quarta-feira, 9 de novembro de 2011

"Contra o Suicídio", Tércia Montenegro para O POVO



A imprensa não costuma noticiar mortes por suicídio. Tal aspecto, por um lado, é sinal de respeito para com a família enlutada, que certamente não precisa de holofotes midiáticos sobre si, naquele momento. Por outro lado, o silêncio é também uma medida de preservação da vida, se pensamos que certos imitadores podem achar que se matar virou uma espécie de moda, propagada pelos veículos de comunicação. Afinal, dizem que depois que Werther (personagem de Goethe) deu cabo da própria existência, houve uma imensa adesão de fãs, buscando copiar aquele destino trágico... Há ainda o fato de que o suicídio permanece sendo um tabu, no sentido religioso e em vários outros aspectos. Silenciar, então, parece uma boa saída para não criar polêmicas ou problemas. 
 
Quando acontece, porém, de uma pessoa famosa se matar, não se pode evitar a notícia – embora ela deva ser transmitida com cautela. Um “disfarce da situação” seria desastroso e, a longo prazo, uma falsidade histórica. Foi pensando assim que, outro dia, estava com o amigo Urik Paiva (que é especialmente imaginativo) desenvolvendo esse tipo de suposição. Imaginamos que se instalava no mundo uma paranoia do termo “suicídio”. Isso chegava a tal ponto que as divulgações dos óbitos passariam a ser distorcidas, com elementos fantasiosos para negar os gestos voluntários. Assim, por exemplo, a poetisa Ana Cristina César, que se jogou de um edifício da década de 80, poderia ser computada como uma vítima de acidente com bungee jumping. Sylvia Plath, escritora que abriu o forno e pôs a cabeça lá dentro, na verdade teria escorregado em batatinhas enquanto cozinhava e – plath! – caiu no chão, fraturando o crânio.

Nessa linha de raciocínio, o afogamento de Virginia Woolf também surgiria como uma fatalidade. Diriam que a romancista inclusive era exímia nadadora e costumava atravessar metros do rio Ouse todas as tardes – infelizmente, naquele 28 de março um polvo gigantesco surgiu e laçou as pernas da escritora, arrastando-a para as profundezas da água.
O autor japonês Mishima tampouco teria cometido haraquiri, mas sua morte foi resultado de uma brincadeira desastrosa, com a faca usada para limpar o peixe. E Hemingway jamais atirou contra si mesmo; ao contrário, foi alvejado por um colega caçador (que não estava tão camuflado quanto ele), num safári.

A lista de hipóteses cresce para além dos literatos, e de repente nos damos conta da enorme quantidade de suicidas famosos. O espaço para este texto chega ao fim, mas a imaginação, claro, nunca acaba. Nosso exercício de censura ao suicídio passa pelo riso porque divertir-se talvez seja a melhor maneira de sentir-se vivo.

Um comentário:

  1. A falta de consciencia sobre uma doença chamada depressão,(conheciada como o cançer da alma)é enorme.Acredito que o suicídio não decorre do fato deste não saber se divertir e/ou do desconhecimento da essencia da alegria,do riso...Mas,de querer com tamanha intensidade a alegria ,e no entanto não sentir prazer em nada.O suicída chega em um estado,em que já não consegue mais ter forças para viver.Sua alma se acostuma com a dor.Este sabe, e reconhce sua existencia , por conta disso; comete o suicído.
    O que devemos fazer diante disso?Descriminar os suicídas?Dizer palavrinhas bonitas e moralisantes?Dizer apenas:-Não cometa suicídio,procure se divertir!Meus caros, a dor de quem comente ou pensa em suicídio é absurda!!!Procurar informações acerca dessa doença ( tão grave quanto o cancer),é sim a maneira mais coerênte de conscientização e ajuda ao próximo,ou então não falemos do que não sabemos.

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