romance sobejamente anunciado como a sua obra-prima: o alegórico O Deserto dos Tártaros.
Li e, sobre a obra, escrevi, em 2013, em crônica publicada em O POVO:
“Difícil leitura, mas não por culpa do autor. Aparentemente um livro monótono, tenso, marcado por uma sequência de nadas e vazios desconcertantes. Giovanni Drogo, um jovem tenente, recebe posto no forte Bastiani, na planície fronteiriça de um cantinho qualquer esquecido do ‘mondo’. Como todo bom soldado, queria ser herói, fazer algo de relevo, ter uma carreira brilhante, viver grandes amores, ganhar o mundo. Só que não. Ao percorrer a enfadonha trilha militar do forte, a cada momento tinha a certeza de que só podia ser um engano. Nada mais morto, mais desinteressante, mais inútil que aquela vida besta, a ponto de escrever cartas mentirosas na tentativa de se enganar, antes do outro. Tentou sair do forte, procurar outra ocupação, pedia transferência aos seus superiores, e tudo isso lhe parecia sempre bem possível, pelo menos é o que, pacientemente, lhe diziam, mas nunca, nunca que saía de lá. Alguns o alertavam do que o forte poderia fazer com ele se não saísse logo e, mesmo assim, deixou-se vestir o manto de esquecimento.
O tempo passou. Drogo sendo promovido, anestesiando-se ao som regular dos passos das sentinelas, virando todo apatia. Seus nervos pouco o beliscavam na procura das glórias roubadas, do sonho a congelar por trás das muralhas nuas em noites de lua, à espera dos tártaros, povo bárbaro que, como diziam as lendas, um dia chegariam e tentariam destruir tudo. Neste dia, ah, neste dia, então, sim, toda a sua existência teria um significado e a sua vida valeria a pena. Bastava-lhe este dia para coroar de louros a longa espera. Mas os tártaros, se é que um dia existiram, nunca chegavam. Via sinais: pequenos pontos luminosos em meio a sombras noturnas, um fluxo misterioso na linha do horizonte, murmúrios noturnos com os ventos, e, de repente, mais nada. Apenas o nada de todos os dias de uma vida inteira!
‘Numa fenda dos penhascos vizinhos, já encobertos pela escuridão, atrás de uma caótica escadaria de cristas, a uma distância incalculável, imerso ainda no sol vermelho do poente, como que saindo de um encantamento, Giovanni Drogo avistou um morro pelado e no topo dele um traçado regular e geométrico, de uma singular cor amarelada: o perfil do forte. Oh, tão longe ainda. Quem sabe quantas horas de estrada, e seu cavalo já estava esfalfado. Drogo o fitava fascinado, perguntava-se o que podia haver de desejável naquele casarão solitário, quase inacessível, tão separado do mundo. Que segredo ocultava?’
O livro, meus amigos, é de uma inquietação poética. Uma grande interrogação mancha de filosofia as páginas vagarosas que parecem nos capturar no mesmo exílio de Drogo, sendo capaz de nos fazer sentir o hálito úmido das paredes de pedra, cobertas de limbo, do forte Bastiani, e de ouvir o silêncio frio das noites angustiantes que custam a passar. Fazemos escolhas, mesmo quando não conscientes, renunciamos da vida, nos tornamos estrangeiros de nós mesmos no passar dos anos de O deserto dos tártaros. Assistimos a nossa história ser consumida numa fogueira silenciosa, dia após dia, em troca de nada, a não ser da paciente espera de algo que, chega a parecer, nunca acontecerá! Descobrimos, entre uma xícara ou outra de café ao pé da janela triste caiada em luar, que o maior deserto é aquele que colhemos em nosso peito; aquele que, lentamente, nos devora o corpo e a alma, e, quando menos esperamos, o mastigamos e o encontramos entre os dentes em nome da nossa cara e amante solidão.”


(*) O livro pode ser encontrado, além dos sebos, em edições novíssimas e bem tratadas, com mais luxo, capa dura, na Livraria Cultura, ou em edição de bolso, na Saraiva.


segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Rádio AlmanaCULTURA: "Cavalo-Ferro", com Ednardo, Rodger Rogério e Téti


Para ouvir a música

Montado num cavalo ferro
Vivi campos verdes, me enterro
terras trópico-americanas
Trópico-americanas, trópico-americanas
E no meio de tudo, num lugar ainda mudo
Concreto ferro, surdo e cego
Por dentro desse velho, desse velho
Desse velho mundo

Pulsando num segundo letal
No planalto central
Onde se divide, se divide, se divide
O bem e o mal
Vou achar o meu caminho de volta
Pode ser certo, pode ser direto
Caminho certo sem perigo, sem perigo
Sem perigo, sem perigo fatal


Raimundo Fagner e Ricardo Bezerra


sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Estudo para tombamento estadual do Náutico Atlético Cearense

A reunião do Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural (COEPA) realizada na manhã desta quarta-feira, 18 de novembro, no Pavilhão dos Conselhos (rua 24 de Maio, em um dos antigos galpões da RFFSA, ao lado da Estação João Felipe, no centro de Fortaleza) deliberou, entre outras questões, sobre a abertura de estudo para possível tombamento do Náutico Atlético Cearense, em nível estadual. A deliberação do Conselho pela abertura do estudo implica, conforme a legislação, tombamento provisório do bem, que não poderá sofrer modificações até que seja concluído o processo de estudo, ao fim do qual o próprio Coepa deliberará por aprovar ou não o tombamento definitivo.
O Coepa debateu o tema após receber formalmente, na reunião desta quarta-feira, recomendação do Ministério Público Estadual, bem como a solicitação do "Movimento Náutico Urgente" para abertura de estudo de tombamento do Náutico em âmbito estadual. O conselho deliberou pela abertura de estudo de tombamento por 13 votos a favor e uma abstenção.
De acordo com o presidente do Coepa e também secretário da Cultura do Estado do Ceará, Guilherme Sampaio, conforme a legislação pertinente, o processo de tombamento do Náutico Atlético Cearense irá para a análise da Coordenadoria de Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural (Cophac), da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult), para que faça um relatório preliminar sobre o tema e o submeta à apreciação do Coepa.
“Nos termos do parágrafo 10º do artigo III, da Lei de Proteção ao Patrimônio, o Náutico Atlético Cearense se encontra provisoriamente tombado, até que o Coepa delibere sobre a abertura ou não de estudo de tombamento definitivo”, destacou o presidente do Coepa.
Fonte: Secult/CE


Rádio AlmanaCULTURA: "Na Emenda", com Trio Nordestino


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Para ouvir a música, acesse:

Na emenda
Amarre a corda direito
Na emenda
Pra corda não rebentar
Na emenda
Mas dê um nó de respeito
Quero o povo satisfeito
Bincando de emendar
Atenção, Pessoal
Esse ano vamos brincar de roda
Todo mundo emendando
E vamos emendar

Na emenda
Tem moça que quebra jura
Na emenda
Depois não pode emendar
Na emenda
Mas cantador de viola
Arruma a rima na hora
E não deixa rima quebrar

Na emenda
Eu vou fazer um engenho
Na emenda
De corda de Caruá
Na emenda
É um trabalho bonito
Mulher torcendo o cambito
Fazendo a corda acochar

Na emenda
Os velhos tavam brincando
Na emenda
Depois deram pra brigar
Na emenda
A tristeza criou dó
Vovô enganou vovó

Na hora de emendar


quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Rádio AlmanaCULTURA: "Vento Aracati", de Eugênio Leandro e Oswald Barroso, com Eugênio Leandro.


Para ouvir a música, acesse o link

Nesse trecho de terreno
A natureza é tirana
A tristeza é mais antiga
Que a onça suçuarana.
O ar pesa em riba das ramas
Feito fardo de algodão.
A natureza reclama
Assujeitada no chão.
As umburana não geme
Nem resmunga a juriti
Nenhuma folha se treme
Tudo é morto por aqui.

Tudo dorme num cansaço
Pulo chão de pedra dura.
Só a fulo do mormaço
Se espalha nessa lonjura.
Mas eu não me desespero
Nem me arretiro daqui.
Após alta noite espero
Vir o vento Aracati.

Roda roda, redemuin.
Venta vento a ventania
Arribando as capoeiras
Antes da barra do dia.
E um berra que não se queixa
Um pula que não tremia
Sopra o vento aracati
Antes da barra do dia.

Eugênio Leandro/Oswald Barroso


terça-feira, 17 de novembro de 2015

Um domingo diferente, musical e plural na Casa de José de Alencar. Imperdível (22.11)

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Venha passar um domingo (22 de novembro) diferente, musical e Plural na Casa de José de Alencar e depois almoçar com amigos e familiares no restaurante da Casa, com comidas regionais, à sombra de árvores centenárias, aos ventos que trazem os ecos das ruínas do primeiro engenho a vapor do Ceará e, lá no fundo, ouvir a jandaia ainda chorar por sua Iracema. Saiba mais:


Lançamento do CD PLURAL: Henrique Beltrão e Amigos
e inauguração da Casa da Música do Ceará (UFC)
Data e Horário: 22 de novembro (DOMINGO), a partir das 10h
Local: auditório da Casa de José de Alencar
(Av. Washington Soares, 6055)
Participações especiais:
Aparecida Silvino, Jord Guedes, Pingo de Fortaleza, Calé Alencar, Isaac Cândido, Edmar Gonçalves, Rogério Franco, Daniel Sombra e Vitor Duarte, Marcelo Kaczan, Rodrigo BZ, Rafael Lima, Jean-Robert-Poulin e Henrique Beltrão.
ENTRADA FRANCA
Contatos: beltraohenrique@gmail.com – Fone: (85) 99101.1820
Apoio
“Todos os Sentidos” e “Sem Fronteiras: Plural pela Paz”, Rádio Universitária FM 107,9


Sobre o CD Plural: Henrique Beltrão e Amigos

Plural é o título que bem traduz o espírito do CD que Henrique Beltrão traz a público. O trabalho abrange 12 faixas com parcerias feitas a partir de 2005 com diversos artistas e gravadas de 2008 a 2015 em discos de vários intérpretes. São composições feitas com poemas inéditos ou publicados em Vermelho (2006) e Simples (2009), livros de poemas e canções de Henrique, assim como em No Ar, um Poeta, narrativa autobiográfica poética, fruto de sua tese de doutorado. A pluralidade pulsa nesse CD que abraça a música em suas diversas matizes.
Dentre os integrantes no CD, Jord Guedes, Isaac Cândido, Rogério Franco, Paulo Branco, Marcos Paulo Leão, Alan Mendonça, Dalwton Moura, Aparecida Silvino, Joana Angélica, Lorena Nunes, Simone Guimarães (com participação especial de Fagner), Calé Alencar, Edmar Gonçalves, Pingo de Fortaleza, Marcelo Kaczan, o cantor do Québec (Canadá) Jean-Robert-Poulin e o próprio Henrique Beltrão.
Henrique Beltrão é poeta, compositor, professor da UFC e radialista (responsável pelos programas “Todos os Sentidos” e o “Sem Fronteiras: Plural pela Paz”, projetos de extensão da Universidade Federal do Ceará - UFC e programas da Rádio Universitária FM 107,9, os quais juntamente com a própria emissora apoiam o CD Plural.

O lançamento do CD Plural acontece com um show de Henrique Beltrão e seus amigos comemorando o aniversário do artista na manhã do Dia da Música e de Santa Cecília, padroeira dos músicos, na inauguração da Casa da Música do Ceará, projeto de extensão da UFC, coordenado pelo músico, radialista e professor Pedro Rogério, que se propõe a ser um lugar para lançamento de discos e livros, ensaios, exposições e encontros. Antes do show, às 9h30, também na programação de inauguração, abertura das exposições Ecoarte Musical, de Marcos Melo, e Fortaleza dos Maracatus & Maracatu Solar, da Associação Cultural Solidariedade e Arte - Solar. 

Rádio AlmanaCULTURA: "Coração Selvagem", de Belchior, com Ana Carolina




Para ouvir a música e assistir ao vídeo

Meu bem,
Guarde uma frase pra mim
Dentro da sua canção.
Esconda um beijo pra mim
Sob as dobras do blusão.
Eu quero um gole de cerveja
No seu copo, no seu colo e nesse bar.

Meu bem,
O meu lugar
É onde você quer que ele seja.
Não quero o que a cabeça pensa
Eu quero o que a alma deseja.
Arco-íris, anjo rebelde,
Eu quero corpo tenho pressa de viver.

Mas quando você me amar,
Me abrace e beije bem devagar.
Que é pra eu ter tempo, tempo de me apaixonar.
Tempo pra ouvir o rádio no carro.
Tempo para a turma do outro bairro
Ver e saber que eu te amo.

Meu bem,
O mundo inteiro está naquela estrada
Ali em frente.
Tome um refrigerante, depois do meu beijo quente.
Sim, já é outra viagem
E o meu coração selvagem
Tem essa pressa de viver.

Meu bem,
Mas quando a vida nos violentar,
Pediremos ao bom Deus que nos ajude.
Falaremos para a vida "vida, pisa devagar.
Meu coração, cuidado, é frágil.
Meu coração é como um vidro
Como um beijo de novela".

Meu bem,
Talvez você possa compreender a minha solidão,
O meu som, a minha fúria e essa pressa de viver.
Esse jeito de deixar sempre de lado uma certeza
E arriscar tudo de novo com paixão,
Andar caminho errado pela simples
Alegria de ser.

Vem viver comigo.
Vem correr perigo.
Vem morrer comigo,
Meu bem

Meu bem
Meu bem
Meu bem

Talvez eu morra jovem em alguma curva do caminho.
Algum punhal de amor traído completará o meu destino.

Vem viver comigo.
Vem correr perigo.
Vem morrer comigo,
Meu bem.
Meu bem.
Meu bem.

Meu bem.


domingo, 15 de novembro de 2015

AlmanaCULTURA In Dica: Lançamento "A Memória das Coisas"*, de Marília Lovatel (21.11)


(*) Dica de leitura do quadro "Vamos Ler" da REVISTA O POVO na rádio O POVO/CBN, com Maísa Vasconcelos e participação quinzenal de Raymundo Netto
(terças-feiras, às 15h45) - 17 de novembro de 2015

Lançamento
Data: 21 de novembro de 2015, às 17h
Local: Espaço O POVO de Cultura & Arte
(Av. Aguanambi, 282, Joaquim Távora – anexo à sede do jornal O POVO)
Investimento: R$ 34,90
Importante:
Estacionamento gratuito ao lado da sede do jornal O POVO (mediante a apresentação de voucher distribuído durante o lançamento)

Sobre a obra:
E se todas as coisas do mundo, não apenas “nós-coisas”, mas também os objetos, mesmo aqueles considerados insignificantes, tivessem a faculdade de guardar em si a consciência de suas experiências “vividas”, associadas, numa aventura antropomórfica, a pretensos sentimentos como medo, alegria, insegurança e saudade?
Em A Memória das Coisas (EDR), Marília Lovatel, educadora, mestranda em Literatura, ganhadora, em 1988, do Prêmio Nacional Jovem Escritor, autora de A Sala de Aula e outros Contos (Scipione), Templária, Cidade entre Mundos (Novo Século) – em coautoria com o filho Matheus Lovatel – e Fábulas e Contos em Versos (Armazém da Cultura) e integrante da VII Antologia de Poetas Lusófonos (Folheto, de Portugal), nos apresenta um cenário composto de 27 objetos, as tais “coisas” aparentemente ou supostamente inanimadas, que, para nossa surpresa, revivescem, tomados por nostalgias ou tensões íntimas em forma de lembranças. Aliás, a memória, elemento constituidor de identidades individuais e/ou coletivas, é a grande personagem da história, além de sua grande “narradora”.
A obra, ilustrada por Karlson Gracie, inicia com uma brilhante apresentação do prof. José Leite Jr. – ao contrário de algumas que encontramos, podemos afirmar que ele realmente a leu –, na qual discorre sobre a sua estrutura e as características de sua escrita: “Descrições ricas de sinestesia, plasticidade e jogo verbal vão revelando uma imagem narrativa que faz sobressair o aparente segundo plano (o mundo das pessoas).”
De fato, acrescemos ao mérito da autora de, em primeira pessoa, manifestar os sentimentos de uma série de objetos, indo de um botão – numa imagem belissimamente arquitetada de uma extrema-unção e de um reencontro – a um caminhão não sentimental repleto de vidas em caixas de papelão, o de desenvolver uma trama, podemos dizer “transversal”, que une essas coisas entre si e aos donos delas, como testemunhas de uma história que é desenrolada aos poucos, num desafio gostoso de quebra-cabeças, provocando o leitor a construir na mente a história que se passa dos “humanos”, aqueles que atuam, não despercebidos mas como figurantes, num paradoxo protagonismo de um conflito de mundos, muito bem enredado por Marília.
Ou seja, a obra, composta em narrativas, reveste-se afinal em mnemônico romance, numa potente atmosfera de sugestão, e assegura, como afirma a própria autora: “nasce pelas mãos de quem a lê”!
Temos a certeza de que A Memória das Coisas, que já deve acondicionar boas memórias desde a sua concepção, não será mais uma “peça de decoração”, mas “de coração”, estante privilegiada de nossas melhores leituras.

Raymundo Netto

Informações A Memória das Coisas (EDR):
Nº de páginas: 96
Formato: 15,4 x 22 cm
Peso: 0,170Kg
Acabamento: brochura
Publicação: 2015
Preço: R$ 34,90

Disponível também na Livraria Virtual
livraria.fdr.com.br