quarta-feira, 28 de novembro de 2012

"Literatura? No Ceará não tem disso não!", crônica de Raymundo Netto para O POVO (28.11)



Quando tive que elencar obras de autores cearenses para publicação na coleção “Nossa Cultura” da Secretaria da Cultura do Ceará, achei que teria alguma dificuldade. Qual nada. Acabei por descobrir que a maioria dos livros publicados no Ceará só teve uma primeira edição — muitas vezes em tiragens mínimas —, mesmo aqueles que são considerados referências da historiografia literária: “O Canto Novo da Raça”, livro inaugural do modernismo no Ceará, “Coroa de Rosas e de Espinhos”, de Mário da Silveira, autor precursor desse modernismo, “Prelúdios Poéticos”, de Juvenal Galeno, marco do romantismo cearense, “Quem Com Ferro Fere com Ferro Será Ferido”, também de Galeno, pioneiro da dramaturgia escrita e encenada no Ceará, inédita e publicada 151 anos depois, “Obra Perdida de Américo Facó” (“Sinfonia Negra” e “Poesia Perdida”), “Minha Terra” – poesia parnasiana —, e “Retratos e Lembranças”, ambos de Antônio Sales, “O Livro dos Enforcados”, contos de Gustavo Barroso, “Romanceiro de Bárbara”, poesia épica de Caetano Ximenes Aragão, dentre outros. Para mim, é histórico e notório o desinteresse com a manutenção e difusão do nosso patrimônio literário. E, confesso, digo “nosso” sem acreditar muito na existência do sentimento de pertença do povo cearense, a mesma “inexistência” que estimula a destruição completa dia após dia do patrimônio artístico-cultural e arquitetônico no Ceará. Chego até a crer que os posteriores “lamentos”, após as constantes derrubadas nos feriados prolongados, são falsos, frutos da simples falta do que fazer ou dizer.
Durante a pesquisa para a publicação de tantos títulos, descobri também que há pouquíssimos estudiosos na temática — o que a princípio deixou-me confuso — e os que ainda encontro, muitos deles, escrevem sobre as obras baseados na pouca e rara crítica literária existente, sem jamais ter tido o trabalho de lê-las, confiando piamente nas opiniões, por vezes equivocadas, de antecessores. Também encontrei outros que defendem, sem tremer a cara, erros históricos, mas que, como ninguém sabe de nada nem tem o interesse de saber, acabam por deixar como estar sem entender que aquele erro difundido e propagado, num futuro não tão distante, pode vir a ser levado a sério.
Conheço muita gente do curso de Letras que afirma, estranhamente, não gostar de literatura, menos ainda da cearense, que não conhecem. Acham uma bobagem perder tempo discutindo e estudando isso, enquanto cada vez mais a linguística ganha novos adeptos.
Na escola, depois do advento do ENEM, se fala cada vez menos sobre a literatura do Ceará. A impressão que se tem é que aqui, além da aridez do clima, também nossos escritos não vingaram. Nada se colhe de bom no Ceará é o que provamos.
Enquanto que no curso de História da Universidade Federal do Ceará as disciplinas de História do Ceará I e II são obrigatórias, no curso de Letras, da mesma UFC, as disciplinas de Literatura Cearense I e II são optativas e, devido a diversas questões, não são ofertadas em todos os semestres. Ora, é óbvio que se essas disciplinas fossem obrigatórias — são muitos os argumentos em defesa disso —, não faltariam professores nem alunos para ela. Tememos que a ausência da oferta, a aumentar a cada semestre, se torne ainda mais frequente, a exemplo do princípio número um do marketing: “Aquilo que não é visto não é comprado!”. Outra prova disso: quando lançava os livros da coleção “Nossa Cultura”, não raro os editores presentes me diziam que eu só editava aqueles livros porque trabalhava em órgão público, pois que todos sabiam: aqueles livros não eram de interesse de consumidores/leitores. Creio que eles não estavam enganados. Apenas pelo fato de a Bienal do Livro ter como tema a Padaria Espiritual — temática criada por mim — fez com que algumas editoras investissem na publicação de livros em torno dela, assim como sabemos que outras editoras só se empenhavam na publicação de clássicos e contemporâneos cearenses quando as obras eram, na época, elencadas no Vestibular. E, por esse motivo, apenas por esse, os professores e alunos das escolas do Ceará as liam. Mas, o melhor: muitos deles se surpreendiam com a possibilidade de se ler e de se gostar da literatura feita em sua própria terra.
Da mesma forma, penso qual é o estímulo de um professor para se debruçar na pesquisa e no estudo de algo tão desvalorizado, sem procura, quanto essa misteriosa, inalcançável, talvez odiosa, Literatura Cearense.
Dia desses fui convidado para participar como jurado de uma semana cultural em uma grande escola de Fortaleza. Numa das salas, uns adolescentes apresentaram uma espécie de jogral com recortes de textos poéticos de autores, a maioria contemporâneos, de outros estados. Perguntei o porquê de escolherem aqueles autores sem destaque nenhum. Responderam-me: “eles eram desconhecidos e as pessoas precisavam saber que há muita coisa boa na nova poesia brasileira”. Surpreso, perguntei, então, o porquê de naquela lista não constar autores cearenses. Foi quando uma mocinha de olhos brilhantes de 16 anos, linda e ingênua como uma pérola alencarina, respondeu-me no ato: “No Ceará não existem poetas." A orgulhosa mãe da menina, que distribuía bolachas e cafezinhos para a audiência, tremeu-se toda com a afirmação lampejada da criatura, objeto de seu candor: "Tem certeza disso, minha filhinha?". Sim! Como todo jovem, naquela idade, ela tinha todas as certezas do mundo!

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

"Seremos nós, apenas nós, os babacas?", crônica de Raymundo Netto para O POVO


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Foto: José Mendonça (engenheiro e irmão de escritor)

Desde que começamos a divulgar a ausência de oferta das disciplinas de Literatura Cearense I e II no curso de Letras da Universidade Federal do Ceará, o que é um FATO, não nos interessando a situação exposta pela Coordenação do Departamento de Literatura, mas as razões que levaram a ela – e que a coordenadora juntamente com a direção da instituição certamente deverá tentar resolver –, começamos a ouvir alguns indivíduos, inclusive do “meio”, dizerem que isso é uma grande bobagem, que não existe razão para se falar em literatura cearense, quiçá uma brasileira, ou que a boa literatura se sustenta sem precisar “dessas coisas”. Pois bem, afirmo, categoricamente, que esses tais ou são muito ingênuos, mal-intencionados ou uns babacas de carteirinha que não sabem o que dizem nem para que lado se torce um parafuso.
Olhem, que engraçado: o meu irmão, chegando ao aeroporto de Recife, encontrou, no meio do amplo saguão, um quiosque-vitrine onde se lia “Leia Livros Pernambucanos: Movimento em Defesa do Livro e do Autor Pernambucanos”. No interior do quiosque, uma pequena mostra de sua produção.
Lembrando: quando trabalhava na Secretaria da Cultura, perguntaram-me se poderia ir à cidade de Granja, terra natal do padeiro Lívio Barreto, para lançar o seu póstumo “Dolentes”, marco do simbolismo no Ceará. Fiquei eufórico pela oportunidade de falar sobre o malfadado autor e apresentá-lo em seu próprio berço. A maior parte do público nem sabia que livro era aquele e qual a sua importância. Da mesma forma, deparo-me vulgarmente com a falta de conhecimento dos alunos (e professores) dos cursos de Letras sobre autores locais. Entretanto, impressiona-me ainda mais perceber o quanto eles ficam encantados quando falamos sobre as “novidades” desta literatura que eles, julgam, deveriam saber. Há esperança nos jovens desenvenenados!
Há bem pouco tempo, a Universidade Federal do Ceará, esta mesma, numa ação inédita, elencava títulos de autores cearenses para o vestibular. Como essa fábrica, a do vestibular, funcionava bem, logo centenas e centenas de alunos os liam e queriam conhecer de perto os seus autores: Pedro Salgueiro, Airton Monte, Angela Gutiérrez, Natércia Campos, Eduardo Campos, Ana Miranda, Linhares Filho... Conheci esses alunos nessa época. Percebia com entusiasmo a admiração desses jovens. Daí compreendi o grande feito da Universidade: provara que era possível se ler a produção literária local e, mais, se gostar dela! O vestibulando, ao encontrar nossos autores, tinha os olhos brilhantes, emocionados. Tremia na hora do autógrafo. Pedia aos colegas para que tirassem aquela foto.
O mesmo, felizmente, acontece nas salas de aula da disciplina de Literatura Cearense do escritor Prof. Batista de Lima, na Estadual, onde há anos ele prioriza a leitura de autores cearenses vivos. Apresenta-os aos alunos, distribui livros, convida para lançamentos, incentiva e os acompanha. É um grande trabalho feito sem necessidade de holofotes, mas cujo resultado é assistido e aprovado por quem reconhece a importância do gesto de nosso Batista. Também na UECE, a Profa. Sarah Diva Ipiranga arrasta diversos alunos na peregrinação em busca de nossos autores esquecidos, como quase todos o foram por muito tempo e ignorância. Assim também posso dizer das professoras e escritoras Aíla Sampaio e Hermínia Lima e, felizmente, tantos mais.
Do nosso lado, aplaudimos programas como o “Papo Literário” da TVC, sob o comando da Landinha Markan e Mônica Silveira, que promove e divulga os escritores e suas obras, independentemente de sua notoriedade social. Caso raro. Também, há algum tempo, a professora, radialista e grande leitora, Lílian Martins, entrevista com habilidade, competência e amor os autores cearenses, provocando-os e divulgando o melhor de suas obras no “Autores e Ideias”, da FM Assembleia. O “Bazar das Letras do SESC”, programação mensal cujo entrevistador, e também escritor e leitor crítico, Carlos Vasconcelos, abre um espaço valoroso de divulgação de autores cearenses por meio de um bate-papo acolhedor, sempre acompanhado pelo “Abraço Literário”. O “Templo da Poesia”, movimento iniciado pelo poeta Italo Rovere e que já vem arrepanhando tantos outros em seu “Palco Aberto”, reunindo anônimos e renomados em torno da música e da literatura. Outras, muitas, são as iniciativas voluntárias de difusão da literatura cearense e da produção literária local.
Infelizmente, também são muitos os que proclamam fazer algo pela literatura, pelo livro e pela leitura, mas na realidade são fraudes, lançadores de fumaça, uns interesseiros, buscando vantagens pessoais, falando por si, presentes apenas em momentos políticos, festejos sociais, com candidatos e estátuas a tiracolo, falando em nome da ordem coletiva – geralmente ausente – para justificar seu brado isolado e oportunista.
Por ora estamos aqui, diante do Centro de Eventos, gritando vivas para uma anônima Padaria Espiritual. Ela, apenas um traço moleque de tudo quanto ainda temos a descobrir.
Que se queime a orelha dos babacas: se nós não criarmos meios e condições de se conhecer a nossa literatura, não serão os paulistas, nem os cariocas, menos os baianos que o farão, visse?

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Edições Demócrito Rocha na Bienal Internacional do Livro do Ceará


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As Edições Demócrito Rocha apresenta cinco eventos durante a Bienal  Internacional do Livro do Ceará.
Todos mais que convidados.

Dia: 10.11.2012 (SÁBADO)
Horário: 19h30 às 20h30
Local: Arena Multicultural Luís Sá (Arena Jovem) |Mezanino 1 (Bloco D Pavilhão Leste)
É PRA LER OU PRA COMER? A História da Padaria Espiritual para Crianças
de SOCORRO ACIOLI.
Lançamento e bate-papo com a autora da obra, ganhadora do I Edital de Incentivo às Artes da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará, categoria Obra Inédita em Literatura Infantil, em 2004, do selo “Altamente Recomendável” da FNLIJ, e integrante do Catálogo de Bolonha.

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Dia: 13.11.2012
Horário: 19h30 às 21h
Local: Sala 2  Bruno Jaci (José Carlos Jr) |Mezanino 2  (Bloco D Pavilhão Leste)

MODERNISMO NA POESIA CEARENSE: Primeiros Tempos
de SÂNZIO DE AZEVEDO.
Conversa com o autor e lançamento de obra ganhadora II Prêmio Ceará de Literatura, da Secretaria da Cultura do Estado, categoria Ensaio, em 1994. Dentre outras novidades, a inclusão dos fac-similares dos raríssimos números 1 e 2 da revista Maracajá, suplemento de O POVO, veículo de divulgação dos modernistas cearenses.

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Dia: 14.11.2012
Horário: 18h às 19h30 
Local: Auditório Félix Guanabarino (Adolfo Caminha)| Mezanino 2  (Bloco D Pavilhão Leste)

ESCRITA & TRAÇO: Patativa do Assaré, o canto do poeta passarinho, coletânea de textos e produção visual dos alunos do Colégio Farias Brito, fruto de um concurso interno, terceira edição da série que já contemplou Rachel de Queiroz e Cecília Meireles.

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Dia: 14.11.2012
Horário: 19h30 às 20h30
Local: Café Java (Andar P) (Bloco D Pavilhão Leste)

OS ESPANTOS, de TÉRCIA MONTENEGRO.

Bate-papo com a autora e lançamento do seu primeiro livro de crônicas, selecionadas dentre as publicadas no jornal O POVO.

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Dia: 17.11.2012
Horário: 16h30 às 17h30
Local: Arena Multicultural Luís Sá (Arena Jovem) Mezanino 1 (Bloco D Pavilhão Leste)

MEU CADERNO DE BORDO, de EFIGÊNIA ALVES.

Bate-papo com crianças e jovens e lançamento da obra, uma novela, elencada para compor a coleção da série “Eu Sou Cidadão”, da Associação para Desenvolvimento dos Municípios do Ceará/APDM-CE. 

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Uma tarde longa e escura de um dia não vivido




Preciso me Encontrar
(Cartola)

Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
sorrir prá não chorar.

Quero assistir ao sol nascer
Ver as águas dos rios correr
Ouvir os pássaros cantar
Eu quero nascer
Quero viver...

Se alguém por mim perguntar
Diga que eu só vou voltar
Depois que me encontrar...

Deixe-me ir preciso andar
Vou por aí a procurar
Sorrir prá não chorar...