segunda-feira, 24 de março de 2014

"Nilto Maciel: 40 anos de literatura, quase 70 de vida", de Pedro Salgueiro, para O POVO (22.3)


Nilto Maciel é o escritor cearense mais dedicado à literatura que eu conheço: convive com ela – intimamente – 24 horas por dia (e digo isso porque mesmo à noite, enquanto dorme, ele continua produzindo fiapos de enredos que passará para o papel na manhã seguinte, ou quando desperta assustado pelo sonho – ou pesadelo – em plena madrugada).
Dedicou sua vida inteira aos livros, passou de leitor voraz a escrevinhador de sua própria obra ainda muito jovem, mas sempre deixando tempo para a editoração e divulgação de outros escritores, seja através de antologias, revistas literárias e, mais recentemente, sites e blogs na internet. Foi coeditor da revista O Saco ainda na década de 1970, mais recentemente capitaneou (heroicamente e por quase duas décadas) a revista Literatura e, atualmente, se dedica ao seu movimentado blog "Literatura sem Fronteiras" (http: literaturasemfronteiras.blogspot.com.br). Sua cabeça criativa, inquieta, trabalha, pois, incessantemente, até mesmo enquanto se alimenta, conversa ao telefone, assiste à televisão (vários de seus contos tiveram origem em acontecimentos banais vistos em noticiários, ouvidos em diálogos de filmes assistidos pela metade altas horas da noite, até em anúncios e propagandas).
Produziu romances, poemas, crônicas, críticas literárias, diários, memórias etc., mas foi ao gênero conto que ele dedicou mais tempo, força e talento. Ninguém escreveu mais histórias curtas do que ele aqui no Ceará. Já ultrapassa as 300 narrativas, todas com qualidades comprovadas, como atestam os inúmeros prêmios e a vasta fortuna crítica
Em breve lançará (pela editora cearense Armazém da Cultura) A fina areia das dunas, que é seu décimo livro de contos, feito somente alcançado, em nossa terra, por Eduardo Campos e Caio Porfírio Carneiro. Nesta nova coletânea a unidade não se encontra na temática (que é bem variada), nem no enfoque narrativo (inquieto que é, troca de posição a todo instante: às vezes demonstra a onisciência de um manipulador de marionetes, noutras desce quase à posição insegura de leitor comum), mas numa constante ironia, que anda de mãos dadas com uma insólita visão do mundo (pois, mesmo em seus contos mais realistas, ele sempre nos acena com sugestões fantásticas, muitas vezes surreais).
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E neste ano de 2014 – às vésperas de completar seus 70 anos de vida – fazem exatos 40 anos da estreia, com o livro de contos Itinerário, de Nilto Maciel na literatura. Mas o longo tempo de ofício, as dificuldades de publicação pelas quais passam escritores novos e veteranos, a escassez de leitores, enfim, a falta de estímulo em geral para um escritor continuar produzindo não o fizeram desanimar: continua firme e forte publicando um livro atrás do outro, e são raros os dias em que não tenha uma boa ideia para um conto, crônica, poema ou mesmo romance novos.
Desejo – desejamos, nós seus leitores, companheiros de letras e amigos – muitos anos de vida e, principalmente, muitos e muitos outros livros; que você continue a nos brindar com seu talento literário e com seu exemplo de perseverança, dedicação e ousadia.


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