Era louco por sogras... e essa penosa constatação lhe veio
justamente quando ao último desenlace amoroso: não sentia falta da namorada tanto
quanto de sua mãe. O mais estranho é que a vira apenas poucas vezes e nelas mal
se falaram. Isto porque a ex-namorada evitava aproximação entre eles e a
condição imposta para isso acontecer era amargamente burocrática: “Só se
noivassem!”
Ele, que
era mais velho, teve outros relacionamentos. As sogras anteriores, quando
percebiam o mínimo abalo no relacionamento do casal, interferiam, buscavam
contornar e, quando fracassada a investida, até deixavam de falar com as
filhas: “Como pode abrir mão de um homem assim? Ficou louca? Homem bom desse não
tem mais, não, hein?”
Nisso,
mesmo após o fim do namoro, perdia-se a namorada, mas a sogra, esta, assim o seria
para sempre!
Ainda durante
o namoro, quase clandestino, dona Dedé – era o seu nome – deu entrada no
hospital. Ele, diversas vezes e com muito jeito, se ofereceu a ir visitá-la,
levar algum mimo ou mesmo se postar ali para prestar qualquer assistência, mas
a namorada sempre o dispensava: “Se precisar, eu digo.” Ele insistia; ela
recusava. Ficava arrasado, pensava na dona Dedé a noite inteira, ligava cedo
para saber notícias, o que o médico disse, que remédio tomara, o diabo a quatro.
Outras
vezes, quando a namorada desabafava sobre as discussões com a mãe, ele por fim
tomava o partido da segunda. Acreditava tanto na sua santidade, capaz de jurar que
seria ela até virgem.
Quando
recebeu, pela namorada, um presente de dona Dedé, extasiou-se, acreditando ser
possível a realização de seu sonho: se imaginava ao lado da sogra, coladinhos no
sofá, ressuscitando esquecidos álbuns de fotografias, assistindo ao especial do
Roberto Carlos, cantando em dueto os detalhes de dores eternas de cotovelo,
debatendo novelas, estirando à cozinha intermináveis histórias de seu acervo de
passados, suas crenças, sonhos e amores, ao sabor do cafezinho e de pães de
queijo. Assim, suspirava uma dor profunda e não perdoava a filha ingrata que,
egoisticamente, impedia essa felicidade.
Não, isso
não poderia terminar assim...
Meses
depois, arrastava um carrinho de compras de supermercado quando a viu, ali,
sozinha no mesmo corredor, escolhendo potes de doces. Em silêncio, desmanchou o
queixo, lentamente, sobre os braços cruzados no cabo pegador de seu carrinho,
animando um olhar enamorado de pôr de sol. Guardava ali, em seu fragilíssimo
relicárdio, a imagem robusta e vivida daquela mulher.
Dona Dedé –
como toda mulher tem um radar apurado – sentiu-se observada e desviando o olhar
das prateleiras percebeu aquele admirador e, mais, o reconheceu: “Você?”
Alheio ao
nariz torcido e olhar desdenhoso de sua admirada – decerto tomara as dores de
sua filha –, ele aproximou-se, resoluto e saudoso, tomando-lhe de assalto a
boca com um beijo tão perfeito quanto um amor jamais consumado.
Mas que sogrófilo danado! :-)
ResponderExcluirFalando nisso, tens o telefone da dona Dedé?
Tenho, mas dou não, viu, senão ela pode cair nos seus versos safadinhos... rsrs
ExcluirPra se pensar ... Adoro seus contos
ResponderExcluirOi, "Unknown"(?), queria saber quem você para respondê-la como se deve, mas, a princípio, agradeço a sua leitura.
ExcluirOh cabra pra gostar de sogra... E só sossega quando demonstra. Rsss
ResponderExcluirOi, "Unknown"(?), queria saber quem você para respondê-lo(a) como se deve, mas, a princípio, agradeço a sua leitura. E, sim, gosto de sogras, e elas, geralmente (quando me conhecem bem) gostam de mim. rsrs
ExcluirE eu que não tenho um genro desses.
ResponderExcluirHahaha Genros adoidados, né?
ExcluirExcelente! Eita imaginação fértil!kkkkk
ResponderExcluirOi, "Unknown"(?), queria saber quem é você para respondê-lo(a) como se deve, mas, a princípio, agradeço a sua leitura. (só para me deixar na curiosidade... rsrs)
ExcluirSogrofilia junto com sogromania. Menino retado! rsrs
ResponderExcluirHahaha Boa, Carlos.
ExcluirO Kelmer disse tudo, caro Netto. Sogra é sempre inseparável, mesmo na separação...
ResponderExcluirE viva a sogrona... rsrs
ExcluirExcelente...
ResponderExcluirObrigado pela leitura, Bevê.
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