As Vitrines
(Chico Buarque)
Eu te vejo sair por aí...
Te avisei que a cidade era um vão
— Dá tua mão.
— Olha pra mim.
— Não faz assim.
— Não vai lá, não.
Os letreiros a te colorir
Embaraçam a minha visão.
Eu te vi suspirar de aflição
E sair da sessão, frouxa de rir.
Já te vejo brincando, gostando de ser
Tua sombra a se multiplicar.
Nos teus olhos também posso ver
As vitrines te vendo passar.
Na galeria, cada clarão
É como um dia, depois de outro dia,
Abrindo um salão,
Passas em exposição
Passas sem ver teu vigia
Catando a poesia
Que entornas no chão.
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