quinta-feira, 21 de abril de 2022

"Centro de Estudos Juvenal Galeno", de Ednardo Honório Lima


AlmanaCULTURA In DICA:

Mais uma obra fruto de pesquisa em Literatura Cearense nos chega.

É Centro de Estudos Juvenal Galeno: juventude, literatura e civismo num momento de escolhas (Imprece, 2021), do historiador Ednardo Honório de Lima (1978), com o apoio da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará.

Ednardo teve a sua estreia como historiador na produção de pesquisa sobre Mário Kepler Sobreira de Andrade, o nosso Mário de Andrade (do Norte), tema do qual me interesso há anos, e não por menos: muito jovem, ele foi um dos responsáveis pela revista modernista Maracajá (1929), diretor e idealizador do suplemento Cipó de Fogo (1931), além do autor do manifesto lido no I Congresso de Poesia (1942), que daria origem ao Grupo CLÃ, sendo também coautor da primeira publicação das Edições Clã: Três Discursos (1943), ao lado de Antônio Girão Barroso e Eduardo Campos.

Ednardo também pesquisaria o “Grupo CLÃ: os intelectuais de Fortaleza nos anos de 1940”, monografia de conclusão do seu curso.

E foi remexendo esses caixões dos anos de 1940 que se deparou com um ainda intacto, o que acolhia os jovens integrantes do grêmio intitulado Centro de Estudos Juvenal Galeno, que teria como sede, obviamente, a Casa de Juvenal Galeno, patrimônio ainda hoje em pé, contra tudo e a favor de todos, desde 1886.

O grêmio, segundo Honório, foi criado em junho de 1938 e perdurou até agosto de 1945. No entanto, baseou-se, principalmente nos Estatutos da agremiação – que não encontrou integralmente –  e nos seus livros de atas, que também não teve acesso a todos, mas apenas aos livros de setembro de 1940 a junho de 1942.

Entre seus fundadores, Francisco Silva Nobre, nome que seria mais reconhecido futuramente, e que assumiria a presidência provisória em junho de 1938, Lima Leite (vice-presidente), Amauri Saraiva (secretário), Hélio Melo (orador) – que ingressaria no Instituto do Ceará em 1975 e seria um dos fundadores da Academia Cearense da Língua Portuguesa em 1977 – e Majela Nobre (bibliotecário).

Mais tarde, entre os centristas, teríamos a presença de Alberto Galeno, descendente do poeta das Lendas e Canções Populares, além de Aluízio Fernandes Bonavides, Flávio Passos Quintela, Francisco Barros Fontenele, Isac Sombra Rodrigues, José Palácio de Queiroz etc.

A princípio, os centristas – como se denominavam – eram secundaristas, a maioria, provavelmente, católicos – alguns de seus informes saíam no jornal O Nordeste, da Arquidiocese de Fortaleza –, e se reuniriam, ordinariamente, aos domingos à tarde, com o pensamento de louvar e exultar o nome do dono da casa, a quem a literatura cearense tanto devia, tudo isso por meio de um discurso cívico, respeitando as restrições do rigoroso Estado Novo. Na continuidade, alguns se tornaram alunos do curso pré-jurídico do Liceu do Ceará, alcançando a cobiçada Faculdade de Direito, enquanto outros estudantes ingressariam na Faculdade de Agronomia do Ceará – chegaram a conhecer e a ouvir Mário Sobreira de Andrade. Entre estes, o mineiro José Sebastião da Paixão, que Honório defende ser o primeiro estudante preto a ingressar no ensino superior cearense. Na foto da capa, entre os centristas, é o único preto. Interessante é que, mais tarde, em um Torneio de Oratória criado pelo grêmio, um dos primeiros temas apresentado pelo associado Flávio Quintela foi “Influência do negro na Literatura do Brasil”.

Durante o lançamento da obra – em 4 de fevereiro de 2022, na Gibiteca da Biblioteca Municipal Dolor Barreira –, na qual fui convidado na qualidade de mediador, questionei sobre alguns pontos curiosos do grêmio. Por exemplo, entre os 31 patronos originais, havia apenas 4 cearenses, todos de projeção nacional: Juvenal Galeno, José de Alencar, Farias Brito e Capistrano de Abreu (entre outros, havia José Bonifácio e até d. Pedro II, em plena República?). Posteriormente, seriam admitidos como patronos Antônio Sales, Araripe Jr e Alberto Nepomuceno. Outro ponto: eles faziam estudos de obras literárias – como de Telmo Vergara, Érico Veríssimo, Alberto Torres, Cléomenes Campos, Alexis Carrel etc. –, e entre essas obras não havia de cearenses (?). As homenagens: a biblioteca do Centro de Estudos se chamava Adelmar Tavares da Silva Cavalcanti, uma homenagem ao jurista e poeta pernambucano(?), membro da Academia Brasileira de Letras desde 1926 – havia um controle rigoroso para evitar a entrada de obras consideradas amorais e que maculassem o nome do sodalício. Sim, eles eram bem conservadores. E sobre a participação de mulheres: como de se esperar, eles permitiam a participação de mulheres em suas atividades – Honório em seu livro cita algumas dessas participações, que inclusive deveriam ser várias, lembrando que o grêmio atuava sob o olhar da dra. Henriqueta Galeno, uma feminista primeva –, mas como na Padaria Espiritual, elas participavam, porém não eram integradas ao grêmio. Destaco a participação de Reine Limaverde, irmã de nosso querido radialista Narcélio Limaverde, no canto de “A Deusa da Minha Rua”.

Para não sair desse caldo imenso de agremiações literárias cearenses, não poderíamos nem sonhar que os centristas também não tivessem ímpetos de lançar uma revista própria, não é? Pois teriam, mesmo que apenas o seu primeiro número, datado de 18 de dezembro de 1938: Jangada era o seu título. O diretor era F. Silva Nobre. Os redatores: Hélio Melo, Antônio B. de Menezes, Gabel Gomes, Evangelista Campos e Ferreira Ângelo.

Os centristas também recebiam intelectuais nas suas sessões: Gomes de Matos, João Otávio Lobo, Euclides César (da escandalosa Academia Polimática), Perboyre e Silva, Martins D’Alvarez, Pierre Luz, Joaquim Alves, Carlyle Martins, entre outros.

Ao final da obra, Honório traça um perfil dos principais nomes do Centro de Estudos Juvenal Galeno.

Muitas lacunas ficaram em aberto ou sob suposições do historiador, é verdade, mas por outro lado, é admirável seu esforço em “tirar leite de pedra”, além de que, em paralelo à pesquisa, vimos outra, sobre o contexto de Fortaleza naqueles anos, a escola secundarista, a Faculdade de Direito e a de Agronomia, entre outros elementos interessantes para pensarmos nossa cidade e seus equipamentos.

Contudo, lamentamos profundamente não termos tido acesso à produção literária desses jovens da qual Honório atribui um distanciamento ainda, em plenos anos de 1940, das “novidades” do Modernismo.

 

Quem quiser adquirir a obra:

Livraria Arte & Ciência (Av. Treze de Maio, 2400) – Tel: (85) 3283.4422

Contatos com o autor:

Telefone: (85) 3484.6310

e-mail: lima78.ed@gmail.com

Instagram: @honorio.ed

Facebook: ednardo honorio de lima




 

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