quinta-feira, 18 de março de 2010

"Armadilha", de Fernanda Lym para o blog "Transfusões"


"O Quarto" de Van Gogh


3 dias sem sair de casa e quando saio há um paradoxo entre o vazio do meu quarto e o mundo que vejo: os carros com suas luzes vagalumes e pessoas com seus passos tolhidos e apressados, seja dia, seja noite. Na rua, tudo tão igual, tão diferente. dizem que uma pessoa sem deus é alguém sem ânimo. ânimo é alma, é o entusiasmo que preenche essa caixa oca chamada corpo humano. tento convencer-me de que ainda creio na existência do Onipotente. antes acreditei além-humanidade e meu ânimo se esvaiu. hoje minha existência considera-se banal. "jesus, maria eu vos amo: salvai almas" diz a criatura cada vez que passa diante de uma igreja, ainda condescendente com o jugo invisível que carrega dentro de si. o amor a deus, sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos é tudo o que não se cumpre. tantas trilhas percorridas e pensei em cada uma delas ter vivido o amor. nada vivi. talvez o amor seja como o vazio que, antes de sair, trancafiei no meu quarto temendo perdê-lo. esse vazio sou eu.

3 comentários:

  1. Poxa, valeu pela divulgação! Nem sabia que esse texto tinha vindo pra cá: C.C que me avisou. Obrigada :) ;***

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  2. A Nanda chegou na minha vida como um sopro de vento numa tarde quente. De longe, percorri os olhos em suas palavras desenhadas de pressentimentos, povoadas dos sentires de tanta gente que cala. Agora, lendo "armadilha" confirmo essa nossa vizinhança de sentimentos. Ainda bem que ela mora na minha cidade e, vez em quando, poderei conversar poemas ao lado dela.

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  3. PARA FERNANDA LYM

    Quando do mundo me farto
    E estou perto do estopim,
    A tudo descarto e em mim
    Me tranco: eu, meu próprio quarto...

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