quarta-feira, 30 de maio de 2012

"Bem Antes", Pedro Salgueiro para O POVO (30.5)



Ele nunca fora caseiro; antes passava em casa apenas para trocar de roupa — resmungava um desaforo à esposa enquanto se encharcava de perfume. Os antigos olhos tristes, distantes na direção da porta que ele logo atravessaria para voltar apenas na manhã seguinte. Agora fingia não notar que ela escondia na sala sua melhor roupa, disfarçava no vestido a colônia de alfazema; cuidando resignadamente dos mínimos detalhes: — querido, se precisar do penico me chame. E ela de sono tão profundo bem no quarto ali de lado: — se eu não escutar, Lucinha acode, que ela tem o sono mais leve. Na manhã seguinte também fingia não perceber seus olhos inchados, o nervosismo das mãos, a solicitude gratuita, o amor eterno...
— Querido, dormiu bem!? — E afirmava ele com a cabeça, o olhar distante; o lençol escondendo a mancha de urina.
Ultimamente nem a filha mais acordava, com o mesmo sono pesado da mãe — na hora do almoço vislumbrava seus belos olhinhos vermelhos, que não mais o miravam de frente, mas sempre procurando algo para fazer.
Também fingia não notar o jeito cúmplice das duas; no passado: tão distantes — agora altivos, mais de irmãs. Não ligava para o estacionar dos carros na frente da casa, antes bem calma — pois sabia que inevitavelmente elas já estavam dormindo no quarto ao lado: e quão inútil seria chamá-las.

"A geografia verbal de Raymundo Netto", Dellano Rios para o Caderno 3 do Diário do Nordeste (30.5)


Não faltam aqueles que tomem um lugar qualquer por um ser vivo. Com humores, personalidade, pensamento e sentimento. Muitos escritores trabalharam, obsessivamente, na recriação de seu berço - caso do polonês Bruno Schulz, do irlandês James Joyce e do mineiro Guimarães Rosa.

O cearense Raymundo Netto não chega a tanto. Contudo, ele também se atem a uma geografia - mas uma geografia distinta, não aquela feita de gente e de terra. A geografia que explora é, pois, a das palavras. Em seu novo livro, Os Acangapebas, que será lançado hoje, a partir das 19h30, no Plenário da Câmara Municipal de Fortaleza, ele constrói um lugarejo linguístico, que remete ao Ceará - em tempos e espaços múltiplos, a se entrecruzarem na busca de uma harmonia.

Os Acangapebas é um livro de contos, com a uniformidade de um romance. Raymundo Netto, aliás, já havia tencionado estes limites em seu trabalho anterior, o romance Um Conto no Passado: cadeiras na calçada, ganhador do I Edital de Incentivo às Artes da Secretaria da Cultura do Estado - Secult (2004). O novo trabalho também já coleciona dois prêmios, o Edital de Literatura da Secretaria da Cultura de Fortaleza - Secultfor (2007) e do Prêmio Osmundo Pontes de Literatura da Academia Cearense de Letras - ACL (2011).

A palavra real

Se a coleção de contos se assemelha a um romance fragmentado, tamanha a unidade de estilo e conteúdo das histórias ali contadas, também é necessário acrescentar à equação literária de Os Acangapebas a poesia.

Essa ligação, aliás, é sugerida pelo autor logo no início da obra, ao citar os versos do italiano Dante Alighieri, inscritos na entrada do Inferno, em seu clássico poema A Divina Comédia - "Lasciate ogni speranza, voi che entrate" (Abandone toda a esperança aquele que por aqui entrar", em tradução livre).

E como todo bom poema, fica a cargo do leitor encontrar uma resposta para o que é dito. Afinal, de que esperança o escritor espera que seus leitores abdiquem, antes mesmo de atravessar suas páginas? Para arriscar uma resposta (e, portanto, sem garanti-la), ficaríamos tentados a identificar, aí, uma antecipação do estado de ânimo de boa parte das histórias ali contadas.

Netto as costura com uma melancolia persistente. Não chega a explodir em tristeza ou qualquer outro estado de alma mais sombrio. Contudo, está ali, a escorrer por este e aquele episódio, em pequenos dramas que, tal qual pedras colossais, não podem ser removidos. Talvez seja por isso que Raymundo Netto tenha escolhido "Luzeiros" para abrir o livro. A história é exemplar nesta melancolia: um velho pescador, que sempre enfrentou o incomensurável oceano, não consegue enfrentar os problemas que o dia a dia lhe traz. Destacam-se, ainda, histórias como "Ode ao Amor e à Morte" e "O Circo".

Homenagem

O autor lança seu novo livro em um dia especial. Netto será homenageado, em sessão solene na Plenário da Câmara Municipal de Fortaleza, com a entrega da Medalha Boticário Ferreira - comenda instituída para premiar o mérito cívico do cidadão que, em Fortaleza, se distingue pela notoriedade do seu saber, relevantes serviços à coletividade, dedicado à causa do município. O escritor trabalhou na Secult na gestão Auto Filho (2007-2010) e na atual gestão, sempre em coordenadorias dedicas ao incentivo do livro e da leitura.

Mais informações:
Sessão Solene de entrega da Medalha Boticário Ferreira ao escritor; seguida de lançamento do livro "Os Acangapebas". Às 19h30, no Plenário da Câmara Municipal de Fortaleza (R. Thompson Bulcão, 830, Luciano Cavalcante). Contato: (85) 3444.8300

LIVRO
Os Acangapebas
Raymundo Netto
Fundo de Quintal
2012, 150 páginas - R$ 20

"Raymundo Netto recebe Boticário Ferreira", Pedro Rocha para o Vida & Arte de O POVO (30.5)


Raymundo Netto, 44, lança Os Acangapebas hoje, às 19h30, no Plenário da Câmara Municipal de Fortaleza. Na verdade, trata-se de sessão solene em que o autor receberá a Medalha Boticário Ferreira e à qual decidiu juntar o lançamento dos contos da obra. Selecionado no Edital de Incentivo à Literatura da Secretaria de Cultura de Fortaleza, em 2007, e vencedor do Prêmio Osmundo Pontes da Academia Cearense de Letras de 2011, o livro estava teoricamente pronto, mas o autor não o considerava assim, até o convite para o recebimento da maior comenda do legislativo municipal.
“Foi uma surpresa boa, porque eu tenho muita admiração pelo Boticário Ferreira, gosto muito da história da cidade”, fala Raymundo sobre a medalha, lembrando a figura de Antônio Rodrigues Ferreira, prefeito de Fortaleza entre os anos 1843 e 1859. “Fico feliz pelo reconhecimento do trabalho na literatura e mais ainda pela oportunidade de lançar o livro”.

Os Acangapebas é o primeiro de contos do autor, que estreou na literatura em 2005 com o romance Um Conto no Passado: cadeiras na calçada, depois de abandonar de vez a carreira de fisioterapeuta em meados da década de 1990. De lá pra cá, escreveu ainda os infanto-juvenis A Bola da Vez (2008), A Casa de Todos e de Ninguém (2009) e Os Tributos e a Cidade (2011) – todos lançados pelas Edições Demócrito Rocha.

“Eles surgem muito da minha observação das pessoas, é um fato que me chamou a atenção, um medo estranho, uma situação estranha e a partir daí eu vou colorindo as histórias com as palavras”, conta o autor sobre a escrita dos contos. Em sua maioria, texto curtos, condensados.
Atualmente editor adjunto das Edições Demócrito Rocha, Raymundo Netto também é designer e quadrinista – produziu a capa de Os Acangapebas e dos vários livros editados pela Secretaria de Cultura do Ceará quando comandou a Coordenadoria de Políticas do Livro e de Acervos, de 2009 a 2011. O escritor também assina quinzenalmente, às quartas-feiras, uma crônica no Vida & Arte. Estes textos, adianta, devem integrar suas próximas obras, mais precisamente outros três livros – um já concluído e que será lançado ainda este ano; outros dois por dar o ponto final.
“O terceiro, eu digo, vai ser minha obra póstuma, os amigos é que vão publicar, Quando o Amor é de Graça, que são crônicas mais biográficas, em que eu falo dos meus sentimentos e da minha vida pessoal”, adianta. Nos planos de Netto ainda estão duas biografias de personalidades já mortas, mas que ele não revela os nomes.
Mais novo condecorado da cidade, Raymundo Netto largará seu hábito de estar presente em qualquer evento que diga respeito à literatura em Fortaleza, incluindo lançamentos de autores obscuros da cidade e visitas a grupos de culto à arte literária. “Ando demais em vários ambientes, ando nos ambientes mais acadêmicos, como também ando nos marginais, nos bares... Conheço muita gente.”
 SERVIÇO 
Medalha Boticário Ferreira

O quê: Entrega do título ao escritor Raymundo Netto, que lança o livro Os Acangapebas
Quando: hoje, às 19h30
Onde: Plenário da Câmara Municipal de Fortaleza (rua Thompson Bulcão, 830 – Luciano Cavalcante)

Outras informações: 3444 8300

quarta-feira, 23 de maio de 2012

AGENDE-SE: Entrega da Medalha Boticário Ferreira a Raymundo Netto e lançamento de "Os Acangapebas", de contos (30.5)


Clique na imagem para ampliar!
Convite

O Presidente da Câmara Municipal de Fortaleza, vereador Acrísio Sena, convida para Sessão Solene de entrega da Medalha Boticário Ferreira a
Raymundo Netto
Requerimento de autoria do vereador Machadinho Neto, aprovado pelos demais vereadores da Câmara.
Na ocasião, será lançado o livro Os Acangapebas, de autoria do homenageado,
ganhador do Edital de Literatura da Secretaria da Cultura de Fortaleza (2007) e do Prêmio Osmundo Pontes de Literatura da Academia Cearense de Letras (2011).

Contamos com a divulgação e presença dos familiares e amigos.

Data: 30 de maio de 2012 (quarta-feira), às 19h30
Local: Plenário da Câmara Municipal de Fortaleza (rua Thompson Bulcão, 830, Luciano Cavalcante – Informações: 3444-8300 ).
Traje: Esporte fino

Sobre a Medalha Boticário Ferreira: A Medalha Boticário Ferreira, maior comenda da casa, foi instituída em 1981 pela Câmara Municipal de Fortaleza para premiar o mérito cívico do cidadão que, em Fortaleza, se distingue pela notoriedade do seu saber, relevantes serviços à coletividade, dedicado à causa do município e exemplos de dedicação ao serviço público da cidade. O nome da comenda homenageia Antônio Rodrigues Ferreira, o Boticário Ferreira, político que se destacou como bom administrador quando exerceu o cargo de prefeito de Fortaleza (1843-1859).






"Quando o Amor é de Graça XV: Palavras Mortas", Raymundo Netto para O POVO (23.05)

Piaf


Um dia aconteceu de a manhã anoitecer.
Na mente muda de pensamentos, apenas estrelas calçavam ideias.
Estas não me diziam nada, nem hálito ou hiato de luz, nada!
Pus-me na condição de pensador: à coxa, o cotovelo; o punho, como um Atlas, sustentava, acima do queixo, o grande cogumelo de Hiroshima e tudo mais que me restava.
Ouvia, como ao longe, a marcha de “Je ne regrette rien”, estivesse ela tão perto, tão perto, de pôr unhaduras no coração.
Perdeu-me o tempo nos lábios das palavras a lançar perfumes de se ouvir em pupilas.
“Non... je ne regrette rien/ Ni le bien qu'on ma fait/ Ni le mal - tout ça m'est bien égal!”

***
  Ante manhã tão original, escandalizavam-se as vontades desapropriadas de si.
(AR) Risquei uma lua no céu e ela estava lá: fria como uma pedra de gelo; branca como uma nódoa de esquecimento. “Je me fous du passé!”

***
Enquanto pintava em verso o intervalo de Deus, meu espírito esmolava uma ou outra palavrinha esmorecida tão logo a desmanchar-se perdida num infinito vialático do amanhã ser.
Olhei novamente para cima, pelas frinchas do nubiloso céu, nem sequer bandalhos. 
A pele adormentava o desejo enquanto a mente construía mosaicos ligeiros, recortes que são como hastes de sobrevivência para mim.
Centenas de relógios em mostradores brancos despertavam como sonhos que não podem ser descritos.
Entre muros, à calçada, a palavra rouca mal se ouvia.
Sentia, novamente das letras daninhas, o desejo de um fim que nem começara.
De repente, o velho rangido por detrás da parede a acompanhar a velha história que se esgotou aparecia novamente a dizer-me os passos, a pegar-me a mão cega, a espremer-lhe o dom.
Espalhava-se a febre que não ardia, o bafejo do falto de tempo num miasma de solidão.
Escrever era ulcerar-se em latejo, na terra sem piso, um amor descabido e roto bandeirante ao célebre mastro imanifesto.
Vali-me da ternura linda de dois rostos pequenos sempre a apaziguar meu coração e a torcer-me na vida. Gravei uma a uma das palavras inumadas, enquanto me enchia de vazios.
Abriram-se os umbrais azuis do horizonte. As palavras, em esquifes enfileiradas, vinham em andores de flandres, sustentados por anjos. Os demônios regicidas, logo atrás, compunham a bandinha a marcar o rasto desta vida.
  Tomada pela sede e pela fome, minha alma os engolia, quase liberta de mágoas, tristezas e arrependimentos, abraçando do funeral a voz roufenha de um cânone sonoro:
“Balayé les amours/Avec leurs trémolos/Balayés pour toujours/Je repars à zéro”.*

Contato: raymundo.netto@uol.com.br

*“Je ne regrette rien”, por Edith Piaf

terça-feira, 22 de maio de 2012

EXTRA! EXTRA! 120 anos da Padaria Espiritual, dia 23 de maio, às 19h, no Espaço O POVO de Cultura & Arte

Clique na imagem para ampliar!

Dia 23 de maio de 2012, às 19 horas, no Espaço O POVO de Cultura & Arte.
Programação aberta ao público

Comemoração dos 120 anos da Padaria Espiritual

Convidados: 
Sânzio de Azevedo, Doutor em Letras pela Faculdade de Letras do Rio de Janeiro, professor da Universidade Federal do Ceará durante cerca de 30 anos, autor de mais de 20 livros (poesia, ensaio, historiografia literária e biografia), membro da Academia Cearense de Letras, maior pesquisador da Literatura Cearense, em especial, da Padaria Espiritual; 
Gleudson Passos, mestre em História Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, professor da Universidade Estadual do Ceará e membro da Sociedade de Belas Letras & Artes – Academia da Incerteza, autor de livros, dentre os quais Padaria Espiritual: biscoito fino e travoso (MUSCE), e de artigos sobre turismo e patrimônio cultural.

Mediação: Socorro Acioli, jornalista, escritora, doutoranda em Estudos de Literatura pela Universidade Federal Fluminense. Autora de diversos livros infanto-juvenis, dentre os quais É pra Ler ou Pra Comer?, história da Padaria Espiritual para Crianças.

Atração de Abertura: Leitura dramática do “Programa de Instalação” da Padaria Espiritual por Ricardo Guilherme, ator, diretor, dramaturgo, historiador, criador do Teatro Radical Brasileiro, com cerca de 40 anos de dedicação ao teatro, professor do curso de Artes Cênicas da Universidade Federal do Ceará, dentre outros.

Ao final, sessão de autógrafos dos autores dos livros A Breve História da Padaria Espiritual (Edições UFC) e É pra Ler ou Pra Comer?(Edições Demócrito Rocha).

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Eduardo Agualusa, em Debates Universitários O POVO (24 e 25 de maio)


Clique na imagem para ampliar!

Entrevista Aberta com ESTRIGAS, no Espaço O POVO de Cultura & Arte (22.5)


Entrevista Aberta com ESTRIGAS (Nilo de Brito Firmeza).
Dia 22, às 19 horas (Terça-feira)
No Espaço O POVO de Cultura & Arte (Av. Aguanambi, 282 - jornal O POVO)

O artista cearense é convidado da quarta edição do projeto Entrevista Aberta. 
Nilo de Brito Firmeza, o Estrigas (apelido que ganhou quando ainda estudante no Liceu do Ceará), nasceu em 19 de setembro de 1919, em Fortaleza. Fez carreira como artista plástico a partir de 1950, como um dos principais articuladores da Sociedade Cearense de Artes Plásticas (Scap). Participa, desde então, do movimento artístico local e nacional. Vencedor de diversos salões de arte, possuindo dezenas de exposições individuais e coletivas, além de ter obras no acervo de inúmeros museus de arte e coleções particulares espalhados por todo o Brasil. Fundou em 1969, juntamente com sua esposa, a artista plástica Nice Firmeza, o Minimuseu Firmeza, no sítio em que reside, no bairro do Mondubim. O acervo conta a história das artes no Ceará através de vários documentos, como pinturas, reproduções, esculturas, catálogos, livros, recortes de jornais, entre outros, numa história que se confunde com sua própria vida.

Entrevistadores: Fernando França, artista plástico, mestre em Literatura pela Universidade Federal do Ceará, e Germana Vitoriano, mestre em História Social pela Universidade Federal do Ceará e diretora do Sobrado Dr. José Lourenço.

Mediação: Plínio Bortolotti, jornalista, Diretor Institucional do Grupo de Comunicação O POVO.

Lançamento de As Artes de Zenon Barreto: traços, cores e formas, de Estrigas, com organização de Gilmar de Carvalho (MUSCE/SECULT).

domingo, 20 de maio de 2012

Programação Maio - Espaço O POVO de Cultura & Arte


Espaço O POVO de Cultura & Arte
— Programação MAIO de 2012 —

AGENDE-SE!

1. Dia 17, às 19 horas (Quinta-Feira)
Lançamento-Debate
Lançamento do livro A Luta Contra a Escravatura e o Racismo no Ceará, de Tshombe L. Miles, historiador com PhD pela Brown University, com a presença de José Hilário Ferreira Sobrinho, mestre em História Social pela Universidade Federal do Ceará, pesquisador da história e a cultura do negro no Ceará.
Como atração de abertura, o Grupo Capoeira Angola do Mestre Armando Leão.
Ao final, sessão de autógrafos com o autor.

A Luta Contra a Escravatura e o Racismo no Ceará é uma publicação das Edições Demócrito Rocha, com patrocínio do Banco do Nordeste e apoio do Instituto de Estudos, Pesquisas e Projetos da Universidade Estadual do Ceará (IEPRO)

2. Dia 22, às 19 horas (Terça-feira)
Entrevista Aberta com ESTRIGAS (Nilo de Brito Firmeza).
O artista cearense é convidado da quarta edição do projeto Entrevista Aberta. Nilo de Brito Firmeza, o Estrigas (apelido que ganhou quando ainda estudante no Liceu do Ceará), nasceu em 19 de setembro de 1919, em Fortaleza. Fez carreira como artista plástico a partir de 1950, como um dos principais articuladores da Sociedade Cearense de Artes Plásticas (Scap). Participa, desde então, do movimento artístico local e nacional. Vencedor de diversos salões de arte, possuindo dezenas de exposições individuais e coletivas, além de ter obras no acervo de inúmeros museus de arte e coleções particulares espalhados por todo o Brasil. Fundou em 1969, juntamente com sua esposa, a artista plástica Nice Firmeza, o Minimuseu Firmeza, no sítio em que reside, no bairro do Mondubim. O acervo conta a história das artes no Ceará através de vários documentos, como pinturas, reproduções, esculturas, catálogos, livros, recortes de jornais, entre outros, numa história que se confunde com sua própria vida.

Entrevistadores: Fernando França, artista plástico, mestre em Literatura pela Universidade Federal do Ceará, e Germana Vitoriano, mestre em História Social pela Universidade Federal do Ceará e diretora do Sobrado Dr. José Lourenço.
Mediação: Plínio Bortolotti, jornalista, Diretor Institucional do Grupo de Comunicação O POVO.

Lançamento de As Artes de Zenon Barreto: traços, cores e formas, de Estrigas, com organização de Gilmar de Carvalho (MUSCE/SECULT).


3. Dia 23, às 19 horas (Quarta-feira)
Comemoração dos 120 anos da Padaria Espiritual
Convidados: Sânzio de Azevedo, Doutor em Letras pela Faculdade de Letras do Rio de Janeiro, professor da Universidade Federal do Ceará durante cerca de 30 anos, autor de mais de 20 livros (poesia, ensaio, historiografia literária e biografia), membro da Academia Cearense de Letras, maior pesquisador da Literatura Cearense, em especial, da Padaria Espiritual; Gleudson Passos, mestre em História Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, professor da Universidade Estadual do Ceará e membro da Sociedade de Belas Letras & Artes – Academia da Incerteza, autor de livros, dentre os quais Padaria Espiritual: biscoito fino e travoso (MUSCE), e de artigos sobre turismo e patrimônio cultural.
Mediação: Socorro Acioli, jornalista, escritora, doutoranda em Estudos de Literatura pela Universidade Federal Fluminense. Autora de diversos livros infantojuvenis, dentre os quais É pra Ler ou Pra Comer?, história da Padaria Espiritual para Crianças.

Atração de Abertura: Leitura dramática do “Programa de Instalação” da Padaria Espiritual por Ricardo Guilherme, ator, diretor, dramaturgo, historiador, criador do Teatro Radical Brasileiro, com cerca de 40 anos de dedicação ao teatro, professor do curso de Artes Cênicas da Universidade Federal do Ceará, dentre outros.

 Ao final, sessão de autógrafos dos autores dos livros A Breve História da Padaria Espiritual (Edições UFC) e É pra Ler ou Pra Comer? (Edições Demócrito Rocha).

"Cães & Gatos", crônica de Pedro Salgueiro para O POVO

Aldous Huxley

Jorge Luís Borges

Charles Bukowski

Jack Kerouac

Stephen King

Willian Burroughs

Ferreira Gullar


O mundo é dividido entre os que gostam de cães e os que adoram os gatos.
Não à toa não se dão lá muito bem: homens, cães e gatos.
Homens que gostam de cães adoram submissão, veneram os que lhes lambem diuturnamente os pés.
Homens que gostam de gatos são maus, misteriosos e solitários.
Há os que gostam dos cães por sua fidelidade, companhia e subserviência; já outros que os detestam exatamente por essas mesmas características.
Existem os que odeiam os gatos por sua frieza, arrogância e discritude; outros os amam exatamente por isso.
Os cães são dos donos, os gatos são das casas... e blá, blá, blás (ou miau, au, aus!)
Sempre desconfio dos que se apegam demais a uns e a outros. Dos que criam um número excessivo deles. Pra mim o mais claro sinal de loucura, de desequilíbrio mental.
Os dois passaram a ser por demais destacados, cuidados, amados, endeusados: terapias para os males modernos? Gostava da época em que não eram mais que adereços corriqueiros de um lar: comiam as sobras, dormiam num canto qualquer da cozinha, e se vacilassem recebiam um troco conforme fosse o humor dos habitantes: um afago ou um chute, um osso ou um grito...
Winston Churchill afirmava que “os gatos são os únicos animais que nos olham de cima pra baixo”. Patrícia Highsmith dizia que “um cachorro pode ser utilizado ou comandado, mas um gato não obedece ordens.” Os escritores de literatura policial e de mistério sempre foram fanáticos por eles: Edgar Allan Poe e sua esposa Virgínia dormiam com um siamês lhes aquecendo os pés (e quem não se lembra do seu tenebroso conto “O gato preto”?), Raymond Chandler sempre escrevia com seu felino sobre a escrivaninha, o monumental Simenon frequentemente era fotografado com seu enorme persa negro, nossas Lygia Fagundes Telles e Clarice Lispector eram devotas confessas dos bichanos, João Guimarães Rosa também...
O escritor francês Roger Grenier escreveu um livro belíssimo, Das dificuldades de ser cão (aqui saiu pela Ed. Cia das Letras em 2002), sobre cachorros de literatos famosos: do mitológico Argos, de Ulisses, ao vira-lata mestiço de Thomas Mann; cães para todos os gostos.
Entre os escritores cearenses conheço as preferências caninas do amigo Airton Monte e a idolatria saudável da bela Tércia Montenegro por gatos. Já a queridíssima Ana Miranda reparte seu coração e sua casa grandes igualmente para cães e gatos.
Eu, modestíssimos escritor de província, prefiro gatos a cães. Precisamente pelos que os felinos têm de mais humano: os defeitos. E não gosto muito de cachorros talvez pelo simples fato de que um dia, na infância, fui mordido na canela por um magro vira-lata branco.





sábado, 19 de maio de 2012

IV Seminário SESC Revelando a Literatura Cearense : Francisco Carvalho (21 e 22 de maio)

Clique na imagem para ampliar!


Programação Detalhada

Dia 21 de maio (segunda-feira) - 19 às 21h
Abertura - Sr. Luiz Gastão Bittencourt da Silva, Presidente do Sistema Fecomércio
Biografia Afetiva: O Sr. Verso - Silas Falcão (Escritor, pesquisador da obra literária de Milton Dias, Diretor de Eventos da Associação Cearense dos Escritores (ACE), Membro da Academia de Letras de Crateús (ALC) e do Abraço Literário, do SESC.
A Pastoral Poética de Francisco Carvalho - Batista de Lima (Escritor, membro da Academia Cearense de Letras (ACL), Professor da UECE e da UNIFOR, Mestre em Literatura pela UFC.
Momento Poético - Grupo Converso

Dia 22 de maio (terça-feira) - 19 às 21h
Abertura – Ana Néo (cerimonialista)
Os Diálogos Poéticos de Francisco Carvalho – Carlos Vazconcelos (Escritor, graduado em Letras pela UECE, Mestrando em Literatura pela UFC, Membro da Ceia Literária, do Abraço Literário e da Associação Cearense dos Escritores (ACE)
Esquete: A Ciência não gosta de rir - Airton Soares e Eudismar Mendes
Momento Poético - Ricardo Guilherme
Coquetel

TEATRO DO SESC EMILIANO QUEIROZ
AV DUQUE DE CAXIAS 1701 – CENTRO
19 ÀS 21 HORAS – GRATUITO
INSCRIÇÃO LIMITADA
(85) 3452.9090 com LÚCIA MARQUES
(luciamarques@sesc.ce.com.br)

Lançamento da Exposição "Xilógrafos do Juazeiro", coleção Geová Sobreira, no Museu do Ceará (21.5)

Clique na imagem para ampliar!


Exposição Xilógrafos do Juazeiro - Coleção Geová Sobreira
Curadoria: Gilmar de Carvalho
Lançamento: 21 de maio de 2012 (segunda-feira), às 18h30
Local: Museu do Ceará (Rua São Paulo, 51, Centro – ao lado da Praça dos Leões)
Informações: 3101.2609

Abertura com o concerto "Raízes Nordestinas da Música Brasileira"
(Daniel Sobreira, viola e violão clássico; Eugênio Matos, teclado e Jhony Rodergas, perscussão). Será servido coquetel.

O estacionamento no Centro é liberado a partir das 18 horas. 
                                                             
         Sobre a exposição e o Museu do Ceará: Nesse janeiro de 2012, o Museu do Ceará, primeira instituição museológica criada pelo governo do Estado, acabou de completar 80 anos, perfazendo uma história de reveses, conquistas e desafios ao longo de sua trajetória. Esse é um momento de comemorar sua vitalidade, apesar dos percalços, e de planejar o futuro, com o intuito de garantir uma existência longeva e criativa, promotora da reflexão crítica acerca dos caminhos da sociedade cearense, que contribua para o respeito à diversidade cultural que nos caracteriza, mas nem sempre nos aproxima dos outros e de nós mesmos.
           Como parte desse momento comemorativo, mas também de autoanálise, recebemos a mostra Xilógrafos do Juazeiro - Coleção Geová Sobreira, como um grande presente de aniversário. As “pérolas” recolhidas por esse colecionador cearense, antes restritas aos que chegavam a sua casa em Brasília ou aos que percorriam as páginas do livro homônimo que lançou, com duas edições, podem ser vistas nas vitrines de um museu pela primeira vez, como também no catálogo que ora temos em mãos, acompanhadas de textos muito elucidativos sobre a produção xilográfica no Ceará, elaborados pelo curador Gilmar de Carvalho, o próprio Sobreira e pelos professores Eduardo Diatahy Bezerra de Menezes e Paulo Elpídio de Menezes Neto.        
       Os tacos e impressões dessa coleção nos permitem refletir sobre o imaginário sertanejo, do qual os cearenses são parte, pelas mãos habilidosas dos velhos mestres como Inocêncio Medeiros da Costa (Noza), João Pereira da Silva, Antônio Batista da Silva, Walderêdo Gonçalves, Damásio Paulo de Oliveira e Manuel Santeiro. A nós, da equipe do Museu do Ceará, cabe-nos receber esse belo presente e agradecê-lo ao compartilhá-lo com o público.
         
                                                                                                        Cristina Rodrigues Holanda

Governo do Estado do Ceará
Museu do Ceará
Associação dos Amigos do Museu do Ceará

quarta-feira, 9 de maio de 2012

"Coisas Engraçadas de não se Rir XVIII: Fiquissões", crônica de Raymundo Netto para O POVO (09.5)



O escritor é um bom fingidor, finge tão completamente que mente e só mente... Quem passa pela experiência da graça de conviver com qualquer um desses indivíduos, os tais escritores, há de compreender exatamente tudo que de já relatarei nesta crônica. Lembrando, por autopreservação, que o ser “escritor” perpassa um caminho que vai do ser alfabetizado ao ser encantado.
Tinha até decidido: não mais escrever sobre os “colegas”, entretanto, traindo a mim mesmo, para não perder o hábito e como expiação de meus originais pecados, teimo em fazê-lo. Mas que, por favor, ninguém me perdoe por isso.
O escritor, senhores e senhoras, é um herói, uma vítima, no sentido antropológico, logicamente por assim dizer, de suas próprias ficções.
Assim, principalmente entre os poetas encontramos os performáticos: os que gritam, cheiram e xingam mais do que escrevem. Aliás, alguns ditos escritores chamam mais atenção não pela produção, quando se tem uma, mas pela sujeira de seus trajos, pelo mau hálito — curiosamente esses gostam de cochichar aos nossos ouvidos —, pelas axilas peludas — em mulheres, claro — ou coisas desse tipo, ou simplesmente pela habilidade insuperável de abrir barracos em mesa de bar, de ser inconveniente ou de pedir dinheiro emprestado a fundo perdido.
Outros desfiam, em torturosas horas, detalhe a detalhe de seu inédito romance. Anos há e esse romance interminável é o seu assunto preferido de mesa de bar, a ponto de, não suportando mais, os amigos o aconselharem a publicação de um áudio-book.
Temos os experimentalistas, falo dos bons, os que conhecem aquilo que arrevesam, mas que acham incompreensível a incompreensão de seu leitor a nada entender. Ora e era preciso?
Citamos agora aqueles tipos que anunciam viagem a convite de palestra para os mais distantes países do mundo, porém, surpreendentemente, os encontramos em supermercados em compras na madrugada ou em imperdíveis eventos noturnos, de boina, sobretudo e com o pescoço em cachecol. Ainda pior é aquele cujos vizinhos, também sabedores de tal convite de viagem, o estranham por trás de barricadas em seu próprio apartamento, enquanto pregado à porta o bilhete confirma: “Estou na Itália!”
Alguns se dizem completamente obcecados pela literatura, leem os clássicos e escrevem o dia inteiro, visitam os blogues, assinam periódicos, elaboram resenhas e ninguém sabe que existem, enquanto há aqueles que escrevem pouco e ruim, leem só os vendáveis e publicam em quase todas das nossas poucas editoras a título do bicho-papão da literatura infantil.
Temos aqueles que adoram editais e por eles estão sempre publicando, enquanto há outros que detestam editais e por mais que participem não ganham um.
Talvez os mais curiosos escritores sejam aqueles cuja obra se resuma a única, sem passado nem futuro, aquela encomendada a alto custo para ectoplásmica pena. Ou mesmo aquele que, no intuito de injustificada e vaidosa autoproclamação e sem a possibilidade de vomitar sequer quadrinhas infantis, escreva pesquisa inútil sobre calçadas, brasões, bandeiras ou presídios e, a partir desse momento, passe a sonhar com o pescoço envergado por medalhão de Academia.

Raymundo Netto. Contato: raymundo.netto@uol.com.br