Quando eu era bem garoto,
por volta de 1913, um dia meu melhor amigo bateu lá em casa para dizer, aos
prantos, que os pais dele tinham se separado. Levei um choque. Eu achava que
pais nunca se separavam. Mais tarde comecei a perceber que outros amigos também
tinham pais separados. Achava isso uma tremenda ignorância. Pais se separarem,
ainda mais tendo filhos. Morria de medo que pudesse acontecer o mesmo comigo.
Não tinha nenhum motivo real para me preocupar. Sempre acreditei que meus pais
viviam um casamento sólido e feliz. À medida que fui me tornando adulto,
entendia ser cada vez mais difícil as pessoas manterem uma relação duradoura,
eterna. O mesmo homem, a mesma mulher pra sempre?
Há muitos motivos para colocar
à prova o relacionamento entre casais. Um deles é a duração, a longevidade.
Quanto mais longo o casamento, maiores os desafios. Não existe fórmula certa,
receita infalível. Quem já se aventurou numa relação sabe que a vida não é
feita apenas de beijos e romantismo. Vira e mexe, o pau quebra. Dê o sentido
que desejar. Surgem brigas, o tesão esmorece. Existem várias maneiras de
superar o tédio e esquentar a relação.
É preciso ainda respeito,
reciprocidade, paciência, afeto, abnegação. O amor é exigente.
Minha tia-avó ensinava
uma simpatia para o casamento perdurar. Basta escrever no papel o nome completo
da pessoa amada, colocar dentro de um pote e derramar açúcar caramelado por
cima. Tampar, enterrar em um lugar onde ninguém pise e nunca revelar a ninguém
que você fez a simpatia.
Meus pais fizeram mais
simples: quando ficaram noivos, escreveram os nomes deles a canivete, no tronco
de um abacateiro que florescia na casa de meu avô. E desenharam em torno um
coração flechado. Sempre que eu ia a Belo Horizonte, corria para o quintal da
casa, o coração disparado, para me certificar de que o compromisso de amor
ainda estava lá.
Não sei bem qual das
fórmulas é a melhor. Mas depois de amanhã meus pais completam sessenta anos de
casados. Uma versão comovente e honesta de dois sobreviventes.
Salve, simpatia.
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