quarta-feira, 22 de maio de 2013

Cursos Especiais do Espaço O POVO de Cultura & Arte



CURSOS
Espaço O POVO de Cultura & Arte

Divulgue, compartilhe e participe!

VAGAS LIMITADAS


GASTRONOMIA: Iniciação ao Mundo do Vinho (módulo I, com degustação de cinco vinhos)
Facilitador: Marco Ferrari
Data: 28 de maio
Horário: 19 às 21h
Investimento: R$ 60,00

LITERATURA: Clarice Lispector, uma (Re) Visão
Facilitador: Miguel Leocádio
Data: 3, 4, 10 e 11 de junho
Horário: 19 às 21h
Investimento: R$ 60,00

MITOLOGIA GREGA: Os Mitos Gregos (módulo I)
Facilitador: Grupo Paideia
Data: Encontros semanais entre 6 de junho a 8 de agosto
Horário: 19 às 21h
Investimento: R$ 60,00

AUDIOVISUAIS: Desconstruindo Glauber Rocha – Cinema Novo e Cinema Clássico Hollywoodiano
Facilitador: Sander Cruz
Data: 12, 19 e 26 de junho e 3 de julho
Horário: 19 às 21h
Investimento: R$ 90,00

ESCRITA CRIATIVA
Facilitador: Socorro Acioli
Data: 29 de junho, 6, 13, 20 e 27 de julho
Horário: 9 às 12h
Investimento: R$ 300,00

Informações e Inscrições: (85) 3255.6276
Pagamento: cartão de crédito ou boleto bancário.

www.edicoesdemocritorocha.com.br

sábado, 18 de maio de 2013

Concurso Público para quem escreve Literatura Infantojuvenil, a hora é essa: vamos participar!



Publicado Edital para Seleção de Textos do PAIC (Coleção PAIC Prosa e Poesia)/2013

A Secretaria de Educação do Estado do Ceará (SEDUC), através da Coordenadoria de Cooperação com os Municípios (COPEM), torna pública o Edital nº004/2013 do Concurso Público para Seleção de Textos de Literatura Infantil do Programa Alfabetização na Idade Certa – PAIC / 2013. 
O Concurso Público selecionará 36 textos de Literatura Infantil inéditos de autores residentes no Estado do Ceará, para reprodução, edição, publicação e distribuição aos alunos da Educação Infantil, 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental da rede pública no âmbito do Programa Alfabetização na Idade Certa - PAIC+. Os textos selecionados serão contemplados com, premiação em dinheiro, e farão parte da “COLEÇÃO PAIC PROSA E POESIA” do Programa Alfabetização na Idade Certa - PAIC+.

Serão 12 textos para cada categoria:

Categoria 1: Textos de Literatura Infantil inéditos destinados às crianças de 04 (quatro) a 06 (seis) anos de idade. 
Categoria 2: Textos de Literatura Infantil inéditos destinados às crianças de 07 (sete) e 08 (oito) anos de idade.
Categoria 3: Textos de Literatura Infantil inéditos destinados às crianças de 09 (nove) e 10 (dez) anos de idade.

As inscrições irão até o dia 26/07/2013. 

Aqui, no seu AlmanaCULTURA, em breve, algumas dicas para concorrentes sérios.

Acesse aqui mais informações sobre a seleção: 



quarta-feira, 15 de maio de 2013

"O POVO: 85 anos presente no Ceará IX" (na íntegra), crônica de Raymundo Netto para O POVO (15.5)


Demócrito Rocha e a filha, Lúcia, em 1942.


A Senhora da Mansão Castelo

Rua Barão do Rio Branco. Era 6 de maio de 1917. De repente, a fisgada e o entreolhar: Acho que é agora!” E foi. De sete meses nascia a caçula. Sem aviso, sem banheirinha, sem fraldas ou sapatinhos. Seria Maria da Glória, como a vó, dependesse de Demócrito, mas Creuza quem decidiu: Maria Lúcia! Sim, Lúcia, a “iluminada”, ainda nos braços da mãe. Nada tinha, mas nada lhe faltaria. Logo os amigos, parentes e vizinhos fizeram-lhe o enxoval.
Lúcia cresceu aos olhos dos pais e da irmã companheira, Izinha. Cresceu como criança pequena num mundo de imaginário colorido daqueles tempos. Gostava de ler, enquanto a irmã, de cantar. Vivia no encanto de casa pequena, também atenta aquele pai que entrava e saía sempre com novidades e muitas falas, o timbre alto, seguro, e o sorriso marcando o rosto. No entanto, a família comemorou quando se mudou ao sobradinho da Major Facundo, pois enquanto moravam em cima, estavam perto do papai, que atendia em seu consultório dentário no andar de baixo. A situação financeira da família era precária, mas criança não liga para isso, e os pais de Lúcia estavam sempre por perto.
Quando Demócrito sofreu a sua famosa agressão, em 1927, ela assistiu a tudo sem entender. Aquela multidão gritando pelo nome do pai, e ele, ali, sentado em frente a casa, cheio de machucados e olhos diferentes. A mãe chorava e um senhor tocava violino com tanta graça de fazer o tempo parar.
Durante algum tempo, a pequena Lúcia, que sabia o pai valente como o quê, temia que ele saísse e não mais voltasse. Mas ele voltava, sim, e lhe parecia cada vez mais forte.
Mais cedo do que tarde, Demócrito não esperou: mudou-se para novo endereço, na General Bezerril, mais simples, para juntar dinheiro e equipar O POVO, o seu próprio jornal. Não muito depois, mudou-se para a Floriano Peixoto.
Lúcia e Albaniza estudavam no Imaculada Conceição, mas, por desejo do pai, foram transferidas para a Escola Normal Pedro II. Não de estranhar, Lúcia gostava de Português e de Literatura. Estudava Francês na escola, enquanto em casa aprendia Inglês, com professor particular, e Esperanto com o pai.
Em junho de 1934, diversos estudantes de escolas de Fortaleza lançariam um manifesto com abaixo-assinados (dentre eles o jovem Américo Barreira) de apoio à sua candidatura para “Rainha dos Estudantes Cearenses”: “Lúcia apresenta a formosura do seu talento peregrino e a beleza moral, abraçadas, em contubérnio feliz, à graciosidade do seu porte de mulher cearense”. Do Colégio Militar, em sua revista Pátria, em 28 de julho, mais apoio: “Lúcia, a normalista que edificou no coração da mocidade cearense um trono de ouro que diz amor, sabedoria e justiça [...]” Havia passeata e panfletagem para ela. Foi quando Demócrito soube do movimento e disse à filha: “Rainha e rei só na Inglaterra. Desista da candidatura!” E ela o fez. Entretanto, Lúcia, como o pai, era teimosa, e continuou atuando no Conselho de Honra do Centro Estudantal Cearense, nomeada que foi em novembro daquele ano. Faz-nos pensar, ser mesmo ela portadora de alguma luz candente, a ponto de num Natal, o poeta e romancista Antônio Sales, um seu admirador confesso, dedicava-lhe um poema, de onde recortamos os versos: “Mas a flor, seja qual for, /Há de sentir-se humilhada,/ Ficar de inveja ralada/ De não ser Lúcia e sim flor.”
Em 11 de agosto de 1935, era presidente do Centro Cultural das Normalistas quando sua voz tomou conta do microfone da PRE-9, a Ceará Rádio Clube, onde proferiu algumas palavras sobre o dia do estudante e convocou-os a participarem de uma parada comemorativa e de programação no Theatro José de Alencar.
Em 5 de dezembro de 1935, finalmente, a formatura de Lúcia e Albaniza. Diante o governador Menezes Pimentel, prefeito Álvaro Weyne, Filgueiras Lima, paraninfo da turma, Hugo Catunda, diretor interino da instrução, e Monsenhor Quinderé, representando o arcebispo, a jovem diplomanda Lúcia, oradora da turma, proferiu seu discurso, no qual: “[...] A professora que obedece ao seu dever cultiva planta cheia de espinhos. Acha-se, porém, em condições de colher, em qualquer tempo, os frutos reais do seu trabalho e a flor com que o coração costuma premiar o espírito em mútuo reconhecimento”.
Durante dois anos, 1938 e 1939, lecionou no Instituto Lourenço Filho, entretanto, com a chegada da guerra, seu pai, que firmara contrato com as agências internacionais Havas Telmondial e Reuters, precisava de sua ajuda na tradução (francês e inglês) e decodificação das notícias — vinham em código para evitar que outros se apropriassem de suas matérias exclusivas —, o que ela fazia, inicialmente, com o jornalista francês Jean Bazin. Além disso, as datilografava e as encaminhava ao jornal. Mais um pioneirismo de O POVO.
Durante esse período, moravam na Gentilândia, na casa do “cajueiro torto”. Gostava de participar das tertúlias promovidas por sua mãe. Lúcia declamava seus poetas e, às vezes, puxava do pinho umas canções salpicadas de estrelas: “Nossas roupas comuns dependuradas/ Na corda, qual bandeiras agitadas/ Pareciam estranho festival!/ Festa dos nossos trapos coloridos/ A mostrar que nos morros mal vestidos/ É sempre feriado nacional.”
Um dia, João Dummar, empresário e dono da PRE-9, promoveu uma festa no Cine-Teatro Majestic. Convidou o Demócrito, que por não poder comparecer, enviou, em seu lugar, a filha Lúcia. Mas ela esqueceu os convites e foi barrada, voltando para casa. Quando João soube do ocorrido, foi imediatamente à casa do amigo para pedir-lhe desculpas. Foi assim que a conheceu e soube ser dela a voz que ouvira em sua rádio, há alguns anos. Passou, desde então, a frequentar regularmente a casa dos Rocha. Demócrito já era muito próximo de João e aprovou o namoro. Noivaram. Daí, era comum a família toda ou parte dela, visitar o sítio “Granja Castelo”, residência de João (adquirido do genro de Pierina, musa de Plácido de Carvalho), às margens da lagoa de Messejana.
Mas Demócrito adoeceu e Lúcia decidiu que não sairia de perto do pai. Ele, deitado na rede, e ela ao lado: tomando-lhe notas, medicando-lhe, cantando modinhas, esticando cuidadosa a coberta, balançando-lhe a rede, acompanhando de perto seu sono asfixiante. De perto, sempre.
Em novembro de 1943, aconteceu o falecimento do pai. Difícil segurar tanta dor no peito. À noite, para piorar, choveu muito. Pensou no pai que, por não ter um túmulo de família, foi colocado em cova comum. Lembrou-se e sofreu: Chuva, frio e o pai “à flor da terra”.
No início de janeiro de 1944, soube da negociação da PRE-9 para Chateaubriand. Correu para a Casa Dummar, mas era tarde: negócio feito! Sabia que seu pai não deixaria João fazer aquilo. Tarde. Dias depois, em 27 de janeiro, data de aniversário de João, eles se casam e partem para o Rio, onde o marido, cumprindo promessa, envia material para construção do túmulo de Demócrito Rocha.
O casal voltou a Fortaleza — residiam no Benfica por desejo de João — e aqui tiveram seus 6 filhos  — “o sexteto”, como chamava o pai. Havia um acordo: o nome dos filhos seria escolhido por Lúcia (Demócrito e João Dummar Filho) e o das filhas o seria por João, que decidira que todas seriam “Lúcias” (Lúcia Maria, Lúcia Helena, Carmen Lúcia e Albanisa Lúcia), homenagem de marido apaixonado.
Mas o casamento durou apenas 10 anos. Doente, João Dummar faleceu em julho de 1955, deixando Lúcia viúva, com apenas 36 anos. Época muito difícil de sua vida. Com a morte de João, transferiu a família de uma vez por todas, até hoje, para a “Mansão Castelo”.
Mais tarde, Lúcia encontrou-se acolhida por um novo amor, o oficial militar amazonense Jerônimo Alberto Montenegro, o Giruca, ex-membro, na juventude, do “Bando da Lua” (do qual fazia parte Zenon Barreto), que foi seu grande companheiro, por muitos anos, na missão de protegê-la e colaborar na educação de seus filhos ainda muito pequenos. Em casa, a visita permanente dos amigos, como: Braga Montenegro, Otacílio Colares, Milton Dias, Fran Martins, Lustosa da Costa, Lúcio Brasileiro, dentre outros.
Giruca, um dia, foi surpreendido por uma grave doença nos rins que o levou a sessões de hemodiálises, assistidas regularmente, rente à vidraça, pela companheira. E, por meio dessa vidraça, Lúcia o viu partir, lentamente, em 10 de junho de 1986.
Mas isso não a fez descrer na vida, ao contrário, fortaleceu-a. Dotada de prodigiosa memória, vontade e alegria de viver, adora receber visitas, conhecer gente nova. Curiosa, gosta de aprender. Lê O POVO todos os dias. Discute os acontecimentos com a família e amigos que a cercam na varanda de seu sítio ou a acompanham na imensa mesa de toalha branca . Passeia com eles entre as árvores e plantas identificadas por tabuletas. Apresenta o memorial da família, a coleção histórica do jornal de seu pai, o gabinete de João Dummar e os equipamentos da PRE-9, os livros de sua biblioteca particular, as aves coloridas, o céu sempre azul e o livre bordado de nuvens francas que repousam pertinho do brilhume da lagoa aos pés de Iracema. Ao conversar com ela, tentamos com muito esforço enxergar através de seus olhos toda uma galeria de imagens raras e remotas que dizem dela, em tantas histórias, mas também de todos nós. E é assim que d. Lúcia pinta seus dias: “Com alegria, pelo dia afora, sempre sonhando”. 

domingo, 5 de maio de 2013

"Ciranda de Bailarina", de Chico Buarque




Procurando bem
Todo mundo tem pereba
Marca de bexiga ou vacina
E tem piriri, tem lombriga, tem ameba
Só a bailarina que não tem
E não tem coceira
Berruga nem frieira
Nem falta de maneira
Ela não tem

Futucando bem
Todo mundo tem piolho
Ou tem cheiro de creolina
Todo mundo tem um irmão meio zarolho
Só a bailarina que não tem
Nem unha encardida
Nem dente com comida
Nem casca de ferida
Ela não tem

Não livra ninguém
Todo mundo tem remela
Quando acorda às seis da matina
Teve escarlatina
Ou tem febre amarela
Só a bailarina que não tem
Medo de subir, gente
Medo de cair, gente
Medo de vertigem
Quem não tem

Confessando bem
Todo mundo faz pecado
Logo assim que a missa termina
Todo mundo tem um primeiro namorado
Só a bailarina que não tem
Sujo atrás da orelha
Bigode de groselha
Calcinha um pouco velha
Ela não tem

O padre também
Pode até ficar vermelho
Se o vento levanta a batina
Reparando bem, todo mundo tem pentelho
Só a bailarina que não tem
Sala sem mobília
Goteira na vasilha
Problema na família
Quem não tem

sábado, 4 de maio de 2013

HOJE: "As Vizinhas" traz de volta a pessoa amada, ganha novas amizades, aproxima quem está longe e DE GRAÇA cura enfado e mau-humor!



Antes de sair para a balada, para a arruaça, para o barzinho ou para aquele restaurante barulhento (ou o outro chatésimo), passa no Teatro da Praia e colha bom humor:

As Vizinhas”, peça de Carri Costa e da Cia. Cearense de Molecagem será apresentada em todos os finais de semana de maio no Teatro da Praia
(José Avelino, 662, Praia de Iracema – perto do Dragão do Mar - informações: 3219.9493)
Sábado às 21h e domingo às 20h.
Inteira: R$ 30,00 e Meia: R$ 15,00
— classificação: 12 anos —


Sobre “As Vizinhas”: Num condomínio de subúrbio chega de mudança uma misteriosa grã-fina, mal acostumada, cheia de dengos e manias. Só que ela tem uma vizinha que, ao contrário, é desbocada, com as cores do povão, sem lerês nem quês. A convivência pode ser insuportável para elas, mas garante ao público as melhores gargalhadas. 
Dica: se ligue para descobrir o grande mistério por trás da nova moradora. “Se sua vizinha é uma comédia, imagine a nossa!”
Peça campeã de Carri Costa, sucesso por onde passou, as "Vizinhas" traz no elenco o próprio Carri Costa (genial), Solange Teixeira e Denis Lacerda.

Espia, negrada: Promoção Especial para bons vizinhos!!!

Envie um e-mail para teatrodapraia1@hotmail.com
solicite a senha e pague somente R$ 10,00
(coloque nome completo no e-mail para garantir a identificação)

Acompanhe a história e os projetos do Teatro da Praia

quarta-feira, 1 de maio de 2013

"O POVO: 85 anos presente no Ceará VIII", de Raymundo Netto para O POVO (1.5)


Creuza do Carmo Rocha, em 1928

A Primeira Dama de O POVO

Noite quente e estrelante de 11 de fevereiro de 1974. Creuza do Carmo Rocha chegava em casa, animada, falante e feliz. Vinha da festa de aniversário da neta Lúcia Maria Dummar Asly. Sentou-se à penteadeira. Deitou, por um instante, o olhar na imagem setuagenária no espelho, e tocava com a ponta dos dedos o cabelo da nuca quando seus braços mornos penderam. Albanisa, sentindo o silêncio do cômodo, correu-lhe a tomar o peso da mão: “Mamãe?”
Em 28 de outubro de 1897, nascia. Não conhecera o pai, Joaquim, morto antes. A mãe, Isabel Cristina, de vida humilde, costureira, morava em casa alugada com os seis filhos. Quando Maria do Carmo, Maroca, a mais velha, se casou, levou toda a família com ela, inclusive a Creuza, caçula, espirituosa, alegre e brincalhona, que gostava de ler e de conversar.
No rebentar do século XX, em Fortaleza, o Passeio Público era o ponto de encontro dos rapazes e moças, que lá se iam, em seus melhores trajes para impressionar e chamar atenção. Num desses dias, um jovem e magro telegrafista baiano, nove anos mais velho que Creuza, recém-chegado a cidade, não tirava os olhos da moça graciosa, a esbeltar o vestido, provavelmente feito pela mãe, tendo, à cabeça, um chapéu de abas largas a trazer, em seu cimo, uma pena extensa e alva que parecia acenar para ele. Então, a poesia de sua alma versou em coragem e, ali mesmo, entre as esfinges que enigmavam seu destinovo, tomou-a para si. Em apenas seis meses, noivaram, apoiados por Maroca, a irmã-guardiã.
Foi na Igreja de Nossa Senhora do Carmo, em 9 de fevereiro de 1915, que Demócrito e Creuza se uniram de vez. Em janeiro, entretanto, Demócrito havia assumido uma agência dos Correios em Iguatu, vindo a cidade apenas para se casar e levar a esposa, então com 18 anos. Era ano da grande seca. Não tardariam por lá, pois, quando ela engravidou, o marido, preocupado com as condições de parto, voltou a Fortaleza, ainda em agosto, passando a morar na casa de Maroca. E, em 5 de janeiro de 1916, nasceu Albaniza. Demócrito, com a segunda gravidez de Creuza, alugou uma casa na Barão do Rio Branco, e, com eles, foi a sogra, que auxiliaria com a nova netinha, a Lúcia, nascida na surpresa de sete meses, em 6 de maio de 1917.
A vida não era fácil, nem poderia ser, a princípio, pelo reduzido salário de escriturário pagador dos Correios, que era o que tinham. Mudaram de residência várias vezes e por pretextos diferentes. Aliás, um das queixas eternas de Creuza a Demócrito foi de ele nunca ter adquirido a sua casa própria.
Por outro lado, Demócrito era zeloso, afetuoso e trabalhador. Foi convidado para escrever para O Ceará, e, por iniciativa própria, lançaria a Ceará Ilustrado, revista completamente original para os moldes da época. Por meio do sucesso de sua “Nota do Dia” e de sua revista, Demócrito logo, logo, passaria a agregar em torno de si, tudo e todos que faziam a literatura, a comunicação, a política e o jornalismo de sua época.
Em 1927, quando Demócrito sofreu violenta agressão por parte de oficiais da polícia, um “recado” do então governador, Creuza o recebeu em casa, ensanguentado e com diversas escoriações, carregado por braços de populares. O jornalista tornava-se uma celebridade. Seu nome já era entendido, naquele tempo de poucos suportes de comunicação, como a voz dos oprimidos. Ganhara vulto e leitores, rapidamente, como poucos em seu tempo. Isso, de certa forma, fazia com que estivesse sempre na rua, militando, envolvido em polêmicas, escrevendo para jornais, em reuniões sociais, nos coretos das praças, além de frequentar o círculo boêmio e intelectual. Creuza sabia bem: não adiantaria cobrar a sua presença constante em casa; Demócrito era do mundo! Daí saber mais de seu esposo pelos outros. Era comum ser parada nas ruas para ouvir elogios ao “grande homem” que era o seu marido. Orgulhava-se, é verdade, mas temia. As pessoas não imaginavam o aperto que ela trazia no peito toda vez que ele colocava o chapéu na cabeça, e “conferia” às costas a pistola 32 ou seu punhal, ao atravessar a soleira de casa. Com as pequenas Izinha e Lúcia, chegava a sair de casa a procurá-lo, quando demorava, o encontrando a jantar despreocupado no restaurante da praça do Ferreira. Por vezes, iam apenas as meninas, e lá ficavam com o pai, ouvindo conversas de política, até voltarem juntos para casa. Comum também era assistir a homens armados cruzando-lhe a calçada e colocando os olhos pelas portas e frinchas das janelas. Nas manhãs, também encontrava as paredes riscadas por peixeiras e as janelas e portas marcadas por punhais, em constante ameaça, coincidentemente sempre quando Demócrito chegava animado, falando de nova contenda ou quando se orgulhava da poeira levantada por um texto seu. Ela lia o que ele escrevia e o ouvia. Na empolgação do marido, a fala firme e descontraída... Era como se não fosse com ele, mas era, e muito!
Quando surgiu O POVO, sua ausência tornou-se ainda mais sentida. Trabalhava no jornal e no consultório dentário, para “segurar as pontas”. Creuza decidiu, então, já que não podia estar nesse mundo ao lado de Demócrito, o tempo inteiro — embora fosse costumeiro vê-la com as filhas, atentas e batendo palmas, na primeira fila de seus discursos —, trazer “esse mundo” para dentro de casa: passou a convidar amigos e esposas para tertúlias literárias e, assim, trocavam visitas. Demócrito tinha necessidade de gente, de trocar ideias, e ela também.
Quando da eleição de Demócrito como deputado federal, em 1935, indo ele trabalhar no Rio de Janeiro, Creuza, durante bom tempo se viu sozinha, mesmo recebendo regulares e acalentadoras cartas do marido. Tempo difícil em que contou com a ajuda das filhas e de Paulo Sarasate. Demócrito retornou doente, e ela esteve ao seu lado até o derradeiro suspiro, em 1943.
Creuza, a primeira mulher a possuir título eleitoral no Ceará, adorava jogar “buraco” com as amigas, motivo para se encontrarem, tomarem refrescos, água de coco, comer doces e bolinhos. Nas refeições, era obrigada a tomar remédio para o fígado, dose esta que era compartilhada por quem estivesse à mesa com ela, precisando ou não. Gostava de dormir de rede. Mesmo depois da morte de Demócrito, manteve a habitual promoção de tertúlias e festas. Amigos, políticos e demais personalidades do país marcavam encontro, em cadeiras de balanço de sua varanda, para ouvi-la, pedir votos ou conselhos. Ela, muito franca, dizia o que pensava, mesmo quando não fosse tão doce quanto as iguarias servidas por Hermínia, a sua cozinheira e auxiliar de casa — que falecida, foi sepultada ao lado de Creuza.
Com a morte do genro, assumiu a presidência de O POVO, em 1970, enquanto Albanisa, a superintendência. Na época, J.C. Alencar Araripe, José Raymundo Costa e o jovem Demócrito Rocha Dummar assumiam a diretoria editorial, administrativa e comercial, respectivamente.
O Edifício Demócrito Rocha, atual sede do seu jornal, foi inaugurado em 7 de janeiro de 1974, cerca de um mês antes do falecimento de a grande “Dama d’O POVO”.