Hoje eu conheci a poesia!
Sim, minha amiga, ela vinha caminhando lenta, pequena, cabelos
encanecidos, lábios grossos e um olhar embaciado.
Ela, completamente branca como a nuvem que se banha no sol,
gesticulava grave ao ar em dedos finos, nodosos, seguros.
Falava num cantar ritmado sobre a beleza da vida, do amor e de
amar.
Falava de gente: a matéria-prima do pecado e a fronteira rente
da salvação!
A poesia gotejava, vagarosa, de uma folha verde de grossas
nervuras num dia de chuva;
Fixava curiosa com olhos amendoados a descoberta de um ciclope;
Borbulhava tensa no confrontamento que singra nas vaidades de
rios;
Desencrespava os negros cabelos e se mostrava firme na face grácil
de mulheres em vestes molhadas, esculpidas na doçura da incerteza e na certeza
da dúvida.
Gargalhava na sabedoria daqueles que ignoram;
Perseverava, cria e lutava com a delicadeza da simplicidade infrequente
dos grandes cavaleiros. Grandes? Existe isso?
Sim, minha cara, hoje eu conhecia a poesia.
Com todo o respeito postava-se em pé, suas palavras ecoavam na
flanância forjada na trilha perdida dos anos.
Cada golpe no peito tangia os espíritos belicosos,
desabrochava versos no coração.
Visionária, a poesia descortinava o poeta, além de tudo, o
legente.
É, querida amiga, hoje eu finalmente descobri, após anos de
abstinência, que poesia rima com utopia!
Texto de Raymundo Netto para Ana Miranda,
após conhecer pessoalmente o poeta Thiago de Mello, apresentado por ela, em 8
de junho de 2006. Mais tarde, como curador da Bienal Internacional do Livro do
Ceará, convidaria Thiago de Mello, juntamente com Carlos Heitor Cony para compartilharem
uma mesa poética.
A poesia o inundou, Raymundo. E que belo poema floreceu. À altura do grande Thiago de Mello. Parabéns!
ResponderExcluirGrato, Zélia.
ExcluirQ honra
ResponderExcluirGrato, Vicente.
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