“Abro meu coração
para o azul-sonhar.”
Lançamento
Data e Horário: 30 de agosto de 2017, a partir das 19h30
Local: Terraço Cultural do Ideal Clube
Apresentação: Carlos Augusto Viana
Lançamento
Data e Horário: 30 de agosto de 2017, a partir das 19h30
Local: Terraço Cultural do Ideal Clube
Apresentação: Carlos Augusto Viana
“Toda distância é
azul.”
Otto
Lara Resende
Miudezas
do Azul, obra dividida em três azuis – azul-infância, azul-dia a
dia e azul-amém –, é o 17º livro publicado deste profícuo – e, desnecessário
dizer, sempre onírico – poeta das estrelas: Diogo Fontenelle.
Em “Miudezas do azul-infância”, sob o luar ou
copa de árvores, regressa ao imaginário infantil, embalado por “Conceição”, tangendo
em linhas melódicas, “feito um bandolim”, os acordes de seu passado, cosidos em
coloridos e alegóricos versos de lembramentos e agonizantes saudades, a ondular
toda a obra como bolhas de sabão no ar: quintais, jardins, árvores de estimação,
piões e pipas, doce de leite, sonhos, objetos afetivos, alfenim, a rede branca
de cordas, pregões de rua, contos infantis, personagens, cartas, telegramas, fotografias,
folguedos, as cadeiras nas calçadas, lendas, leituras, pessoas queridas – entre
elas, claro, dona Carmelita, mulher, mãe e guardiã, marchetada na caligrafia
amorosa do poeta –, para imprimir num suspiro desabafado: “Hoje, desfolho-me em
lamentos de antessala/Hoje, toureio razões de um desamado ancião.”
“Miudezas do azul-dia a dia” também leva o poeta
ao passado, entretanto, não é mais a nostalgia que nos escreve, mas, sim, o
gole amargo da desilusão, do desperdício, de juízos e a dor da incompreensão
num “reino do não agendado”, vertido em sua “lágrima de pierrô”, que reside em
uma Fortaleza que “virou mais uma metrópole banal de almas desencantandas.”: “Meu
olhar infantil se foi: vejo tudo pequeno demais.”
Atentemos que nessas miudezas é possível
perceber e compartilhar os aspectos sinestésicos que provocam e apuram seus poemas,
além de causos, histórias e até anedotas transformadas em poesia, o “sumo de
afeto em gota com bagaço de melancolia.”
Há, entre os poemas, a expressão de sua
insubmissão à desigualdade social: “Sonho de menino pobre é luz de fósforo na
escuridão.”
Engana-se quem pensa que “Miudezas do azul-amém”
versa sobre doutrina ou religião. Essa tércia parte, embaciada pelo chuvisco
nas vidraças de sua janela, se destina a amigos, a crenças de seu viver-sonhar,
aos mortos, à sua leitura do mundo e à certeza de ser impossível aprender “as
medidas dos afetos”: “Nem sei se o tempo passa, ou se sou eu que passo./ Nesse
mistério sem proporção nem luz na escuridão,/ Vou eu ser vagalume pelo desvão
do tempo-espaço/ Na desproporção de um poeta sem voz nem canção.”
Há em “Miudezas do azul-amém” a insistência obstinada
do “nunca mais”, representada na certeza de Otto Lara Resende – pelo que nos
lembra Diogo –, ao clamar: “toda distância é azul”. Aliás, também é Otto que
diz: "Uma criança vê o que um
adulto não vê. Tem olhos atentos e limpos para o espetáculo do mundo. O poeta é
capaz de ver pela primeira vez o que de tão visto ninguém vê.” E, por isso,
nosso poeta-menino ainda assegura: “Quando os ventos me chamarem,
serei caravela”.
Como o sol que se afoga na tarde e a noite que
desliza nos telhados, os versos azuladores de Diogo sangram afetos e vaporam
alfazemas, plenos de amores. Impossível não provocar as nossas próprias
recordações diante de quadros tão bem produzidos em seus matizes pessoais. Apesar
da maturidade de sua poesia, Diogo consegue imprimir nela o encanto e a doçura necessários
ao olhar de criança. Como ele mesmo diz: em sua “alma de menino-ancião”.
Para o leitor, seguramente, deparar-se com essas
páginas de desmedidas miudezas será como encontrar, a germinar em silêncio, uma
rica botija enterrada no coração do poeta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário