domingo, 27 de abril de 2014

AlmanaCULTURA NÃO (repito: "Não") INDICA: "Noé", de Darren Aronofsky


Meus amigos, assisti com muita curiosidade ao filme "Noé", de Darren Aronofsky.
Confesso: nunca engoli, mesmo com esse horror de água, a história dessa Arca que deveria ser algo fenomenal para caber tanto bicho, inclusive predadores acirradíssimos, além do próprio dilúvio, do qual até então não foram encontrados vestígios que validem a sua existência perante à comunidade científica. Fosse em Fortaleza, eu até acreditaria...
Por isso, talvez, fiz tanta questão de assistir ao filme. Gosto de épicos. Imaginei uma nova leitura ou qualquer coisa que fizesse emergir, nas profundezas da lama diluviana, reflexões interessantes que fomentassem qualquer discussão, qualquer uma, mesmo a de mesa de bar, bebendo feito um Noé com mais de 600 anos (para quem morreu com cerca de 900, era um menino...) e acordando nu na praia.
Mas só que não. O filme é de uma chatice ímpar. O diretor criou uma saga que conseguiu ser mais monótona do que a história que aprendemos quando criancinhas. Mudou muita coisa, talvez na tentativa de criar emoção, alterando a narrativa bíblica, por incrível que pareça, para pior. Na falta de ideia melhor, ainda gerou uns gigantes a trazer na nossa memória esperançosa a lembrança de um Senhor dos Anéis, com a vantagem de não ter que aguentar o insosso e "precioso" Frodo, economizando a construção da arca em 90 anos, a parte boa do negócio. Ademais, o dilúvio, no filme, não veio com a chuva, mas de uma máquina de lavar subterrânea, com centrifugação e tudo. O Criador (nunca chamado de Deus no filme) não podia esperar acabar com tudo naquele pinga-pinga. E, se a coisa estava aberta a tanta imaginação do diretor, ele poderia ter construído uma arca mais convincente. Acho que o grande milagre divino foi ter conseguido que aquele troço boiasse. A impressão que tínhamos era que ela se apoiava num pega-varetas tamanho família.
A figura do Noé beira a de um fanático religioso, daqueles mais sem futuro, mais odiosos. Deus nos livre! Não tem quem assista ao filme e não sinta o desejo de matá-lo. Nele, a constatação: O Criador, que mais uma vez protagoniza uma saga de silêncio universal, arrepende-se de ter criado o homem e, invocado, decide acabar logo com isso, mas só avisa ao Noé. Entretanto, o Todo-Poderoso (lembrei-me da comédia), como muita gente que conheço, acredita que os animais - melhores do que muita gente - eram inocentes, e mereciam a salvação (Ele, por ser Perfeito, não aceitava o retrabalho, provavelmente). Só por isso alugar a família do Noé, durante anos e anos, com a ajuda dos homens de pedra, na construção da arca, acreditam? Sim, pois na versão do filme, ao contrário do que ouvimos por aí, nem a família de Noé merecia a salvação, e dessa premissa é que o filme origina uma situação que, apesar de ser bem bíblica, põe em xeque o bem e o mal do homem Noé e do Criador (que na Bíblia, em muitas passagens, aparece como um ser confuso, meio bipolar), aliás, uma palavra que aparece muito no filme é "castigo". Daí se tira a "derrota".
Para terminar, a justificativa de tudo vem pela boca da Hermione Potter Watson, que poderia ter ficado calada, enquanto o céu brilhava, piscando como numa noite de Natal, em louvor ao Senhor da Terra e, naturalmente, das águas. É muuuita água...


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