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Lançamento:
Data: 18
de outubro de 2013.
Hora: 19
horas
Local:
Livraria Cultura (av. Dom Luís, 1010, Ljs. 8,9 e 10. Fone: (85) 4008.0800)
Editora:
Armazém da Cultura (3224.9780)
Preço de
capa: R$ 40,00
Entrevista com Ana Miranda, autora de O Peso da Luz, Einstein no Ceará.
A novela O peso da luz, Einstein
no Ceará, foi escrita para homenagear seu tio-avô, que era inventor?
Sim, claro, é uma
história fascinante que corre na minha família, mamãe sempre a repete. Esse
tio, que se chamava Inácio Nóbrega, e morava em Cajazeiras da Paraíba, inventou
nos anos 1930 um controle remoto, e cedeu os desenhos e cálculos a um viajante
alemão, que prometeu patentear o invento em seu país. Mas desapareceu com os
esquemas, e meu tio Inácio nunca mais teve notícias. Foi uma consternação para
ele e para a família. É uma homenagem aos inventores em todas as áreas, às
utopias e quimeras. Mas também é uma homenagem ao Ceará, pois aborda um tema
cearense, que é a comprovação da teoria da relatividade geral, de Einstein,
ocorrida durante um eclipse em Sobral, em 1919. Para lá foi enviada uma
comissão científica com a missão única de comprovar a teoria do cientista
nascido na Alemanha. Interessante é que foi na época da Primeira Grande Guerra,
e britânicos e alemães eram inimigos. Além da grande conquista científica, que
revolucionou o mundo em tantos aspectos, a comprovação foi uma espécie de
vitória do espírito de cooperação contra o espírito bélico.
É seu primeiro livro que se passa em sua terra natal, o Ceará?
De certa forma, sim. O
Ceará sempre esteve presente em mim, assim como a Paraíba e todo o Nordeste, em
alguns de meus modos de ser e ver o mundo. Em Dias & Dias eu pisei pela primeira vez o solo cearense, quando
personagens passam por Fortaleza. Eu sentia uma falha no conhecimento de minhas
origens, pois saí de Fortaleza aos quatro ou cinco anos de idade. Voltei a
morar no Ceará, e a me imbuir de seus elementos culturais, históricos, tenho
conhecido muitos aspectos dessa terra, e isso me inspira livros com temas
locais.
O fato de a comprovação se passar no Ceará tem alguma relevância para a
teoria?
Tem relevância para o
Ceará e para o Brasil, por extensão. Tudo o que acontece em nosso país passa a
fazer parte de sua história, e tudo deixa consequências que devem ser
examinadas, lembranças que devem ser preservadas. O fato traz à luz, por
exemplo, aspectos importantes de nossa história científica, como o conflito
entre ciência utilitária e ciência pura, ou a dificuldade, falta de tradição,
de apoio à pesquisa científica. Pelos relatórios dos cientistas das comissões
inglesa e brasileira, podemos verificar nitidamente as nossas dificuldades. E
se não tratarmos de nossos temas, se não os conhecermos e examinarmos, e
criarmos nossas próprias referências, estaremos sempre como repetidores
colonizados de conhecimentos externos, li, dia desses, essa frase no jornal.
Por que a senhora escolheu um poeta para acompanhar o cientista
inventor, narrador do livro?
Para tecer laços entre
a ciência e a poesia, ambas têm exatidão, ambas se compõem de imaginação e
exigem ousadia. Também para criar um parâmetro de comportamento entre duas
figuras quase marginalizadas na sociedade, o poeta e o inventor, tidos como
quixotescos, por abordarem reinos do conhecimento humano que são essencialmente
subjetivos, e saírem em busca do desconhecido. A alma humana e o moto-perpétuo.
Einstein achava que a imaginação é mais importante do que o conhecimento. É por
essa vereda...
Einstein esteve realmente no Ceará?
Esteve, como símbolo.
Na verdade toda arte é simbólica, e a presença dele no Ceará significa a
chegada de um novo tempo, e a ânsia de estabelecer contato com o mundo, até
mesmo com o tão misterioso universo, com as origens da vida, com os
significados da existência, porque a física abstrata tenta vasculhar o
mistério, assim como a poesia. Num mundo em que se acreditava em verdades e
certezas, houve um momento em que a “realidade” tomou um aspecto relativo.
Houve um como que desmanche cultural, uma fragmentação atômica. O livro aborda
a questão do sentimento de provincianismo, e o exílio pessoal e cultural.
Também, as possibilidades de renovação, um sentimento que inquieta a
humanidade, porque encerra o tema da vida & morte.
O narrador do livro dá de presente a Einstein um papagaio. É sabido que
Einstein teve em sua casa um papagaio. Qual o significado do papagaio?
O papagaio é um
elemento da vida de Einstein, que cuidou de uma dessas aves. O biógrafo Walter
Isaacson diz que ele recebeu o papagaio de presente de um centro médico, em
1954, deixaram a ave na porta da sua casa. Einstein andava doente, já no fim da
vida, e o presente deve ter sido terapêutico. Talvez ele falasse que gostava de
papagaios, talvez já tivesse tido um. Os jornais brasileiros mencionam que
durante a visita ao Rio um cidadão lhe entregou um papagaio, e Einstein teria levado
essa ave para sua casa. Se for verdade, é fascinante a coincidência, pois deve
ter algum significado que pode ser examinado. Soube que o papagaio mais
inteligente do mundo, que vivia num zoo nos Estados Unidos, se chamava
Einstein. De toda forma, é uma ave bem popular, domesticável, humanizada a tal
ponto que chega a repetir os sons, como se falasse, e há uma força afetiva
entre essa ave e a pessoa que dela cuida. Levar do Brasil um papagaio pode ser
levar um símbolo da nossa natureza e cultura. A inserção do Novo Mundo no Velho
Mundo, poderia ser... A invasão da cultura popular, do folclore, na erudita...
A natureza que existe na cultura... O idílio da floresta primitiva...
Abordagens assim. Para Roselano o papagaio era uma ligação afetiva com Einstein,
o personagem lhe ensinava apenas frases em alemão.
A sua admiração por Einstein é patente no livro. Que características
desse cientista a entusiasmam?
Tudo nele é
entusiasmante, sua personalidade ao mesmo tempo meiga e insolente, seu senso de
humor, sua simplicidade e despojamento de bens materiais, e o que ele disse de
si mesmo, numa carta a um filho: “a capacidade de se elevar acima da mera
existência, sacrificando sua própria pessoa ao longo dos anos em prol de um
objetivo impessoal”. E a inteligência brilhante dele, que se expressava em
ideias científicas, mas também nas frases que ele despejava com espontaneidade.
O conflito de Einstein, em relação à criação da bomba atômica, não está
no livro. Por quê?
Porque se passou depois
da ação do livro, que se resume ao período de 1919 a 1925. No entanto, apesar
de o narrador ser um apreciador irrestrito do trabalho de Einstein, a polêmica
sobre sua vida e obra se encontra nas páginas da novela, dentro das
perspectivas da época e local, o Brasil. Apesar de uma pureza apaixonada na
visão do narrador, Einstein aparece com suas contradições.
Por que a senhora chama o livro de novela,
e não romance?
A novela é um romance
abreviado, com trama contida numa só linha de narração, poucos personagens,
nada daquela voz polifônica, daquele longo devaneio, fugas, daquelas tramas
paralelas, que caracterizam o romance. O
peso da luz se encaixa bem melhor nas definições de novela.
A linguagem de O peso da luz é bem mais simples do que a de seus romances. A que se deve isso?
Deve-se à época em que
se passa a trama, século 20, não estou recriando nenhuma dicção antiga, e as
dicções antigas hoje nos parecem complicadas, quanto mais antigas, mais
desconhecidas, dando a sensação de estranheza. Também o fato de ser novela leva
à simplificação da estrutura ou vice-versa. E o fato de o narrador ser um homem
das ciências exatas. As falas do poeta são bem mais rebuscadas, no livro,
inspiradas em Augusto dos Anjos, era o tempo do cientificismo poético, ou da
poesia cientificista.
A senhora diz que O peso da luz é a primeira das Novelas Cearenses que pretende escrever. Poderia
dizer quais são as outras?
Prefiro guardar
segredo. O Ceará tem uma riqueza quase virgem, no campo da literatura
histórica, e há temas fabulosos. Sinto que tenho condições de fazer um trabalho
nesse sentido, animada por uma espécie de amor natural.