sábado, 24 de abril de 2010

"Sobre Livros e Leitura", de João Soares Neto


Participei, nesta semana do livro, de debate na TV Fortaleza. Agradeci a Arnaldo Santos, coordenador, pelo oportuno convite. Falei a Auto Filho, Secretário da Cultura do Ceará, da alegria pela participação efetiva e bem recebida da Academia Fortalezense de Letras na 9ª. Bienal Internacional do Livro.
Arnaldo criticou a ausência de políticos na Bienal. Ao meu lado esquerdo, estava a jornalista Adísia Sá, mestra e escritora. Ela é mulher casada com o livro de papel. Argumentei que o livro foi e é o caminho usado por nós, os debatedores, para aprender, procurar entender os fatos do mundo, aguçar o pensamento e transformá-lo em conhecimento, depois de depurado.
Lamentei que só 7,0% da população brasileira adquire livros não didáticos. Constatei, por pesquisa do Ibope, que crianças entre 4 a 11 anos passam 5 horas por dia defronte a um aparelho de televisão.
Segundo o mesmo IBOPE, 60 milhões de pessoas (adultos e crianças) passam igual número de horas diárias frente às tvs vendo novelas, programas policiais, fofocas, esportes, notícias plantadas e apresentadores apelativos.
Relatei, com base em pesquisa nacional de 2009, feita pela Ipsos Public Affair, que mesmo as pessoas que dizem ter algum tipo de atividade cultural, - seja ir ao cinema, teatro, ler, comparecer a shows, dançar em festas e ver exposições de arte - apontam uma baixíssima média anual. Leem 5,1 livros, assistem a 4,1 filmes, vão a 3,8 shows, participam de 3,5 eventos de dança e só vêem 2,1 exposições de arte. Por ano, lembrem.
Argumentei, citando o crítico literário José Paulo Paes que lutava, entre outras coisas, pela facilitação da leitura e escreveu o ensaio “Por uma literatura de entretenimento (ou: o mordomo não é o único culpado)”, no livro “A aventura literária”. Segundo Paes, os escritores brasileiros precisariam ser menos canônicos e não apelar tanto para o regionalismo. Ler deve ser um prazer para quem está iniciando e não punição ou tortura.
Ainda, segundo Paes, muitos escritores manteriam discussões linguísticas e acadêmicas e se descuidariam do público leitor. Viveriam em atritos, igrejinhas e se bastariam em suas questões recíprocas. Todos sabem que é preciso ter gosto de leitura apurado para ler, por exemplo, Machado de Assis, Guimarães Rosa e Clarice Lispector. Mas, nada impede que se comece com escritores de linguagem mais simples.
Acreditava ele haver preconceito contra a crônica, o romance policial, a ficção científica e o sobrenatural. Constatamos que todos devem procurar gostar de ler, desde cedo. Um bom leitor não tem solidão. Ele tem o livro como companhia, sempre.
Sabemos que o mercado editorial já descobriu que livros de leitura mais acessível são fáceis de vender. Mas, é um absurdo que o livro “A Cabana” esteja há meses na lista dos mais vendidos no Brasil. Auto Filho afirmou que o brasileiro passou do estágio da oralidade para a cultura do áudio-visual sem parar no livro. Isto é, passou das histórias de Trancoso, assombrações ou de ninar para as novelas.
Adísia Sá reclamou que não se lê e referiu que até professores universitários, inclusive doutores, quase nada leem. Pareceu claro para nós que alunos da 4ª. série do ensino fundamental não conseguem desenvolver competências básicas de leitura. Informei que o Brasil tem apenas 2.500 livrarias, quando, segundo especialistas, seriam necessárias 10.000.
Disse ainda que 89% dos municípios brasileiros não têm uma única livraria. As pequenas livrarias estão definhando com o surgimento de mega-stores que focam na auto-ajuda e em livros ditos profissionais.
Entretanto, paradoxalmente, o Brasil é o oitavo maior produtor de livros do mundo, com 2.000 editoras, mais de 12.000 títulos e 300 milhões de exemplares por ano. Desse total, 93% são livros didáticos, a maioria pagos pelos governos e, somente 7.0% são de outros gêneros. Por outro lado, é preciso saber que a leitura digital já vai atingir neste 2010 o total de 10% do mercado de livros nos Estados Unidos. Certamente, haverá um impacto nos livros didáticos, com a possibilidade de consulta de mapas e fazer pesquisas em salas de aulas equipadas com computadores ligados à internet.
A distinção entre livro físico e livro digital já deve ser considerada. Estes serão, inicialmente, para um público específico, mas os e-books vieram para ficar. O Kindle, o Sony-reader e o I-pad podem ser popularizados e transportados para os computadores de bibliotecas públicas e escolas. Ler é viver.

(publicado no Jornal O Estado, em 23.04.2010)

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