sábado, 18 de fevereiro de 2012

"Asas de Não-Voar", de Raymundo Netto


Eu quis sonhar,
Como um tolo que derrete as ceras no ar
Como uma asa na escuridão triste a ruflar...
Eu quis voar,
Como doce é o beijo salgado do mar
Eu mergulho num verso azul na penumbra...

Quando eu falava em feitos antigos,
Sombras, desejos, velhos amigos,
Recordações que não vogam mais,
De tempos perdidos, meus tempos de paz...
Santana isolada, mãe tão tristonha,
Serena loucura do menino que sonha,
Bebida amarga, prima-estação,
No seio e no ventre do meu coração.
Pessoa calada, poeta matreiro,
Amantes e amores o tempo inteiro
Não carece saber cantar
Para amar e amar e amar
Em cada momento...

Lua formosa, bela, altaneira,
Linda, formosa, rainha primeira,
Bandeiras e ursos suspensos no ar,
Profetas e epístolas no fundo do mar.
Murmúrio de surdos, orvalhos, paixões,
Lágrimas, violas, sons de bordões,
Violões exasperados cantando roucos e desafinados,
Pessoa airada, poeta faceiro,
Amantes e amores o tempo inteiro
Não carece saber fingir
Para sentir e sentir e sentir
O meu sentimento.

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