O
longa do diretor e roteirista pernambucano Camilo Cavalcante traz a história –
que se passa nos anos de 1970 – de três mulheres: a primeira, uma senhora
(Zezita Matos), d. das Dores, muito solícita e religiosa, entretanto solitária,
mas que, num repente, tem a alegria conflitiva da chegada de um neto (Maxwell
Nascimento) e com ele de sentimentos adormecidos; depois, Querência (Marcélia
Cartaxo), que inicia o filme enterrando o filho, um “anjinho”, numa sequência
larguíssima, perdendo para a estrada o companheiro que se vai em silêncio e em
mudas de roupas, curtindo desde então o seu luto com a insistente sanfona amorosa
de um cego – como o amor – Aderaldo (Leonardo França) no raiar das manhãs; e,
por fim, a jovem Afonsina (a cearense Débora Ingrid), que sonha em conhecer o
mar, que coleciona nas paredes de sua choça recortes de revistas com fotos do
mar, e que mora com o pai (Cláudio Jaborandy), um sertanejo rígido,
tradicionalista, com pouca instrução e tomado por fantasmas interiores e que
tem como sede de afogamento de mágoas o bar do Galo Cego. O único amigo de
Afonsina é o seu tio João (Irandhir Santos), um artista vocacionado, sonhador, incompreendido
por todos na região, principalmente pelo irmão, para quem é um peso, um
estorvo, ainda mais pelas constantes crises epiléticas que o acometem em seus
momentos de constrangedora angústia e inadaptabilidade com o mundo que o cerca
e o reprime (“Eu não sei dizer/Nada por dizer/ Então eu
escuto/ Se você disser/ Tudo o que quiser/ Então eu escuto/
Fala!”)
O
cenário, um vilarejo paupérrimo do sertão nordestino, não poderia ser mais
árido, mais arenoso, mais rochoso, tão possível, verdadeiro, quanto real. O
humano se une à estética para dar vida à tudo. Na obra, muita tensão,
sofrimento e desejo: profundidade e poesia.
Uma
das cenas mais tocantes, foi a construção do sonho de Afonsina, a invasão do
mar no sertão. Algo parecido com ficção, com psicologia, com um não sei o quê
de arte saudado pelo delicado gosto da eternidade.
“A História da Eternidade” competiu no Festival
de Paulínia em 2014 e recebeu os cinco principais prêmios (troféu Menina de
Ouro) – diretor (Camilo Cavalcante), ator (Irandhir Santos), atriz (compartilhado
entre Marcélia Cartaxo, Zezita Matos e Débora Ingrid) – e o prêmio da
Associação Brasileira de Críticos de Cinema, a Abraccine, além do Prêmio de
público, na Mostra de São Paulo.
Para
acessar o trailer do filme:
Para
ouvir “Fala”, de Secos e Molhados:
https://www.youtube.com/watch?v=pdD6Y_qf3B4
Muito bonito o trailer do filme "A História da Eternidade". Lembro de Marcela Cartaxo no filme "A Hora da Estrela", em que esteve sensacional. A jovem artista de antes se tornou uma mulher com o mesmo talento, acrescido de um rosto que parece ter conhecido a dor.
ResponderExcluirAinda eu: gostaria de saber como ter acesso ao longa metragem do "A História da Eternidade", se já existe nas locadoras ou em qual site procurá-lo. Agradeço a resposta, Netto.
ResponderExcluirA propósito de Irandhir Santos, recomendo o filme Tatuagem. Achei o filme sensacional, sobretudo o desempenho artístico de Irandhir. Vale a pena conferir (vi num dos canais a cabo).
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