Lançamento de
Quando o Amor é de
Graça!
e Bate-Papo de Raymundo Netto com Vanessa Passos
Escrever
crônicas: os desafios da escrita cotidiana
Quando: Dia 29, QUARTA,
a partir das 19h
Onde: na Livraria
Lamarca
(Av. da
Universidade, próximo à Casa Amarela)
Saiba mais sobre
a obra na apresentação de Sânzio de Azevedo:
Um Livro de
Crônicas
Sânzio
de Azevedo*
Raymundo Netto, que me distingue
com sua amizade, é um dos mais ativos escritores do Ceará presentemente, com
vários livros publicados, como Um Conto
do Passado: cadeiras na calçada
(2004), romance com nova edição em 2009; Os
Acangapebas (2011), de contos; e Crônicas
Absurdas de Segunda (2015). Tem
recebido vários prêmios e é colunista do caderno Vida & Arte, d’ O POVO.
Neste
2019, traz-nos ele o livro de crônicas Quando
o Amor é de Graça!, com 47 textos, do qual podemos pinçar alguns trechos
interessantes.
Tomemos a
crônica “O feio” e destaquemos este parágrafo: “Para mim, ser feio é uma
bênção: a beleza se perde, mas a feiura é permanente, e com o tempo e o costume
passa a ser compreendida junto com a paisagem. Já os faustos e belos, coitados,
estão fadados à decadência ou ao redesenho do bisturi.”
Em “A
maior invenção do mundo”, lá para as tantas o autor diz: “Trocando uma ideia
com Deus, Adão que preferia a má companhia
à solidão e cansado de ficar na mão em noites de luar, negociou uma de suas
costelas em troca de uma diva. Soubesse Anatomia, ofereceria o apêndice, cujo
único objetivo é dar dinheiro aos cirurgiões.”
Falemos
de “Tá todo mundo doido... Oba!”. Quando era fisioterapeuta, o autor estagiou
em um hospício, e presenciou uma entrevista de um médico com alguns loucos, a
fim de lhes dar alta. O médico chamou três deles: “Perguntou ao primeiro: ‘Fulano, quanto
é dois mais dois?’ Respondeu: ‘69!’ Reprovado na lata! Ao segundo: ‘Cicrano, quanto é dois mais Dois?’ Ele:
‘Terça-feeeira!’ Coitado... Insistiu no terceiro:’ Beltrano, quanto é dois mais
dois?’ Finalmente: ‘Quatro!’ ‘Muito bem, até que enfim alguém merece a alta...
Pode nos dizer como chegou à conclusão?’, indaga. ‘Muito fácil, doutor, só
prestei atenção nas respostas dos colegas... Olha só: 69 menos terça-feira é
igual a quatro!’ Ô loco!”
Em
“Confissão à forca”, comenta a pergunta “Quem você gostaria de ser?” e dispara:
“Não, não gostaria de ser ninguém, não tenho vontade de ser nem ter nada dos
outros. Por outro lado, se me perguntassem: ‘Quem eu não gostaria de ser’, a
resposta pularia do trampolim da língua: ‘Raymundo Netto, esse eu conheço bem.
Deus me livre!’”
No final
dessa crônica, o autor, que cita Drummond várias vezes, e mais Vinícius, Manuel
de Barros e outros de nosso tempo, termina transcrevendo o belo final de poema
do cearense Mário da Silveira, assassinado no centro de Fortaleza em 1921.
Em
“Literatura para quem?” há um trecho em
que o autor diz não ler nada que não seja do seu gosto: “Não sou ensaísta,
resenhista, nem crítico. Leio por gostar e pouco me impressiona assinatura de
autor. Na minha simples, e talvez ignorante visão das coisas, conheci picassos
que não deixaria enfear as minhas paredes.”
Se eu
fosse reproduzir os trechos de crônicas que me chamaram a atenção, não haveria
papel que chegasse...
Concluo
este artigo com o último parágrafo de “Chuvantiga”: “Mundo, mundo, vasto
mundo’... Ah, se eu não me chamasse Raymundo, como vento gemeria, não em prosa,
mas em poesia, todo o vivido retrato que, só no escuro deste quarto, a rasgar
os céus azula-me o clarão, pela janela distraída do nublado coração.”
Vale a
pena ler Raymundo Netto, escritor a quem a cultura cearense deve ainda a
reedição de várias obras de sua literatura.
Sânzio
de Azevedo é doutor em Letras pela
Universidade
Federal do Rio de Janeiro
e
é membro da Academia Cearense de Letras.