Para
minha sobrinha Maria Flach
Adquiri, ainda este ano, um exemplar de As Aventuras de Sherlock Holmes (Mythos
Editora, 2021) em quadrinhos.
O que me chamou a atenção, logo de cara, foi a
familiaridade da ilustração da capa. Bastou pouco para perceber a “assinatura”
no seu canto inferior direito: (Giancarlo) Berardi & (Giorgio) Trevisan.
Não à toa reconheci o “traço”, confirmado depois pelo meu embevecimento diante
do estilo (meios-tons, hachurado...) e técnicas empregados no miolo da obra,
realçando um londrino e cinematográfico panorama – muitas vezes noturno,
nebuloso e misterioso – em pleno século XIX.
Berardi e Trevisan, ao lado de Ivo Milazzo, ganharam
o Troféu HQMIX em 2001 pela edição brasileira de Ken Parker, personagem western de fummeti (quadrinhos italianos), um tanto cult, que sempre me impressionou muito, ao lado de outros dos quais
é possível que eu escreva futuramente.
O roteirista Berardi também é o criador da
incrível criminóloga Júlia Kendall – da mesma forma que Ken Parker traz as
feições de Robert Redford, a Júlia é Audrey Hepburn e a amiga/empregada é a
Whoopi Goldberg –, que arrisco-me dizer ser uma das melhores revistas do gênero
quadrinhos lidas hoje no país – também publicada pela Mythos Editora e
precariamente distribuída nas quase desaparecidas bancas de revistas, sendo mais
facilmente encontradas nas revistarias especializadas ou no site da editora,
muitas vezes em pré-venda – sempre priorizo as revistarias para contribuir que
não desapareçam também.
Júlio Schneider, tradutor e apresentador da obra,
nos conta que, motivados pelo centenário da criação do detetive da Baker
Street, em 2021, foi sugerida a publicação dessa obra, originalmente quadrinizada
entre 1986 e 1989 e composta dos primeiros 6 contos de sir Arthur Conan Doyle (1859-1930),
reunidos em 146 páginas com o título As
Aventuras de Sherlock Holmes: “Um Escândalo na Boemia”, “Um Caso de
Identidade”, “A Liga dos Cabeças Vermelhas”, “O Mistério do Vale Boscombe”, “As
Cinco Sementes de Laranja” e “O Homem da Boca Torta”.
Arthur Conan Doyle escreveu 4 romances cujo
personagem é o nosso famoso mestre da observação, da lógica dedutiva (ou
raciocínio abdutivo, como alguém defende) e dos disfarces, o “maior detetive do
mundo” – contestando os criadores do “homem morcego”... –, são eles: Um Estudo
em Vermelho (1887), O Signo dos
Quatro (1890), O Cão dos Baskervilles
(1902) e O Vale do Terror (1915).
A partir de 1891, escreveria 56 contos do
personagem distribuídos em 5 grupos: As
Aventuras de Sherlock Holmes, Memórias
de Sherlock Holmes, A Volta de
Sherlock Holmes, O Último Adeus de
Sherlock Holmes e Os Arquivos de
Sherlock Holmes.
As
Aventuras de Sherlock Holmes original é composto de 12 contos. Infelizmente, devido a restrições de mercado
na época, a dupla quadrinizou apenas 6 deles, como já citamos acima.
A adaptação da dupla é belíssima e bem fiel a
esses contos. Quanto aos aspectos técnicos, estamos falando de mestres na arte,
e assim não preciso dizer mais nada.
Importante lembrar, para aqueles que não visitam regularmente as livrarias – não desistam delas, por favor –, que a Martin Claret editou um volume com todos os contos (livro azul) e outro com todos os romances (livro vermelho), além de enfeixar neles alguns estudos e trazer ilustrações originais de Sidney Paget da época de publicação na The Strand Magazine. Muito boas edições.
P.S.: nasci achando que conhecia o detetive Sherlock Holmes, assim como conhecia o Drácula, o Frankenstein, o homem invisível e outros personagens que já estão geneticamente incluídos em nosso inconsciente coletivo. Contudo, um dia, recentemente, decidi ler os originais para conhecê-los da “boca” de seus autores. Que surpresa eu tive... e que você pode ter também. No caso, passei a ler o Sherlock após a minha sobrinha Maria, a quem dedico esse artigo, em visita a Fortaleza, me dizer que estava lendo a obra. Foi quando conheci Um Estudo em Vermelho, o delicioso princípio de tudo... mas esta é outra história.