sábado, 18 de abril de 2015

"Fortaleza Pajeú", de Raymundo Netto para O POVO


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Foto: Milena Bandeira

Fortaleza aniversaria: 289 anos! Quem diria, tão jovem e vaidosa, menos bela, com a carinha parecida com a de nossa gente.
Numa arrogância e provincianismo históricos, encontro pessoas que torcem o nariz para ela, a desconhecem, e bradam revoltadas, em seu confortável “apavoramento”, que pagam impostos, e isso é bem verdade, mas também é verdade que não podemos abrir mão de nosso papel cidadão de cuidar daquilo que nós dizemos amar. O que se vê todos os dias é que não a reconhecemos como NOSSA cidade, a destratamos, limitando o nosso olhar à garagem e ao hall umbilical de nosso apartamento, lançando a sua sorte à gestão do momento, na esperança idiótica do herói, seja o prefeito, o governador, o presidente, aqueles que, como milagre, e em troca de um votinho, farão tudo por nós.
Assim, a Fortaleza vai se perdendo em seu leito, mas não o Pajeú, este envergonhado, escondido embaixo do concreto, ou carregando pilhas de lixo em seu curso pálido. Junto à sombra dos muros do forte, a flor do Brasil se prostra carcomida na promessa esquecida dos ingratos moacires: “Fortaleza, sempre havemos de te amar”.
Mas, em meio a tudo, um consolo: numa ação da Secretaria de Cultura de Fortaleza, durante o 6º Seminário do Patrimônio Cultural, foi lançada a segunda série de títulos da Coleção Pajeú, em formato de bolso, concepção e coordenação editorial do amigo e escritor Gylmar Chaves, composta de títulos que contemplam alguns bairros da cidade. No ano passado, tive o prazer de compor a primeira série com o título Centro: um ‘coração’ malamado. Ao meu lado, outras personalidades desmanchavam seus olhares sobre a cidade nas folhas da coleção de grandes livrinhos – o editor nos permite escrever no gênero e/ou na perspectiva que quisermos dar ao texto, favorecendo uma diversidade e liberdade tão generosa quanto a que vemos por meio das janelas de nossas casas, dos ônibus ou mesmo pelas solas de nossos calçados –, como: Fernanda Coutinho (Maraponga), Audifax Rios (Mucuripe), Pedro Salgueiro (Pici), José Borzacchiello da Silva (Parangaba), Edmar Freitas (Messejana) e Bernardo Neto (Barra do Ceará). Em 2015, a coleção ganhou volume e novos olhares: Sânzio de Azevedo (Aldeota), Carlos Vazconcelos (Parquelândia), Arlene Holanda (Benfica), Gylmar Chaves (Aerolândia), Cláudia Leitão (Jacarecanga) e José Mapurunga (Bom Jardim).
A novidade foi a inserção na coleção de um livro destinado ao público infantil, escrito por Fabiana Guimarães e com a ilustração do talentoso Eduardo Azevedo: Parque da Liberdade e o menino poeta, local belíssimo de nosso “malamado” Centro, também conhecido como “Cidade da Criança”, logradouro acolhido pelo grupo literário Padaria Espiritual em sua folha O Pão!
E assim, resta-nos a esperança da memória escrita, lida, passada a frente, como tentativa de emprestar esses olhos às futuras gerações, já que não sabemos o que nos espera e o que vai sobrar em pé, entre tijolos e afetos. Acorda, Fortaleza! 


Um comentário:

  1. Onde consigo comprar o livro infantil que você se refere na matéria?

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