A imprensa não costuma noticiar mortes por
suicídio. Tal aspecto, por um lado, é sinal de respeito para com a família
enlutada, que certamente não precisa de holofotes midiáticos
sobre si, naquele momento. Por outro lado, o silêncio é também uma medida de
preservação da vida, se pensamos que certos imitadores podem achar que se matar
virou uma espécie de moda, propagada pelos veículos de comunicação. Afinal,
dizem que depois que Werther (personagem de Goethe) deu cabo da própria
existência, houve uma imensa adesão de fãs, buscando copiar
aquele destino trágico... Há ainda o fato de que o suicídio permanece sendo um
tabu, no sentido religioso e em vários outros aspectos. Silenciar, então,
parece uma boa saída para não criar polêmicas ou problemas.
Quando acontece, porém, de uma pessoa famosa se
matar, não se pode evitar a notícia – embora ela deva ser transmitida com
cautela. Um “disfarce da situação” seria desastroso e, a longo prazo, uma
falsidade histórica. Foi pensando assim que, outro dia, estava com o amigo Urik
Paiva (que é especialmente imaginativo) desenvolvendo esse tipo de suposição.
Imaginamos que se instalava no mundo uma paranoia do termo “suicídio”. Isso
chegava a tal ponto que as divulgações dos óbitos passariam a ser distorcidas,
com elementos fantasiosos para negar os gestos voluntários. Assim, por exemplo,
a poetisa Ana Cristina César, que se jogou de um edifício da década de 80,
poderia ser computada como uma vítima de acidente com bungee jumping.
Sylvia Plath, escritora que abriu o forno e pôs a cabeça lá dentro, na verdade
teria escorregado em batatinhas enquanto cozinhava e – plath! –
caiu no chão, fraturando o crânio.
Nessa linha de raciocínio, o afogamento de
Virginia Woolf também surgiria como uma fatalidade. Diriam que a romancista
inclusive era exímia nadadora e costumava atravessar metros do rio Ouse todas
as tardes – infelizmente, naquele 28 de março um polvo gigantesco surgiu e laçou
as pernas da escritora, arrastando-a para as profundezas da água.
O autor japonês Mishima tampouco teria cometido
haraquiri, mas sua morte foi resultado de uma brincadeira desastrosa, com a
faca usada para limpar o peixe. E Hemingway jamais atirou contra si mesmo; ao
contrário, foi alvejado por um colega caçador (que não estava tão camuflado
quanto ele), num safári.
A lista de hipóteses cresce para além dos
literatos, e de repente nos damos conta da enorme quantidade de suicidas
famosos. O espaço para este texto chega ao fim, mas a imaginação, claro, nunca
acaba. Nosso exercício de censura ao suicídio passa pelo riso porque
divertir-se talvez seja a melhor maneira de sentir-se vivo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário