D. Geni e Ana Júlia (mãe e filha do autor)
"Amor de mãe é mais perigoso para a humanidade do que a Bomba
H"
Millor Fernandes
Minha mãe tem mil e dois defeitos, todos
típicos defeitos de mãe.
Acorda cedinho, compra pão, faz o café e leva
para a filha preguiçosa. Corre e vai fazer ginástica com os bombeiros. Volta e
arruma a sala e varre a calçada e costura na cabeça as primeiras peças do
almoço.
Conversa com a sombra, junta as folhas e as
falas da vizinha.
Se abanando e soprando a quentura sai para
saber do que os filhos (que moram quase todos bem próximos) precisam, uma
verdura para a mais ocupada, uma ajudinha com os filhos da professora, uma
ligada para a zangada, outra para o descansado.
Mal entra em casa e já maquina ir comprar meio
quilo de arroz no mercadinho, um refrigerante mais barato na bodega da Paulino
Nogueira, o jornal pra ver a crônica do filho metido a escritor.
Volta para colocar mais água na galinha, mais
tempero no feijão.
Liga para a irmã do interior, e (enquanto
conversa meia hora) organiza na cachola suas próximas andanças.
Falar com D. Eugênia tem que ser
impreterivelmente quando ela se descuida e vai comer e, depois, deita um pouco
para assistir ao jornal televisivo, esperando que o sol baixe um pouco lá pras
bandas da Igreja dos Remédios... então ela irá (ligeirinha e atenta) visitar
seus antigos vizinhos na Vila da Carapinima, onde morou por mais de dez anos.
De tardinha tem suas tarefas da tarde: lavar as
louças do almoço, tentar inutilmente acordar a filha que ainda sonha em ter
coragem de viver. Liga de novo para algum antigo colega de trabalho, vai pela
décima vez ver os filhos da professora, passa rápido pra ver o que comeu o
filhinho da ocupada.
De noite tem suas tarefas da noite: toma uma
sopinha na casa do mais chato, olha se o genro passou para a caminhada na Praça
da Gentilândia; e se for sábado vai à feira pegar as frutas mais baratas, o
capote menor e os ovos caipiras.
Então vai descansar na calçada da casa de uma
das filhas, mas de olho na danação do loirinho. Logo levanta e passa em frente
ao bar do Assis pra vê se o filho mais velho já enche a cara novamente, quando
sorri, fala rápido e diz que tem um ovo cozido para a ressaca.
Lá pras dez da noite vai finalmente para casa,
arma a rede e assiste ao milionésimo quinto programa da Hebe. Depois arruma as
últimas panelas, põe pra descongelar a carne do almoço, limpa o chão, a mesa e
a pia “mode” as baratas.
Deita na rede e dorme já pensando no que irá
fazer na manhã seguinte.
***
Dona Geni tem mil e dois defeitos, todos eles
benditos defeitos de mãe.
Minha mãe procura tempo para tudo... e acha
tempo para todos.
Ela só não encontra tempo para envelhecer.
Caramba que lindo! Defeitos de todas as mães... Pedroca ao falar da sua nos confunde por descrever as nossas.
ResponderExcluirParabéns pelo filho mais escritor do que metido e pelos 70 anos de efervescência!