AlmanaCULTURA In DICA:
Mais uma obra fruto de pesquisa em Literatura Cearense nos chega.
É Centro de
Estudos Juvenal Galeno: juventude, literatura e civismo num momento de escolhas
(Imprece, 2021), do historiador Ednardo
Honório de Lima (1978), com o apoio da Secretaria da Cultura do Estado do
Ceará.
Ednardo teve a sua estreia como historiador na
produção de pesquisa sobre Mário Kepler Sobreira de Andrade, o nosso Mário de
Andrade (do Norte), tema do qual me interesso há anos, e não por menos: muito
jovem, ele foi um dos responsáveis pela revista modernista Maracajá (1929), diretor e idealizador do suplemento Cipó de Fogo (1931), além do autor do
manifesto lido no I Congresso de Poesia (1942), que daria origem ao Grupo CLÃ,
sendo também coautor da primeira publicação das Edições Clã: Três Discursos (1943), ao lado de Antônio
Girão Barroso e Eduardo Campos.
Ednardo também pesquisaria o “Grupo CLÃ: os
intelectuais de Fortaleza nos anos de 1940”, monografia de conclusão do seu
curso.
E foi remexendo esses caixões dos anos de 1940 que
se deparou com um ainda intacto, o que acolhia os jovens integrantes do grêmio
intitulado Centro de Estudos Juvenal
Galeno, que teria como sede, obviamente, a Casa de Juvenal Galeno, patrimônio
ainda hoje em pé, contra tudo e a favor de todos, desde 1886.
O grêmio, segundo Honório, foi criado em junho de 1938
e perdurou até agosto de 1945. No entanto, baseou-se, principalmente nos
Estatutos da agremiação – que não encontrou integralmente – e nos seus livros de atas, que também não teve
acesso a todos, mas apenas aos livros de setembro de 1940 a junho de 1942.
Entre seus fundadores, Francisco Silva Nobre, nome
que seria mais reconhecido futuramente, e que assumiria a presidência
provisória em junho de 1938, Lima Leite (vice-presidente), Amauri Saraiva
(secretário), Hélio Melo (orador) – que ingressaria no Instituto do Ceará em
1975 e seria um dos fundadores da Academia Cearense da Língua Portuguesa em
1977 – e Majela Nobre (bibliotecário).
Mais tarde, entre os centristas, teríamos a
presença de Alberto Galeno, descendente do poeta das Lendas e Canções Populares, além de Aluízio Fernandes Bonavides,
Flávio Passos Quintela, Francisco Barros Fontenele, Isac Sombra Rodrigues, José
Palácio de Queiroz etc.
A princípio, os centristas – como se denominavam –
eram secundaristas, a maioria, provavelmente, católicos – alguns de seus
informes saíam no jornal O Nordeste,
da Arquidiocese de Fortaleza –, e se reuniriam, ordinariamente, aos domingos à
tarde, com o pensamento de louvar e exultar o nome do dono da casa, a quem a
literatura cearense tanto devia, tudo isso por meio de um discurso cívico,
respeitando as restrições do rigoroso Estado Novo. Na continuidade, alguns se
tornaram alunos do curso pré-jurídico do Liceu do Ceará, alcançando a cobiçada
Faculdade de Direito, enquanto outros estudantes ingressariam na Faculdade de
Agronomia do Ceará – chegaram a conhecer e a ouvir Mário Sobreira de Andrade.
Entre estes, o mineiro José Sebastião da Paixão, que Honório defende ser o
primeiro estudante preto a ingressar no ensino superior cearense. Na foto da
capa, entre os centristas, é o único preto. Interessante é que, mais tarde, em
um Torneio de Oratória criado pelo grêmio, um dos primeiros temas apresentado
pelo associado Flávio Quintela foi “Influência do negro na Literatura do Brasil”.
Durante o lançamento da obra – em 4 de fevereiro
de 2022, na Gibiteca da Biblioteca Municipal Dolor Barreira –, na qual fui
convidado na qualidade de mediador, questionei sobre alguns pontos curiosos do
grêmio. Por exemplo, entre os 31 patronos originais, havia apenas 4 cearenses,
todos de projeção nacional: Juvenal Galeno, José de Alencar, Farias Brito e
Capistrano de Abreu (entre outros, havia José Bonifácio e até d. Pedro II, em
plena República?). Posteriormente, seriam admitidos como patronos Antônio Sales,
Araripe Jr e Alberto Nepomuceno. Outro ponto: eles faziam estudos de obras
literárias – como de Telmo Vergara, Érico Veríssimo, Alberto Torres, Cléomenes
Campos, Alexis Carrel etc. –, e entre essas obras não havia de cearenses (?). As
homenagens: a biblioteca do Centro de Estudos se chamava Adelmar Tavares da
Silva Cavalcanti, uma homenagem ao jurista e poeta pernambucano(?), membro da
Academia Brasileira de Letras desde 1926 – havia um controle rigoroso para
evitar a entrada de obras consideradas amorais e que maculassem o nome do
sodalício. Sim, eles eram bem conservadores. E sobre a participação de
mulheres: como de se esperar, eles permitiam a participação de mulheres em suas
atividades – Honório em seu livro cita algumas dessas participações, que
inclusive deveriam ser várias, lembrando que o grêmio atuava sob o olhar da
dra. Henriqueta Galeno, uma feminista primeva –, mas como na Padaria
Espiritual, elas participavam, porém não eram integradas ao grêmio. Destaco a
participação de Reine Limaverde, irmã de nosso querido radialista Narcélio
Limaverde, no canto de “A Deusa da Minha Rua”.
Para não sair desse caldo imenso de agremiações
literárias cearenses, não poderíamos nem sonhar que os centristas também não
tivessem ímpetos de lançar uma revista própria, não é? Pois teriam, mesmo que
apenas o seu primeiro número, datado de 18 de dezembro de 1938: Jangada era o seu título. O diretor era
F. Silva Nobre. Os redatores: Hélio Melo, Antônio B. de Menezes, Gabel Gomes,
Evangelista Campos e Ferreira Ângelo.
Os centristas também recebiam intelectuais nas
suas sessões: Gomes de Matos, João Otávio Lobo, Euclides César (da escandalosa
Academia Polimática), Perboyre e Silva, Martins D’Alvarez, Pierre Luz, Joaquim
Alves, Carlyle Martins, entre outros.
Ao final da obra, Honório traça um perfil dos
principais nomes do Centro de Estudos Juvenal Galeno.
Muitas lacunas ficaram em aberto ou sob suposições
do historiador, é verdade, mas por outro lado, é admirável seu esforço em “tirar
leite de pedra”, além de que, em paralelo à pesquisa, vimos outra, sobre o
contexto de Fortaleza naqueles anos, a escola secundarista, a Faculdade de
Direito e a de Agronomia, entre outros elementos interessantes para pensarmos
nossa cidade e seus equipamentos.
Contudo, lamentamos profundamente não termos tido
acesso à produção literária desses jovens da qual Honório atribui um
distanciamento ainda, em plenos anos de 1940, das “novidades” do Modernismo.
Quem quiser adquirir a
obra:
Livraria
Arte & Ciência (Av. Treze de Maio, 2400) – Tel: (85) 3283.4422
Contatos com o autor:
Telefone:
(85) 3484.6310
e-mail:
lima78.ed@gmail.com
Instagram:
@honorio.ed
Facebook:
ednardo honorio de lima
Nenhum comentário:
Postar um comentário