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Não sou escritor por querer. Fui feito assim, desse jeito, como há abestados desse mesmo feitio: músicos, pintores, dançarinos, atores. Deus me quis escritor. Eu bem poderia ter sido apenas um advogado, um funcionário público, um açougueiro.
(“Confissão Pública”, Nilto Maciel, em 7
de março de 2014)
Nilto Maciel é, certamente, um
dos mais fecundos, criativos e enigmáticos escritores que o Brasil já produziu.
Publicou 8 romances, 8 coletâneas de contos, 8 novelas (Vasto Abismo reúne
7), 1 seleção de poemas, 3 de crônicas, 2 de artigos, resenhas e notas
literárias e 2 de ensaios, além da colaboração em diversas revistas, jornais,
sites, blogues e antologias, inclusive no exterior, traduzidas para o espanhol,
italiano, francês e esperanto. E tanto mais faria se a vida não lhe fosse ainda
tão curta.
Beirando os 70 anos,
entusiasmava-se com a “nova fase”, descobria-se, explorava os recursos
tecnológicos sem abandonar o método analógico e até radical de viver a sua
literatura, coisa que fez incessantemente e quase em gritante silêncio – que o
digam os seus diários – durante uma carreira de cerca de 40 anos respirando,
urdindo e conduzindo palavras.
Embora não se tornasse um nome
midiático, teria prestígio e reconhecimento de autor nacional por escritores e
críticos dos mais diversos rincões brasileiros, o que pode ser constatado
em A Arquitetura Verbal de Nilto Maciel, fortuna crítica organizada
ao lado do amigo e poeta “risonho e carinhoso” João Carlos Taveira.
Em 2013, em meio a publicações
diversas, pediu a um amigo em comum, o também escritor Pedro Salgueiro, que me
sondasse para escrever a sua biografia. Como se adivinhasse, determinava-se a
registrar em publicações as suas memórias, seus artigos, sua produção
literária, o que pode ser facilmente comprovado pelo número e natureza das
obras publicadas – a maioria por conta própria – nos dois últimos anos de
existência física, principalmente em Menos Vivi do que Fiei Palavras (2012), Como
me Tornei Imortal (2013) e Quintal dos Dias (2013).
Não esquecendo as correções e alterações que faria em suas em suas primeiras
produções por meio da publicação de Contos Reunidos I e II.
Entretanto, não conseguindo
resposta, um dia, em uma de nossas conversas de sala, ao me oferecer
outra Coca-Cola, diretamente me perguntou se eu o faria, e propôs
“negócio”. Afinal, “ninguém conhecia a sua vida. Ninguém.” A seu modo,
respondi: “Nilto, não seria melhor esperar a sua obra completa?” Ele
desconversou, lançou alguma piada mordaz, de costume, acomodou-se em sua
cadeira de balanço – a perna esquerda fletida e abraçada pelas mãos entrançadas
–, coçou o nariz com o indicador nervoso e concluiu: “Pense nisso.” Meses mais
tarde, publicaria Quintal dos Dias, uma espécie de autobiografia,
como o Menos Vivi do que Fiei Palavras, na realidade, apenas
recortes dos cadernos que compunham o seu diário íntimo ou pessoal, um hábito
que cultivava desde a sua adolescência.
Desse modo, caros leitores,
amigos ou não de Nilto Maciel, vai-se assim esse perfil biográfico muito breve
e afetivo, revolvendo em especial as suas, mas também as minhas lembranças, na
tentativa de apresentá-los fielmente ao sedutor personagem do homem das letras,
longe de qualquer pretensão maior que não seja apenas a de provocar a quem se
perceba capacitado e competente ao estudo, pesquisa e publicação de sua obra,
campo vário, fértil e inexplorado.
Ao final, deixo uma trilha
cronológica biobibliográfica que o próprio autor – porque os espelhos sempre
nos distorcem ou enganam – teve dificuldade de traçar corretamente.
Que a literatura lhe seja justa e
o silêncio, breve.
O Autor
Tahyba,
2017.
Epa,Raymundo! Adorei, ó! Vou adquirir o meu.
ResponderExcluirMuito obrigada.
Grande abraço.
Legal, Lucineide. Divulgue para os amigos. Abração.
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