quarta-feira, 27 de maio de 2015

Graciliano Ramos no Espaço O POVO de Cultura & Arte (27.5)


Na foto, o escritor Graciliano Ramos com as netas Sandra e Vânia,
filhas de Júnior Ramos / divulgação

Na comemoração dos 70 anos de lançamento do romance Infância, do escritor Graciliano Ramos, o programa Arte & Leitura do Espaço O POVO de Cultura & Arte realiza um debate sobre essa obra e seu autor na perspectiva de uma história da literatura no Brasil. 
Quando: 27 de maio de 2015, às 15h
Local: Espaço O POVO de Cultura & Arte (anexo ao jornal O POVO - Av. Aguanambi, 282 - estacionamento GRATUITO ao lado da sede)
Convidada: Fernanda Coutinho (professora do curso de Letras da UFC).


Assista ao vídeo no qual o professor de literatura da USP João Adolfo Hansen destaca o estilo do autor de Insônia na construção de uma personagem.


segunda-feira, 25 de maio de 2015

"Inusitado livro de cabeceira", impressões de Marília Lovatel sobre "Crônicas Absurdas de Segunda"


Inusitado livro de cabeceira
O livro Crônicas Absurdas de Segunda, de Raymundo Netto é uma festa! E não só porque é a celebração do autor por uma década de produção literária. Ler as crônicas é entrar num salão repleto de uma gente muito querida, que nesse encontro raro se surpreende ao rever os companheiros de tempos tão diversos, se reconhece, se abraça, conta anedotas e, entre gargalhadas, afina o instrumento da memória.
Raymundo Netto é o gentil anfitrião que recebe cada leitor à porta e nos conduz entre os convidados, promovendo as apresentações. De repente, estamos ali, confortáveis, íntimos, aos papos e risadas com Rachel de Queiroz, Quintino Cunha, Ana Miranda, Socorro Acioli, José de Alencar, Moreira Campos e muitos mais, pois o evento é um sucesso, concorridíssimo. Nada há de absurdo nessa reunião. Inusitado, talvez. Tanto quanto ter uma festa à cabeceira, sem que isso atrapalhe o sono.
Prepare-se, entretanto, para animados sonhos, dimensão em que o livro continua.

Marília Lovatel é professora de Língua Portuguesa formada pela Universidade Estadual do Ceará (Uece), com extensão em Técnicas de Aprendizagem pela Universidade de Cambridge. Recebeu da comissão presidida pelo escritor Luís Fernando Veríssimo o Prêmio Nacional Jovem Escritor de 1988, promovido pela Academia Literária Feminina do Rio Grande do Sul. Em coautoria com seu filho Matheus Lovatel Pena escreveu Templária: cidade entre mundos (Editora Novo Século). Sua obra A Sala de Aula e Outros Contos (Editora Scipione) foi selecionada entre as publicações brasileiras mais significativas do ano de 2013 para integrar o catálogo da Feira Internacional de Livros Infantis e Juvenis de Bolonha, Itália.


"Sarau Brasil 2015: Concurso Nacional Novos Poetas", até 5 de junho de 2015


Inscrições Gratuitas
De 1º de maio a 5 de junho de 2015
Formulário de Inscrição e Edital na íntegra, pelo link

Informações básicas do Regulamento:
A Vivara Editora abre inscrições para o Concurso Nacional Novos Poetas: Prêmio Sarau Brasil 2015, cujo tema é LIVRE, desde que em língua portuguesa.
Podem participar do Concurso todos os brasileiros, maiores de 16 anos, de qualquer região do país.
As inscrições GRATUITAS podem ser feitas pelo site (www.concursonovospoetas.com.br) no período de 1º de maio a 5 de junho de 2015, sendo que cada participante pode inscrever-se com até 02 (dois) poemas. Os poemas devem ser inéditos, ou seja, poesias que ainda não foram publicadas em livro.
A premiação será composta de entrega das medalhas e da publicação em livro dos 250 poemas classificados, com tiragem de 5000 exemplares.
O resultado será divulgado no dia 20 de junho de 2015 pelo site: www.concursonovospoetas.com.br
IMPORTANTE: Cada autor classificado arcará OBRIGATORIAMENTE com a compra de 10 (dez) exemplares do livro “Concurso Nacional Novos Poetas, Prêmio Sarau Brasil 2015”, pelo custo de duas parcelas, de R$ 177,00 (cento e setenta e sete reais). As duas parcelas deverão ser pagas via boleto bancário nos dias, 6 de julho e 6 de agosto de 2015. Em caso de inadimplência, a poesia classificada poderá não ser publicada.
A Editora VIVARA deterá todos os direitos de publicação e distribuição da obra a ser lançada.

Natercia Rocha e "Contos de Ir Embora" no Bazar das Letras do SESC (26 de maio, às 19h)


Clique na imagem para ampliar!

O Projeto Bazar das Letras do SESC recebe dia 26 de maio (terça-feira), às 19h, no Teatro SESC Emiliano Queiroz (em frente ao DNOCS), a jornalista e escritora NATERCIA ROCHA, que conversará com RAYMUNDO NETTO sobre sua obra "Contos de Ir Embora", ganhadora do Edital de Incentivo às Artes da Secult.

Venha você também bater um papo sobre a boa literatura que se produz no Ceará.

Curta, compartilhe e participe!

quinta-feira, 21 de maio de 2015

"Viva o Centro Fortaleza", dia 23 de maio venha para o Centro! Programação Geral


O projeto Viva o Centro Fortaleza tem como objetivo principal a valorização do Centro sob o aspecto cultural, promovendo uma melhor qualificação do uso e preservação de seus espaços públicos e privados. O projeto visa a realização de ações mensais, aos sábados, com programação articulada entre os museus, teatros, equipamentos culturais e demais lugares de fruição cultural, durante todo o dia com atividades diversificadas.
Cada entidade envolvida faz sua programação e se articula com as demais para montar um programa integrado, estimulando o público a permanecer no Centro e participar das múltiplas atividades oferecidas.
Dessa maneira, o Viva o Centro Fortaleza contribuirá para o processo de transformação da atual situação que se encontra o centro da cidade, incompatível com a envergadura e importância que ocupa enquanto patrimônio cultural de nossa cidade. 
Formado por cidadãos, entidades da sociedade civil e equipamentos culturais situados na região central de Fortaleza, o movimento tem se encontrado desde o mês de janeiro, para juntos formarem a primeira edição do projeto no próximo dia 23 de maio.
Estão integradas nesta primeira edição, o Centro Cultural do Banco do Nordeste do Brasil (CCBNB); Secretaria de Cultura do Estado do Ceará (por meio do Theatro José de Alencar, Teatro Carlos Câmara, Sobrado José Lourenço e Museu do Ceará); Associação dos Guias Turísticos (AGIR); Instituto Cultural Anima; Museu da Indústria; Conselho Comunitário de Defesa Social/Centro; Programa Fortaleza a Pé; Casa Fora do Eixo Nordeste; Associação dos Produtores do Ceará (PRODISC) e Secretaria da Cultura Municipal de Fortaleza, por meio da SecultFOR. 
PROGRAMAÇÃO
8h às 17h - Exposição permanente sobre o compositor cearense Paurillo Barroso
Local: Espaço Estação -Biblioteca Pública do Estado, rua 24 de Maio, 60, Centro, ao lado da Praça da Estação.

09h às 12h - 2ª Feira de Cordel e Cantoria
Local: Praça dos Leões

9h30 às 10h30 - Piquenique Edição especial
Atração: Projeto Pé de Livros, com Janete Barros
Local: Passeio Público 

9h às 12h e das 13h às 16h - Exposição permanente sobre Literatura de Cordel
Local: Casa de Juvenal Galeno, rua General Sampaio, 1128, Centro. 

9h às 12h - Reunião da Associação de Ouvintes de Rádio do Ceará 
Local: Casa de Juvenal Galeno, rua General Sampaio, 1128, Centro

9h às 17h - Exposição “Impressões do Sertão Cearense”
Local: Museu do Ceará, rua São Paulo, 51, Centro

9h às 17h - Exposições:- Mostra Traços da Gravura Brasileira Trabalhos e a Exposição “Seres Urbanos - Fanzines 90's”
Local: Sobrado Dr. José Lourenço, rua Major Facundo, 154, Centro

9h às 19h - exposição "História da Industrialização do Ceará”
Local: Museu da Indústria, rua Dr. João Moreira, 143, Centro

10h - Programa "Música no Museu" com o Concerto da Orquestra Sinfônica da Uece
Local: Museu da Indústria, rua Dr. João Moreira, 143, Centro

10h às 13h - Oficina Cordão de Histórias com Goreth Albuquerque e Klévisson Viana 
Local: Centro Cultura Banco do Nordeste - rua Conde d’Eu, 560, Centro

10h às 19hs – Conexões Urbanas - ações de grafite ao vivo
Local: Centro Cultura Banco do Nordeste - Rua Conde d’Eu, 560, Centro

13h - História Passo a Passo - Caminhada cultural pelo Centro Histórico
Local: Centro Cultura Banco do Nordeste- Rua Conde d’Eu, 560, Centro

13h - Caminhada Cultural História Passo a Passo
Local: Praça dos Leões, seguindo pelo entorno do Centro

13h - Exposição fotográfica com painéis coloridos do Centro Histórico de Fortaleza
Local: Centro
Local: Centro Histórico de Fortaleza

14h - Oficina de Narrativa Infantil
Local: Centro Cultura Banco do Nordeste- Rua Conde d’Eu, 560, Centro

14h - Visita Guiada ao TJA
Local: Theatro José de Alencar - Praça José de Alencar S/N

14h às 19h – Exposição Dinâmica Sensível, com Diana Medina; Desfile e Bazar Arara; Exposição na Pele. Sessões de tatuagem com Ramon Cavalcante; Leilão de Obras Batente; Corte de Cabelo com Joelma Moreira; Banho de ervas e reiki com Ivna Magalhães; Música Tambor.
Local: rua Coronel Ferraz, 80

15h - Maratona de Contos infantis
Local: Centro Cultura Banco do Nordeste- Rua Conde d’Eu, 560, Centro

15h - Visita Guiada ao TJA
Local: Theatro José de Alencar - Praça José de Alencar S/N

16h - Reunião da Academia de Letras Juvenal Galeno 
Local: Casa de Juvenal Galeno, Rua General Sampaio, 1128, Centro

16h - Pós TV Combate contra a Homofobia
Local: Casa Fora do Eixo Nordeste, Travessa Morada Nova, 26 - Sala 11, Centro

16h - Visita Guiada ao TJA
Local: Theatro José de Alencar - Praça José de Alencar S/N

17h - Reunião da Associação Gnóstica de Estudos Antropológicos e Culturais, Arte e Ciência
Local: Casa de Juvenal Galeno, rua General Sampaio, 1128, Centro

17h - Espetáculo de Contos Infantis
Local: Centro Cultura Banco do Nordeste - rua Conde d’Eu, 560, Centro

17h - Visita Guiada ao TJA
Local: Theatro José de Alencar - Praça José de Alencar S/N

17h – Espetáculo: “A Bela e a Fera” com a Cia Cearense de Molecagem
Local: Theatro José de Alencar - Praça José de Alencar S/N
Ingressos: R$ 30 e R$ 15 - Vendas online no site www.baratomaisbarato.com.br

18h – Espetáculo: “Eu acho que não estamos mais no Kansas, Rosana”
Local: Sala de dança - Theatro José de Alencar
Ingressos: Gratuito - Indicação 16 anos 

18h30 – Show “Verônica Decide Morrer”: testemunho de trava
Ingressos: Gratuito
Local: Teatro Carlos Câmera

19 h - Show musical com Manasses
Local: Centro Cultural Banco do Nordeste - Rua Conde d’Eu, 560, Centro

22h - Festa - Me Gusta
Local: Praça dos Leões

Serviço
Viva o Centro Fortaleza
Data: 23 de maio de 2015
Horário: 08h - 0h
(85) 3262.5011- Prodisc (85) 3464.3108 – CCBNB




As crianças já estão pedindo: "VI Feira do Livro Infantil de Fortaleza", de 27 a 30 de maio

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O maior acontecimento literário infantojuvenil da cidade, a Feira do Livro Infantil de Fortaleza, organizado pela Casa da Prosa, está de volta, em sua sexta edição, mais uma vez na Praça do Ferreira, repleta de atrações GRATUITAS para crianças e adultos.
Desta vez, a convidada principal é a senhora dona da beleza: a Poesia. Assim, não poderia ser diferente, o grande homenageado será o professor e escritor Horácio Dídimo, autor de diversos livros infantis de sucesso.
A programação será, como sempre, intensa, diversa e colorida: lançamento de livros, bate-papo com escritores e ilustradores, contação de histórias, oficinas literárias, palestras e shows musicais imperdíveis (abertura da Feira com a Banda Dona Zefa, no dia 27, às 18h, Jujuba e Ana Nogueira e encerramento dia 30, às 18h com a cantora Ana Cañas).
São várias as editoras que estarão presentes na Feira, oferecendo livros com descontos tentadores. Não será possível sair de lá sem levar para nossas crianças esses presentes para toda uma vida.
Programe-se, convide sua família e amigos. Apresente o encantador mundo do livro e da leitura para os pequenos.
Mais informações, siga a fan-page da Feira:
Ou veja no site:
http://www.feiradolivroinfantilfor.com/

sábado, 16 de maio de 2015

"A Maior Invenção do Mundo", crônica de Raymundo Netto para O POVO


Omahr Prabahvanadaba, filósofo das bandas do oriente, passou tanto tempo de sua vida a transcender os limites da matéria, reflexo turvo que a natureza nos impõe, que certo dia, de tanto meditar, desmaterializou-se, fez-se todo pensamento sarapintado em pacotes de luz. Seus escritos, entretanto, deitados em papiros conservados pelo esquecimento em ânforas sob as estrelas — e areias — do Egito, sobreviveram ao seu desaparecimento e gritaram revelações perturbadoras aos maiores doutos da ciência.
Num desses famosos manuscritos, descortina a origem da Terra e da Humanidade. Nele, consta que a grande invenção sobrenatural do mundo caberia a um Deus, uma entidade de uma engenhosidade e poderes fabulosos e incognoscíveis que, diante do nada absoluto e enfadante, riscou um palito de fósforo — incrivelmente anterior ao produzido, apenas em 1827, por Johnny Walker (não confundir com o Striding Man) — e pôs-se a criar este mundo. Digo “este”, pois acredita o mestre Omahr que os demais orbes são apenas esboços malfadados da inexperiência do onipotente que, adiante, criou os elementais fogo, água e ar, e deles advieram as bactérias, unidades sincréticas entre o vegetal e animal que, desprovidas de ego-vacuidades, fixaram-se nas dunas e no lodo e com seu enxerimento atávico logo os transformaram em simples cidades, colônias e florestas de samambaias carboníferas.
Até então, por não querer testemunha nem aplauso, a divindade não criara vida animal. Antes a música, que nada mais é do que matemática cantada. Construída a fantasia do idílio, empunhou terra vermelha e, certo de que dela poderia extrair uma obra de arte ou um penico, optou em moldar o ser humano.
Assim, tomando-se no espelho, o fez. Este ser era, pois, homem-mulher, como ele e os querubins. Logo, lançou vigorosamente a sua criação ao mar, partindo-a em duas metades e completando-as, como cream crackers, em água e sal, yin e yang, dia e noite, quente e frio, positivo e negativo: Adão e Loã.
Loã, mais bela e muito virgem, não aceitou a preferência dos paparicos de Deus ao privilegiado e empossado capataz do novo mundo, o jovem Adão, muito bobo, sempre brincando de bilas e correndo atrás de ovelhinhas. Passou a desafiar o pai que, em sua infinita impaciência, condenou-a a pratear o céu entre os mundos em forma de lua, onde até hoje repousa a feiticeira branca, ainda cheia de fases provocativas.
Trocando uma ideia com Deus, Adão que preferia a má companhia à solidão, e cansado de masturbar-se em noites de luar, negociou uma de suas costelas — sabia-as muitas e antevia possibilidades... — em troca de uma diva. Soubesse Anatomia, ofereceria o apêndice, cujo único objetivo é dar dinheiro aos cirurgiões.
Deus ex machina, penalizado com a criança, criou a moça Eva, menos bela, magra e falsa como a origem e mais submissa. O supremo, entretanto, condiciona: “Não poderão, de forma alguma, comer o fruto da árvore da ciência do bem e do mal!” Ora, todo bom pai sabe que a proibição só seduz... E assim, o casal viveria num paraíso, não fosse a presença da serpente que, ninguém sabe como, convenceu a curiosa mulher a comer tal fruto do pecado: a manga! Como Eva convenceu Adão a também chupar essa manga, aí já é fácil deduzir...
E Deus não perdoou — e quem inventou o perdão, então? — e os expulsou dos seus jardins castigando a mulher com dores no parto e ao homem com o relógio de ponto. E como Deus não dá asas à cobra, ao contrário, arrancou-lhe as patas, condenando-a a rastejar-se e a ser odiada pelas outras mulheres (assim como pelas lagartas e baratas) até as últimas gerações.
Adão e Eva, sem ocupação e com secular libido, amavam-se debalde (mas eles não haviam sido expulsos do paraíso?), e daí vieram os filhos: Caim e Abel. Os coitados, como numa lagoa azul, não souberam educar seus filhos, não havia escola nem a SuperNanny, e a ira entre eles cresceu a ponto de um irmão matar o outro. O assassino — não havia delegacia nem noticiários populares — foi banido de casa, castigado por Deus a carregar chifres — que as más línguas diziam ser herança do pai — mas logo encontrou um lugar melhor (havia outro?) onde ninguém o conhecia, vivendo biblicamente feliz para sempre.
Adão viveu apenas 900 anos. Deveria ter algum viagra natural, pois continuou a gerar filhos que transavam uns com os outros, na mais pura matemática celestial.
O Deus, desiludido com a má criação, mas sem dar o braço a torcer — à nossa imagem e semelhança, deveria tê-lo —, agitando as pontas de seu lenço, lançou suspiros ao infinito e clamou: “Que calor! Que desenfreado calor!” E, para encerrar o invento, criou o escritor para que registrasse tudo, sabido que seus seguidores seriam todos pescadores e pastores analfabetos. Nascia a Crônica e o Machado! Mas, ah, que pena, os inventores da imprensa foram os ateus chineses...



quinta-feira, 14 de maio de 2015

Lançamento de "A Primeira Esquina", de Airton Monte, pelas EDR (16.5)


Airton Monte (1949-2012), nascido “numa madrugada de temporal, entre raios e trovões, com o cordão umbilical enlaçando o pescoço feito a corda de uma forca”, razão pela qual deram-lhe o nome de Antônio “para que não corresse o risco de morrer afogado”, era, em suas próprias palavras, “um animal notívago, com alma de vira-latas, coração de velho gato de beira de telhado” ou mesmo “uma espécie de Peter Pan que não transformou-se em capitão Gancho quando cresceu.” Na sua natural vocação de bípede, sonhador incorrigível, caçador de discos voadores à noite escura, que “escrevia como se trocasse sopapos com a linguagem numa briga de rua”, e ciente de que “quem escreve só para agradar a crítica e ao público comete a mais covarde forma de suicídio literário”, havia na alma desse escrevinhador “uma doce nostalgia, além da compreensão de que a sua vida estava impressa em papel de jornal” e também a de que ele próprio era “um homem feito de papel e tinta fragílimos, que resistem ao passar do tempo, dando uma sensação de tênue imortalidade”. Cria: “qualquer dia podemos renascer pelas mãos de quem se lembre que algum dia existimos.”
Em seu exercício, postado à fiel Olivetti, rascunhando o caderno-presente da primamada Sônia, ou mesmo em blocos de receituário, defendia: o bom cronista tinha “que saber emocionar, dosar porrada com afeto, crueza da realidade com poesia do cotidiano. Ter opinião própria, escrever o que realmente sente e pensa. Ser de uma sinceridade suicida. Diante do leitor, o cronista deveria se sentir um pouco, a exagero da metáfora, como uma mulher na primeira consulta com o ginecologista.”
Com A Primeira Esquina, as EDR e o jornal O POVO prestam uma legítima e merecida homenagem a esse grande artista, um dos maiores representantes da crônica brasileira, hoje repousando ao lado da velha ponte, aquela que traz o sol entre as pernas. Airton, que iluminou as páginas da histórica folha e o sorriso de seus leitores durante todos os dias de anos a fio, tem agora mais esta seleção de crônicas entronizadas em altar de LIVRO. Fica a dica do autor: “A primeira esquina a gente nunca esquece.”
Raymundo Netto
SERVIÇO
Lançamento de A Primeira Esquina, de Airton Monte
Apresentação: Urico Gadelha e Demitri Túlio
Quando: dia 16 de maio (sábado), a partir das 17h
Local: Espaço O POVO de Cultura & Arte (av. Aguanambi, 282 - anexo à sede do jornal O POVO)

Em seguida, às 19h: show de Isaac Cândido e Marcus Dias "Algo Sobre a Distância e o Tempo"

domingo, 10 de maio de 2015

Uma canção que um passarinho ensinou: efemérides!


Zenaide com seus três primeiros filhos (dos seis): Alice, Zilma e eu, no braço. 
Uma fila! Coisa de mãe.

Para levar para sempre a minha mãe Zena
- um passarinho que nos ensinou essa canção feliz -
no coração!



Um passarinho me ensinou
Uma canção feliz
E quando solitário estou,
Mais triste do que triste sou,
Recordo o que ele me ensinou
Uma canção que diz: 

Eu vivo a vida cantando
Hi, Lili, hi, Lili, hi lo
Por isso sempre contente estou
O que passou, passou

O mundo gira depressa
E nessas voltas eu vou
Cantando a canção tão feliz que diz
Hi, Lili, hi, Lili, hi lo
Por isso é que sempre contente estou
Hi, Lili, hi, Lili, hi lo 

Eu vivo a vida cantando
Hi, Lili, hi, Lili, hi lo
Por isso sempre contente estou
O que passou, passou

O mundo gira depressa
E nessas voltas eu vou
Cantando a canção tão feliz que diz
Hi, Lili, hi, Lili, hi lo
Por isso é que sempre contente estou
Hi, Lili, hi, Lili, hi lo

ÚLTIMOS DIAS: Exposição "A Poética Plástica em BC Neto: Pacifistas & Guerreiros" (22.5)


Camponês

Um grito surge nos limites dos campos
e é de ti que brotam os frutos...

das enxadas velhas
cravadas numa terra cansada
à espera do teu cansaço

procuram entre portas
o sonhar do povo,
o grito calado
que a terra emana
na divisão do pão

tuas mãos sangram os campos
e é de ti que brotam os frutos

BC Neto

Exposição Pacifistas & Guerreiros: a poética plástica em BC Neto (GRATUITA)
Data: até o dia 22 de maio, das 8 às 17 horas
Local: Centro Cultural do Parlamento Cearense (edifício anexo à Assembleia Legislativa do Estado do Ceará – rua Barbosa de Freitas, s/n, esquina com a av. Pontes Vieira)
Público-alvo: artistas visuais e literários, pesquisadores de artes e cultura, alunos das escolas públicas e privadas, militantes, arte-educadores e interessados em geral
Informações: (85) 3277-2500

Sobre a Exposição:
AUDIFAX RIOS, numa última ação como “curador-abraçante”, assim apresenta em sua “A Procissão dos Lutadores” a Exposição Pacifistas & Guerreiros: a poética plástica em BC Neto, em cartaz no Centro Cultural do Parlamento Cearense (edifício anexo à Assembleia Legislativa do Estado do Ceará – rua Barbosa de Freitas, s/n, esquina com a av. Pontes Vieira):
“O incansável BC Neto está de volta, berrando mais alto ainda. Em formas e cores; trocou letras por tintas e invoca pacíficos guerreiros para sua missão: a reconstrução do mundo, a transformação social a partir do homem. Nesta etapa da batalha leva, como escudos, imagens consagradas. São estandartes de campanha onde ressaltam as figuras de Cristo e Conselheiro; Ghandi e Guevara; Martí e Mandela. Gloriosos vultos eleitos pela história e trabalhadores anônimos esquecidos na memória dos homens. Madre Teresa, Beato Lourenço, Francisco de Assis, Marighella, Chico Xavier, Dom Helder, Tiradentes, John Lennon... e o lábaro mais drapejante, talhado com pinceladas mais consistentes, ele próprio, Cândido Bezerra da Costa Neto [o BC], alvoroçado e eterno guerrilheiro do saber.”
A Exposição, cuja curadoria é do artista visual Carlos Macedo, apoiada pela Secretaria da Cultura do Estado do Ceará, já esteve presente no Centro Cultural de Horizonte, Centro Cultural Dorian Sampaio (Maracanaú) e no Instituto Federal do Ceará (Campus Cedro) e, desde 16 de abril, está aberta ao público no CCPC, encerrando-se em 22 de maio.
BC Neto conta que a ideia da exposição surgiu da provocação de amigos artistas visuais, como Descartes Gadelha, Audifax Rios e Carlos Macedo: “O trabalho na universidade, na educação superior, na educação popular passou a me consumir e me tornei menos presente nas artes visuais e nos movimentos culturais”, relatou em entrevista, recordando de movimentos que se tornariam históricos no Ceará e que contaram com a sua participação. Entre eles, o Massafeira Livre, e a criação dos grupos Siriará e Nação Cariri.
A Exposição é um cenário da vida e obra do poeta, pintor, educador e militante político e cultural BC Neto, por meio de telas, livros, poemas, apresentações, banners ilustrados e outras curiosidades, umas bem inusitadas.
Aliás, o visitante também poderá contemplar quadros com as ilustrações originais de seus livros, de autoria de grandes artistas como Audifax Rios, Itamar do Mar, Luiz Karimai e Tarcísio Garcia.
Estive lá e achei tudo muito interessante e enriquecedor. Recomendo!

Sobre o poeta, pintor e educador BC Neto:
Nascido no Cedro, Ceará, em 18 de janeiro de 1952, Cândido B.C. Neto, desde menino gostava de desenhar e curtir as cores. Com o tempo, foi aos poucos se envolvendo com a arte, recebendo o apoio de Eusélio Oliveira e José Julião.
Iniciou sua vida como educador nas comunidades de base, expandindo seu trabalho em vários estados brasileiros e no exterior, alcançando inclusive a África (Cabo Verde) e Cuba.
Coordenou e participou de quase todos os programas de educação de jovens e adultos nas últimas décadas, sendo para ele outorgada a Medalha Paulo Freire (2003), honraria conferida a personalidades e entidades que se destacaram nos esforços da universalização da alfabetização e educação de jovens e adultos no país.
É membro fundador do Clube dos Poetas Cearenses (1970), foi redator de artes do jornal Tribuna do Ceará (1973/75), coordenador de várias edições do Festival Nordestino de Cantadores de Viola (Cedro), da I Semana de Artes e Humanidades da Uece, de Ação Cultural na Secult (2008) e curador do Encontro Mestres do Mundo (MinC/Secult – 2009/10). É membro do Clube do Bode (desde 2005) e conselheiro do Almanaque De Um Tudo (com editoria de Audifax Rios, até 2015). No Crato, passou a integrar o Grupo Artístico Por Exemplo, liderado por A. Rosemberg, e do qual também faziam parte Stênio Diniz, Walderedo Gonçalves e Jackson Bantim. É um dos fundadores do Grupo Artístico Pretensão (GAP). Também teve incursão pela arte da escultura. Dentre seus trabalhos, “O Anjo”, talhado em mármore.
Participou de diversas mostras e exposições coletivas e individuais, dentre elas: III Exposição Universitária de Artes (1973), Expô da AAEE/74, XXIV Salão de Abril (1974), XXVI Salão de Abril (1976), Unifor Plástica (1974), Salão de Outubro (1975/Crato), Exposição GAP/BNB Clube (1975), Feira Livre de Artes da UFC, Exposição de Cartões de Natal do BNB Clube (1975), Salão de Artes Plásticas IOCE (1978), Mostra 10 + 10 (1978/Ideal Clube, ao lado de Tarcísio Garcia), Artes ao Sol de Outubro (1983/Crato), Cacimbas de Areia: pinturas do BC Neto (1994/ Náutico Atlético Cearense).
É autor de A Voz do Silêncio (poesias/1971), Resultado Final (poesias/1981), Via Sacra Camponesa (1998), Berrem Alto que o Curral é Grande (2002/ reunião das produções de BC, poemas, ensaios e fortuna crítica), Versos da Caminhada Cotidiana (poesias), Sociologia, Educação e Sociologia da Educação (2004/ganhador do Prêmio da Academia de Ciências de Cuba), Educação Popular de Jovens e Adultos: o Brasil no contexto mundial (2008) e também José Martí: cultivar os sentimentos, bilíngue, este em coautoria com Justo Pereda Rodriguez e Lidia Esther Orraca Ortega, e cuja a coordenação editorial coube a mim (embora o BC tenha esquecido de mencionar em seu banner, mas eu, na humildade de um capitão do mato, o perdoo apenas pelo seu talento e pela amizade), as ilustrações ao Audifax Rios e a diagramação João Rios.
É professor de Filosofia da Educação, Metodologia do Trabalho Científico e Educação Popular da Universidade Estadual do Ceará (Uece), onde também atuou como Pró-Reitor de Extensão e Assuntos Estudantis. É especialista em Metodologia do Ensino Superior, mestre em Gestão Pública pela Universidade Internacional de Lisboa, Universidade Federal de Pernambuco/Universidade Vale do Acaraú. Atuou em diversos comissões e conselhos, entre os quais o Conselho do Patrimônio Histórico e Cultural de Fortaleza, Conselho Diretor da Funece, Comissão de Artes e Humanidades da Uece (1993/94) e Associação Cearense de Escritores.

BC Neto pelos outros:
Diz o contemporâneo Rosemberg Cariri:
“Depois que ele se formou, se fez professor e poeta, participou de movimentos artísticos, escreveu páginas memoráveis nas noites da boemia provinciana, revoltou-se nas passeatas, agitou-se na filosofia, fez exposição das suas pinturas, publicou livros e varou sertões semeando escolas.”

José Alcides Pinto, que o considerava um “poeta da participação social”, diz: “
“[BC Neto] exercita-se no linguajar coloquial desse povo popular (o nordestino), vivendo de seu osso, de seu corpo cansado e desnutrido, denunciando a injustiça dos coronéis rurais/latifundiários e a indiferença das autoridades (anticonstitucionais?) constituídas. Estas são, realmente, insensíveis às aspirações do povo e sua miséria. E isso gera no poeta uma revolta que está presente em seus versos.”

BC Neto encontrou acolhida no coração do então amigo pessoal Patativa do Assaré. Fez a apresentação de três de suas obras: Aqui tem Coisa, Inspiração Nordestina, Ispinho e Fulô e com ele realizou o show “Por Amor ao Chão”, no teatro municipal de Icó. Patativa também lhe dedicou versos, dentre eles:
I
Sei que não tenho sabença
Sou um pobre nafabeto
Mas vou referença
Sobre você, BC Neto,
Proque seus verso moderno
No meu coração fraterno
Senti de leve tocá,
Pois você canta a cidade
Mas também diz a verdade
Das nossas coisas de cá.
II
Imbora seja polida
Sua bonita linguage
A mesma retrata a vida
De nossa gente servage
No meu verso eu tou notando
Que você tá me ajudando.
Obrigado, meu amigo,
Pelo trabaio distinto
Sentindo aquilo que eu sinto
Dizendo aquilo que eu digo.
VI
Canta, amigo, a nossa gente
Do nosso meio rurá,
Meio munto deferente
Do meio da capitá.
Imensa alegria tive
Lendo seu verso sensive
Cantando a vida sem vida
Deste povo abandonado
Que veve e morre apoiado
Numa esperança perdida.

Carlos Augusto Viana afirma:
“Para Cândido B. C. Neto, a poesia é, acima de tudo, um compromisso com a condição humana. Por isso mesmo, o que – a partir, evidentemente, de uma leitura apressada – poderia inscrever-se como regionalismo, deve, a rigor, ser apreendido tão-somente como pano de fundo, vez que visa, substancialmente, ao universal, principalmente concentrado na imensa legião dos que não foram convidados ao banquete industrial. [...] Atrela-se a tudo isso a dicção inflamada, em voz alta, como se estivesse o poeta em uma praça urbana ou num acampamento rural; e, por isso mesmo, as palavras procurassem suprir-lhe a ausência do corpo, representada, então, por interjeições, exclamações ou interrogações demasiadamente sugestivas.”

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