segunda-feira, 26 de maio de 2014

"Os Princípios do Modernismo no Ceará: esquecimento crônico", de Raymundo Netto


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Hoje (24 de maio), no Programa "Autores & ideias", da FM Assembleia, especial comemorativo dos 100 anos de Moreira Campos, dentre as falas, uma me chamou atenção, a que se refere à ligação de Moreira Campos com o início do Modernismo literário no Ceará. E por quê? Porque já ouvi de muitas pessoas a afirmação de que o início do movimento modernista no Ceará se deu na década de 1940 com o grupo Clã, do qual Moreira faria parte.
Entretanto, o que poucos sabem, é que o modernismo cearense teve sua primeira manifestação, na verdade, com Mário da Silveira (1899-1921), autor do poema "Laus Purissimae", composto entre 1920 a 1921, ou seja, antes mesmo da Semana de Arte Moderna, a de 1922. Ainda em 1922, Jáder de Carvalho e Edigar de Alencar, na coletânea Os Novos do Ceará no Primeiro Centenário da Independência, também apresentavam poemas com características modernas.
O jornalista Gilberto Câmara, pai do nosso querido musicólogo Christiano Câmara, acolheu em sua casa (a mesma em que ainda reside Christiano), em 1925, Guilherme de Almeida, que aqui veio para palestrar no Theatro José de Alencar sobre o movimento modernista do qual fazia parte e era um dos mais ferrenhos defensor.
O certo é que no ano de 1927 seria publicado o livro O Canto Novo da Raça, de Jáder de Carvalho, Franklin Nascimento, Sidney Netto e Mozart Firmeza (irmão do Estrigas), considerado o MARCO INAUGURAL DO MODERNISMO NO CEARÁ, afirmação do crítico, ensaísta e poeta Sânzio de Azevedo, o maior pesquisador e historiador da nossa Literatura Cearense.
Não é à toa que Assis Brasil, em sua pesquisa, indica que: "O Ceará é um dos primeiros estados a tomar conhecimento da Semana de Arte Moderna de 1922, deflagrada em São Paulo."
Em 1928 e 1929, o jornal O POVO, de Demócrito Rocha, assumiria o papel de veículo de difusão do modernismo cearense, trazendo em suas páginas vários autores modernos, como Mário de Andrade (do Norte), Filgueiras Lima, Heitor Marçal, Martins D'Alvarez, Antônio Garrido (pseudônimo do próprio Demócrito Rocha), Rachel de Queiroz e alguns dos demais autores já citados anteriormente. Culminou esse processo com a elaboração e divulgação para todo o país do suplemento Maracajá (1929). Mas essa é outra história.
Apesar de a produtora e apresentadora Lílian Martins ter afirmado durante o programa, em uma fala posterior, a correta posição do grupo Clã, ou seja, a de CONSOLIDAÇÃO do Modernismo no Ceará, achei por bem lançar esse alerta, pois percebo que muitos ainda insistem em divulgar esse equívoco, da mesma forma que muitos ainda apontam, desprezando a vasta literatura existente a respeito, a Padaria Espiritual como um movimento modernista, que é outro absurdo.
Tive o privilégio de ser editor da 2ª edição de O Canto Novo da Raça, com ilustrações de Audifax Rios e a apresentação de Sânzio de Azevedo, pela Secretaria da Cultura do Estado do Ceará, 84 anos depois do lançamento da primeira edição, assim como um dos editores da segunda edição de O Modernismo na Poesia Cearense: primeiros tempos, de Sânzio de Azevedo, pelas Edições Demócrito Rocha (EDR). Aconselho a leitura de ambos, assim como aconselho que assistam à reprise do Programa "Autores & ideias", na terça-feira, dia 27 de maio, às 20h, com a participação de Sânzio de Azevedo, Odalice de Castro, Neuma Cavalcante, Geraldo Jesuíno, Leite Jr, Pedro Salgueiro, Carolina Campos e Paulo Linhares (representando a curadoria da Bienal Internacional do Livro). 
O programa, como sempre, está ótimo.

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