segunda-feira, 12 de abril de 2010

"A hora e a vez dos independentes", Pedro Rocha para O POVO

Nicolas Behr

O primeiro fim de semana da Bienal Internacional do Livro do Ceará recebeu um bom público para visitar os stands de livros que tomam três pavilhões do Centro de Convenções e assistir palestras com nomes como os poetas Thiago de Mello e Nicolas Behr, além do antropólogo Eduardo Viveiros de Castro.


O primeiro, em sua segunda participação no evento, lançou livro no Café Literário, ao passo que o brasiliense ministrou palestra com o tema Toda poesia é marginal?. O ponto alto do terceiro dia foi a fala do antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, que participou da mesa Integração Cultural, como parte do seminário Cultura, Democracia e Socialismo na América Latina e Caribe. Professor do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Viveiros de Castro questionou o atual corrente discurso sobre o protagonismo do Brasil novo cenário da política internacional e, mais especificamente, na América Latina: "O que eu posso falar sobre integração cultural a não ser dizer que concordo com ela", brincou, logo no início de sua fala para depois questionar a forma mais normal de integração do país na região: "O Brasil tem vocação imperialista", disse ao constatar o papel fundamental da Petrobras nessa chamada "integração".


O espaço reservado às editoras e escritores independentes no Pavilhão G reúne literaturas de diferentes estilos, que vão da iluminação cristã à escuridão fantasmagórica, passando pela poesia cearense e a Academia Feminina de Letras do Ceará.


Diversidade: A missionária Emanuelle Cardoso, 24 anos, passou o dia oferecendo os produtos da "família internacional", Aurora Produções. Entre DVDs e CDs com a temática religiosa, o maior destaque foi para o calendário Segredos para o sucesso com mensagens para cada dia do ano. A frase de ontem: "Uma vida sem dificuldades produziria pessoas fracas e inexperientes. Se não houvesse verdadeiros desafios, as pessoas não valorizariam o sucesso". É o caso o técnico em processamento de dados e escritor, Rochett Tavares, 34 anos, está lançando Criaturas em um pequeno stand na área reservada para editoras e autores independentes, localizada no Pavilhão G. Aos 12 anos, disse para a mãe que não iria fazer a tarefa de casa, uma redação. A sábia mãe pôs uma jarra de leite, bebida odiada pelo garoto, e uma chinela do lado de Rochett. "A cada não que eu dizia, era uma chinelada e um copo de leite. Não passei do terceiro. Hoje sou escritor", lembra. O livro de "horror fantástico", como faz questão de especificar, reúne oito contos com temáticas que passam por seres conhecidos da mitologia do gênero: "Aqui não tem vampiro que briga no sol e lobisomem fofinho", afirma. Liberado do trabalho para estar presente aos 10 dias do evento literário, Rochett já havia vendido 10 livros até o começo da tarde de ontem, numa prova de que sua teoria do conto está atraindo leitores: "O conto funciona como a programação da TV, se você não ta gostando passa pra outro". Em meio a citações de Edgar Allan Poe, HP Lovecraft e às mitologias egípcia, grega e judaico-cristã, a escuridão surge como o grande motivador de sua literatura: "Quando você olha pra escuridão, você sente que alguém está lhe observando".

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