sábado, 15 de janeiro de 2011

"Amorto", poema de Raymundo Netto


Amorto


O amor está morto (e) por aí

Lançada a última pá de cal sobre seu peito dolente

Pregada a tacha ensangre à mão dormente

Em versos sem novidades

Sem cor, com brevidades

Num beijo inconsequente.


O amor está morto, mas vive por aí

Cabeça margeada em receios

Com mãos alheias em seus seios

A falar frivolidades

A dividir ansiedades

A combinar saracoteios.


O amor está morto, sempre esteve,

Pois que em si não se basta

Não se encontra, nem se enfrenta,

Não tenta, se consome, some e sequer vive em lembrança

Nem turva-se à saudade.


O amor está morto, mon coeur em aborto,

Pois que nunca teve-lhe vida que não o travo insosso da partida

E a desfeita alusão à felicidade.


Um comentário:

  1. * Vida

    Eu vi a vida nascendo no jarro
    A semente eclodiu, olhou na luz
    Vida espalhada na base, o barro
    Nutrindo a raiz, então me pus

    A olhar a natureza tão singela
    Passageira vai deixando rasto
    Pegadas na areia, mas não revela
    A estrada, o caminho é tão vasto

    E vi a criança sem lar e teto
    A mão que pede olhar infeliz
    Sorriso que nunca tem afeto

    Vi a família sem vida sem laço
    O rio secando a fome num triz
    Eu vi a vida nascendo no abraço

    SoniaNogueira

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