quarta-feira, 18 de maio de 2011

"Coisas Engraçadas de Não se Rir IX: Amadamante", crônica de Raymundo Netto para O POVO


Nem sei como ainda existem homens que conseguem manter relacionamento amoroso, ao mesmo tempo, com duas mulheres. Eu, que tenho apenas 2 pen-drives, já desorganizei de todo a minha vida!


Domingo, na fila de um self-service, vi a moça da balança informar a um cliente: “Pois avise à sua esposa que quando vier se servir, para que eu possa fechar a sua conta, me fale o nome do senhor: Moacir”. O homem, o tal Moacir — “filho da dor”, cearense legítimo —, vidrou o olhar, esticou o pescoço no colarinho e, gesticulando o prato coberto de folhas, ofendeu-se: “Olhe, minha filha, não é por não transarmos mais que ela já se esqueceu do meu nome, não, ouviu?


Ora, até parece, pois que um senhor recebia visita e, de sua poltrona, fazia seguidos pedidos à esposa, sempre acompanhados por um afetuoso “meu bem”. “Meu bem, traz isso”; “Meu bem, cadê aquilo?”; meu bem, meeeu bem. O visitante, impressionado com o trato carinhoso devotado àquela mulher inda pós tantos anos de bodas, acusou-o em observação simpática, quando o marido riu-se displicente: “Que carinho que nada... Tu achas que ainda me lembro o nome dessa doida? O jeito é chamar de meu bem, mesmo.”


O amantismo, todos sabem, é apenas uma das mazelas do matrimônio, este, engenho decerto de mulheres (vem de “mater”, mãe), assim como o divórcio — em 70% dos casos, a pedido das mulheres —, pois que elas fazem de tudo bem feito. Começam-no e terminam-no, independentemente de consulta ao companheiro, ciente atavicamente do que significa ter ao lado uma mulher insatisfeita. Puro Inferno!


Há quem diga: fiel só Deus e a torcida Corintiana. A verdadeira fidelidade, para mim, só existe quando não se tem, sem esforço, desejo do outro. Alguns não traem o cônjuge, não por ausência de desejo, mas de coragem. Assim, defendo: se houver a menor resistência que seja a infidelidade está feita e você, também, é um de nós. E acredite: em certos casos, a maior traição que se pode fazer ao outro é continuar casado.


A razão de toda a crise conjugal se deve, além do excessivo egoísmo humano bem disfarçado sobre a capa do “respeito à individualidade”, à longa duração do acordo. Essa história de “até que a morte os separe”, deveria compreender enquanto “morte”, aquela em vida, ou seja, a morte da vontade de estar junto, e não necessariamente a morte corporal, aquela que traz, muitas vezes nesses casos, o merecido descanso.


E o que acaba um casamento? A sinceridade, por exemplo, eu sei que acaba. Creia pelamordedeus: não é a mentira que acaba o casamento, e sim, a verdade. Não a conte nunca! E, aos homens, há de se ter mais cuidado no manejo do banheiro, palco preferido para as maiores justificativas da crise.


Claro que há casamentos que podem dar certo, sobreviver a todo tipo de adversidade, seja por amor, por conveniência, ou por preguiça apenas, mas esses não têm a menor graça. Bom mesmo é casamento que ultrapassa as calçadas, enrolados em bóbis ou em tocas de alumínio nas cabecinhas de olhos na “Caras”; que ribombam às paredes geminadas das vilas; que se misturam entre panelas e grampos, ornamentados por quizílias estrepitosas, com choros, chuvas de arroz, e lágrimas nos olhos da mocinha, feito tisne, ao pé do portão; e com finais trágicos, como a tal prova de amor à bala, democratizando a tragédia passional. Por pensar assim, no bar, perguntaram-me: “Raymundo, se você se separasse, casaria de novo?” Nem pisquei — quem me conhece sabe como é difícil isso acontecer — para dizer que “Ora, é lógico que não... Nunquinha mesmo... Quer dizer, a não ser que eu me apaixonasse, é claro...”


Raymundo Netto que acredita que “perder a cabeça” não é privilégio de quem se vai à guilhotina.

Contato: raymundo.netto@uol.com.br


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