quarta-feira, 28 de abril de 2010


Lançamento "Sobral que Não Esqueço"

Data: 29 de abril de 2010, às 19h

Local: Centro Cultural OBOÉ (rua Maria Tomásia, por trás do Banco do Brasil da Santos Dumont)


Sobre Sobral que Não Esqueço:

Tenho quase certeza que o Lustosa, filho de “seu” Costa que, por sua vez era filho do Chico Bento que matava porco no Morro do Moinho e de dona Vitalina, não é apenas um. Não sei onde encontra tempo para se aventurar em escrever mais livros!

O fato é que, ainda esta semana, chegou-me às mãos mais uma de suas aventuras, encapada pela figura da fazenda Pocinhos, da família Monte, descida da pena de Campelo Costa e de uns recortes de cartas antigas e de reclames: “Novidades!” Assim eu li...


O livro — Sobral que não esqueço — mais uma rasgada declaração de amor à cidade onde não nasceu, é fruto da mistura de lembranças do autor, mas com a diferencial evidência de uma criteriosa pesquisa em jornais locais ou mesmo nacionais, muitos deles, atualmente extintos: O Nordeste, A Tribuna, A Lucta, Jornal do Comércio, Gazeta de Notícias, Correio da Manhã, Correio do Ceará, Correio da Semana, Folha do Povo, A Cidade, O Rebate e outros.


Desta vez o cronista e jornalista trabalharam juntos, de pertinho, costurando uma pesquisa investigativa à ótica e humor de cronista inteligente que Lustosa o é.


A Sobral do livro não passa inteira pela janela que assistiu o crescimento de L.C. Dividido em blocos, como A Cruz e o Couro, Quando Sobral Dividia sua Gente, Seca em Sobral, Paladar Sobralense, Usos e Costumes etc. (são onze ao todo), o autor, com os pés dependurados nos galhos de fícus, discorre sobre os mais diversos aspectos que marcaram o passado, e daí cutuca as feridas no século XX, e que decidiram o futuro que hoje se vê com toda a sobralidade divulgada aristocraticamente ao universo (“Não sou universal, sou apenas municipal”). Sobral pensa grande, assim como o veterano “sobralense”...


Fico a imaginar o que move um homem sempre no sentido de sua cidade que, para o Lustosa, numa tradução poética e com toda licença, “não é uma cidade, é uma saudade chorando baixinho em mim”. Assim, como no livro, antes de revelar-se um pesquisador atento, deixa escoar pela branquidão de suas páginas, as memórias meninas de escadarias de madeira do Palácio do Bispo, das cadeiras nas calçadas ao som da velha amplificadora, do teatro São João, dos banhos de bicas dos “jacarés”, cujas águas alimentavam o Acaraú, das histórias do Chico Monte, do Educandário e do Seminário Apostólico São José e da imagem bonita, quase de cinema, dos olhos voltados às noturnas telhas de vidro e da manta que, de tão ordinária, espinhava. Pronto: o leitor está cativo!


Pesquisar não é tarefa fácil. Temos sempre a nítida impressão de que poderíamos encontrar algo mais, uma nova peça de quebra-cabeças que traduzam com exatidão aquilo que nós queremos, como em tela, apresentar. O enfeixamento tem de ser bem feito, senão o leitor desagrada logo. Não é o caso, e daí o mérito, de Sobral que não esqueço. Primeiro porque mesmo sem ser da Princesa do Norte, o leitor facilmente agarra-se à mão do livro e se deixa levar por histórias interessantes que representam uma época de desenvolvimento de um Ceará, de cartolas e em pó de arroz de Belle Époque, com direito, inclusive a pormenores de cardápios de entrée de panelada à brasileira, petit pois ao molho picante, ponche de abacaxi ao chartreuse e champã Veuve Chiquot ao som de magnífica orquestra.


Tudo em Sobral... tem cara de fotografia. A cultura, a economia (que vem desde a época da pecuária e da “Civilização do Couro”), a religião (sempre bem detalhada com seus bispos e dons pelo ex-seminarista e admirador da inteligência dos homens de batina como Dom José Tupinambá da Frota, Monsenhor Linhares, Dom José Bezerra Coutinho e outros), o racismo, a aristocracia, os costumes (estes que perpassam por todos os blocos e que, na minha opinião e gosto, é o que melhor ilustra o texto), as histórias, os chistes, a publicidade (rico detalhamento de estratégias de marketing rudimentar), a política (aí, nem se fala...), as secas, e, ao final, capítulo a parte, “Gente da Gente, um apanhado de figuras e histórias espirituosas da cidade do Beco do Cotovelo: Francisco de Paula Pessoa — senador dos bois —, Joaquim Miranda Paula Pessoa, José Leôncio Pessoa de Andrade, José Saboya, Francisco de Almeida Monte, Teodoro Ziesmer, Vicente Loiola, Clodoveu Arruda, Emilianinha, “Seu” Costa (é claro), e mais outros tantos protagonistas de causos desta cidade tão escancaradamente amada pelo amigo Lustosa.


Ler Sobral que Não Esqueço, me fez lembrar também um pouco do que sou — do que somos — e marcou-me de uma saudade do que não vivi, uma saudade boa de conversa de calçada, daquelas que a gente quase não vê mais. Quase, ainda bem. Viva o Lustosa!

Raymundo Netto

sábado, 24 de abril de 2010

"Sobre Livros e Leitura", de João Soares Neto


Participei, nesta semana do livro, de debate na TV Fortaleza. Agradeci a Arnaldo Santos, coordenador, pelo oportuno convite. Falei a Auto Filho, Secretário da Cultura do Ceará, da alegria pela participação efetiva e bem recebida da Academia Fortalezense de Letras na 9ª. Bienal Internacional do Livro.
Arnaldo criticou a ausência de políticos na Bienal. Ao meu lado esquerdo, estava a jornalista Adísia Sá, mestra e escritora. Ela é mulher casada com o livro de papel. Argumentei que o livro foi e é o caminho usado por nós, os debatedores, para aprender, procurar entender os fatos do mundo, aguçar o pensamento e transformá-lo em conhecimento, depois de depurado.
Lamentei que só 7,0% da população brasileira adquire livros não didáticos. Constatei, por pesquisa do Ibope, que crianças entre 4 a 11 anos passam 5 horas por dia defronte a um aparelho de televisão.
Segundo o mesmo IBOPE, 60 milhões de pessoas (adultos e crianças) passam igual número de horas diárias frente às tvs vendo novelas, programas policiais, fofocas, esportes, notícias plantadas e apresentadores apelativos.
Relatei, com base em pesquisa nacional de 2009, feita pela Ipsos Public Affair, que mesmo as pessoas que dizem ter algum tipo de atividade cultural, - seja ir ao cinema, teatro, ler, comparecer a shows, dançar em festas e ver exposições de arte - apontam uma baixíssima média anual. Leem 5,1 livros, assistem a 4,1 filmes, vão a 3,8 shows, participam de 3,5 eventos de dança e só vêem 2,1 exposições de arte. Por ano, lembrem.
Argumentei, citando o crítico literário José Paulo Paes que lutava, entre outras coisas, pela facilitação da leitura e escreveu o ensaio “Por uma literatura de entretenimento (ou: o mordomo não é o único culpado)”, no livro “A aventura literária”. Segundo Paes, os escritores brasileiros precisariam ser menos canônicos e não apelar tanto para o regionalismo. Ler deve ser um prazer para quem está iniciando e não punição ou tortura.
Ainda, segundo Paes, muitos escritores manteriam discussões linguísticas e acadêmicas e se descuidariam do público leitor. Viveriam em atritos, igrejinhas e se bastariam em suas questões recíprocas. Todos sabem que é preciso ter gosto de leitura apurado para ler, por exemplo, Machado de Assis, Guimarães Rosa e Clarice Lispector. Mas, nada impede que se comece com escritores de linguagem mais simples.
Acreditava ele haver preconceito contra a crônica, o romance policial, a ficção científica e o sobrenatural. Constatamos que todos devem procurar gostar de ler, desde cedo. Um bom leitor não tem solidão. Ele tem o livro como companhia, sempre.
Sabemos que o mercado editorial já descobriu que livros de leitura mais acessível são fáceis de vender. Mas, é um absurdo que o livro “A Cabana” esteja há meses na lista dos mais vendidos no Brasil. Auto Filho afirmou que o brasileiro passou do estágio da oralidade para a cultura do áudio-visual sem parar no livro. Isto é, passou das histórias de Trancoso, assombrações ou de ninar para as novelas.
Adísia Sá reclamou que não se lê e referiu que até professores universitários, inclusive doutores, quase nada leem. Pareceu claro para nós que alunos da 4ª. série do ensino fundamental não conseguem desenvolver competências básicas de leitura. Informei que o Brasil tem apenas 2.500 livrarias, quando, segundo especialistas, seriam necessárias 10.000.
Disse ainda que 89% dos municípios brasileiros não têm uma única livraria. As pequenas livrarias estão definhando com o surgimento de mega-stores que focam na auto-ajuda e em livros ditos profissionais.
Entretanto, paradoxalmente, o Brasil é o oitavo maior produtor de livros do mundo, com 2.000 editoras, mais de 12.000 títulos e 300 milhões de exemplares por ano. Desse total, 93% são livros didáticos, a maioria pagos pelos governos e, somente 7.0% são de outros gêneros. Por outro lado, é preciso saber que a leitura digital já vai atingir neste 2010 o total de 10% do mercado de livros nos Estados Unidos. Certamente, haverá um impacto nos livros didáticos, com a possibilidade de consulta de mapas e fazer pesquisas em salas de aulas equipadas com computadores ligados à internet.
A distinção entre livro físico e livro digital já deve ser considerada. Estes serão, inicialmente, para um público específico, mas os e-books vieram para ficar. O Kindle, o Sony-reader e o I-pad podem ser popularizados e transportados para os computadores de bibliotecas públicas e escolas. Ler é viver.

(publicado no Jornal O Estado, em 23.04.2010)

sexta-feira, 23 de abril de 2010

"Cortina de Memórias: à madrinha Rachel", crônica de Raymundo Netto para O POVO

Em 2010, quando se completam cinco anos de lançamento de Um Conto no Passado: cadeiras na calçada, obra que me apresentou à literatura cearense, é em abril que comemoro, agora com "vocês" (crente que mais de um sobrevivente ledor me resta), três anos de crônicas absurdas para o caderno Vida & Arte de O POVO e dois de trabalho com políticas do livro e da leitura na Secretaria da Cultura do Estado. Tanto o convite para escrever n’O POVO quanto o de trabalho na Secretaria vieram exclusivamente por conta do Cadeiras..., não resta dúvida. Também devo ao despretensioso romancete, a maior parte dos amigos que hoje tenho — alguns desafetos também, é verdade, mas insignificantes —, assim como a lida de escravo branco, os momentos estranhamente divertidos, as noites em companhia de estrelas que brilham sem vaidade, uma caixa de correio repletas de nomes, um blogue e a biblioteca cujo destino principia-se trágico.


Quando a Regina Ribeiro, num descuido da generosidade, me convidou para escrever no jornal, orientou: “Você tem que escrever sobre Fortaleza. Por que não escreve como fez no Cadeiras na Calçada?”


Na época aceitei. Nunca dizia não. E passei a refletir sobre o que escrever. Não queria reescrever o Cadeiras..., e sim, fazer alguma coisa de diferente, uma linha definida que, em fio, encantasse o caminho dos demais textos que se seguiriam. Preocupava-me, pois tinha apenas dois anos de escriturices e não queria decepcionar a convidante. Mas escrever sobre o quê?


Foi numa quadra invernosa bonita de chuva, mês de abril. Habitualmente ia à rua a fotografar minhas casinhas velhas de paredes pintadas por limbos, quando sentei no banco da estátua de Rachel de Queiroz, na Praça dos Leões. Olhando para a escritora, lembrei que fora cronista no mesmo jornal. Coroou-me a memória da lembrança de sua Crônica nº 1, texto publicado na revista O Cruzeiro, em 1945. Nele, Rachel, diante do convite para publicar crônicas, travava uma tímida apresentação ao futuro leitor e tenta conquistá-lo traçando “regrinhas” e expondo os seus anseios, muito embora “há anos sabia ser infalível o resultado da estrela da manhã”.


Corri para casa. Escrevi. Li e reli o meu rascunho diversas vezes até enviá-lo e vê-lo estampar uma manhã de março de 2007:


“Numa dessas manhãs chuvosas em que me dá uma vontade doida de sair para o centro da cidade a fotografar prédios antigos, estava num dos locais mais queridos para mim: a praça dos Leões. (...)Sentei-me num dos seus bancos de madeira, sob as árvores enegrecidas, e pus-me a pensar no tema para a crônica do jornal. Afinal, o que escreveria para vocês? Ao meu lado, a dona Rachel de Queiroz, que por ali também curtia a fresca na praça, ria-se da minha preocupação que já não lhe estranhava. Ao pescoço, desenhava-lhe apenas um discreto colar de contas. Tinha as pernas cruzadas, os braços de Clotilde levemente pousados sob curtas mangas, as mãos sobrepostas e, com vagar, discorria:
— Divertir um pouco o tédio alheio é tão gratificante... Ah, mas não pense em escrever sobre política... Não fale em política, por favor... azeda tudo! — sorrindo, bateu as pontas dos dedos nos lábios — Cala-te boca, Rachel...”


Comecei assim, com A Moça do Zepelim Prateado, minha crônica nº 1. Recordo, num exercício afetivo, dos diversos e-mails recebidos naquele dia. Inclusive, de telefonemas de amigos da Rachel que juravam de pés juntos não lembrarem de mim, apesar de conhecerem os mais próximos da protagonista. Dizia-lhes: "Não a conheci, nunca ouvi a sua voz, a não ser a que trazia em seus livros". Era decepcionante. As pessoas pareciam ter esperanças de encontrar uma nova pista, uma outra nova peça de sua existência e, na verdade, revelava-me apenas mais um "fingidor que finge tão completamente..."


Mas, dentre a correspondência, um colega me interrogou: “Quero saber até quando você vai conseguir sustentar esses encontros...” Passados três anos, a resposta ainda me salta desafiadora. Tive o privilégio de dividir crônicas com José de Alencar, Quintino Cunha, Ana Miranda, Audifax Rios, Sânzio de Azevedo, Pedro Salgueiro, Tércia Montenegro, Horácio Dídimo, Socorro Acioli, Augusto Pontes, Milton Dias, Airton Monte, Moreira Campos, Raymundo de Menezes, Clóvis Beviláqua, Alcides Pinto, Otacílio Colares, Eduardo Campos, Francisco Carvalho, Demócrito Rocha, Nilto Maciel, Lívio Barreto, Ribamar Lopes, Jorge Pieiro, Ramos Cotoco, Juca Fontenelle e alguns outros, e vejo ainda tantos nomes a serem lembrados, explorados e revividos, e esta é a forma pela qual eu contarei a minha cidade, Regina: pelos seus escritores! Dizem-me por aí: não seria melhor falar de Drummond, Clarice, Manuel Bandeira? Respondo: Não, versarei sobre os escritores daqui, os cearenses, mesmo quando condenado à “localidade” como me alertam constantemente.

De então, passei a ouvir comentários sobre as crônicas, sabê-las agradando aqui e incomodando ali, fixadas em paredes, publicadas em blogues, distribuídas para amigos, jogadas na lama, enfim, vivas e livres. Muitos presentes elas me trouxeram, muitos novos amigos me apresentaram, minha vida mudou e ainda muda a cada publicação, por mais incrível que possa parecer, como num Zepelim que prateia os sonhos inocentes de uma Tangerine Girl.

Escrever é perigoso, hoje eu sei. Uma delícia de perigo...

Raymundo Netto. Contato: raymundo.netto@uol.com.br blogue: http://raymundo-netto.blogspot.com.br

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Bienal Internacional do Livro do Ceará - CONCLUSÃO

Foto: Marília Camelo (DN)

Uma multidão barulhenta, andando desordenada pra todos os lados, se esbarrando apressada demais para pedir desculpas. A imagem dificilmente seria a melhor para descrever algo desejável. No entanto, quem ama os livros (e mais ainda: pessoas lendo livros) vai entender a exceção. Foi esta a imagem da IX Bienal Internacional do Livro do Ceará, que ocupou o Centro de Convenções entre 9 e 18 de abril.
A festa do livro e da leitura terminou domingo, mais ou menos como começou, em grande estilo, ao som de rock. A diferença é que o show da Pequeno Cidadão, projeto que reúne Edgar Scandurra e Arnaldo Antunes, encheu o auditório de crianças, enquanto Erasmo Carlos, na abertura, atraiu um público eclético, no qual não faltaram representantes da terceira idade. Talvez por influência da música, o gênero rebelde por excelência, das guitarras altas, a Bienal de 2010 tenha sido assim, de multidões de pessoas que não tinham frescura de ficar juntas e de sentimentos à flor da pele.
Prós: Entre os acertos deste ano, destaca-se a seleção de nomes que o grande público conhecia. Claro que eu também gostaria que tivesse trazido aquele escritor, meu favorito e de injusta fama mediana. Claro que, quem já tem mais bienais no currículo, não deve ter achado muito interessante a volta de figurinhas já carimbadas. No entanto, a edição de 2008 provou ser infrutífero trocar um autor de massas por um ídolo mais restrito. Não é caso de um excluir o outro, mas de serem conjugados.
Na Bienal passada, a curadoria se insurgiu contra os escritores e editores que apelidou como "vedetes do discurso vazio". E foram tais vedetes que encheram os espaços de palestras, ainda que o vazio do seu discurso seja questionável. Velhos conhecidos do público cearense, como o escritor e quadrinista Ziraldo e o poeta Affonso Romano de Sant´Anna, mostraram que dominam como poucos a arte de agradar o público com discussões que muitos achariam enfadonhas: a leitura, o livro, a relação destes com a educação.

O que dizer diante de um auditório lotado para ver o também quadrinhista Mauricio de Sousa? Pode-se pensar: público por público, gurus de autoajuda e padres popstars também atraem multidões. No entanto, a relação que se viu era de outra ordem. Quem se apertou no auditório cheio para ver Mauricio não estava querendo encontrar aquele "macete" para se dar bem na vida, passar num concurso para o qual não se tem vocação, encher os bolsos de grana e se livrar num piscar de olhos das angústias que a vida traz. O que estava ali colocado era uma relação de afeto, construída no exercício da leitura.

O que dizer dos fãs (esta é a palavra) de Thalita Rebouças? Quantos tiveram como herói da adolescência um escritor? Sem ter lido uma linha da autora, me arrisco a dar-lhe os parabéns e um sincero "obrigado".
Houve ainda um admirável cuidado com os convidados cearenses. O bom bairrismo na hora de estabelecer a programação evitou grandes choques de programação, e que lançamentos e palestras das pratas da casa tivessem concorrentes.

Abriu-se, gratuitamente, espaço para as pequenas editoras do Nordeste e para os escritores independentes apresentarem seus produtos. Do lado dos escritores, não faltaram lançamentos (o que só evidencia a demanda de uma profissionalização no setor das editoras e da distribuição de livros no Estado).
Contras: Que a festa poderia ter sido melhor, nem o secretário da Cultura do Estado pode negar. Mas estas melhorias exigem um esforço coletivo, no qual não nos cabe apenas a cobrança.

Uma das maiores reclamações foi a respeito de estacionamento. De fato, não há espaço para tantos carros. Aliás, Fortaleza já não suporta tantas veículos. Contudo, bem pior do que não ter estacionamento, é ter um transporte público proibitivo. No que toca a prioridades, é mais urgente exigir melhorias neste serviço, que atende a uma maioria arrasadora, se compararmos motoristas e pedestres.
Outros problemas são menos ambíguos. Faltou educação e bom senso a muitos usuários, gente que fez escândalo na fila de Mauricio de Sousa porque a produção resolveu fazer uma segunda fila, para pessoas com necessidades especiais. Como também faltou para os que achavam que podiam jogar lixo no chão, que um esbarrão não precisa de um "desculpa!", e que podem falar alto sobre qualquer assunto quando se está numa palestra que não lhe agrada.
Para a Bienal de 2012, a produção precisa traçar melhores planos para atender o público. Precisa sair na frente nas negociações com as atrações e seus agentes para evitar surpresas desagradáveis como "não vai ter mais sessão de autógrafos", "só tantos vão ter acesso" e por aí vai.
É preciso uma melhor distribuição de atrações por espaço, para evitar públicos grandes em espaços pequenos e vice-versa. A alimentação também exige mais atenção: a oferta foi exígua, a qualidade ruim e o preço, salgado.
Às editoras e aos livreiros, falta ouvir melhor o público, sobretudo quanto aos preços. Ninguém quer comprar livros pelos mesmos preços dos shopping centers. Quem dá mais desconto, vende mais: simples assim.
Felizmente, nada que representasse um impedimento para quem quisesse garimpar bons livros na feira.
Estrutura: O grande problema da Bienal foi a casa que o abrigou. O Centro de Convenções ficou com pouco espaço para as pessoas e a venda de alimentos. Falta até uma geografia mais clara, que só não dava um nó na cabeça por conta da sinalização e do pessoal da produção.
No show do Pequeno Cidadão, as goteiras deixaram a chuva entrar de penetra no espetáculo. A acústica do espaço Memorial da Maria Moura, palco de palestras como a de Ziraldo, só atrapalhava a comunicação entre autor e público.

Resta torcer - e cobrar - para que o novo Centro de Convenções saia no prazo previsto. E que a próxima Bienal tenha um teto melhor para abrigar os calorosos amantes do livro e da leitura.


Por Dellano Rios (Diário do Nordeste)

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Marlui MIranda e John Surman na Bienal do Livro do Ceará



Marlui Miranda, compositora e musicista, pesquisadora da oralidade e cultura indígena, consagrada pela crítica internacional, apresenta-se hoje na Arena Multicultural Memorial de Maria Moura na Bienal Internacional do Livro do Ceará ao lado de John Surman, um dos maiores nomes contemporâneos da música inglesa, agraciado, inclusive com o prêmio Mercury.

Ambos farão uma apresentação com o tema, Trilhas Para Alcançar a Música Indígena. Imperdível!

Seminário Cem Anos de Rachel de Queiroz na Bienal do Livro


16 de abril Sexta-feira

Sala As Três Marias (Auditório B1) 9h – 12h Seminário
Seminário Cem Anos de Rachel de Queiroz
9h – Abertura
9h30min às 10h30min – Depoimentos
Convidados: Ana Miranda (Brasil/CE), José Augusto Bezerra (Brasil/CE) e Socorro Acióli (Brasil/CE)
Mediadora: Arminda Serpa (Brasil/CE)
11h às 12h – Rachel de Queiroz: A Literatura Infantil
Convidadas: Vicência Jaguaribe (Brasil/CE) e Batista de Lima (Brasil/CE)
Mediação: Cecília Cunha (Brasil/CE)

Sala As Três Marias (Auditório B1) 14h – 18h Seminário
Seminário Cem Anos de Rachel de Queiroz
14h às 15h – Mesa-Redonda: O Romance de Rachel de Queiroz
Convidados: Ítalo Gurgel (Brasil/CE), Lourdinha Leite Barbosa (Brasil/CE)
e Aíla Sampaio (Brasil/CE)
Mediação: Teoberto Landim (Brasil/CE)
15h30min às 16h30min – Palestra - Rachel de Queiroz: múltiplas faces
Convidado: Antônio Torres (Brasil/RJ)
Mediação: Aíla Sampaio (Brasil/CE)
17h às 18h – Palestra: Rachel, Rachel
Convidada: Heloísa Buarque de Holanda (Brasil/RJ)
Mediação: Lourdinha Leite Barbosa (Brasil/CE)

Espaço “Não me Deixes” – Centenário de Rachel de Queiroz (Hall do Auditório Central) 18h - 18h30min
Especial: Trinta Minutos com Rachel de Queiroz
Leitura: Odilon Camargo (Brasil/CE)

Café Literário O Galo de Ouro (Sala A Inferior) 18h30min - 19h30min Lançamento & Bate-Papo/Cem Anos de Rachel de Queiroz
Lançamento: A Trilogia Rachel de Queiroz: Rachel de Queiroz: uma escrita no tempo (ensaio), A Lua de Londres (crônica) e Do Nordeste ao Infinito (crônica) (EDR)
Convidadas: Heloísa Buarque de Holanda (Brasil/CE), Ana Miranda (Brasil/CE) e Fernanda Coutinho (Brasil/CE)
Coordenação: Regina Ribeiro (Brasil/CE)


17 de abril Sábado

Sala As Três Marias (Auditório B1) 14h – 18hmin Seminário
Seminário Cem Anos de Rachel de Queiroz
14h às 15h – Debate - Rachel de Queiroz: múltiplas vozes
Convidadas: Edna Carlos (Brasil/CE)/Literatura Comparada
Cecília Cunha (Brasil/CE)/Crônica e Arminda Serpa (Brasil/CE)/ Romance
Mediação: Aíla Sampaio (Brasil/CE)
15h30min às 16h30min – Rachel de Queiroz: O Teatro
Convidada: Tércia Montenegro (Brasil/CE)
Performance: Erotilde Honório (Brasil/CE)
Mediação: Fernanda Coutinho (Brasil/CE)
17h às 18h – Palestra: O Quinze, hoje!
Convidado: Benjamin Abdala Júnior (Brasil/SP)
Mediação: Lourdinha Leite Barbosa (Brasil/CE)
18h - Encerramento

"Por uma bienal sem panelinhas nem preconceitos", Pedro Salgueiro na Bienal para O POVO

Um amigo ranzinza diz que todas as bienais de livros são iguais. Concordo que se parecem, têm o mesmo modelo básico, inovam pouco, estão mais ligadas ao mercado livreiro que à cultura, mas acho que podem (e devem) ter alguns diferenciais.
Nesta IX Bienal do Livro do Ceará, temos uma novidade em relação às outras: a maior participação dos escritores cearenses, desde os mais conhecidos até os quase iniciantes; uma turma que sempre esteve à margem da megafeira de livros daqui, principalmente a última, que parece ter sido organizada por inimigos da literatura local.
Claro que deve se aperfeiçoar, tentando atingir uma variedade maior de artistas da terra; e, quando escolherem os de fora, que sejam autores menos óbvios, menos os mesmos de sempre...
Concordo que tragam atrações, já vi várias boas atrações, desde Rachel de Queiroz a Luis Fernando Veríssimo, Jorge Amado e muitos outros escritores de primeiro time de nossa literatura nacional.


Nesta edição, gostei demais da escolha da homenageada, os 100 anos de dona Rachel foi sensacional; a vinda do importante Moacir C. Lopes, cearense injustamente esquecido por nós, foi fundamental... Há tempos merecia essa lembrança, que, espero, se estenda para uma homenagem de uma próxima bienal.

Estou adorando o espaço em frente ao Auditório Central (Espaço "Não me Deixes"), onde grupos literários, academias daqui declamam, sempre com um bom público. A Arena dos Escritores, no bloco E, também está com uma boa programação; o bate-papo de Cony com Thiago de Mello foi antológico; a conversa do Poeta de Meia Tigela com o poeta brasiliense Nicolas Behr foi ótima.


O espaço dos cordelistas sempre está movimentado, apenas senti falta dos grandes Rouxinol do Rinaré e Arievaldo Viana.


O espaço das estantes das livrarias e editoras está fraco, com pouquíssimas novidades; destacando-se as livrarias locais Arte & Ciência e Feira do Livro. A da Editora Premius também tem lançado livros cearenses quase todos os dias.

Com certeza, um avanço em relação à fria bienal passada, mas que seja apenas ponto de partida para uma melhora constante. Que se chame cada vez mais escritores de nossa terra, sem panelinhas nem preconceitos".

"Impressões sobre uma nova geração de leitores", Tarcísio Matos na Bienal para O POVO


“Manhã de quarta-feira, 14 de abril. Bienal (belíssima Bienal Internacional do Livro do Ceará) lotada. A grande maioria, estudantes de escolas públicas. Em meio a vastos títulos, a obras de toda qualidade, crianças e adolescentes maravilhados com uma aula realmente diferente.


Carregado pelas ‘tias’ em frágil disciplina, imaginei, em breve futuro, aquele público familiarizado com a leitura, a disponibilidade de bons livros. Seríamos outra nação.


A Bienal serviu-me para acreditar ser possível àquela moçadinha não ficar apenas curtindo livro de vitrine, mas ter a condição de tê-lo à mão, para o exercício cidadão das descobertas, do conhecimento, de crescimento.


Lembrei de José Mindlin, para quem “o livro é uma fonte de prazer”. A Bienal do Livro deixou-me, pois, as melhores impressões. Após vaguear, vendo livros de amigos (Audifax Rios, Flávio Paiva, BC Neto) e outros grandes da Literatura, detive-me no estande do Instituto de Difusão Espírita (IDE). Vi duas meninas da escola pública comprarem obras de Kardec. Legal!”

"Vontade de ser múltipla, para aproveitar tudo!", Ana Miranda na Bienal do Livro para O POVO


“A Bienal está linda, alegre, colorida, cheia de gente, com mensagem de sentimentos impressos na lombada de livros. Gostaria de ser muitas, para ir a todos os eventos. Mas selecionei alguns e fui: palestra dos criadores de revistas cearenses, com o lançamento da revista Para Mamíferos;o encontro com Ziraldo e Raymundo Netto, Será que a leitura é mais importante que o estudo? (claro que sim, que não lê não sabe estudar). Adorei a apresentação do maracatu Nação Fortaleza, com Calé Alencar.
O cordel tem sua progamação, todos os dias, no espaço João Miguel de Cordel. No domingo, o Klévisson Viana fala sobre o Pavão Misterioso em quadrinhos.
Não perco as palestras de Tércia Montenegro, tão delicada e inteligente...
Hoje, às 19h30min, na Arena Memorial de Maria Moura, vou ver o concerto de minha irmã, Marlui Miranda, com o mega-músico John Surman, diretamente da Inglaterra para o Ceará, e a apresentação da nossa filarmônica.
Por fim, convido todos para as minhas palestras: sobre a querida Rachel de Queiroz, com José Augusto Bezerra, Regina Ribeiro, Heloísa Buarque de Holanda, Fernanda Coutinho e Socorro Acioli; e sobre meu romance Yuxin, com Marlui Miranda e John Surman.
No dia 18, domingo, Dia do Livro Infantil, com mil eventos para crianças, vou conversar sobre meu livro infantil feito aqui em Fortaleza pela editora Armazém da Cultura, Carta do Tesouro, sobre a Carta dos Direitos da Criança”

quinta-feira, 15 de abril de 2010

61º Salão de Abril abre com performances e intervenções pelas ruas do centro


A cidade de Fortaleza ganha mais um presente no mês em que comemora seus 284 anos: o 61º Salão de Abril, que será aberto no dia 16, às 19h, na Galeria Antônio Bandeira (Centro de Referência do Professor), ocupando, em paralelo, espaços não-convencionais de fruição artística como o Passeio Público e as ruas Senador Alencar e Major Facundo. Na abertura, os destaques são as performances de alguns artistas selecionados. No dia seguinte à abertura, os três curadores da mostra (Suely Rolnik, Ivo Mesquita e Jaqueline Medeiros) se reunirão para decidir o nome do artista que irá receber da Prefeitura Municipal de Fortaleza, por meio da Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor), uma bolsa de formação no valor de R$ 10 mil. “De abrangência nacional e cada vez mais descentralizado, o Salão de Abril, na verdade, é um convite para que a arte possa estar em todos os lugares de convivência e invenção”, disse Fátima Mesquita, Secretária de Cultura de Fortaleza.

Pela primeira vez em sua história, a 61ª edição do Salão de Abril dá continuidade ao tema da edição anterior “Qual o lugar da arte?”, atendendo aos apelos da classe artística. “A busca por um projeto que demonstre o cerne de todas as edições anteriores e a compreensão do papel deste salão para nossa sociedade são as características mais marcantes desta edição. Assim como nos dois últimos anos, o salão permanece ocupando os espaços de rua, numa busca constante por outras formas de se apresentar e organizar os espaços expositivos. Mais do que inovar, buscamos aprofundar as questões complexas que permeiam a existência e a permanência de um salão com mais de 60 anos de existência”, afirma Maíra Ortins, Coordenadora de Artes Visuais da Secultfor e organizadora do 61º Salão de Abril.


Este ano, o Salão confirma sua legitimidade perante à classe artística local e nacional: foram mais de 400 obras inscritas, de 19 estados brasileiros, sendo São Paulo o estado com maior participação (123 inscritos). Em seguida, o Ceará, com 77 trabalhos inscritos, e o Rio de Janeiro, 53. Entre os 30 selecionados, estão pinturas, fotografias, instalações, intervenções urbanas, esculturas, desenhos, performances, objetos e vídeos. Todos os selecionados receberão um prêmio de incentivo à produção no valor de R$ 2,5mil. Além do caráter contemporâneo, as obras possuem alto nível técnico e trazem idéias inovadoras, que instigam o espectador.


O carioca Pedro Meyer, que participa pela primeira vez da mostra, já está em Fortaleza, trabalhando em sua “Pintura Expandida”: “Já comecei o projeto e a expectativa é grande. Minha linha de pesquisa no doutorado da UFRJ é em Linguagens Visuais na arte contemporânea e a possibilidade de continuar meus estudos é maravilhosa. É muito bom participar do Salão de Abril”, diz.


O grupo cearense Acidum, selecionado com a intervenção “ProPagando”, ao contrário, participa do Salão desde 2007: "Os dois últimos salões quebraram essa história de exposição fechada da arte e foram para a rua. Os assuntos são cada vez mais debatidos e há uma consciência maior da importância da formação artística. Ainda falta muita coisa, mas já é um começo”, acredita.


SERVIÇO:
61º SALÃO DE ABRIL
Abertura: 16 de abril, 19h
Local: Galeria Antônio Bandeira
(Centro de Referência do Professor, Rua Conde D’Eu, 560, antigo Mercado Central)
Exposição: 16 de abril a 31 de maio
Circuito Expositivo:
Passeio Público –Rua Dr. João Moreira, s/n,.
(ao lado da Santa Casa de Misericórdia) – Centro
Centro de Referência do Professor, Rua Conde D’Eu, 560, antigo Mercado Central

Mais Informações:
Site do 61° Salão de Abril: www.salaodeabrilfortaleza.com.br
Maíra Ortins – Coordenadora Geral /Coord. Artes Visuais- Secultfor: 31051358/88912870
Ana Karla Dubiela – Assessoria de Imprensa - 86088036

quarta-feira, 14 de abril de 2010

"Xodó e Leitura", Dellano Rios para o Caderno 3 do Diário do Nordeste

Histórias em quadrinhos são destaque na IX Bienal Internacional do Livro do Ceará. Adultos e crianças lotam estandes dedicados ao meio e programação inclui pesquisadores, colecionadores e mestres da nona arte

Poucas portas são melhores para a entrada no mundo da leitura que aquela oferecida no abrir das páginas de uma história em quadrinhos. Não faltam exemplos de grandes leitores que, sobretudo na infância, foram devoradores de HQs. Um deles é o escritor Pedro Bandeira, que participa da IX Bienal Internacional do Livro do Ceará (sábado, 16h30). Ele se diz um apaixonado pela mídia dos quadrinhos. "Na minha infância, era moda. Os quadrinhos são um grande auxiliar no despertar da vontade de ler, de estudar", afirmou, em entrevista ao Caderno 3.

Os quadrinhos já passaram por maus bocados - a histórica perseguição da escola, de pais pouco inteligentes e intelectuais dados a análises apressadas e à intolerância; além da oscilação de vendagem e, por conta dela, da oferta de títulos. Atualmente, as HQs vivem um bom momento. Nem de longe é o ideal, mas há tempos não se via tanta variedade no material disponível do Brasil, que atendem públicos de idades e preferências diversas.

O sempre instável mercado dos "quadrinhos de super-heróis", monopolizado pelo material das editoras norte-americanas Marvel e DC Comics, vai sobrevivendo como pode, mudando de casa, reconfigurando o formato de seus títulos; dos quadrinhos infantis tradicionais, a Turma da Mônica de Mauricio de Sousa, outro convidado da Bienal (domingo, 13h30), segue firme, forte e em expansão. Ganhou um bem sucedido derivado, a Turma da Monica Jovem, voltada para o público pré-adolescente/adolescente que influenciou a criação de versões teen de Luluzinha e Didi Mocó.

Além do material já conhecido, o mangá multiplica seus títulos, ultrapassando o momento em que se traduziam apenas histórias e aventura. Por fim, o novo xodó dos colecionadores, os encadernados, que reúnem clássicos Marvel/DC e os álbuns de luxo de quadrinhos norte-americanos e europeus.

Desafios

Convidado da Bienal, o professor Waldomiro Vergueiro (USP), um dos principais estudiosos das HQs no País, falou ao Caderno 3 sobre os desafios para o estudo dos quadrinhos e seu melhor aproveitamento nas salas de aula. A conversa antecipou algumas questões do debate "A importância da gibiteca na formação do gosto pela leitura", que o reúne com o pesquisador Ricardo Jorge, professor e coordenador da Oficina de Quadrinhos da UFC, amanhã (quinta-feira), às 16 horas.

Para Waldomiro Vergueiro, a dificuldade das ciências humanas e sociais em reconhecer as histórias em quadrinhos como um objeto de pesquisa rico se relaciona com um momento anterior da história das histórias em quadrinhos, quando elas eram "classificadas como um tipo de leitura dirigido somente para crianças, como algo transitório, sem importância".

Variedade de títulos

A situação tem mudado. Vergueiro acredita que a variedade de títulos tem ajudado na expansão da pesquisa acadêmica e a formação de uma crítica especializada. "Uma coisa ajuda outra. Com a variedade das produções, os estudantes se interessam mais, conhecem quadrinhos diferentes, com os quais tem afinidade. Com a produção acadêmica, outros adultos se interessam pelas HQs e fortalecem o mercado. Forma-se um círculo virtuoso", descreve.

A presença dos quadrinhos em sala de aula é um dos temas explorados pelo pesquisador. O Governo Federal já inclui às HQs, que hoje entram em listas de leituras recomendadas pelo Ministério da Educação.

O caminho, contudo, ainda é longo até uma incorporação efetiva da nova arte nos currículos escolares. "Falta familiaridade dos próprios professores com o meio, que o aplicam de forma inadequada. Muitas vezes eles não conhecem a linguagem, nem as melhores obras, nem que obra pode ser indicada para que público. Falta uma 'alfabetização' das HQs. Elas devem fazer parte do currículo de formação dos professores", defende Vergueiro.

Como auxiliar à aprendizagem e incentivo à leitura, os quadrinhos vem sendo combinados com a literatura. A forma preferida é a tradicional (e irregular) adaptação. "É uma possibilidade de aplicação, mas não é nem deve ser a única.

Defendo que os quadrinhos sejam apreciados por serem quadrinhos, por sua linguagem e possibilidades próprias, não apenas quando são relacionados como a literatura".

Vergueiro diz que o problema também atinge as bibliotecas públicas do País. Em sua avaliação, elas não estão preparadas para receber quadrinhos. "Tantos os bibliotecários não tem familiaridade, como não há um planejamento da maneira como eles vão ser oferecidos. Não se deve ver os quadrinhos como isca para o livro", avalia.

Fique por dentro

Quadrinhos na Bienal

Na linha "grades nomes", o principal chamariz de hoje, na Bienal, é o mineiro Ziraldo Alves Pinto. Criador de personagens como o Menino Maluquinho, Julieta e Pererê, Ziraldo ministra a palestra "Ler é mais importante que estudar?", às 18h30. Perfil parecido tem o criador da Turma da Mônica. Mauricio de Sousa volta a Bienal depois de quatro anos. Ele fala no último dia do evento, domingo, às 15h30, em mesa mediada pelo artista visual Geraldo Jesuíno, lenda viva do quadrinho cearense.

MAIS INFORMAÇÕES:
IX Bienal Internacional do Livro do Estado do Ceará. De hoje a 18 de abril de 2010, Centro de Convenções de Fortaleza (Av. Washington Soares, 1141). Site: www.bienaldolivro.ce.gov.br
Contato: (85) 3261.2022

terça-feira, 13 de abril de 2010

13 de Abril - AlmanaCULTURA na Bienal: Lançamentos Café Literário e Espaço João Miguel de Cordel

Café Literário O Galo de Ouro (Sala A Inferior) 14h – 15h Lançamento & Bate-Papo
Lançamento: Coleção Prosas do Brasil (Casa da Prosa)
Coordenação: Almir Mota (Brasil/CE)
Ilustradores da Coleção: Daniel Diaz, Rafael Limaverde e Felipe Diaz (Brasil/CE)

Café Literário O Galo de Ouro (Sala A Inferior) 16h – 17h Lançamento & Bate-Papo
Lançamento: Fortaleza Belle Èpoque - 4ª edição (EDR)
Autor: Sebastião Ponte (Brasil/CE)
Apresentação: Frederico Neves (Brasil/CE)

Espaço João Miguel de Cordel (Bloco B) 16h - 17h Lançamento & Bate-Papo
Lançamento: Coleção Heróis e Rebeldes das Américas (Ed. Tupynanquim)
Padre Ibiapina Barbara de Alencar Anita Garibaldi Simon Bolivar Dragão do Mar Tiradentes Chê Guevara Emiliano Zapata Martin Luther King Abraão Lincoln Antônio Conselheiro Chico Mendes Convidado: autores (Brasil/CE)
Apresentação: Klévisson Viana (Brasil/CE)

Café Literário O Galo de Ouro (Sala A Inferior) 18h - 19h Lançamento & Bate-Papo
Lançamento: A Nova Toupeira: os caminhos da esquerda latino-americana (Boitempo Editorial)
Autor: Emir Sader (Brasil/SP)
Apresentação: Francisco Pinheiro (Brasil/CE)

Saiba mais sobre a Bienal, seus convidados, atrações e galeria de fotos acessando: www.bienaldolivro.ce.gov.br

12 de Abril - AlmanaCULTURA na Bienal: Arena Multi Cultural "Memorial de Maria Moura"

Arena Multi Cultural Memorial de Maria Moura (Bloco E) 16h – 17h Encontro
Lançamento: Pelos Caminhos de Nuestra América (Ed. Littere)
Convidado: Rafael Limaverde (Brasil/CE)
Mediação: Urik Paiva (Brasil/CE)

Arena Multi Cultural Memorial de Maria Moura (Bloco E) 18h – 19h Encontro
Mesa-Redonda: Crônicas da Cidade de Fortaleza
Debatedores: Ary Bezerra Leite (Brasil/CE), Narcélio Limaverde (Brasil/CE) e Zenilo Almada (Brasil/CE)
Mediação: Cristina Holanda (Brasil/CE)

Arena Multi Cultural Memorial de Maria Moura (Bloco E) 19h30 - 21h Mesa-Redonda e Lançamento
Tema: Revistas Literárias Impressas e Eletrônicas no Ceará
Convidados: Jesus Irajacy (Brasil/CE)/Para Mamíferos, Pedro Salgueiro (Brasil/CE)/CAOS Portátil, Manuel Carlos (Brasil/CE)/Pindaíba, Joanice Sampaio (Brasil/CE)/Canto de Iracema, Pedro Henrique Saraiva Leão (Brasil/CE)/Literapia e Mardônio França (Brasil/CE)/Corsário
Mediação: Dellano Rios (Brasil/CE)
Lançamento: Revista Para Mamíferos nº 2

Saiba mais sobre a Bienal, seus convidados, atrações e galeria de fotos acessando: www.bienaldolivro.ce.gov.br

13 de Abril - AlmanaCULTURA na Bienal: Espaço "Não me Deixes"

Espaço “Não me Deixes” – Centenário de Rachel de Queiroz (Hall do Auditório Central) 9h30min - 10h30min
Especial: Maracatu Nação Fortaleza
Coordenação: Calé Alencar (Brasil/CE)

Espaço “Não me Deixes” – Centenário de Rachel de Queiroz (Hall do Auditório Central) 17h - 18h
Especial: Literatura de Lua na Bienal
Coordenação: Ayla Andrade (Brasil/CE)

Saiba mais sobre a Bienal, seus convidados, atrações e galeria de fotos acessando: www.bienaldolivro.ce.gov.br

13 de abril - AlmanaCULTURA na Bienal: V Encontro do Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas

Sala As Três Marias (Auditório B1) 9h – 10h30min Encontro SEBP
V Encontro do Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas/SEBP
9h às 10h30min – Conferência: Relato de Experiências da Biblioteca Pública de Bogotá/Colômbia
Convidada: Sílvia Prada Forero/ BIBLORED (Colômbia)
Mediação: Cleide Rodrigues Bernardino/UFC (Brasil/CE)

Salão O Quinze (Auditório Principal – Bloco D) 11h – 12h30min Encontro SEBP
V Encontro do Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas/SEBP
Tema: Depoimento: O Meu Encontro com a Biblioteca
Convidado: Affonso Romano de Sant'Anna (Brasil/RJ)
Mediação: Waldomiro Vergueiro/Chefe do Departamento de Biblioteconomia e Documentação da USP (Brasil/SP)

Sala As Três Marias (Auditório B1) 14h – 17h Encontro SEBP
V Encontro do Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas/SEBP
14h às 15h – Palestra: Democratizar a Leitura e Formar Leitores: avaliação de projetos de leitura nas bibliotecas-pólo do Ceará
Convidada: Maria Cleide Rodrigues Bernardino/ Biblioteconomia - UFC (Brasil/CE)
Mediação: Ana Iório/ Faculdade de Educação-UFC (Brasil/CE)
15h30min às 16h30min – Palestra: Biblioteca Comunitária: uma necessidade social brasileira
Convidada: Fátima Araripe/ Biblioteconomia - UFC (Brasil/CE)
Mediação: Juliana Buse/ Biblioteconomia - UFC (Brasil/CE)

13 de Abril - AlmanaCULTURA na Bienal: Seminário Cultura, Democracia e Socialismo na América Latina e Caribe

Sala Caminho de Pedras (Auditório B2) 16h – 18h Seminário
Seminário Cultura, Democracia e Socialismo na América Latina e Caribe
Tema: O Futuro do Socialismo na América Latina e Caribe
Debatedores: Emir Sader (Brasil/RJ) e Justo Pereda Rodriguez (Cuba)
Mediação: Beatriz Furtado (Brasil/CE)

Saiba mais sobre a Bienal, seus convidados, atrações e galeria de fotos acessando: www.bienaldolivro.ce.gov.br

13 de Abril - AlmanaCULTURA na Bienal: Arena Infantil "O Menino Mágico"

Arena Infantil O Menino Mágico (Bloco F Superior) 9h - 17h Infantil SESC
Programação Infantil SESC
9h às 17h - Biblioteca Infantil / Leitura Livre
10h – Contação de Histórias com Benita Prieto (Brasil/RJ)
15h – Contação de Histórias com Benita Prieto (Brasil/RJ)
9h às 11h – Oficinas
Produção de texto: através das Historias em Quadrinhos, com Ilza Natália
Origami: dobrando e criando, com Giovani
Produção de texto: solte a criatividade e invente uma história, com Ítalo Rovere
Fantoches: criando e brincando, com Mônica Magalhães
Ilustração: criando suas imagens, com Nathália Forte
14h às 17h – Oficinas
Produção de texto: através das Historias em Quadrinhos, com Ilza Natália
Origami: dobrando e criando, com Elaine Assunção
Produção de texto: solte a criatividade e invente uma história, com Ítalo Rovere
Fantoches: criando e brincando, com Mônica Magalhães
Ilustração: criando suas imagens, com Nathália Forte

Saiba mais sobre a Bienal, seus convidados, atrações e galeria de fotos acessando: www.bienaldolivro.ce.gov.br

segunda-feira, 12 de abril de 2010

"O Mundo Através das Bibliotecas", Affonso Romano de Sant'Anna para o Caderno 3 do DN

Affonso Romano de Sant'Anna (foto: Carol Domingues/DN)


O escritor e jornalista Affonso Romano de Sant´Anna participa da IX Bienal Internacional do Livro do Ceará. Ex-presidente da Fundação Biblioteca Nacional, ele antecipa em entrevista ao Caderno 3 um pouco de sua fala na mesa "O meu encontro com a biblioteca", dentro do V Encontro do Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas


Como foi o seu “encontro com a biblioteca”?


Tentarei falar dos múltiplos encontros, desde a biblioteca da igreja que eu frequentava e a do meu pai, até as grandes bibliotecas do mundo que acabei conhecendo por ter sido secretário geral da Associação das Bibliotecas Nacionais Iberoamericanas ou por ter estado na India, Moscou, China, França, Irlanda, etc. Claro que vou me deter no panorama brasileiro que, felizmente, está se modificando e não é mais o mesmo de quando em 1990 lancei a campanha "Uma Biblioteca em Cada Município".


No texto "Por que escrevo", o senhor recorda seu pai, frequentemente com um livro na mão. Considera a presença constante de livros em casa fundamental para o despertar literário em jovens?

Ter livros na paisagem doméstica é importante, mas há aqueles que, nascendo num mundo adverso, despovoado de letras, chegaram aos livros. É que o livro, a cultura, as bibliotecas exercem um fascínio único para certas pessoas. É através das letras que elas se encontram com o mundo. Como dizia sempre Jorge Borges, o mundo pode ser visto como uma grande biblioteca de Babel, que a gente e tenta ordenar.


O senhor dirigiu por seis anos a Fundação Biblioteca Nacional e criou o Sistema Nacional de Bibliotecas. Como foi essa mudança de papeis, de frequentador a administrador?

Foi um desses acontecimentos que mudam a vida da gente. E felizmente conseguimos mudar a vida de outras pessoas também. Pois nenhuma mudança é efetiva se não ocorrer nos dois sentidos. A partir do Sistema Nacional de Bibliotecas tentamos romper o isolamento em que viviam as instituições. Fazíamos reuniões distritais, estaduais e nacionais. De repente, uma bibliotecária de Manaus já não se sentia tão ilhada, pois compartilhava experiências com as colegas de Joinville ou Salvador. Sobretudo, recriamos o espaço imaginário. E enraizamos a ideia de biblioteca na realidade social do país. A biblioteca costumava ser a principal ou única fonte para realizar pesquisas, por exemplo. Hoje, com o acesso facilitado a informações de todo tipo, com a crescente popularização da internet, muitos jovens e adultos deixaram de frequentá-la.


Nesse contexto, qual a importância hoje da biblioteca? Como chamar de volta seu público?

Está acontecendo uma coisa formidável, assombrosa. É como se estivéssemos em pleno Renascimento, de novo. Estamos vendo o surgimento de um novo Gutenberg, um novo conceito de livro. O livro virtual é uma realidade (não apenas virtual). E o será cada vez mais. Ingressamos no mundo de "Matrix". E o Brasil que estava muito atrasado nessa área, pois sempre foi carente de livros e bibliotecas, pode agora dar um salto qualitativa. Podemos queimar etapas. Qualquer pessoa, na selva ou na cidade pode ter uma biblioteca nas mãos, um I-Pad com mais de dois mil volumes. É uma revolução cultural. Algumas prefeituras e governos estaduais estão entendendo isto. O atual Ministério da Cultura está entendendo isto. E isto nos dá esperanças.


Transformar a biblioteca em espaço privilegiado de encontro entre leitores, de discussão, é uma boa estratégia para revitalizá-la?

Biblioteca deve ser o lugar de encontro, reencontro e de invenção. Não é um arquivo morto. Ali está a memória da comunidade e o modo da comunidade construir o seu futuro. Hoje, mais que nunca, existir é saber comunicar-se. Até as antas do Big Brother sabem disto. Quanto aos bibliotecários, tenho repetido isto há décadas, devem ser os servidores da comunicação no século XXI.


Além de escritor, o senhor exerce ou exerceu em algum momento as funções de teórico, cronista, professor, administrador cultural e jornalista. Combinar a atividades é um caminho natural de escritores no Brasil, tendo em vista a dificuldade de sobreviver exclusivamente de literatura no Brasil?

É uma questão de temperamento. Nem todo intelectual é assim ou pensa assim. Mas se fôssemos menos passivos, se fôssemos menos ilhados, menos tímidos, o Brasil seria outro. Tenho muita simpatia por Mário de Andrade que saiu pelo Brasil afora, amassando barro e fez uma obra notável. Igualmente por Monteiro Lobato homem de livros e ações. Euclides da Cunha, idem. Não sou (apenas) um homem de gabinete. Vai ver que ficou em mim, algo do metodista John Wesley, que dizia: "o mundo é a minha paróquia"


Ainda nesse sentido da profissão, o aprimoramento do sistemas de bibliotecas contribuiria para a formação de leitores e, por conseguinte, para a formação de um mercado?

Para usar um provérbio antigo, cultura é uma coisa que se multiplica dividindo. Por isto, sempre insisti com a Câmara Brasileira do Livro para que investissem não apenas no livro, mas no leitor, que o leitor é que vai consumir o livro. Por isto, a leitura é o ponto crucial. Por isto criamos o Proler, que felizmente deu os frutos mais extraordinários sob novas formas, como ocorre atualmente no Ceará.


Durante a ditadura militar, o senhor decidiu voltar para o Brasil e, no trabalho, enfrentou a repressão e a censura. Hoje ainda acredita em arte engajada ou acha limitador?

Talvez a melhor resposta à sua provocação é revelar que este ano a editora Rocco vai comemorar os 30 anos do lançamento de "Que país é este?". E, para tanto, fez um blog, onde os leitores podem opinar sobre o tema, sempre atual. Por outro lado, relançarei o livro por todo o país, fazendo debates, pois num ano eleitoral a questão torna-se ainda mais crucial: que país é este?


Fique por dentro Conheça o escritorAffonso Romano de Sant´anna

Nasceu em Belo Horizonte (1937) e foi criado em Juiz de Fora. Desde o começo dos anos 60 participou dos movimentos que transformaram a poesia brasileira, interagindo com os grupos de vanguarda. Nos anos 70, dirigindo o Departamento de Letras e Artes da PUC/RJ, estruturou a pós graduação em literatura brasileira, considerada uma das melhores do país. Trouxe conferencistas estrangeiros como Michel Foucault e, apesar das dificuldades impostas pela ditadura militar, realizou uma série de encontros nacionais de professores, escritores e críticos literários além de promover a "Expoesia" - evento que reuniu 600 poetas. Seu poema "Que país é este?" tornou-se símbolo da luta pela democracia. Foi Presidente da Fundação Biblioteca Nacional (1990 a 96), quando realizou a modernização tecnológica da instituição, informatizando-a e lançando programas.


Adriana Martins, para o DN

"A hora e a vez dos independentes", Pedro Rocha para O POVO

Nicolas Behr

O primeiro fim de semana da Bienal Internacional do Livro do Ceará recebeu um bom público para visitar os stands de livros que tomam três pavilhões do Centro de Convenções e assistir palestras com nomes como os poetas Thiago de Mello e Nicolas Behr, além do antropólogo Eduardo Viveiros de Castro.


O primeiro, em sua segunda participação no evento, lançou livro no Café Literário, ao passo que o brasiliense ministrou palestra com o tema Toda poesia é marginal?. O ponto alto do terceiro dia foi a fala do antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, que participou da mesa Integração Cultural, como parte do seminário Cultura, Democracia e Socialismo na América Latina e Caribe. Professor do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Viveiros de Castro questionou o atual corrente discurso sobre o protagonismo do Brasil novo cenário da política internacional e, mais especificamente, na América Latina: "O que eu posso falar sobre integração cultural a não ser dizer que concordo com ela", brincou, logo no início de sua fala para depois questionar a forma mais normal de integração do país na região: "O Brasil tem vocação imperialista", disse ao constatar o papel fundamental da Petrobras nessa chamada "integração".


O espaço reservado às editoras e escritores independentes no Pavilhão G reúne literaturas de diferentes estilos, que vão da iluminação cristã à escuridão fantasmagórica, passando pela poesia cearense e a Academia Feminina de Letras do Ceará.


Diversidade: A missionária Emanuelle Cardoso, 24 anos, passou o dia oferecendo os produtos da "família internacional", Aurora Produções. Entre DVDs e CDs com a temática religiosa, o maior destaque foi para o calendário Segredos para o sucesso com mensagens para cada dia do ano. A frase de ontem: "Uma vida sem dificuldades produziria pessoas fracas e inexperientes. Se não houvesse verdadeiros desafios, as pessoas não valorizariam o sucesso". É o caso o técnico em processamento de dados e escritor, Rochett Tavares, 34 anos, está lançando Criaturas em um pequeno stand na área reservada para editoras e autores independentes, localizada no Pavilhão G. Aos 12 anos, disse para a mãe que não iria fazer a tarefa de casa, uma redação. A sábia mãe pôs uma jarra de leite, bebida odiada pelo garoto, e uma chinela do lado de Rochett. "A cada não que eu dizia, era uma chinelada e um copo de leite. Não passei do terceiro. Hoje sou escritor", lembra. O livro de "horror fantástico", como faz questão de especificar, reúne oito contos com temáticas que passam por seres conhecidos da mitologia do gênero: "Aqui não tem vampiro que briga no sol e lobisomem fofinho", afirma. Liberado do trabalho para estar presente aos 10 dias do evento literário, Rochett já havia vendido 10 livros até o começo da tarde de ontem, numa prova de que sua teoria do conto está atraindo leitores: "O conto funciona como a programação da TV, se você não ta gostando passa pra outro". Em meio a citações de Edgar Allan Poe, HP Lovecraft e às mitologias egípcia, grega e judaico-cristã, a escuridão surge como o grande motivador de sua literatura: "Quando você olha pra escuridão, você sente que alguém está lhe observando".

"Hoje, na Bienal", texto de João Soares Neto para o Diário do Nordeste

João Soares Neto, Academia Fortalezense de Letras e amigos na Bienal do Livro

Este artigo é um convite especial para você, leitor (a). Hoje, domingo, às 11 horas, no Espaço "Não Me deixes", no Hall Central do Centro de Convenções, a Academia Fortalezense de Letras realiza sua segunda sessão em bienais do livro. Vá, esperamos por você. Será uma forma simples, leve, audaciosa e manifesta de aproximar uma nova academia do público que se pretende ver em eventos literários.


Sabemos que tradições devem ser respeitadas, mas urge oxigenar a cultura, dando ênfase na comunicação entre os que escrevem e os que leem, ainda que não sejamos sábios ou expoentes no que fazemos. Livro sem leitor é cadeado sem chave. Nessa reunião, o professor de literatura brasileira, Carlos Augusto Viana, falará sobre a obra literária de Rachel de Queiroz, enquanto o escritor José Luís Lira dirá de sua amizade - na varanda sertaneja - com a já então madura autora de "O Quinze". Maurício Benevides promete cantar. Teremos a presença benfazeja de jovens integrantes de academias estudantis, que apoiamos.


Tudo girará em torno da comemoração do centenário de nascimento de Rachel, patrimônio imaterial de todo o Estado do Ceará e, especialmente, da fortalezense cidade, onde nasceu e mantinha pouso. Se puder, dê um pulo lá, vale a pena, acredite. Vocês estão convidados a comparecer, não só a essa sessão, mas a todos os eventos da 9ª. Bienal Internacional do Livro do Ceará, aberta na sexta e que vai até o dia 18 próximo.


Uma Bienal é uma festa múltipla, mas o seu objetivo central é o livro, esse pequeno objeto que nos faz distintos pelo saber. Vivemos, neste começo da segunda década do século XXI, a chegada de meios eletrônicos de leitura como o "Kindle" e o "IPad" que, ao contrário do que alguns pensam, não substituirão o livro, tampouco o escritor, o editor e nem arruinarão gráficas competentes. Serão apenas meios e estratégias a facilitar a leitura de livros na forma digitalizada.


Ler, seja como for, ajuda a pensar, ficar mais centrado e infenso ao que não nos atrai ou incomoda. Abrir um livro, começar a lê-lo é um ato simples, despretensioso, mas pode enriquecê-lo. "O que estais lendo?", perguntou Polônio a Hamlet. E você?

"Crianças tomam conta da Bienal do Livro do Ceará" (Diário do Nordeste 12.04)

foto: José Leomar (DN)


Lendo histórias em quadrinhos, contos e fábulas. Ouvindo e participando de contação de histórias, batendo fotos, correndo para um lado e para o outro ou simplesmente "aperreando" os pais para comprarem quantos livros pudessem. As crianças tomaram conta do primeiro domingo da IX Bienal Internacional do Livro do Ceará.


A estimativa da organização do evento, em parceria com o Corpo de Bombeiros, é de que cerca de 20 mil pessoas tenham passado pelo Centro de Convenções ontem, somente entre 9h e 17h30 - a programação prosseguiu até 22h, aproximadamente.


Entre pais e mães, a certeza de estarem estimulando o gosto pela leitura nos filhos.Caso do contador Givanildo Almeida Albuquerque, 33, que levou os três filhos para uma tarde na bienal. Antônio Albuquerque, 10, entretinha-se com uma história da Turma da Mônica. "Os livros me dão ideias, ensinam a escrever histórias diferentes", exaltava.


Já Guilherme Mendes, 9, voltou para casa com uma sacola cheia de mangás. Ele disse que já tinha ido à bienal no ano passado e garantiu que tem a mesma empolgação em relação aos quadrinhos na hora de estudar. "Gosto muito de Ciências", contou. Andréia dos Santos, 13, havia acabado de ganhar dos pais um livro sobre o diário da vida de uma menina. Para ela, ler na bienal é ainda melhor. "Às vezes, na escola, a gente não tem muita opção", reconheceu.


A professora Suely Rodrigues, 43, levou os filhos Jadesson, 12, e Larissa, 9. "Eles leem, mas há certos períodos nos quais eles acabam indo para a televisão ou para o computador. Esses eventos são importantes para a gente resgatar neles o gosto pela leitura".


Um destaque da programação, na manhã de domingo, foi a palestra do professor Carlos Augusto Viana, da Academia Fortalezense de Letras. Em debate, a obra de Rachel de Queiroz, que completa centenário em 2010, e José Luís Lira, autor de "No Alpendre com Rachel".

12 de Abril - AlmanaCULTURA na Bienal: Arena Multi Cultural "Memorial de Maria Moura"

Arena Multi Cultural Memorial de Maria Moura (Bloco E) 16h30min - 17h30min Encontro
Tema: Biografia: uma fronteira entre Literatura, História e Jornalismo
Convidado: Lira Neto (Brasil/SP)
Mediação: Luiza Helena Amorim (Brasil/CE)

Arena Multi Cultural Memorial de Maria Moura (Bloco E) 18h30 - 20h Encontro
Tema: Con Jose Martí: cultivar los sentimientos
Convidado: Justo Pereda Rodríguez (Cuba)
Mediação: B.C. Neto (Brasil/CE)


Saiba mais sobre a Bienal, seus convidados, atrações e galeria de fotos acessando: www.bienaldolivro.ce.gov.br

12 de Abril - AlmanaCULTURA na Bienal: Seminário Cultura, Democracia e Socialismo na América Latina e Caribe

Sala Caminho de Pedras (Auditório B2) 16h – 18h Seminário
Seminário Cultura, Democracia e Socialismo na América Latina e Caribe
Tema: Comunicação
Debatedores: Beto Almeida (Brasil/DF), Nestor Piccone (Argentina) e Aimée Vega Montiel (México)
Mediação: Alexandre Barbalho (Brasil/CE)


Saiba mais sobre a Bienal, seus convidados, atrações e galeria de fotos acessando: www.bienaldolivro.ce.gov.br

12 de Abril - AlmanaCULTURA na Bienal: Espaço "Não me Deixes"

Espaço “Não me Deixes” – Centenário de Rachel de Queiroz (Hall do Auditório Central) 16h - 17h
Especial: Academias de Letras na Bienal
Coordenação: Regina Fiúza (Brasil/CE)

Espaço “Não me Deixes” – Centenário de Rachel de Queiroz (Hall do Auditório Central) 17h15min - 18h15min
Especial: Sociedade Amigas do Livro e Associação Brasileira de Bibliófilos na Bienal
Coordenação: Regina Fiúza (Brasil/CE)

Saiba mais sobre a Bienal, seus convidados, atrações e galeria de fotos acessando: www.bienaldolivro.ce.gov.br

12 de Abril - AlmanaCULTURA na Bienal: Lançamentos no Café Literário Santa Clara "O Galo de Ouro"

Café Literário O Galo de Ouro (Sala A Inferior) 15h - 16h Lançamento & Bate-Papo
Lançamento: Laranja Seleta (Editora Língua Geral)
Convidado: Nicolas Behr (Brasil/DF)
Mediação: Hermínia Lima (Brasil/CE)

Café Literário O Galo de Ouro (Sala A Inferior) 19h - 20h Lançamento & Bate-Papo
Lançamento: Show de Talentos em Prosa e Verso
Convidada: Joyce Cavalcante/organizadora REBRA (Brasil/SP)
Apresentação: Leda Maria (Brasil/CE)

Saiba mais sobre a Bienal, seus convidados, atrações e galeria de fotos acessando: www.bienaldolivro.ce.gov.br

12 de abril - AlmanaCULTURA na Bienal: V Encontro do Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas

Sala As Três Marias (Auditório B1) 9h – 12h30min Encontro SEBP
V Encontro do Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas/SEBP
9h – Credenciamento e entrega de material
9h30min – Abertura: Auto Filho (Secretaria da Cultura do Estado do Ceará), Sandra Domingues (FBN/MinC), Suzete Nunes/Mais Cultura-MinC (Brasil/DF), Karine David (Coordenadoria de Políticas do Livro e de Acervos/COPLA), Aparecida Lavor (Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas/SEBP-CE), Enide Vidal (BPGMP), Regina Lúcia (Conselho Regional de Biblioteconomia/3ª Região) e Teresinha Vieira (Associação de Bibliotecários do Ceará/ABC).
10h30min às 12h30min – Palestra: Políticas Culturais – Investimento em Livro e Leitura
Convidadas: Sandra Domingues/FBN/MinC (Brasil/DF), Suzete Nunes/Mais Cultura-MinC (Brasil/DF) e Julianne Larens/Projeto Biblioteca Cidadã (Brasil/CE)
Mediação: Maria Aparecida de Lavor/Coordenadora SEBP (Brasil/CE)

Sala As Três Marias (Auditório B1) 14h – 17h30min Encontro SEBP
V Encontro do Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas/SEBP
14h às 15h30min – Palestra: Experiência Exitosas em Livro e Leitura no Estado do Acre
Convidada: Helena Carloni Camargo/ Coordenadora do Departamento Estadual de Bibliotecas do Acre (Brasil/AC)
Mediação: Vagna Teixeira/Bibliotecária da Pólo de Itapipoca (Brasil/CE)
16h às 17h30min - Palestras e Debate:
16h - Palestra 1: Biblioteconomia: arte ou ciência determinista?
Convidado: Wagner Chacon/ Chefe do Departamento da Ciência da Informação do Curso de Biblioteconomia da UFC (Brasil/CE)
Mediação: David Vernon/Biblioteconomia UFC Brasil/CE)
17h - Palestra 2: Biblioteca Digital
Convidado: Luiz Fernando Sayão/ Ciência da Informação CNEN-RJ (Brasil/RJ)
Mediação: David Vernon/Biblioteconomia UFC (Brasil/CE)
17h20min - Debate

Saiba mais sobre a Bienal, seus convidados, atrações e galeria de fotos acessando: www.bienaldolivro.ce.gov.br

12 de Abril - AlmanaCULTURA na Bienal: Arena Infantil "O Menino Mágico"

Arena Infantil O Menino Mágico (Bloco F Superior) 9h - 17h Infantil SESC
Programação Infantil SESC
9h às 17h - Biblioteca Infantil / Leitura Livre
9h – Contação de Histórias com Beatriz Myrrha (Brasil/MG)
15h – Contação de Histórias com Beatriz Myrrha (Brasil/MG)
9h às 11h – Oficinas
Produção de texto: através das Historias em Quadrinhos, com Ilza Natália
Origami: dobrando e criando, com Giovani
Produção de texto: solte a criatividade e invente uma história, com Ítalo Rovere
Fantoches: criando e brincando, com Mônica Magalhães
Ilustração: criando suas imagens, com Nathália Forte
14h às 17h – Oficinas
Produção de texto: através das Historias em Quadrinhos, com Ilza Natália
Origami: dobrando e criando, com Elaine Assunção
Produção de texto: solte a criatividade e invente uma história, com Ítalo Rovere
Fantoches: criando e brincando, com Mônica Magalhães
Ilustração: criando suas imagens, com Nathália Forte

Saiba mais sobre a Bienal, seus convidados, atrações e galeria de fotos acessando: www.bienaldolivro.ce.gov.br

domingo, 11 de abril de 2010

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Lançamento republicação de "I Congresso Brasileiro dos Médicos Católicos", 1946


SOBRE A OBRA
Sobejas razões, médicas, históricas e religiosas, levaram à republicação dos Anais do Primeiro Congresso Brasileiro de Médicos Católicos, realizado em Fortaleza, no ano de 1946, evento seminal para a criação da Faculdade de Medicina da UFC, consoante atesta o jornal O Povo: “Julho, 5 – Realiza-se em Fortaleza, o 1º Congresso de Médicos Católicos. Sabe-se que o espírito predominante é favorável à fundação de uma Faculdade de Medicina em Fortaleza. A idéia é boa, pois o Ceará já reclama que os seus jovens que desejam seguir a carreira daqui não mais precisem sair para Salvador ou Rio de Janeiro”. In: Costa, José Raimundo. Memória de um jornal. Fortaleza: Fundação Demócrito Rocha, 1988. p.268.


A obra, em si, não se conteve na reprodução “fac-símile” dos Anais organizados pelo padre Monteiro da Cruz, SJ, tendo sido enriquecida por contribuições produzidas por diferentes autores, sob a forma de ensaios sobre o contexto social, político e religioso da época, e de biografias, que resgatam a memória de parte dos organizadores, expositores e até de alguns dos participantes desse congresso.


O livro, para a sua concretização, teve o patrocínio do Banco do Nordeste do Brasil e da Academia Cearense de Medicina e contou com o apoio das seguintes entidades: Associação Médica Cearense, Faculdade Católica de Fortaleza, Fundação Waldemar Alcântara, Instituto do Câncer do Ceará, Sindicato dos Médicos do Estado do Ceará, Sociedade Brasileira dos Médicos Escritores (Nacional e Regional do Ceará), Sociedade Médica São Lucas, Unicred e Unimed de Fortaleza.


Marcelo Gurgel Carlos da Silva



Importante: A renda integral desse lançamento será revertida para a construção da Igreja de São Francisco de Assis, em Jacarecanga, retomada após meio século de paralisação.


SOBRE O ORGANIZADOR
Marcelo Gurgel
é médico, economista, professor universitário, pesquisador e escritor. Como conhecido polígrafo, lastreado na autoria de uma variedade de livros sobre Saúde Pública, Medicina e Economia, nos últimos tempos, tem enveredado no mundo literário, com atuação nos seguintes gêneros: crônica, conto, memórias, ensaio, romance e teatro. Trabalha como médico e professor do Instituto do Câncer do Ceará. É professor titular da UECE, lecionando no Curso de Medicina e no Curso de Mestrado Acadêmico em Saúde Pública do Centro de Ciências da Saúde e no Doutorado em Saúde Coletiva (Associação Ampla - UECE/UFC). É membro titular da Academia Cearense de Medicina, ocupante da Cadeira Nº 18.

sábado, 3 de abril de 2010

Para o poeta Thiago de Mello (2006)

Thiago de Mello
IX Bienal Internacional do Livro do Ceará

Hoje eu conheci a poesia!
Sim, minha amiga, ela vinha caminhando lenta, pequena, cabelos encanecidos, lábios grossos e um olhar embaciado.
Ela, completamente branca como a nuvem que se banha ao sol, gesticulava grave no ar em dedos finos, nodosos, seguros.
Falava num cantar ritmado sobre a beleza da vida, do amor e de amar.
Falava de gente: a matéria-prima do pecado e a fronteira rente da salvação!

A poesia gotejava, vagarosa, de uma folha verde de grossas nervuras num dia de chuva;
Fixava curiosa com olhos amendoados a descoberta de um ciclope;
Borbulhava tensa no confrontamento que singra nas vaidades de rios;
Desencrespava os negros cabelos e se mostrava firme na face grácil de mulheres em vestes molhadas, esculpidas na doçura da incerteza e na certeza da dúvida.

Gargalhava na sabedoria daqueles que ignoram;
Perseverava, cria e lutava com a delicadeza da simplicidade infrequente dos grandes cavaleiros. Grandes? Existe isso?
Sim, minha cara, hoje eu conhecia a poesia...
Com todo o respeito postava-se em pé, suas palavras ecoavam na flanância forjada na trilha perdida dos anos.
Cada golpe no peito tangia os espíritos belicosos, desabrochava versos no coração.
Visionária, a poesia descortinava o poeta, além de tudo, o legente.

É, querida amiga, hoje eu finalmente descobri, após anos de abstinência, que poesia rima com utopia!
Texto de Raymundo Netto para Ana Miranda, em 8 de junho de 2006, após assistir a uma palestra do poeta que estará, ao lado de Carlos Heitor Cony, na 9ª Bienal Internacional do Livro do Ceará (9 a 18 de abril de 2010)

"Os Jumentinhos de Jesus", crônica de Ana Miranda para O POVO


Ao amanhecer, ou ao entardecer nesta aldeia onde moro, escuto o zurrar dos jumentinhos que vagam por aí, singelos, graciosos, mansos, de pelo claro e olhar dócil. Parece uma cantiga, um pouco triste, um pouco lamentosa, vinda do fundo de seu sentimento. Vejo-os soltos pelas ruas, alimentando-se de uma relva muito rude, bebendo água no maceió, caminhando a esmo nas areias...

Na ladeira da rua do Sol, algum impiedoso dono costuma amarrar um jumentinho a um toco, o pobre animal permanece ali o dia todo, sozinho, debaixo do sol causticante, cena de cortar o coração.
Na minha santa ignorância, achava que jumentos, burros, asnos, mulas, jericos, jegues, seriam o mesmo animal. Não são. Asnos, jumentos e jegues são os asininos, parentes dos cavalos, onagros antiquíssimos que já cruzavam as ruas abissínias carregando tâmaras, vinho, trigo, ou as páginas do Velho Testamento, onde recebem quase uma centena de menções, ora como animais de carga, de tração, ora como montaria daqueles personagens bíblicos. Os mais antigos textos do Brasil colonial já mencionam a presença dos nossos jegues trazidos nas caravelas para uma escravidão jamais abolida. Os burros são híbridos de cavalo e jumenta, e as mulas, de égua e jumento. Dizem os conhecedores que os jumentos são de natureza viva, ágil, dócil, mas diante de tanto trabalho sob maus tratos, ou tanto abandono, tornam-se lânguidos, tímidos e teimosos; quando bem cuidados, como é costume no Oriente, desenvolvem as suas melhores qualidades.
Toda lembrança que esses bichos trazem é suave, é lírica: no casamento na roça levam a noivinha matuta, noutro dia arrastam o arado nas lavouras arcaicas dos interiores... Fazem muito boa figura na nossa literatura. O primeiro conto de Guimarães Rosa em seu primeiro livro, Sagarana, é a história de um burrinho pedrês miúdo e resignado, chamado Sete-de-Ouros, que depois de tanto trabalhar na mocidade estava encardido, sonolento, pisado, quase cego e aposentado. Sua redenção se passa num dia em que é arreado para montaria do vaqueiro João Manico, a fim de tocarem boiada. Em meio ao trabalho, o Major manda Manico trocar de remonta com seu camarada de confiança, o Francolim. Ninguém quer o burrinho, que acaba servindo mesmo é ao bêbado Badu, vaqueiro novo na fazenda e metido em tramas de amor e morte. Zombam de Badu: "Uê, Badu, vai vender leite?" Na travessia do riacho, debaixo de um aguaceiro, o burrico envereda e os vaqueiros se arrogam, vão atrás. Sete-de-Ouros desvia dos galhos, dos troncos, dos poços, dos remoinhos, toma a outra margem e sai trotando. Morrem oito vaqueiros e seus cavalos. Sete-de-Ouros salva Badu e, de quebra, Francolim, tomando pé "por onde os burrinhos sabem ir, qual a qual, sem conversa, sem perguntas, cada um no seu lugar, por todos os séculos e seculórios, mansamente amém".
Machado de Assis também tem seus burricos. "Vejam o burro. Que mansidão! Que filantropia!", começa, num leve tom de sarcasmo. Seus burros dialogam, filosofam, têm consciência da saudade e da humilhação. Primeiro arrastam os bondes ladeira acima e abaixo; depois, trocados pela eletricidade, são abandonados nas ruas do Rio. Depara-se Machado, então, com um burro caído na rua, os ossos a furar-lhe a pele, olhos meio mortos, cabeceando, próximo do fim. O pobre animal faz um exame de consciência, recompõe suas adversidades e a ingratidão humana. E vem o réquiem do desprezado, inofensivo animal que nos ensina "a gravidade do porte e a quietação dos sentidos". Requiescat in pace.
Os jumentos são animais os mais cristãos, marcam o nascimento e a morte de Jesus. É um deles que José puxa pelo arreio, levando em fuga a sua esposa, Maria, prestes a dar à luz, e é numa estrebaria, lugar de abrigo desses pacíficos bichos, ao lado de um boi, uma ovelha, um jumentinho, que Jesus nasce. Seu berço é uma manjedoura. A paixão de Cristo, nossa Semana Santa, começa com sua entrada triunfal pelas ruas de Jerusalém, forradas de folhas de palmeiras bem verdes, sob hosanas e salvas dos habitantes que o aclamam "filho de Davi", herdeiro dos dons desse lendário rei que realizava milagres e curas. Fez Nosso Senhor questão de ir montado num jumento, e não sobre um altivo cavalo do império de Herodes, para mostrar que reinava sobre os simples, que preferia os humildes e os trabalhadores. Talvez essa escolha da simplicidade tenha colaborado para que os mesmos moradores da Cidade Santa, que o festejavam, em seguida o condenassem, absolvendo um ladrão. Coisas de humanos.
Ana Miranda, para O POVO, em Semana Santa.