segunda-feira, 10 de novembro de 2014

"Diário de Bordo": A Casa Villarino e a Bossa Nova


Era final de tarde. Acabávamos de sair de uma palestra proferida por Antônio Carlos Secchin, na Academia Brasileira de Letras, quando Adriano Espínola e José Mario Pereira (editor da Topbooks) decidiram dar uma passada num "botequim" próximo ao  local, na esquina da av. Calógeras com a Presidente Wilson: a Casa Villarino.
O bar foi fundado, como uisqueria, por Luiz Villarino Perez, em 1º de junho de 1953. Passaram por ali, a bebericar chopps e uísques, beliscar tira-gostos ou simplesmente para jogar conversa fora, diversos nomes dentre nossos artistas, intelectuais, jornalistas, poetas e músicos, como Di Cavalcanti, Ary Barroso, Tom Jobim e Vinicius de Moraes.


Conta-se que Tom e Vinicius se encontraram pela primeira vez, em 1956, justamente ali. O jornalista Lúcio Rangel apresentou o então desconhecido maestro ao poeta e diplomata que procurava alguém para musicar o seu "Orfeu da Conceição". Daí dizerem que a Casa foi um dos berços da Bossa Nova.



Na entrada (uma espécie de mercearia) e também no salão, mobiliário da época, muitas garrafas, um ambiente acolhedor, com rastros de passado aqui e acolá, local escolhido para compor um dos cenários do filme "Tim Maia", mais precisamente da cena em que a Nara Leão canta para um público composto por Carlos Imperial, Roberto Carlos, Erasmo, Tim Maia...
Há no salão cadeiras e madeira e mesas quadradas com tampo de mármore e escolhi uma delas para imaginar o grande encontro: "Sim, tudo bem, mas sai um dinheirinho disso?"


Por ali também cruzou Pablo Neruda, que, contam, registrou alguns versos amarelos na parede, enquanto Di Cavalcanti riscou suas garatujas tropicalistas, ao lado das engenhices do conterrâneo Antônio Bandeira, e Ary Barroso algumas notas de sua famosa "Aquarela" e de seu coqueiro que dá coco. Nessas paredes, também se encontravam autógrafos de Dolores Duran, Aracy de Almeida, Mário Reis, Sérgio Porto, Paulo Mendes Campos, Elizete Cardoso e Carlos Drummond de Andrade. Mas, infelizmente, numa tentação dantesca imperdoável, um dos sócios ousou crer que as paredes estavam "sujas e feias" - ou que dentre aqueles se encontravam caloteiros -  e as manchou de tinta que, embora verde, perdia esperanças, enterrando de uma vez os traços de genialidade, até que se faça uma prospecção num futuro menos "vil larino".





Como consolo, agora, naquelas paredes, muitas lembranças de quem por lá passou e um eco, feito gemido, "que só em teus braços, amor, eu posso ser feliz."




2 comentários:

  1. Agora eu peço uma cerveja e vamos inventando versos que contam histórias...

    Amei!! Quero conhecer, rs...

    Beijos!!!^^

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  2. É uma boa pedida, Suzana. Fatalmente. rsrs

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