sábado, 11 de dezembro de 2010

J. Fernandes, um dos maiores pintores do nosso Ceará, encantou-se

foto: O POVO


Aos 83, morre J. Fernandes


Na quarta-feira (8), a arte cearense perdeu um de seus grandes nomes. Vítima de falência múltipla de órgãos, o desenhista e pintor J. Fernandes (1927–2010) faleceu por volta das 20 horas. O velório ocorreu ontem (9) no cemitério de Caucaia, onde o corpo foi enterrado ao meio-dia. Há aproximadamente 40 dias o artista plástico estava hospitalizado.


Natural de Fortaleza, José Fernandes de Alencar começou cedo seu envolvimento com a arte. Conduzido ao ateliê Raimundo Cela, teve suas primeiras formações. Ficou conhecido por abordar temas cearenses em seus quadros. J. Fernandes era um dos remanescentes do Grupo Scap (Sociedade Cearense de Artes Plásticas), que contava com nomes como Aldemir Martins, Bandeira e Estrigas.


“Eu o conheci no tempo em que a Scap era o centro de atividades culturais. Com seu talento e bom trabalho ele se destacava dos outros”, enfatiza o também artista plástico e escritor Nilo Firmeza, conhecido como Estrigas. O psicanalista Antonio Mourão Cavalcante manteve uma relação de amizade com J. Fernandes na última década. “Ele era uma pessoa muito sensível. Um verdadeiro poeta e extremamente tímido. Era um excelente pintor de nível nacional e internacional.”, disse o psicanalista.


José Fernandes deixou cinco filhos adultos, três mulheres e dois homens, além da viúva Maria Malheiros. O artista ganhou fama por suas participações no Salão de Abril entre 1953 e 1990. Em 1955, foi premiado com a Medalha de Ouro na 11ª edição. “É mais um membro da Scap que desaparece. É mais um bom pintor que deixa de existir. Mas o J. Fernandes ficou na história dado a qualidade do trabalho desenvolvido por ele”, pontua Estrigas. (O POVO)


Chuvas do Adeus


Artista de várias nuances, segundo Nilo Firmeza, o Estrigas. J. Fernandes, um dos artistas plásticos remanescente da Sociedade Cearense de Artes Plásticas (Scap), como Aldemir Martins e Antônio Bandeira, faleceu ontem, em Fortaleza, vítima de falência múltipla de órgãos. Sua obra, dizia Estrigas, "é uma lição de que a arte de ontem ainda é boa para hoje e amanhã".


Estrigas conheceu o pintor e desenhista durante a década de 50, na época em que estava se projetando por meio de suas exposições individuais. Em 1955, seu quadro "Castigo imerecido" foi contemplado com a medalha de ouro no Salão de Abril.


"Escrevi sobre o trabalho de J. Fernandes, muito bem sucedido. Teve uma fase muito próxima do abstracionismo e ainda percorreu o expressionismo e o impressionismo. Embora soubesse desenhar e também fosse um bom aquarelista, ele pintava com óleo e tinta acrílica, técnica que passou a utilizar mais no final", conta.


Entre os temas abordados por Fernandes, Estrigas cita o paisagismo e os assuntos ligados ao mar. "Também fazia figuras e trechos de rua. Tinha muito talento. Era muito reconhecido por pessoas ligadas às artes e muito popular no mercado".


Porém, foi através do quadro "Chuva", que originou várias outras obras em torno do assunto, que ficou mais conhecido. "Todo mundo queria uma chuva de Fernandes. A gente brincava dizendo que ele já tinha pintado o inverno todo", comenta. "É mais uma perda para os remanescentes da Scap, grupo que já está bastante desfalcado. Mas a realidade é essa. Ele deixou o nome e ficou na lembrança das pessoas. Morreu cedo, tinha uma idade respeitável, não se podia dizer que era velho. Mas a morte não escolhe".


Homenagens

Em 2004, o Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (Mauc/UFC) promoveu, dentro do calendário do cinquentenário da Universidade, uma exposição retrospectiva sobre a fecunda trajetória de J. Fernandes, uma homenagem ao artista que, de 1961 a 1990, emprestou seu esforço aos trabalhos do MAUC. Desenhista e pintor, J. Fernandes iniciou-se nas artes plásticas ainda jovem, com desenhos nas calçadas da rua onde residia, em Fortaleza.


Recebeu por algum tempo orientação do mestre Raimundo Cela, especialmente na área do desenho. Com a volta de Cela ao Rio de Janeiro, foi apresentado por Jean-Pierre Chabloz a artistas plásticos iniciados nos movimentos de renovação da arte cearense durante a década de 40, como a criação do Centro Cultural de Belas Artes (CCBA), em 1941, e da Sociedade Cearense de Artes Plásticas, no ano de 1944.


Começou a participar das diversas edições anuais do Salão de Abril, a partir de 1953 e até 1990, e a Salas Especiais nos XXV, XXVIII e XXIX Salões Municipais de Abril (1975, 1978 e 1979), aparecendo ainda na Mostra Paralela aos XL e XLI Salões Municipais de Abril, realizados em 1990.

J. Fernandes participou ainda das mostras "A Paisagem Cearense" no Museu de Arte da UFC (1963) e "Quinze Artistas Cearenses", no Crato (1966). (DIÁRIO DO NORDESTE)

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