terça-feira, 31 de maio de 2022

30 de maio de 2012: Outorga da Medalha Boticário Ferreira e lançamento "Os Acangapebas", de Raymundo Netto


30 de maio de 2012. Há 10 anos. Enquanto muitas pessoas celebravam os 120 anos da PADARIA ESPIRITUAL, eu recebia, na Câmara Municipal de Fortaleza, a comenda Medalha Boticário Ferreira, uma proposição do médico e vereador Antônio Machado Neto (o “Machadinho”), pelos trabalhos em prol da cultura que realizei, especialmente até aquele ano, na Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (trabalhei na Coordenadoria de Políticas do Livro e Acervo da Secult de 2008 até fevereiro de 2012, quando ingressei na Fundação Demócrito Rocha/FDR).

Foram anos de muitos aprendizados e desafios, vitórias e fracassos, nos quais tive o privilégio de editar e publicar (praticamente com apenas um colaborador) centenas de livros, alguns deles raríssimos e importantes para a historiografia literária cearense, além de permitir, por meio de editais, outras dezenas; de criar o Prêmio Literário para Autor(a) Cearense, única edição, que pela primeira vez contemplou a criação e distribuição de obras literárias; de elaborar e coordenar a I Feira do Livro do Ceará em Cabo Verde (África): “A Terra da Luz na Claridade”; de integrar o Conselho Curador de uma Bienal Internacional  do Livro (as outras, eu dispenso); de reconhecer e promover, o quanto pude, autores e autoras cearenses no circuito cultural interno e dos equipamentos da Secult, entre outras, modéstia às favas, difíceis, exaustivas, mas gratificantes ações.

Também nessa noite, aconteceu o lançamento do livro Os Acangapebas (meu primeiro livro de contos), finalista do Prêmio Sesc de Literatura (Nacional), ganhador do Edital de Literatura da Funcet/SecultFOR e do Prêmio Osmundo Pontes de Literatura da Academia Cearense de Letras.

Quem tiver curiosidade de ver algumas das fotos do meu álbum de Facebook, pode acessar: https://bit.ly/3lZnHce




 

Despedida ao amigo Francisco (Chico) Veloso, por Raymundo Netto


Partiu ontem, tarde de 30 de maio de 2022, o nosso amigo FRANCISCO (CHICO) VELOSO, arquiteto graduado pela UFC (1975), técnico do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que teve grande e relevante atuação na área, participando sempre que convidado de departamentos, comissões, grupos de trabalho, projetos, entrevistas, eventos, entre outros, quando o assunto, para ele muito caro e indispensável, era PATRIMÔNIO.

Durante anos compartilhamos da gestão da Associação dos Amigos do Museu do Ceará, na qual era presidente. Em sua casa, há uns 2 quarteirões da casa da minha infância, traz uma discografia invejável, coleção de uma vida inteira, sendo a música uma de suas maiores paixões, assim como o cinema e ainda a literatura, excelente e crítico leitor que é.

Quando soube que ambos éramos encantados com a obra “Doutor Jivago”, do original russo Boris Pasternak (1890-1960), fez questão de gravar e me entregar um CD com a trilha sonora da qual pontuava o clássico “Tema de Lara”.

Ser humano de qualidade incomparável, de conversa boa, rica e mansa, leu meus livros, desde o primeiro, conversava sobre eles, e vez ou outra, para iniciar uma conversa, puxava da memória uma situação, um personagem ou um tema deles.

Há muito pouco, era ele amargando a perda do amigo CAMPELO COSTA, também arquiteto.

Pensando hoje, tive a alegria e a honra de tê-lo como apresentador do “Álbum Fortaleza Ilustrada” (EDR, 2020), ninguém mais merecedor do que o grande Chico para abrir esse trabalho que é, acima tudo, uma coleção de afetos de uma Fortaleza continuamente EM RISCO, nas mãos de políticas frágeis, políticos e empresários inescrupulosos (e ignorantes) e de uma população que confunde cultura com entretenimento barato (e cachês milionários) de vitrines sem espírito.

Ao Veloso, minha eterna gratidão, por ser dessas pessoas que fazem o trilhar da nossa vida ser pulsante, suportável e valer a pena. Muita luz para você, meu amigo.




 

sábado, 28 de maio de 2022

AlmanaCULTURA In Dica: "Bode Ioiô: uma entrevista com o bode mais querido do Ceará", de Klévisson Viana


Uma celebridade cearense que nunca precisou estar nas redes sociais, mas que sempre arrepanhou centenas de milhares de seguidores foi o bode Yoyô.

Chegando a Fortaleza para escapar da seca de 1915, logo passou a ser funcionário de uma distinta firma inglesa que aqui mandava e desmandava. Como era de alto escalão, vagueava livremente entre a praia de Iracema e a praça do Ferreira, e da praça à praia, e por isso ficou conhecido por Yoyô, que nem o brinquedo.

Na praça, todos sabem, visitava os cafés e os quiosques, sendo tão popular a ponto de ser eleito vereador de Fortaleza e ganhar beijos das mocinhas. Todas essas histórias você já deve ter ouvido. Porém, duvido que você saiba da última...

O cordelista, ilustrador e chargista Klévisson Viana me contou que daqui a 8 anos, o prof. Piracuca inventará uma máquina do tempo (in lamparina’s form) e com ela partirá para o ano de 1918, em sua “Missão Nirez”, na tentativa de fazer uma entrevista justamente com o bode Yoyô.

Mas como? Falar com um bode? Sim, o notório cientista também criou um aparelho, o Vox Communis que permite a tradução dos discursivos berros do caprino.

Fiquei com tanta inveja dele... passear pela praça do Ferreira, ver os seus quiosques, caminhar pela praia do Peixe, Passeio Público, ver os bondes, o cajueiro da mentira, e ainda conversar com Quintino Cunha, Leonardo Mota, Rodolfo Teófilo, Antônio Sales, João Tomé, Demócrito Rocha, João Brígido... e ouvir as ideias do bode mais famoso do Ceará: “Todos aplaudiram o bode/ Pelo seu plano acertado,/ Disseram: — Caprino sábio!!!/ Que bode mais preparado!!!/ Parece o “Águia de Haia”,/ O Rui Barbosa afamado!”

Felizmente, o Klévisson transcreveu essa entrevista do futuro... e do passado... que confusão... no folheto Ioiô: uma entrevista com o bode mais querido do Ceará, que traz gravura de Rafael Limaverde, e que TODO MUNDO pode adquirir, ler e se divertir com essa presepada.

Fale com o autor/editor e SAIBA COMO: aestrofe@gmail.com

Ou pelas redes sociais @tupynanquimcordelbrasil






 

quarta-feira, 25 de maio de 2022

AlmanaCULTURA In Dica: "Traços e Troças: crônica vermelha | leitura quente", de Pedro Nolasco Maciel (Armazém da Cultura, 2013)


“Traços e Troças [CHRONICA VERMELHA] Leitura Quente” - Maceió 1899.

Pronto. Apenas isso na estampa da pequena capa do livro. Nem indicação do autor nem da tipografia de origem. Como se lançado ao vento, o romance, de título curioso, Traços e Troças: crônica vermelha – leitura quente, veio ao mundo, mais especificamente ao mundo maceioense das Alagoas.

Mais tarde, a partir de “pistas” em sua literatura, em sua atitude política e ideológica, o jornalista Pedro Nolasco Maciel passou a ser considerado, por historiadores e críticos, o “responsável pela criança” que, nesse caso, já nasceu andando, melhor, dançando.

Mas, afinal, o que nos traz de novo esse autor? Para tentar saciar a curiosidade dos seus novos leitores, irei me valer dos “Traços Biobliográficos”, assinado por Moacir Medeiros de Sant’Ana, historiador, membro da Academia Alagoana de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, publicados como introdução à segunda edição da obra, pelo Departamento Estadual da Cultura, cujo diretor, à época, 1964, era o jornalista Arnoldo Jambo, que também assina o texto que antecede a referida edição, pela qual nos guiamos na condução editorial desta nova edição.

Pedro Nolasco Maciel nasceu em Maceió, Alagoas, em 1861. Filho de Raimundo José de Sant’Ana e de d.ª Silvina Ferreira Guimarães, iniciou-se no trabalho de tipógrafo no Diário das Alagoas.

Jornalista, um dos mais atuantes de seu tempo, conforme pode-se observar pelas diversas atividades exercidas e pelo seu legado literário e jornalístico, foi um dos fundadores e redatores de Gutenberg, órgão da Associação Tipográfica de Socorros Mútuos, veículo mais veemente na difusão das ideias republicanas, que surgiu, pela primeira vez em janeiro de 1881, e, posteriormente, administrador do Gazeta de Notícias, surgido em 1879.

Em fevereiro de 1886, Nolasco Maciel publicou, em volume único, pela Tipografia Mercantil, o romance A Filha do Barão com o também curioso subtítulo “estudos românticos e históricos” , que, segundo estudiosos de sua obra, a estética, peculiaridades e estilo, trazem semelhanças que confirmam-lhe a autoria de Traços e Troças. A Filha do Barão, considerado o primeiro romance de costumes da sociedade alagoana, foi escrito, originalmente, em folhetins, ou seja, em fragmentos veiculados no Diário das Alagoas, a partir de 20 de novembro de 1885, sob a assinatura de iniciais “M.P.N.”

Em 1887, ano em que era redator do Tribuna do Povo, outra produção: Estilha­ços: produções literárias e sobre política. Em 1888, ano de publicação de Conferência Pública, colaborava com o semanário Lâmpada.

Nos últimos anos da monarquia, os movimentos abolicionista e republicano chegaram a Alagoas. Grassavam entre os membros, entre eles, entusiasticamente o Pedro Nolasco, da Sociedade Libertadora Alagoana, fundada em 28 de setembro de 1881, e pelos jornais Gutenberg – já citado – e Lincoln.

Jornalistas, intelectuais, professores influenciavam a adesão de jovens à campanha da abolição e da república, campanha esta divulgada pelo Centro Republicano Federalista, o Clube Federal Republicano e o Clube Centro Popular Republicano Maceioense.

Era também afiliado do Club Literário José Boni­fácio, onde exerceu a função de vice-presidente. Além dessas, participou de outras associações e, dentre elas, foi orador do Montepio dos Artistas Alagoanos, o que comprova a sua tendência gregária.

Em 3 de janeiro de 1889 foi nomeado carteiro interino no Departamento de Correios e Telégrafos e, em abril, é efetivado. Em 1890 seria promovido a 2º oficial, sendo, entretanto, exonerado das funções em 1903.

Em 1891, publicou Galeria de Alagoanos Ilustres ou Subsídios à História das Alagoas, e, em 1892, o Indicador Postal. Em 1893, sob o pseudônimo de “Maceiolino”, escreveu para O Momento.

Em 1899 colaborou com Constelação, e, em 1908, com O Popular.

Foi em 1899 que publicou Traços e Troças. O motivo do anonimato do autor, assim como de sua origem tipográfica pode ser compreendida, a priori, pelo viés da segurança, embora essa seja uma hipótese. O fato é que, devido às características de seu estilo, entre eles o uso de descrições de lugares e citação de personagens reais em meio a sua ficção, atribuíram-lhe a autoria da obra. E do que trata Traços e Troças?

Arnoldo Jambo supõe que o subtítulo “crônica vermelha” foi “concebido como com o propósito de caracterizar o livro como coisa não recomendável para certo gênero de pessoas puras ou ainda em formação”. Continua, sobre a obra: “Um quadro de costumes onde o bulício preguiçoso e os preconceitos provincianos se fixam como estereotipando figuras de ‘croizé’, fraques pintalgados de caspas, barbas e bigodes hirsutos percor­rendo velhas e incertas ruas maceioenses, sob casas de bi­queiras e sobre calçadas irregulares, cruzando de quando em quando com matronas severas, tímidas ou mexeriqueiras, todas atufadas de panos desde o queixo até a ponta dos borzeguins de camurça. E por entre vestes e bisonhas apa­rências, em cada figura, um tipo popular daqueles dias: o português que tocava cavaquinho e de cujo instru­mento tomou o nome toda a sua descendência , um bar­beiro, um livreiro, um jogador de bilhar, um mestre de banda de música, um leiloeiro, um comerciante de teci­dos, um alferes, um coronel comandante, um veterano do Paraguai, um condutor de trens, carteiros, amanuenses, en­graxates, magistrados, sacerdotes, médicos, jornalistas, tribunos, vivendo todos aquela vidinha miúda, imposta pelo acanhado do meio, pelo atraso e pobreza material e, sobretudo, policiada pela rígida moral do catecismo dominante.”

Afirma Félix Lima Júnior, na apresentação à segunda edição de Traços e Troças, que Arnoldo Jambo escrevera, no Jornal de Alagoas, em 1962, sob o título “Romance apócrifo em Maceió do passado”, o desconhecimento por parte dos que fizeram e dos que fazem a literatura alagoana dessa experiência de romance em Maceió.

De fato, o núcleo principal da história é composto pela trama romântica de Manoel, jovem trabalhador, ingênuo e sério, completamente apaixonado “estava no céu” e iludido pelos “dentes alvos e as faces rosadas, levemente caiadas a ‘poudre-riz’” de Zulmira, na verdade uma “pimenta, menina quente, irrequieta e mal-educada”. Ao paralelo, Juquinha, um ex-namorado e amante, homem forte, sem-modos o que atraía Zulmira , caixeiro do Centro Comercial; a d.ª Maria, mãe de Zulmira, mulher ambiciosa e alcoviteira, “cínica [...] que arreganhava a boca sem dentes como um buraco de morcegos nas catacumbas do cemitério velho da Viçosa”, atenta a encontrar um futuro de segurança para si, por meio de bom compromisso da filha, sendo cúmplice de diversas artimanhas polvilhadas no enredo de encontros e desencontros de Traços e Troças.

Um dia, após passar por desventuras, “achado dentro do mangue, roído de mosquitos”, encontra Serafim, amigo do Juquinha, a revelar com galhofa a triste sina do noivo de uma “criatura endiabrada e tentadora”, muito bela, que exibia desrespeitosamente em uma fotografia. No momento, Manoel, tomado de vergonha e de ira, reconhecera na fotografia a sua amada Zulmira. A princípio, como todo apaixonado, procurou motivos para entendê-la e passou a delegar toda a culpa da moça àquela mãe horrorosa da menina. Conclui: “A sociedade é corrupta. Não pergunta onde se foi ver a riqueza, inda mesmo que tenha certeza de sua má procedência”. Mais tarde, acorda: “Zulmira, embora formosa, não era mais do que uma caveira bem vestida”.

Aparentemente, a dúvida plantada no coração de Manoel é o estopim da trama que passa a desenrolar-se mais rápida e conflituosamente, e é em suas mãos que se coloca o destino da história. Por outro lado, o personagem Zulmira cresce, evolui no texto de forma surpreendente, podendo se equiparar às heroínas de nossos grandes clássicos da literatura.

A história carrega uma crítica à sociedade da época, passeando pelos cantos mais esquecidos do meretrício, do brejo, da podridão, passando pela falácia e pelos joguinhos de faz de conta da vida real, geralmente, denominados de “novelescos”. O final é envolvente.

Nolasco Maciel descreve, como em fotografia, cada detalhe de sua cidade: os bondes, os estabelecimentos comerciais, as repartições, os prédios, bilhares, logradouros, as ruas, as travessas, os arrabaldes, as igrejas, os quartéis, os hábitos, os modos de linguagem, fatos históricos como a deposição do governador Besouro, a Cabanada, a varíola que dizimou os “escravizados” em 1888 , os toilettes, os costumes provincianos saraus, pastoris, festas, serenatas, comemorações, etc. e, envolvidos na trama, personagens reais, políticos, intelectuais, abolicionistas, tipos populares, comerciantes, artistas, inclusive o próprio Nolasco, identificados com precisão em centenas de notas do historiador Félix Lima Júnior, que tivemos o prazer de apresentar nessa edição graças à gentileza da autorização de seu filho, Cláudio Fernando Oiticica de Lima.

Em A Tribuna, em outubro de 1908, Nolasco publicaria seu Resumo da História de Alagoas para Uso dos Incipientes, e, ao final de abril de 1909, publicou a novela Japy-Açara. Também em forma de folhetins deixou a novela Os Camunhenques e o História de Alagoas, compêndio de cunho histórico. Colaborava com A Tribuna desde 1896, inclusive com uma seção “A Lápis”.

Afirma Moacir Medeiros de Sant’Ana que, na sua última fase de existência, Nolasco “entregou-se a boêmia”.

Parecia calar-se, então, nas Alagoas, aos seis dias de dezembro de 1909, e com apenas 48 anos, a voz de Pedro Nolasco Maciel. Sua literatura quente, a sua crônica vermelha, entretanto, rompe as barreiras da mortalidade comum aos comuns, e rasgou o verbo, entre traços e troças, e persiste no clássico da literatura que hoje nos apresenta sua Maceió, ainda cidade-tempo acanhada, a rebolir e a borboletear muito graciosa entre séculos.  


Para adquirir a obra: armazemdacultura.com.br 



 

segunda-feira, 23 de maio de 2022

"A Bola da Vez", primeiro infantojuvenil de Raymundo Netto, lançado em 2008 no projeto "Eu Sou Cidadão: amigos da leitura"


Lembrança da publicação de meu primeiro livro infantojuvenil: A Bola da Vez (EDR, 2008), com ilustrações de Giovanni Muratori, o 9º título da Coleção Eu Sou Cidadão: amigos da leitura, uma parceria da Associação para o Desenvolvimento dos Municípios do Estado do Ceará (APDM-CE) e Fundação Demócrito Rocha (FDR), com apoio da Aprece, BNB, Secult, Assembleia Legislativa, Undime e Unicef.

O projeto Eu Sou Cidadão atendia diretamente a 1.500 alunos das escolas públicas dos municípios cearenses, e o resultado era tão visível nas próprias crianças e seus professores, que eu sempre afirmei ser este o melhor e maior projeto de formação de multiplicadores de leitura e leitores de todo o estado do Ceará.

Na obra, Pantico, um menino do interior fanático por futebol, chega à cidade grande e descobre que ali existem muros demais, amigos de menos e nenhum local para jogar bola. O pai decide resolver isso e, a princípio, sem querer, mobiliza a comunidade inteira em torno de questões coletivas, como a elaboração de um espaço de socialização de todos, quando a motivação parecia ser apenas uma partida de futebol de crianças. Uma aula de cidadania e de solidariedade para crianças e adultos também.

Em 5 de maio de 2008, por conta da publicação de A Bola da Vez, recebi uma cópia do requerimento à Assembleia Legislativa de VOTO DE CONGRATULAÇÃO, de autoria do deputado Artur Bruno e subscrito pelos deputados Prof. Teodoro e Rachel Marques.








 

sábado, 21 de maio de 2022

Sebo nas Canelas: 25 anos do "Almanaque de Contos Cearenses"


SEBO NAS CANELAS: Há 25 ANOS saía, pela editora Bagaço de Pernambuco, o nº 1 (primeiro e único) do Almanaque de Contos Cearenses, uma corajosa organização de Elisângela Matos, Pedro Salgueiro (33) e Tércia Montenegro (21).

Na edição, as seções “Arquivo/Memória” e “Inéditos/Dispersos” compunham esta publicação que tinha como objetivo “suprir a carência de espaço por que vem passando esse gênero literário em nossa terra”.

A primeira seção, claro, traz uma extensa apresentação do mestre Sânzio de Azevedo e contos de Adolfo Caminha, Otávio Lobo, Moreira Campos e Juarez Barroso.

Na segunda seção, em ordem cronológica de nascimento (sempre critério eleito pelo organizador Pedro Salgueiro): Eduardo Campos, José Alcides Pinto, Caio Porfírio Carneiro, Natércia Campos, Nilto Maciel, Audifax Rios, Astolfo Lima Sandy, Batista de Lima, Ronaldo Correia de Brito, Alano de Freitas, Pardal, Carlos Emílio Corrêa Lima, Jorge Pieiro, Luís Marcus da Silva, Dimas Carvalho, Pedro Salgueiro, Napoleão Sousa Jr, Luciano Bonfim e Tércia Montenegro.

Nas últimas páginas, fotos do encontro de alguns dos autores em janeiro de 1997, no qual divulgaram a ideia do “Almanaque...”. Ao lado deles, Maria Elias, Dimas Macedo, Zezé Moreira Campos e Alba Alves.

A obra reunia o que melhor havia naquele período e aproximou os contistas da geração 90, além de abrir alas para outras publicações que fizeram história, como a Caos Portátil: um almanaque de contos, que chegou a publicar 5 números de grande visibilidade no Ceará e fora dele.

 


 

"Lembrar para Esquecer", de Pedro Salgueiro para O POVO


 

“Assim seguimos adiante, barcos contra a corrente,

arrastados sem trégua rumo ao passado”

(F. Scott Fitzgerald, O grande Gatsby)

 

Certa vez ouvi de alguém, ou imaginei ter ouvido (o que seria a mesma coisa, pois passou a ser uma verdade minha, mesmo falsa, incompleta, inventada), que quando somos moços agimos como se estivéssemos na boleia de um caminhão e olhássemos somente para frente, ansiosos como todos os jovens para descobrir o que nos vem adiante (quando recordo essa imagem vejo alguma das muitas viagens que fiz com meus pais, tios, irmãos pelos arredores de nossa cidade, invariavelmente ouvindo as conversas sem sentido dos adultos, pra nós crianças, quando – talvez para nos distrair e fazer com que participássemos de seus estranhos mundos – então passavam a contar jumentos, cada um ficava com um lado da estrada e valia até apostas altas; dia desses uma amiga citadina contou que fazia isso com sua filha chorona para distraí-la, mas usando postos de combustíveis no lugar de animais); e a frase pretensamente filosófica concluía com uma obviedade rasa que quando somos velhos somente nos interessava o que poderíamos ver pelo retrovisor.

Cheguei nesta fase da vida, porque pouco de hoje me desperta, do futuro interessa quase nada, como se o caminhão da história, ouvida ou imaginada, rumasse lentamente para o abismo do não mais desconhecido da infância, mas do mais que esperado da velhice: preferimos (você também?) não olhar pra frente, desviamos a vista desconfiados e tristes para o espelho já empoeirado – e o que vemos quase sempre é um mistério, nunca tão óbvio como seria de se esperar, visto que já posto, definido...

Dia desses numa conversa com uma amiga de infância, ela do nada se lembrou de nossa inocência de quase adolescentes (lamentava fazendo uma comparação com os jovens da mesma idade hoje), quando saíamos nos intervalo das aulas para brincar de quatro-cantos na parte de cima do mausoléu do Parque Brigadeiro Sampaio, que não existe mais; porém, como o diálogo durou pouco, a imagem inocente de vários mocinhos e mocinhas zanzando de um canto a outro como fossem crianças de jardim de infância me ficou, também, brincando na memória... Voltava vez por outra entre as tarefas, leituras e conversa do dia.

Como na memória não mandamos fui pulando tal cabra-cega num confuso jogo de amarelinha: da ingênua brincadeira que nos deixava suados, quando uns corriam de volta para o colégio, outros escapuliam para a casa de um colega que morava ali perto para beber água em brilhantes canecos de alumínio num pote coberto por rendas, chegávamos quase ao mesmo tempo na sala de aula onde não raro o professor já nos esperava.

Dos mil detalhes da lembrança despertada por uma singela frase trocada com uma amiga agora distante no tempo e geografia pinçamos alguns fiapos ao acaso, transitam frases soltas, fotos na parede da casa de uma tia, a chamada nominar na sala de aula e o sono que já vem vindo, quando inevitavelmente a “realidade” e os devaneios se misturarão em suas mil e duas nuanças mentais.

Já quase dormindo recordei-me – como se para me despedir do longo dia de infinitas rememorações – de uma vila de casinhas de parede-e-meia que existia na frente do tal Parque Histórico Brigadeiro Sampaio de nossas inocentes brincadeiras, e lá estava eu numa das seis moradias brincando com meus primos e vendo, quando passava na porta da cozinha, o mesmo Parque ainda sendo construído: daí a mente exausta me puxou para uma fotografia mostrada, alguns anos atrás, dessa mesma vilinha pela minha ex-professora Graça Farias, quando uma frase (escrita atrás da imagem) indicava que, noutra época, uma daquelas residências era uma antiga escola da cidade – bem onde as recordações de outros se encontravam sem se tocar com as minhas.




segunda-feira, 16 de maio de 2022

"Os Acangapebas de Raymundo Netto", de Batista de Lima, para o Diário do Nordeste (29.04.14)

"Raymundo Netto", por Lincoln Souza

Raymundo Netto, ao escrever, mergulha na rotina e na depressão, dos outros. Geralmente seus personagens são criaturas maduras que vivem marcando passo numa leseira tão grande que é preciso fustigá-los com o chicote de palavras que se unem, se encompridam para se fortificarem. Por isso que no seu mundo de "águas brumaceiras", "recordações saudadejavam" ao "silhuetarem","ademanhazinha". Daí que o tempo "jangadeava" lentamente nas "areias madrugueiras" do dia a dia.

Viver é, pois, para ele, sair por aí arrastando feixes de palavras que se amarram, se entrelaçam para não sair do canto em que estão, tipo personagens letárgicas.

Essa letargia é consequência da luta que o autor empreende contra o tempo. Ele se agarra à memória como forma de frear a velocidade de um Kronos desencabrestado. 

Os acangapebas, esse seu livro de contos, da editora Fundo de Quintal, traz 41 histórias em que uma de suas características é essa luta titânica contra um tempo brabo que não se contenta em ser amarrado por liames de tecidos verbais. Por isso que o conto "O mistério do sótão", logo no começo do livro, se torna um alerta do que vem em seguida em toda a obra. É o tempo destruindo na frente e o escriba calafetando atrás.

A corrosão enfrentada por Raymundo Netto vai recebendo um conserto em que o leitor passa a ser ajudante de obra.

Esse permanente conserto dos estragos causados pelo tempo leva a uma rotina dos personagens que termina por refletir na constituição de seu material linguístico. É necessário fortificar o signo verbal para que a construção seja sólida. É preciso, às vezes, unir palavras em uma só, para que sua força verbal vitamine a argamassa frasal. Daí que aparecem: "porfavores", "dalicenças", "malholhado", "resmoneava", "dançarinava", "tempotodotempo", "calmacalmacalma", "mudice", "pelamordedeus", "malacostado", "vermelhecido", "agonioso", "diluviavam", "bramosas", "brilholhares", "doraguda", "gargalhosas", "modernosidade", "apareciaria", "desjeitosos", "deslembrada", "lembrançoso" e "demorosa". Esses brinquedos verbais, de tanto serem, terminam também por se tornarem rotineiros.

Raymundo Netto se acusa de ter-se graduado em Fisioterapia, tendo abandonado a lida com anatomias humanas para se dedicar às palavras de ossaturas deterioradas e musculaturas viciadas. Hoje é um cuidador de palavras. Sua escritura é uma verdadeira oficina de consertos verbais. Ele conserta tão bem as palavras, que elas passam a concertar nos nossos ouvidos e enfeitiçarem nossos olhos. Esse seu livro, o segundo, veio a lume após ganhar o Prêmio Osmundo Pontes de Literatura no ano de 2011.

Um dos motivos por que arrebatou esse prêmio tão concorrido fica por conta de sua vocação humanizadora na relação com os personagens. A morte não atua na sua obra. E se ocorre, é uma morte antes da morte. É uma rotina que vai envenenando certos personagens de forma tal, que eles não sentem que sucumbem. É o caso daquela dona de casa de "Álbum de fotografias". "Há anos, reclusa à vida doméstica: passava, encerava, cozia, pregava botões e cerzia as meias". Depois disso essa mulher "Revolvia gavetas, revolvia gavetas, procurando nem ela sabia o quê".

A repetição da expressão "revolvia gavetas" é um recurso estilístico para simbolizar a rotina em que está submersa a dona de casa. Por isso que até o gato insinua um movimento calculado. Afinal, no universo da rotina, tudo obedece a uma lógica repetitiva. Cada coisa possui o seu lugar, cada gesto se torna comedido porque é a repetição dos anteriores. Até no domingo, a rotina se faz presente: "Hora do almoço! Todos tomavam seus lugares, os mesmos e respeitados lugares, pequenas hierarquias". Até o estabelecimento de hierarquias termina se tornando um comportamento rotineiro.

Todos esses comportamentos rotineiros são consequência da solidão em que vivem os personagens de Raymundo Netto. Entretanto ele propõe saídas para minorar essa solidão. É a criação de gatos. O gato é o companheiro do solitário, e está muito presente nos seus contos. Em três contos o gato já aparece logo no título. São: "Gato" (página 21), "A mulher dos gatos" (página 31) e "O gato da vovó" (página 54). Isso sem contar os gatos avulsos que aparecem em outras partes de Os acangapebas. Além disso, alguns pássaros marcam presença nas suas histórias. Eles bicam frutos como se bicassem a solidão dos moradores das casas, cultivadores de jardins e pomares.

O bicar dos pássaros é também uma forma de ciscar um passado às vezes bem anterior ao próprio autor. Raymundo Netto não chegou ainda aos 50 anos, mas a leitura dos seus contos dá-nos a impressão de estarmos diante de um narrador com o dobro de sua idade. Há uma correnteza de eras desfilando na sua frase, um mergulho em um passado em busca de uma memória que constatamos não ter sido vivida pelo narrador. Essa impressão provocada ao leitor vem desde o seu primeiro livro, Um conto no passado: cadeiras na calçada, romance de 2005. É tanto que nesse seu Os acangapebas, os contos ainda cheiram a passado, e Raymundo Netto continua com suas cadeiras na calçada, contando-nos suas histórias. Como nos dão conforto essas narrativas!




 

Falecimento do colorista de HQs: Dijjo Lima


(Foto: Reprodução Facebook)

Faleceu ontem, 15 de maio, vítima de uma parada cardíaca por embolia pulmonar, aos 34 anos, Diego do Nascimento Lima, colorista e designer gráfico cearense conhecido como DIJJO LIMA.

Nascido em Maracanaú e de origem humilde, concluiu estudos na Escola de Ensino Fundamental e Médio Antônio Martins Filho. Iniciou seu trabalho como colorista em 2014, com “Vampirella”. Em 2017, estreou na Europa com “Doctor Who” e, em 2021, foi contratado pela Marvel para um novo projeto de homenagem a heróis e artistas de origem latina.

Dijjo era um talento reconhecido nacional e internacionalmente. Ganhador do Troféu HQMIX e do Prêmio Al Rio, atuou em títulos como “O Espetacular Homem-Aranha”, “Wolverine”, “Power Rangers”, “X-Man” e “Carnificina”, entre outros. Coloria para a Dark Horse Comics, Image Comics, Awa Studios, Lego, Éditions Glénat BD, Zenescope Entertainment, Dynamite etc. Em 2018, no Prêmio Ringo Awards, foi finalista entre os 5 melhores coloristas do mundo.

Segundo o jornal O POVO, na última semana ele havia postado que duas das obras coloridas por ele estavam entre as 50 HQs mais vendidas no mês de abril de 2022.

Depoimentos: Luke Ross: “"Um artista talentoso que nos deixa! Estava vivendo um momento tão bom em sua carreira, conquistando tantas vitórias. Que perda, que tristeza!" e Mike Deodato Jr.: “Acabei de saber que esse grande colorista e professor faleceu. Minhas condolências à sua família, amigos e alunos".




 

domingo, 15 de maio de 2022

"Mendez: Mestre da Caricatura", de Levi Jucá, por Raymundo Netto


O LIVRO DO ANO! Não hesitaria em dizer sobre o volumoso Mendez: mestre da caricatura (EcoMuseu de Pacoti, 2021), de autoria do professor/educador, pesquisador e historiador Levi Jucá, doutorando em Educação pela UFC, um professor de História que FAZ HISTÓRIA.

Levi reside em Pacoti (a sua “ilha verde”), ao lado de sua esposa e parceira Maraline Rocha e filhos, em um imóvel antigo, colonial, sobejado de livros, terminando por um quintalzinho bucólico e convidativo, na aprazível serra de Baturité no Ceará, mesmo município onde exerce o seu ofício de professor do estado (ensino fundamental e médio), escreve e desenvolve projetos reconhecidos como de grande relevância, não apenas histórica, cultural, mas ambiental.

Embora jovem, tem uma extensa e invejável produção que, felizmente, não se restringe à quantidade, apresentando – são diversos os testemunhos sobre essa produção – uma rara e benfazeja qualidade.

Não bastasse a escolha perfeita do nome desse biografado, o caricaturista e pintor cearense Mário de Oliveira Mendes, o “Mendez” (1907-1996), um dos maiores nomes nacionais em sua arte, hoje, um tanto esquecido, a obra, um livro de arte, é uma produção gráfica de entontecer e fazer chorar – certamente seria um livro que eu me orgulharia de ter feito –, com destaque em seu miolo. Em 2018, Levi havia participado de nossa coletânea História das Histórias em Quadrinhos no Ceará (EDR) com o texto “Mário de Oliveira Mendes, o Mendez (1907-1996)”. Havia já uma pesquisa em andamento e o desejo de alçar um voo maior. Seria impensável imaginar que em tão pouco tempo teríamos esse resultado estampado nessa encadernação luxuosa e em vivíssimas 256 páginas.

Para mim, que sou apreciador e diletante na pesquisa histórica, ler uma pesquisa tão bem escrita, fundamentada e, como já me referi, com tamanha riqueza de documentos, entrevistas e imagens (fotos, recortes, páginas de jornais, publicações e uma galeria incrível de ilustrações, caricaturas e charges do biografado – geralmente são tão escassos e/ou nos chegam danificados –), me traz uma esperança patrimonial e cultural imensa.

Poucos artistas tiveram o privilégio de ter, após a sua morte, um tratamento como esse dado por Levi – que apesar de ser um grande talento, não perde a humildade, honestidade intelectual e a generosidade – e pela sua equipe editorial. Assim, da mesma forma que Levi teve a oportunidade de ser o primeiro a publicar a biografia do Mendez, não tenho dúvida de que o Mendez teve a grande felicidade de ter o Levi como seu biógrafo.

Indico demais que todos ADQUIRAM essa obra, a LEIAM, a DIVULGUEM, pois é o retrato de melhor exemplo de produção cultural que o Ceará tem.

IMPORTANTE:

A tiragem é limitada e o preço é promocional: apenas R$ 50,00

 

Contato com o autor:

levijuca@gmail.com

@levijuca (Instagram e Facebook)

 

Para saber mais sobre o biografado, o biógrafo, sobre a obra e adquirir o seu exemplar, ACESSE:

www.ecomuseu.com.br/mendez/

 

Para assistir à entrevista de Levi Jucá com a historiadora Mary Del Priori, ACESSE:

linktr.ee/marydelpriore

 

segunda-feira, 9 de maio de 2022

"Apesar de... SORRIA!", de Raymundo Netto para O POVO


Todo mundo tem aqueles dias em que desperta e por um motivo qualquer, por vezes aparentemente injustificado e/ou desconhecido, sente uma tristeza doída no peito.

Existem outras nas quais essa tristeza é quase uma inquilina, companheira antiga e perseverante, uma angustiante motivadora de silêncios, de cismas de nos colocar de ponta-cabeça, de semear a mais absoluta descrença em nós mesmos, de findar em lágrimas incontidas no escuro das gentes e, como diz o Baleiro, de andar tão à flor da pele que “qualquer beijo de novela nos faz chorar”.

Às sombras, esses demônios domésticos nos cobrem da sensação de não cabermos mais em nós mesmos, de não nos reconhecermos mais no mundo, de vivermos em muda incompreensão, a ponto de que, para continuar – ou não – toma-se a atitude de nada mais importar ou não se levar nada a sério ou mesmo de, simplesmente, ocupar o nosso original espaço, uma espécie de “bolha”, a nos proteger das inconvenientes, agressivas e patéticas tentativas de “inclusão”. Sim, várias vezes se terá a incerteza de sorrir de novo ou de enfrentar os dias do amanhã, não por medo, pois curiosamente não se o tem, mas por não encontrar mais neles algum sentido ou razão.

Desde a minha infância, coleciono alguns poucos “heróis”, e eles geralmente eram solitários, incompreendidos, ridicularizados, perdedores, com a inocência d’O Garoto, sem tempo para amor ou para amar, contudo, sem ambições, não tinham medo de errar e eram inconvencionais.

Um desses heróis era a criatura chapliniana, o vagabundo e andarilho aqui conhecido por Carlitos. Eu, com 11 ou 12 anos, colocava o despertador para me acordar na madrugada para assistir sozinho – éramos 8 lá em casa – ao circuito de seus filmes na Globo – na época não existia videocassete, DVD, muito menos streamings. Sempre me perguntei o que fazia um garoto adolescente a empenhar-se tanto para assistir àqueles pastelões de mímicas (mudos) e em P&B. O certo é que essa criança se emocionava, se divertia e se encantava com a beleza, a sensibilidade e a profunda humanidade contida naquelas narrativas, de maneira que aquelas imagens ainda hoje forram algumas das paredes de suas (e minhas) mais caras memórias.

Nessa mesma época, conheci “Smile”, composta por Charles Chaplin em 1936 – o título e a letra seriam acrescidos em 1954 por John Turner e Geoffrey Parsons.

Além da melodia lancinante, a poesia me advertia: “Sorria, mesmo com o coração doendo/ Sorria, ainda que ele esteja partido.” Eu era cercado de afetos, família grande e barulhenta (leia-se divertida, unida), de pais amorosos, mas havia, sim, uma tristeza congênita, uma ausência de sonhos e um total desinteresse em “buscar a felicidade”, porém aliada a uma certeza que até hoje trago comigo: “tudo passa, seja a dor ou a glória!”

Assim, muitas vezes consegui e consigo cumprir o sorriso, como o artista ao abrir das cortinas, do acenar dos leds das câmeras de TV. Sorrir, mesmo quando no espertar da dor e da tristeza, da perda – seja por morte ou algo parecido –, da dúvida, do desamor.

A grande aventura da vida exige equilíbrio, serenidade e muita coragem. Além de a busca intransigente pelo que se quer (se preferir chamar isso de “sonho”...), o exercício da verdade e do respeito para com os outros, a defesa de SEUS princípios e valores, o abusar de sua capacidade de oferecer afetos, a construção mais ampla da sua liberdade e do seu eu (que deve ser muito debulhado, cuidado e amado) e o desafio constante, entre eles, o de sorrir.

E se você me lê agora, faça-me o favor, respire fundo e SORRIA!