sexta-feira, 30 de outubro de 2015

“Todos juntos somos fortes”, por Gabriela Erbetta e Gabriela Aguerre para Publishnews (15.9)

As Gabrielas autoras (divulgação)

Digital tem um grande terreno a conquistar no Brasil, mas tem alguém ensinando os leitores a usar tudo isso? 
A Editora Alpendre surgiu em agosto de 2013 como uma empreitada exclusivamente digital. Desde então, estamos caminhando devagar e com empenho, vendo muito potencial para os e-books no país e tratando os livros digitais com o mesmo cuidado e carinho com que sempre trabalhamos em outros meios e veículos. As possibilidades do mercado, como têm mostrado pesquisas e artigos, efetivamente existem: o acesso à tecnologia é cada vez maior, as crianças sabem cada vez mais usar aparelhos eletrônicos, só no Brasil temos mais de 150 milhões de smartphones e outros 20 e tantos milhões de tablets (sem falar em computadores pessoais), 32% dos consumidores leem mais de um livro ao mesmo tempo, outros 6% estão acostumados a ler em meios de transporte... É um terreno e tanto para o digital e, mesmo assim, talvez ninguém discorde de que já poderíamos ter crescido mais nessa seara.
E então nos ocorre uma pergunta básica: tem alguém ensinando os leitores a usar tudo isso? Tem alguém dizendo para as pessoas que, além do jogo X ou do aplicativo de paquera Y, é possível instalar no celular um app (grátis!) que permite a leitura? Muita, mas muita gente que conhecemos – gente acostumada a ler, bem informada, que faz compras online e já tem tablet e smartphone – ainda fica com cara de nuvem quando falamos em livros digitais. E a questão nem passa pela conversa boboca do “ah, mas gosto do cheiro de livro”. É desconhecimento mesmo. Há quem pense que, para aproveitar esse meio de leitura, precisa de um Kindle ou “daquele aparelho que vende na Cultura” (a gente sempre fala: “o nome é Kobo!”). Pior: existe, e aos montes, quem já viu um PDF malfeito e acha que “putz, a leitura digital é muito desconfortável”.
Estamos falando, aqui, do básico. De educar o público. De atitudes que promovam o digital, que se proponham a apresentar os leitores ao formato, pegar os caras pela mão e mostrar como é bacana, como pode ser prático.
Somos uma editora pequena e 100% digital que ainda está no início do que esperamos ser uma longa jornada. Assim como nós, existem outras empresas do tipo, e é uma alegria sincera saber que surgiu mais uma, e mais uma, e mais uma. Será que não vale nos unirmos – editoras digitais e departamentos digitais das editoras de papel – para promover essas atitudes? Todos juntos somos fortes, como já ensinava aquela música do Chico Buarque há quase 40 anos.
Três ideias rápidas:
·      Uma campanha conjunta das editoras, no Facebook, estimulando a leitura digital. Cada uma faz uns dois ou três memes de incentivo, usa sua própria base de curtidores e replica os posts das outras. (Fizemos uma experiência no ano passado, com memes divertidos que terminavam dizendo “Acredite nos livros digitais”).
·      Promover mais encontros “autor-leitor” para apresentar o digital ao público. Nada de palestras chatas sobre o tema, claro. Mas nossos autores não podem ser nossos melhores porta-vozes se chegarem a um bate-papo e lerem um trecho do livro no celular, no tablet, no e-reader? Que nos perdoem as lojas, mas não basta deixar Kindles e Kobos à disposição dos leitores sem que alguém mostre como podem ser bacanas para a leitura.
·      Por fim: você, que tem uma editora física – mas é esperto e antenado o suficiente para saber que não, o digital não vai acabar com o papel e um meio pode conviver muito pacificamente com o outro, pois há mercado e produtos para ambos –, que tal pensar em, a cada mês, fazer uma promoção com um ou dois títulos na linha “compre um e leve dois”? Compra o físico, ganha o digital. Que seja válida por apenas uns poucos dias. Não pode beneficiar a todos, a começar pelo leitor?


[Nota do editor: nesta coluna, Gabriela Erbetta cedeu espaço para a sua sócia na Editora Alpendre Gabriela Aguerre que assinam conjuntamente este artigo]

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