quarta-feira, 31 de agosto de 2011

"O Sono e o Sonho", crônica de Pedro Salgueiro para O POVO (31.8)


Sempre dormi muito tarde. Conto nos dedos as vezes (geralmente estando doente ou depois de uma farra durante o dia) em que dormi antes da meia noite. Minha mãe afirma que quando eu era menino passava a madrugada inteira andando pelos terreiros com o velho rádio de casa, ouvindo notícias dos lugares mais distantes. Geralmente ela tinha que desligar o aparelho, que chiava junto comigo na redinha encardida estirada na sala da frente, já quase de manhã.


Sinto-me desconfortável quando estou num lugar em que as pessoas dormem cedo, devido a isso raramente aceito dormir na casa dos amigos em minhas muitas viagens. Mas, mesmo evitando ser hóspede em território alheio, não foram poucas as situação deverasmente desconfortáveis em que me meti, como a de ter que passar uma noite inteira acordado tendo que ouvir todos os ruídos noturnos da casa desconhecida.


Não, prefiro o quarto soturno de uma pousada, em que eu possa sair e entrar até de manhã, em que eu possa assistir à programação da TV até quase de manhã. Não apenas para evitar ser incomodado, mas principalmente para não incomodar os outros... que é uma das coisas que, do fundo do coração, mais detesto.


E como acordo cedo, pois sempre trabalhei pela manhã (que pra mim é o pior período do dia, então nada mais justo do que ocupá-lo com a pior ação do dia), sempre dormi muito pouco. Ando por aí bocejando, olhos lacrimejantes demonstrando um restinho de noite.


Talvez daí venha a fama de preguiçoso, que carrego desde menino. Dos pais, dos amiguinhos, dos parceiros de futebol, dos colegas de trabalho... e hoje principalmente dos colegas escritores, que afirmam sem dó nem piedade que “durmo” em cima de um texto por anos a fio. Que levo séculos para publicar um livro, que demoro anos para fechar um conto... que divago semanas para fechar esta mínima crônica, que para não fugir à regra estou entregando em cima da hora.


P.S.: A meu favor (e mal comparando) apenas a companhia de um de meus escritores preferidos, o poeta Mario Quintana, que escreveu o livro Da preguiça como método de trabalho e que, por sempre entregar sua croniquinha de última hora (portanto na “hora H”), quando muitas vezes o motoqueiro da Zero hora já estava buzinando em sua porta, resolveu dar à sua coluna o insólito nome de “Caderno H”.

domingo, 28 de agosto de 2011

Lançamento "Luz Vermelha que se Azula", de Nilto Maciel, no Bazar das Letras do SESC (30.8)


Luz Vermelha que se Azula

(Expressão Gráfica e Editora)

de Nilto Maciel


— ganhador do Prêmio Literário para Autor (a) Cearense

Prêmio Moreira Campos, de CONTOS, da SECULT/CE —


Data: 30 de agosto de 2011 (terça-feira)

Horário: a partir das 19h

Local: Galeria do Teatro SESC Emiliano de Queiroz (Av. Duque de Caxias, 1701, — em frente ao DNOCS — informações: (85) 3452.9032)

Apresentação da Obra e do Autor: Carlos Roberto Vazconcelos, escritor, em entrevista no projeto Bazar das Letras do SESC

Preço de lançamento: R$ 20,00

Para contato com o Autor: niltomaciel@uol.com.br


Para adquirir Luz Vermelha que se Azula (para ausentes ao lançamento e fora do Estado): R$ 25,00 (incluso valor de envio correio)


Depósito em conta – Banco do Brasil - agência: 4885-2/ Conta: 671.063-8, em nome de Nilto Fernando Maciel

Após o depósito, envie e-mail (anexo o comprovante de depósito) para o endereço eletrônico do Autor (acima) com o endereço postal completo (não esquecer o CEP) do destinatário. Qualquer dúvida ou informação, com o Autor.


Sobre a Obra de Nilto Maciel:


“Nilto Maciel é, em verdade, um autor imprevisível, quase estilhaçante. Mas, ao mesmo tempo, humaníssimo e preso aos seus fantasmas conscientes e inconscientes, que latejam e volatizam da alma e do coração de um artista com lugar de destaque e definido na literatura brasileira.” (Caio Porfírio Carneiro)


“Nilto Maciel permanece fiel ao seu artesanato meticuloso. A cada livro publicado, verificam-se novas descobertas e uma outra luz se acendendo às possibilidades do leitor.” (João Carlos Taveira)


“(...) puxa o leitor por caminhos inusitados e consegue, sem exauri-lo no longo percurso que se impõe da primeira à última página, prendê-lo espontaneamente ao universo de seres alucinados e fatigados de sua aventura existencial.” (Aíla Sampaio)


“(...) prova a versatilidade de Nilto Maciel em trabalhar assuntos aparentemente tão díspares, mas que no fundo convergem para a unificação de uma temática que se vem cristalizando como pano de fundo na elaboração da sua atividade ficcional, que é a capacidade de fundir a carnavalização do picaresco com a atmosfera do alegórico.” (Dimas Macedo)


“Seu discurso literário é o triunfo da expressividade sobre as estruturas lineares do idioma.” (Francisco Carvalho)

Sobre o Autor: NILTO MACIEL nasceu em Baturité, Ceará, em 1945. Cursou Direito na UFC. Em 1976, um dos criadores da revista O Saco. Mudou-se para Brasília em 1977, onde deu início, em 1992, à publicação da Literatura: revista do escritor brasileiro, regressando a Fortaleza em 2002.

Entre os melhores contistas brasileiros, obteve primeiro lugar em vários concursos literários nacionais e estaduais. Organizou, com Glauco Mattoso, Queda de Braço: uma antologia do conto marginal (Rio de Janeiro/Fortaleza, 1977). Participou de diversas coletâneas e antologias, entre elas: Quartas Histórias: contos baseados em narrativas de Guimarães Rosa e Capitu Mandou Flores, ambas organizadas por Rinaldo de Fernandes, e “O Cravo Roxo do Diabo”: o conto fantástico no Ceará, organizado por Pedro Salgueiro.


O Cabra que Virou Bode foi transposto para a tela pelo cineasta Clébio Viriato Ribeiro, em 1993.


Publicou nos mais diversos gêneros literários e em diversas línguas (esperanto, italiano, espanhol e francês): Tempos de Mula Preta, Itinerário, Punhalzinho Cravado de Ódio, Os Guerreiros de Monte-Mor (a ser relançado em breve pelo Armazém da Cultura), As Insolentes Patas do Cão, A Guerra da Donzela, Carnavalha, Vasto Abismo, A Rosa Gótica, Pescoço de Girafa na Poeira, A Última Noite de Helena, A Leste da Morte, dentre outros. Como pesquisador do gênero CONTO, publicou: Panorama do Conto Cearense e Contistas do Ceará: d’A Quinzena ao CAOS Portátil.


Apoio Cultural

Secretaria da Cultura do Estado do Ceará

Serviço Social do Comércio - SESC

Abraço Literário

sábado, 27 de agosto de 2011

Após 32 anos de funcionamento, dia 4 de setembro, fecham-se as as portas de livraria em Notting Hill

rua do bairro Notting Hill, cenário do filme


Para assistir ao vídeo no local sobre os artistas que tentam ajudar a livraria:

http://veja.abril.com.br/multimidia/video/livraria-cenario-de-filme-ameaca-fe

A livraria de viagens que inspirou a popular comédia romântica “Notting Hill” vai fechar depois de 32 anos, apesar de se ter transformado numa verdadeira atração turística da capital britânica.

“The Travel Bookshop”, uma instituição do pitoresco bairro de Notting Hill, deixará daqui a duas semanas de vender biografias de intrépidos exploradores, livros de viagens e guias dos cinco continentes, indicou um responsável da livraria, citado pela agência Efe.

A colorida loja tornou-se um lugar de peregrinação para os milhares de fãs do filme, que obteve sucesso em 1999 nas bilheteira de todo o mundo.

A comédia romântica conta a história de amor entre uma famosa atriz norte americana, interpretada pela igualmente famosa Julia Roberts, e o livreiro londrino William Thacker, ao qual o ator britânico Hugh Grant deu vida.

Apesar de no filme não aparecer realmente a livraria que agora fecha as portas, “The Travel Bookshop” serviu de inspiração para os seus argumentistas, o que rapidamente a transformou num dos lugares incontornáveis para os turistas que visitam o bairro londrino de Notting Hill.

O filme tornou também mundialmente famoso o multicultural e carismático bairro da capital britânica cujo nome adotou, fazendo disparar o preço das rendas das casas, sobretudo devido à “febre” que gerou entre os norte americanos que se mudaram para Londres.

Embora dezenas de pequenas livrarias locais se tenham visto obrigadas a encerrar em todo o Reino Unido por causa da concorrência das grandes cadeias e das vendas pela internet, esse não parece ter sido o motivo que forçou à venda do emblemático estabelecimento.

O seu proprietário desde há 25 anos reside em França e decidiu desfazer-se de “The Travel Bookshop” porque o seu único filho não quer encarregar-se do negócio.


Fonte: Folha.com agência EFE

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Tributo ao Mário Gomes: "Comendo Lagartas e Defecando Borboletas", de Raymundo Netto para O POVO (8 de maio de 2009)

foto: Raymundo Netto


Tumulto na rua. O camburão da polícia chegava em frente ao Palacete Ceará à praça do Ferreira. Assalto? sequestro? Não, prenderam “O” poeta. Quem? Ora, quem... o Mário Gomes, sabe, não?

Era isso mesmo. Mário Gomes, aquele que conseguiu se estabelecer como poeta, mesmo por quem não conhece ou lembra um único verso seu — ao contrário de outros que lançam livros e livros, recebem títulos e medalhas, cobertura da alta imprensa e ninguém admite a honraria —, o tipo popular-mor da nossa blond cidade, estava sendo preso. Motivo? Baixara as calças para alguém que caçoara de seus trejeitos, de suas vestes, de sua existência. Ele reagiu, a polícia chegou para pôr ordem e recolheu o “poeta das sarjetas” no pára-choque do camburão. Uma multidão de populares o acompanhou. Alguém se dirigiu ao oficial e, como se existisse tal licença (imunidade?) poética, perguntou: “Ele é o Mário Gomes, o poeta, o senhor não o conhece?” Uma senhora chora, outra resmunga: “Deviam prender é bandido!” O povo se revolta, discute, os policiais pareciam nervosos. O Mário, coitado, vestido como um Judas em Sábado de Aleluia, bodejava alguma coisa incompreensível, sei lá o quê, balançava as mãos e fazia caretas, tal qual um menino malino, “um enigma das letras, um amante das estrelas”. A barba malfeita perseguia os cabelos ralos, o nariz torto separava indiferentes olhos verdes a balançar os inchados tornozelos.

Aproximei-me e perguntei o que acontecera. “Eu só queria lançar o meu livro (refere-se à biografia) de novo”, retirou do bolso Mário Gomes: poeta, santo e bandido do Márcio Catunda, abriu e leu:

— O meu legado, deixo ao querido povo cearense! — daí, treme, lacrimejam os olhos, não gosta que o vejam assim, dá-me as costas, passa um lenço na vista, volta-se quase que esfregando o livro nas minhas ventas e repete: — O meu legado deixo à porra do povo cearense! — assisto à indignação, melancólico. Compreendo perfeitamente.

— Pagamento de poeta, Raymundo, é tapa e pontapés! Só isso, fazer poesia aqui é isso...

Um rapaz ao lado me disse que ele comprara quase todos os exemplares de Sábado: estação de viver do Juarez Leitão apenas para mostrar a sua foto aos passantes da praça e provar a todos que ele não era qualquer um, não.

Tupy, um cachorro velho, chegou apreensivo. Mário sorriu:

— Dentre amigos encontrei cachorros; dentre cachorros encontrei amigos. Desculpe, amiguinho, aderi à Fome Zero, tenho nada. — lamentou, retirando dos bolsos do paletó pedaços de guardanapos, retalhos de versos.

Recordei que há poucas semanas havia encontrado o poeta na praça. Estava mais mungangoso que o normal. Paguei-lhe um pacote de biscoitos. Perguntou-me se eu tinha mesmo quarenta anos, pois lera o meu livro — em certa ocasião o presenteei com um exemplar — e estava certo de que, apesar da aparência, eu tinha pelo menos uns oitenta.

— Raymundo, você escreveu um livro muito bom... é um grande literato que fala das calçadas velhas... das calças das velhas... Ah, as calças das velhas estão cheias de moscas! — riu.

— “Cadeiras na calçada”, Mário. Deixe de invenção!

— Já tem uns quinze anos que a gente não se vê, não é?

— Que é isso, Mário, a gente se viu no ano passado, aniversário da Padaria Espiritual, aqui mesmo na praça, lembra?

— Padaria Espiritual? Padaria Espiritual? Não, acho que não... Eu nunca fiz parte da Padaria, eu sou do Clube dos Poetas Cearenses.

Perguntei pela “Turma do Escritório” e ele lamentou o abandono de alguns:

— Tem um poetinha de araque, um retardado, que vez ou outra vem falar comigo. Diz que é meu discípulo. O carinha quer ser eu, sem ter a coragem de ser eu. Queria ver se ele aguentava viver na minha pele um dia. Aguenta não, é frouxo! Aguentar as pauladas que eu aguento, só sendo Mário Gomes. “Subi num pé de cana pra colher uvas. Chegou o homem das laranjas e disse, solta as goiabas, rapaz!”

Súbito, sua face se transformou, correu e jogou o pacote de biscoitos num moleque que lascara uma salva de palavrórios inapropriados:

— Se manque, eu sou Mário Gomes, você é um otário! — voltando, anunciou:

— Depois eu morro, viro nome de praça ou de rua e o povo vai falar de mim, sem lembrar que eu vivia assim, que nem as calçadas velhas do seu livro...

Despertei da lembrança quando o policial disse para não se preocupar. Iriam soltá-lo na esquina do próximo quarteirão.

Olhei para ele. Apesar do estado debilitado, ainda discursa com o vigor de um anarquista. O povo cearense, naquele momento, o reconhecia e sabia que muitos de nós passaremos, mas ele deverá ser lembrado por mais cinqüenta ou cem anos. Mesmo ali, com toda desenvoltura, gritava em seu “trono” improvisado: "A maioria esmagadora da cidade me conhece... sabe quem é Mario Gomes! (...) muitos dos que se dizem artistas, antes me procuravam e hoje fingem que não me vêem... A verdade da vida é compreender a loucura do outro!"

Olhei mais de perto e percebi que havia outros presos no camburão: Tostão, Chagas dos Carneiros, Casaca de Urubu, José Levi, Tertuliano, Canoa Doida, Pilombeta, De Rancho, Manezinho do Bispo, Burra Preta e tantos outros. Então, tive a certeza de que o Mário não tinha sido preso, e sim, escolhido para viver a imortalidade que só os doidos alcançam.

O relógio da Coluna da Hora gemeu a breve passagem de seu tempo. 283 anos de Fortaleza e eles ainda estão no meio de nós...


Mário Ferreira Gomes nasceu em Fortaleza em julho de 1947. Antes de assumir-se poeta e boêmio convicto, foi professor do antigo curso de Admissão ao Ginásio, na escola Albaniza Sarazate. Iniciou, sem concluir, o curso de Arte Dramática na Universidade Federal do Ceará. No final da década de 1960 fez parte do Clube dos Poetas Cearenses, agremiação dirigida pelo Carneiro Portela que se reunia na Casa de Juvenal Galeno.

Foi internado diversas vezes e conta suas mirabolantes fugas dos tratamentos com choque elétrico. Tem diversos livros publicados, dentre eles: Lamentos do Ego, Emoção Poética, Terno de Poesia (com Alcides Pinto e Márcio Catunda) e Uma Violenta Orgia Universal (antologia).


Raymundo Netto, um sujeito provavelmente inculto que acha muito difícil fazer poesia e insiste em afirmar que conta nos dedos da mão os poetas cearenses que podem se chamar poetas e que reconhece o Mário Gomes como patrimônio imaterial da cidade de Fortaleza. Contatos: raymundo.netto@uol.com.br

terça-feira, 23 de agosto de 2011

"Quando o Amor é de Graça V: Luar de Luana", crônica de Raymundo Netto para O POVO (24.8)


Luana Rachel. A Lua. A de “brinco ouro”, como se distinguia da irmã de abrigo natal, a “de pérola”, por encontramento recente, olhando-nos ainda de estranhos: pais e filhas.

Das duas, a mais simpática. A menor, cujo maior sorriso. Ao traçá-lo banguela, apertava os olhos, mas noutro caso, trazia-os descortinados para o mundo.

Cedo, cedo, convivemos muito próximos, ela por sobre mim, cabeça encoberta em meu pescoço. Era à noite; era ao dia. Quantas vimos o Sol nascer ao balançar lento à cadeira de palhinha. De então, pomos à estreita amizade enamorados a uma ternura gratuita.

Já de pequena, a Lua gostava o desenho — mania de criança expressar-se a toda forma — sem pressa, com detalhes, mundos fantásticos, sempre estrelados, com seres de corpos finíssimos a sustentar uns cabeções, em cabriolas de cores impossíveis — mau hábito de adulto estragar-lhes um céu de ser azul e grama há de sempre verde, num realismo monótono decepcionante.

Já criadas pernas, inda sem cabelos — durante muito tempo só fiapinhos laçados por preciosismo de coração materno —, Lua e Lia me davam as mãos a passeios vesperais. Alumbrava-me a descoberta do “dar de mãos” dos filhos. Engraçado sentir num gesto tão trivial, a entrega absoluta incondicional, algo de nos dar de um todo em confiança e amor, podendo de ali ser levados a qualquer lugar e a tempo, pois que quando um filho nos dá a mão ele se dá por completude, no que confia de vero, na mais autêntica sinceridade.

"Criança não mente", isso, sim, uma mentira. Criança emprega da mentira, e é da dificuldade de pais fazer com que não precisem usar-se dela a costume. Dela o mundo sobeja e se farta.

À criança não se subestima, não se diminui, não se cobra de adulto, não se ensina a ser super, muito menos a faz espelho de corrigir passados e malfeitos. À criança todas as liberdades de ver o mundo, de recriá-lo, de acolhê-lo em significados particulares de nova aurora, mas a saber-se nunca só, pois na solidão o ser padece.

A Lua sempre de vez gostava surpreender com tiradas de espírito sobre assuntos comuns. Curtia-me percebê-la tão menina a maquinar o pensamento em busca de chamar-nos atenção e, exitosa, gargalhar de criança e repetir-se noutro dia, e noutro, para não mais esquecêssemos seu feito extraordinário.

Escritor, há quem credite, é gente que trabalha ao tempo-vai, mas que ninguém entende. É na beira da praia, enxerido à conversa de ambulante, no ônibus pela cena engraçada de um esquisito trocando falas, na leitura derreada de livro cheio de ideias no sofá, assistindo à película de cinema, enfim. Para minhas crianças, mas como todos, só vêem que o pai-escritor está em casa, ali, sentado o tempo inteiro — "será que papai é paraplégico?" — e , em meio àquela cena sofrida escrita a suor, momento particular tenso e intenso, me chega Luana, desencucada da vida, e rebola à frente, um desenho a lápis da boca de forno:

— Pai, olha... sabe o que é isso?

Olhando o rascunho de contorno grafite, de ligeiro, para não perder a brasa da forja: "Filha, é um cavalo. Que bonito, meu amor..."

— Ô, Pai... olha direito, não é um cavalo...

Lanço novo olhar, ainda de pressa ao início de nervoso: "Filha, me desculpe, mas isso é um cavalo, sim!"

— Papai — ressentindo-se a tão adulta ignorância. —, é uma zebra...

Paro, então. Respiro fundo de sem jeito. Coloco o desenho no colo. Miro aquele projetinho de artista sério em olhos amendoados e brilhantes, e ainda assim, desconfiando-me, sentencio:

— Luazinha, isso é um cavalo... As zebras têm listras!

— Mas pai, ela tem listras... só que são brancas!


Raymundo Netto. Contato: raymundo.netto@uol.com.br

Blogue AlmanaCULTURA: http://raymundo-netto.blogspot.com

" A Noite dos Manequins", premiado livro de contos de Eugênio Leandro (Como adquirir)

A Noite dos Manequins, de Eugênio Leandro, ganhador do Prêmio Moreira Campos de CONTOS, Prêmio Literário para Autor (a) Cearense, da SECULT

— incluindo o premiado conto “Águas de Romanza” —


Sobre a Obra:A Noite dos Manequins é maravilhoso, pela loucura dos mendigos, pela descrição do ambiente, pela narração de pequenos momentos da vida dos personagens. Localizado no centro de Fortaleza (os outros contos são passados em pequenas cidades ou sítios do sertão), este tem um ar mais misterioso. E o epílogo? Tão saboroso quanto o princípio e o meio da narrativa. A Pequena é lindíssimo. Talvez o melhor do volume. Pela grandeza dessa protagonista tão miúda no tamanho. Ou pela beleza da narração, de uma profundeza de poço sem fim. Contita é outra peça maiúscula. A descrição é perfeita. O drama da sexualidade infantil contado por um menino. Águas de Romanza: a história escoa como água de riacho, calmamente. E assim vai até o desfecho, sem causar no leitor estremecimento de pavor (como nas tragédias), porém de prazer.”

Nilto Maciel


Investimento cultural: R$ 25,00

Para adquirir:

-Via depósito em conta –


Banco do Brasil - agência: 3653-6/ Conta: 25 594-7

Caixa Econômica - agência: 1956/ Conta: 27.803-6

Itaú - agência: 1646/ Conta: 22.499-6


Após depósito, envie e-mail para o endereço eletrônico


e.leandro@yahoo.com.br


com o seu endereço postal completo (com CEP) e anexe o comprovante de depósito.


Qualquer dúvida ou informação, pelo endereço de e-mail acima.


sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Onde encontrar livros em Fortaleza. Dicas de O POVO

Seu Geraldo, do sebo da 24 de Maio (foto: O POVO)



TABLETS ou LIVROS?

Em tempos de escolas estimulando, cada vez mais, os alunos a substituírem seus livros por tablets, uma pesquisa da Associação Nacional de Livrarias (ANL) mostra que o brasileiro vai na contramão. Em 2010, o crescimento do setor editorial no Brasil foi de 8,12% em relação ao ano anterior e, no mesmo período, o número de exemplares vendidos cresceu 8,3%, considerando apenas as vendas ao mercado de varejo. Um dos motivos para o aumento no número de leitores no País é a queda do preço médio do livro, que foi de 4,37%. Mas não é só isso.


As livrarias também têm investido muito para atrair mais e mais clientes. Seja leitor assíduo ou apenas um curioso que gosta de desvendar novos prazeres, as atrações nas livrarias têm ido muito além da diversificação dos acervos. Um café dentro da loja já virou clichê e oferecer uma programação cultural gratuita todos os dias agora é o novo ímã para chamar os leitores.


O Buchicho Guia desta semana foi a algumas das principais livrarias e sebos de Fortaleza e constatou: mais que local para comprar livros, elas viraram verdadeiros points para muita gente que aprendeu a frequentar livrarias pelo puro prazer de passear entre culturas, mesmo que, na maioria das vezes, não saia delas com a sacola cheia.


Quem Procura, Acha... (SEBO)


Os livros entraram na vida de Seu Geraldo muito mais por necessidade que por amor. Há 45 anos, ele começou a vender livros usados no chão do centro de Fortaleza e, aos poucos, foi se apegando à profissão de livreiro. Vendia uns aqui, comprava outros ali, mudava de endereço para ter mais espaço para seus livros. Com o tempo, o acervo foi aumentando, aumentando, até chegar aos atuais quase 100 mil títulos que compõem o sebo “O Geraldo”, instalado na rua 24 de maio.


Quem vê de fora, não dá muita coisa. A casa simples parece apenas guardar alguns livros velhos, mas um passeio por entre as intermináveis estantes do lugar dão a certeza de que a casinha no Centro da cidade guarda um verdadeiro tesouro. São pelo menos cinco salas destinadas a empilhar livros. Obras raras no mercado dividem espaço com títulos semi-novos e se misturam aos clássicos das muitas áreas abrangidas pelo acervo do sebo.


Uma sala nos fundos da casa se destina apenas aos autores cearenses. Outra, aos livros técnicos. A da frente, aos clássicos da literatura brasileira e a lá de trás, à literatura estrangeira na língua original. Seu Geraldo mesmo não sabe muito onde está cada coisa, mas ele conta a com a memória gigabyte da cunhada Estela, que atende a clientela numa simpatia só.


Não é difícil sair dali com a sacola cheia. Logo na entrada dá para ver a promoção de livros: R$ 2 a unidade. Levando uns 30, fica melhor ainda: R$ 1 cada um. É o mais barato. Já o maior investimento é nos dois volumes do Sobotta, uma coleção de assuntos médicos, que saem a R$ 300 os dois. Isso tudo ainda pode ser comprado no cartão. De quebra, você leva pra casa um bom papo com Seu Geraldo.


SERVIÇO

SEBO O GERALDO. Aberto das 7 às 17h (sábado até 13h/ fecha domingo) Endereço: rua 24 Maio, 950 – Centro. Fone: 3226 2557.


Cantinhos Acadêmicos


Com o Campus de Humanidades e a reitoria da Universidade Federal do Ceará instalados bem no meio no Benfica, o bairro parece respirar cultura. Foi bem no meio desse turbilhão de ideias que duas das principais livrarias voltadas para o público acadêmico, Lua Nova e Arte e Ciência, se instalaram e cultivaram uma clientela cativa.


No mercado editorial há mais de 20 anos, a Arte e Ciência, quase em frente à Reitoria, tem o diferencial de reunir em um só lugar a venda de livros novos e usados. Influenciada pelos ares universitários da vizinhança, ela tem como foco principal as áreas das ciências humanas e das exatas, mas isso não quer dizer que outros assuntos não tenham vez por ali.


No térreo, ficam as novidades. Já no andar de cima, está o sebo, onde você encontra toda a sorte de livros usados, mas em ótimo estado de conservação. São quase 30 mil títulos que já passaram pelas mãos de leitores e estão novamente nas prateleiras. No local, há também a venda de DVDs, principalmente de filmes antigos e raros, de gêneros e idiomas variados.


Em frente ao Shopping Benfica está a Lua Nova. Criada há 11 anos, a partir de uma necessidade das proprietárias em ter mais material de pesquisa na área de Humanas em Fortaleza. Hoje, todo o seu acervo é voltado para a área. A livraria foi uma das primeiras a trazer para suas prateleiras materiais de editoras universitárias. Para quem procura títulos sobre sociologia, filosofia, linguística, literatura, comunicação e afins, esse é o endereço certo.


Uma das vantagens de comprar ali é que você será atendido pela proprietária, Elisa, formada em Letras e conhecedora de cada livro colocado na estante. Outro ponto relevante é que o cliente tem a possibilidade de fazer encomendas de obras que não sejam vendidas no local. O charme do lugar é complementado pelo Café Vitrola (no 1º andar), uma espécie de filial do Café Santa Clara instalado no Dragão do Mar, que oferece as mesmas delícias encontradas por lá.


SERVIÇO

LIVRARIA LUA NOVA. Aberta das 9h às 21h (sáb. fecha domingo). Endereço: rua Treze de Maio, 2861./


ARTE E CIÊNCIA.

Aberta das 8h às 18h (sáb. até 13h/ fecha dom). Endereço: av. 13 de Maio, 2400 – Benfica. Fone: 3214 5223.


Um Mundo de Saber


O assunto nas rodas de conversa dos leitores mais assíduos era só esse. E quando ela, finalmente, abriu as portas para o público cearense, em junho de 2010, dar uma passadinha para conhecer a Cultura era quase uma obrigação. A variedade de itens (são mais de 100 mil disponíveis em loja para o cliente!), a realização quase diária de eventos, um espaço destinado aos pequenos leitores e um café superaconchegante são algumas das razões para a livraria estar sempre movimentada.


Presente em sete Estados brasileiros, a Cultura é hoje uma das maiores livrarias do País. Ao todo, ela soma mais de 3,7 milhões de títulos editoriais de todas as áreas e gêneros, além de trabalhar também com produtos como CDs, DVDs, Blu-rays, games, áudio e eBooks. Se o que você procura não está nas prateleiras, a livraria possui um sistema de encomenda bastante elogiado pela agilidade. É só fazer o pedido e se tiver em alguma outra livraria da rede, ele chega ao cliente sem frete. Isso sem contar as encomendas que podem ser feitas pelo site (esse com frete).


Outro fator que diferencia a Cultura das demais livrarias é a programação cultural oferecida gratuitamente ao público. Com um auditório com capacidade para 98 pessoas, o local é palco de pocket shows, peças, palestras, lançamento de livros e contações de histórias. O espaço destinado à criançada, logo na entrada na loja, também recebe programação infantil e funciona como um ímã de pequenos leitores aos finais de semana. Neste sábado, por exemplo, a casa apresenta “Era uma vez em inglês”, com a leitura das histórias Dentist Trip e Little White Rabbit, a partir das 16 horas.


Para quem ainda preza pelo silêncio e tranquilidade quando se está no mundo dos livros, a Cultura oferece ao fundo da loja o “Café 3 Corações”, onde o cliente pode pegar seu livrinho para folhear enquanto desfruta de um cardápio cheio de opções. Elas vão dos cafés expressos aos drinks a base de café, passando ainda pelos shakes, vinhos e bebidas destiladas. Os salgados, waffles, crepes, sanduíches e tapiocas completam o cardápio. O tempo que esse lanche dura é a sua fome de leitura que diz.


SERVIÇO

LIVRARIA CULTURA. Aberta de segunda a sábado, das 10h às 22h, e domingos e feriados, das 15h às 21h. Endereço: av. Dom Luís, 1010 – Meireles (Shopping Varanda Mall). Fone: 4008 0800. www.livrariacultura.com.br.


Oásis da Cultura


No meio do vai e vem do consumo no Iguatemi, leitores concentrados mergulham nos livros da Saraiva MegaStore. O bancário aposentado Airton Aguiar, pelo menos, vai lá todo dia ler o seu. “Se quiser me dar um tiro, é só vir aqui, entre quatro e cinco da tarde”, brinca. Morador da Cidade dos Funcionários, ele se desloca até o shopping só para desfrutar de uma das conveniências que a livraria oferece aos seus clientes: sentar-se em seus sofás e folhear quantos livros quiser.


Com os títulos divididos por assuntos, a livraria tem como um de seus pontos mais fortes o setor jurídico, onde, inclusive, você conta a ajuda de vendedores que são estudantes de Direito e especializados no assunto. O acervo da área é imenso e um destino obrigatório para o concurseiros. Aliás, é uma visita indispensável para qualquer pessoa que se divirta passeando em um mundaréu de livros das mais diferentes origens, gêneros e línguas.


Isso inclui os pequenos, que têm um espaço reservado só para eles. Ana Elisa, de seis anos, estava pela primeira vez na Saraiva e mergulhada em livros e DVDs infantis, não sabia nem dizer o que mais chamava sua atenção. “Eu gostei de tudo”, disse ela, juntando aos poucos as sílabas do livro sobre bichos estranhos. Enquanto eles descobrem o mundo da leitura, ao lado, os pais podem escolher com calma o que vão levar, acompanhado de um cafezinho ou um drink a base de café do “Dona Xícara”.


Já para os mais musicais ou tecnológicos, o andar de cima é reservado para a venda de DVDs musicais e de filmes, CDs, blu-rays e games. E caso o produto que você queira não esteja disponível, vale apelar para a velha encomenda sem pagar pelo frete cobrado nos sites e esperar, em média, três dias para tê-la em mãos (isso vale também para os livros). No mesmo andar, a livraria oferece uma programação cultural que é realizada no Espaço Rachel de Queiroz, a qual você pode conferir no site http://www.saraivaconteudo.com.br.


SERVIÇO

SARAIVA MEGASTORE. Aberta diariamente, das 10h às 22h (domingo, das 14h30 às 20h30). Endereço: av. Washington Soares, 85 - Água Fria (Iguatemi, ao lado da Centauro). Fone: 3241 1986.


Fonte: Buchicho do jornal O POVO