Interrompemos a nossa programação literária normal para o
pronunciamento de um autor, eleitor e trabalhador brasileiro: Minhas amigas e
meus amigos, no momento dramático, atípico e histórico pelo qual passamos, como
seria possível debruçar-me sobre a ficção quando a realidade me parece ainda
mais fantástica e absurdamente irreal?
Votei pela primeira vez aos 21
anos. Até lá, não poderia votar, não porque não o quisesse, mas por que em meu
país, em 1964, houve um golpe de estado. Depois veio a ditadura civil (a elite
econômica, os poderosos que tiveram vantagens com o regime implantado no país)
e militar, a repressão, as perseguições aos intelectuais, aos artistas, aos
veículos de comunicação de oposição (os favoráveis ao golpe, ao contrário,
enriqueceram), aos movimentos sociais, a censura, a perda dos direitos civis, a
tortura, os assassinatos, o medo, o terror e, por fim, o silêncio.
Algumas pessoas, covardemente,
decidiram cuidar da sua própria vida e pronto. Não reclamariam, deixariam que o
governo fizesse o que bem entendesse. Outros sabiam de familiares e amigos
desaparecidos – alguns até hoje – ou
torturados com elevado nível de barbaridade.
Hoje, 30 anos depois, vejo
"emergir o monstro da lagoa". O pior, o mais desqualificado e
despreparado candidato ao maior posto executivo do país fala claramente, sem
vergonhas ou temor, de ser a favor da tortura e do assassinato de seres
humanos. De não aceitar a democracia e não respeitar voto. De ser contra os
direitos trabalhistas e desfavorável a trabalhadores, principalmente as
mulheres, privilegiando empresários inescrupulosos. Que prega um discurso
repleto de violência, de homofobia, de racismo, de misoginia e preconceito,
enquanto é associado à corrupção (afirma ter recebido propina por meio de seu
partido, assume a sonegação de impostos) e, misteriosamente, agora, nos aparece
em uma campanha milionária de disparos em massa bancada por empresas
divulgadoras de Fake News. E com que
objetivo? Por amor a esse país? E afinal, a quem esse candidato fascista, que
nada fala de educação e de cultura, realmente representa? Os nomes que se aliam
ao dele são os de pessoas tão oportunistas e de caráter tão duvidoso quanto o
próprio, também radicais, extremistas e autoritários. Pergunto: será que
teremos que passar por isso de novo e desta vez entregando a nossa democracia e
o nosso país de bandeja?
Não defendo o PT. Sou contra a
ditadura, seja de direita ou de esquerda. Não sou ligado a nenhum partido, mas
como artista, brasileiro e trabalhador, sou favorável à democracia, à ampla
liberdade de expressão, à pluralidade de ideias, à diversidade, à maior igualdade
social, à justiça e aos direitos humanos, à solidariedade, à educação acima de
tudo, à cultura para união dos povos e à disseminação do amor, da gentileza, da
paz e da liberdade.
Assim, HOJE, não vejo alternativa
a não ser votar em HADDAD, um democrata, independentemente de seu partido.
Ex-ministro da Educação, que ali deixou um legado impressionante de aumento de
orçamento, expansão e interiorização do ensino superior e ampliação do número
de matrículas escolares. Daí, peço a você, leitor(a), que reflita, dispa-se de
seu ódio e antipetismo. Acredite que com Haddad, esse tiro (voto) não sairá
pela culatra.