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Foto: Milena Bandeira
Fortaleza aniversaria: 289 anos! Quem diria, tão jovem
e vaidosa, menos bela, com a carinha parecida com a de nossa gente.
Numa arrogância e provincianismo históricos, encontro
pessoas que torcem o nariz para ela, a desconhecem, e bradam revoltadas, em seu
confortável “apavoramento”, que pagam impostos, e isso é bem verdade, mas também
é verdade que não podemos abrir mão de nosso papel cidadão de cuidar daquilo
que nós dizemos amar. O que se vê todos os dias é que não a reconhecemos como
NOSSA cidade, a destratamos, limitando o nosso olhar à garagem e ao hall
umbilical de nosso apartamento, lançando a sua sorte à gestão do momento, na esperança
idiótica do herói, seja o prefeito, o governador, o presidente, aqueles que,
como milagre, e em troca de um votinho, farão tudo por nós.
Assim, a Fortaleza vai se perdendo em seu leito, mas
não o Pajeú, este envergonhado, escondido embaixo do concreto, ou carregando
pilhas de lixo em seu curso pálido. Junto à sombra dos muros do forte, a flor
do Brasil se prostra carcomida na promessa esquecida dos ingratos moacires:
“Fortaleza, sempre havemos de te amar”.
Mas, em meio a tudo, um consolo: numa ação da
Secretaria de Cultura de Fortaleza, durante o 6º Seminário do Patrimônio
Cultural, foi lançada a segunda série de títulos da Coleção Pajeú, em formato
de bolso, concepção e coordenação editorial do amigo e escritor Gylmar Chaves,
composta de títulos que contemplam alguns bairros da cidade. No ano passado,
tive o prazer de compor a primeira série com o título Centro: um ‘coração’
malamado. Ao meu lado, outras personalidades desmanchavam seus olhares sobre a
cidade nas folhas da coleção de grandes livrinhos – o editor nos permite
escrever no gênero e/ou na perspectiva que quisermos dar ao texto, favorecendo
uma diversidade e liberdade tão generosa quanto a que vemos por meio das
janelas de nossas casas, dos ônibus ou mesmo pelas solas de nossos calçados –,
como: Fernanda Coutinho (Maraponga), Audifax Rios (Mucuripe),
Pedro Salgueiro (Pici), José Borzacchiello
da Silva (Parangaba), Edmar Freitas (Messejana) e Bernardo Neto (Barra do
Ceará). Em 2015, a coleção ganhou volume e novos olhares: Sânzio de Azevedo
(Aldeota), Carlos Vazconcelos (Parquelândia), Arlene Holanda (Benfica),
Gylmar Chaves (Aerolândia), Cláudia Leitão (Jacarecanga) e José Mapurunga (Bom Jardim).
A novidade foi a
inserção na coleção de um livro destinado ao público infantil, escrito por
Fabiana Guimarães e com a ilustração do talentoso Eduardo Azevedo: Parque da
Liberdade e o menino poeta, local belíssimo de nosso “malamado” Centro, também conhecido como
“Cidade da Criança”, logradouro acolhido pelo grupo literário Padaria
Espiritual em sua folha O Pão!
E assim, resta-nos a
esperança da memória escrita, lida, passada a frente, como tentativa de
emprestar esses olhos às futuras gerações, já que não sabemos o que nos espera
e o que vai sobrar em pé, entre tijolos e afetos. Acorda, Fortaleza!
Onde consigo comprar o livro infantil que você se refere na matéria?
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