quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

"Quando desaparece uma linha de ônibus", crônica de Pedro Salgueiro para O POVO


Fica uma saudade doendo na memória, daquele velho ônibus que pegávamos no tempo de colégio, de sufoco na saída apressada do trabalho para ir ainda à casa da namorada, da “pinada” quase perfeita das duas paradas puladas depois, pernas trôpegas de volta... Sinto uma saudade medonha do Vila Sarita, do Santa Maria desbravando o Monte Castelo (só hoje existe a miniatura sem graça), mas linha nenhuma me deu mais alegria, prazer e saudade que o Jardim América/via Itaoca... (vez por outra ainda o avisto ziguezagueando Montese adentro... Sem volta definida!). Quantos poemas e ficções dariam nossas sofridas e aventurescas linhas de ônibus, atuais e antigas... Queria ter o talento dos poetas Ruy Vasconcelos ou Carlos Nóbrega para com minúcia ir fazendo nossa odisseia suburbana de Aldeota e Parangaba, de Mucuripes e Antônio Bezerra, de João XXIII e Autran Nunes, entre outros expressos mais. Ou como bem fez o Poeta de Meia Tigela saudando, em lamento (leia a seguir), o recente final da linha Paranjana (da qual só vi igual aventura pegando um Grande Circular às 6 da tarde). De lambuja ainda recolheu pérolas que pululam pela internet sobre o triste fato.


Hino do Paranjana

(Poeta de Meia Tigela)


Antônio Bezerra, Parangaba e Lagoa

Só não Siqueira, nem a Messejana

Vá com glórias, com pressa quase voa

Nosso Querido e lotado Paranjana!


[Refrão]
Paranjaaaana, Paranjaaana

És lotado, és cheio de glória

Paranjaaaana, Paranjaaana

Minha herpes é tua memória!


Mesmo que um dia batessem minha carteira

Adorava entrar em ti, no Papicu

Mas agora tu foste embora

Tô atrasado e sem rumo


Seis da tarde era teu Paraíso

Venturoso, cheio de odor

Ostentas a beleza do aperto

E o suor do povo trabalhador


Alvo da molecagem

A notícia do fim das linhas Paranjana 1 e 2 rendeu muitas piadas no Twitter. Vários internautas aproveitaram para soltar “pérolas” nos #paranjanafacts:


1) “A maioria do meus anticorpos consegui no Paranjana.”

2) “Foi uma coisa de outro mundo... Foi a primeira vez que eu levitei...”

3) “Os 300 de Esparta foram até Termophilas em um só Paranjana.”

4) “Quando conseguia assento no Paranjana nem me sentava... Me ajoelhava para agradecer a graça alcançada...”

5) “O Paranjana foi praticamente a primeira rede social de Fortaleza... Todo mundo se conhecia ali...”

6) “As três maiores mentiras da Humanidade: “Nem Deus afunda o Titanic.”, “O 3º Reich durará mil anos.” E “Eu peguei um Paranjana vazio.”

7) “Cliquei em #paranjanafacts e apareceu Twitter is over capacity. Mera coincidência?”

8) “Ao ver o número 41 se aproximando, o passageiro já vai se alongando...”

9) “Uma vez eu peguei o Paranjana tão lotado que o motorista ia em pé e o trocador vinha atrás de mototáxi.”

10) “Felicidade é estar sentado na última cadeira e o motorista acelerar na subidinha da ponte do rio Cocó, só pra te fazer voar...”

11) “Paranjana 1 e 2, os únicos conversíveis que andei – andava só com os pés e as mãos dentro do ônibus, pendurado na porta...”

12) “Capitão Nascimento perdeu a moral no Paranjana. Seu famoso ‘Pede pra sair’ não surtiu efeito algum!”

13) “Definição da palavra ilusão: “Pegar o Paranjana no terminal da Lagoa pra descer na Parangaba.”

14) “Depois da Ortobom, o slogan só vale pro Paranjana: “1/3 da sua vida você passa sobre ele”.”

15) “Dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço?! Até Newton foi derrubado pelo Paranjana.”

16) “Velocidade Máxima só não foi filmado no Paranjana porque se não o filme teria umas oito horas de duração.”

17) “Depois que conheci o Paranjana, nunca mais comi sardinha em lata... São como irmãs pra mim!”

18) “Capitão Nascimento falou na parada do ônibus: “Não vai subir ninguém, hein!”. De nada adiantou, todos correram para entrar no Paranjana.”

Um comentário:

  1. Gostaria de informar que, ao contrário do alegado por Pedro Salgueiro em sua (sua?) crônica, não sou autor de verso nenhum para o Paranjana nem coletei as frases (realmente inteligentes) do twitter. Apenas encaminhei para o autor de Inimigos um email já em circulação pela internet, e nada mais. E nada mais.

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