“O trabalho de
um escritor não é confirmar o que
as pessoas
pensam, é desafiá-las”.
Malcolm
Gladwell, jornalista e escritor contemporâneo.
Estive, por duas vezes, na Ásia. Visitei alguns países,
entre os quais a China. Entre uma viagem e outra mediou tempo. Por oportuno,
lembro que o professor William Gary Vause, fluente em mandarim e vice Dean da Stetson University, casado com a
minha irmã Célia, foi então convocado pelo governo dos EEUU para fazer parte do
que se convencionou chamar de “diplomacia pingue-pongue”. Célia e Vause
passaram dois longos períodos na China como precursores do processo de
intercâmbio entre estudantes e professores dos dois países.
Estudantes chineses foram cursar mestrado na América.
Alguns optaram por não voltar. Muitos voltaram e, certamente, ajudaram a formar
essa geração diferente de hoje.
Digo diferente, a partir dos postulados da Revolução
Cultural de Mao-Tse-Tung que, hoje, parece fazer parte da história ainda não
decifrada pelo pouco tempo de distanciamento crítico. Mao está eternizado em grande painel com
imensa foto na Praça da Paz Celestial. O resto mudou.
O pragmatismo da China parece ser embasado, em parte,
pelos conhecimentos adquiridos por diligentes empreendedores e jovens
acadêmicos que se espalharam mundo afora em busca de aprender o diferente, o
não sabido. Some-se a isso a carga das heranças, dos costumes e das tradições
milenares.
Desse entrechoque de cultura com o que viram e
aprenderam, eclodiram informações, sistemas comerciais, processos industriais e
tecnológicos avançados, ao mesmo tempo em que o país retomava o poder suave
sobre Hong Kong. Assim, a China possui hoje três dos maiores centros
financeiros do mundo: Pequim, Shangai e Hong Kong.
Agora, houve o primeiro encontro entre os governantes
chineses e os de Taiwan, a dissidência de 1949 que formou outro Estado, menor,
mas sempre crescente. Ademais, o governo chinês, aboliu de vez a “política do
filho único”, relaxada há tempo. Cada família poderá ter dois filhos e obter
direito à educação básica, assistência médica e benefícios, um arremedo de
bem-estar social.
Sabe-se que muitos chineses amealharam fortunas nos
últimos 50 anos. Alguns integram as famosas listas anuais que indicam, para a
vaidade de alguns e tristeza de outros, a relação dos bilionários do mundo. Um só exemplo: esta semana,
o chinês Liu Yiquian, que já foi taxista e ficou rico investindo em bolsas de
valores, comprou o quadro “Nu Chouché”, de
Modigliani, por 647 milhões de
reais, e se dá ao luxo de fundar museus.
O que não se sabia é que jovens famílias chinesas de
bom nível financeiro resolveram que seus novos filhos nasçam em países onde
fizeram cursos, mantêm negócios ou que os atraem pela diversidade cultural.
Assim é, por exemplo, que os Estados Unidos viraram porto de entrada de
milhares de chinesas grávidas – lembre-se que elas são magras e podem disfarçar
bem.
Na condição de turistas se quedam até o nascimento de
seus filhos, em bons hospitais, e os registram como cidadãos americanos. As
leis ianques permitem que essas crianças, aos 21 anos, possam optar pela
cidadania americana e obter o “green card” para familiares. Esse mesmo fenômeno
ocorre em outros países.
Por estas linhas arrevesadas é que ouso dizer que não
só os ensinamentos de Confúcio, Lao-Tse e Mao, agora misturados com o
pragmatismo das últimas gestões governamentais, somados ao aprendido em
Harvard, Yale, Oxford, Cambridge e em outras universidades e centros de
treinamentos em negócios, tornam, pelo menos, para mim, ainda difícil entender
a indecifrável e portentosa China.
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