quarta-feira, 31 de julho de 2013

"Coisas Engraçadas de Não se Rir XXVIII: o constrangimento da morte", Raymundo Netto para O POVO (31.07)


A vida pode não ser, mas a morte certamente é segura. Assunto a todos desagradável – pé de pato mangalô três vezes –, há quem diga que o fim, por ser a única certeza terrena, merecia maior investimento, ou que seria possível medir-se o sucesso de uma vida pela qualidade da morte que se tem. Eu, pelo menos, me ladeei na vida com a morte. Desde pequeno a sinto à mão, sussurrada no ouvido e presente nos olhos de gente boa demais para esse mundo. Queria, não nego, ter uma boa morte, não necessariamente feliz, mas intensa, com direito à trilha sonora e diversidades de planos de câmera, como deveria ser a vida e o cinema. Mas, ao contrário do nosso almejado projeto de morte, muitos saem do palco cedo demais, em trágicas performances de violência, descuidos ou renúncia, ou, pior, em desastrados e ridículos atos finais que bem compõem as coisas engraçadas de não se rir de uma vida inteira. Nos Estados Unidos, onde se produz as coisas mais inúteis do mundo, existe até um prêmio, o Darwin Award, que contempla as mortes mais estúpidas, como: Átila, o Huno, escapou de morrer em centenas de combates para ser abatido por uma hemorragia pós-matrimonial de baço (?). Empédocles, filósofo grego, não satisfeito com a falta de reconhecimento intelectual, espalhava a todos, tal qual o Paulo “mosca” Coelho, que tinha poderes supra-humanos. Como ninguém acreditava nele nem gostava de filosofia, decidiu se jogar numa cratera vulcânica para provar o que todos já sabiam: ele era mesmo só um mala. São famosos os casos do dramaturgo Tennessee Willians, de biografia interessantíssima, que nem sonhava um dia morrer engasgado com uma tampa de garrafa, e do contista Sherwood Anderson, morto por uma peritonite porque engoliu um palito de dentes. Como vemos, não são apenas os leitores que engolem qualquer coisa. Os escritores também.
Aqui no Brasil, dia desses, por exemplo, um cidadão morreu quando uma vaca, que escapava de cachorros espritados, subiu em sua casa e arrebentou o telhado. Quer mais? Uma suicida, decidindo encerrar a sua dúvida existencial, acabou levando de carona um espanhol cinquentão que cruzava a calçada do prédio onde ela morava. Um canadense, professor de direito, para provar a seus alunos que o vidro da janela de seu apartamento era inquebrável, jogou-se contra ela... e não era! Um jovem físico quis provar aos colegas, usando de seus conhecimentos, que conseguiria vencê-los na competição de lançamento de cuspe da varanda de seu apartamento no paralelo oitavo andar e, de fato, o conseguiu, mas só recebeu os devidos cumprimentos no térreo. Tem o caso do rapaz acusado de ter assassinado o colega. Seu advogado, muito habilmente na tentativa de provar que o cliente não o havia assassinado, mas que este morrera vítima de um disparo acidental, realizou uma simulação que, de tão real, provocou outro disparo cuja vítima desta vez seria o próprio advogado. Também um empregado de uma famosa fábrica de chocolates de meu consumo pessoal escorregou num tanque cheinho da massa de cacau, morrendo com direito a cobertura e tudo... e nunca mais tive a certeza de serem apenas castanhas. Tem também o jovem americano comedor de hambúrgueres encontrado morto em sua casa. Detalhe: ele tinha enfiado em sua cabeça uma camisinha. Penso: queria certificar-se de não haver furos nela ou não leu as instruções do manual? Há o estranho caso de um time inteiro de futebol dizimado por um raio durante uma partida na República Democrática – vai ser democrática assim... – do Congo, ou a da stripper Gina Lalapola, na Itália, contratada para sair freneticamente de um bolo de despedida de solteiro. Enquanto os rapazes gritavam “Sai, Gina! Sai, Gina!”, o recheio não vingou, pois a moça morrera asfixiada. A revista “Super Interessante” revela que 10 americanos, em média por ano, morrem esmagados por máquinas de refrigerantes ou salgados, pelo hábito que se tem de balançar as máquinas até retirar os seus produtos de graça. E mais por lá: uma emissora de rádio promoveu concurso de “segura-xixi”, ou seja, ouvintes iam aos estúdios e bebiam litros e litros de água. Ganhava um videogame quem bebesse mais água e não fosse ao banheiro. A candidata a levar o segundo lugar morreu em casa, intoxicada, vomitando água. Enquanto isso, num circo, um romeno, engolidor de fogo, na hora do espetáculo descuidou-se de um arroto e simplesmente explodiu, para alegria da plateia. Bizarro mesmo foi o rapaz de 19 anos que, chegando em casa, sentiu a falta de algumas garrafas de licor de seu bar. Crendo ser arte do vizinho, decidiu vingar-se esfaqueando-se para acusá-lo depois pelo violento roubo. Bem, ele poderia até entender de licor, mas não de anatomia... Rasgou um vaso importante e morreu na hora. E aquele ciclista brasileiro, distraído em seu CD player, a atalhar o caminho pelo aeroporto? Acabou atropelado por um avião bimotor! No Egito, um caso deu pena: o dono de uma galinha ao vê-la cair num poço pulou para salvá-la. Não retornando, mais quatro pessoas, uma a uma, pularam atrás, sendo que nenhuma delas sabia nadar. Daí, só quem escapou mesmo foi a galinha, certamente, traumatizada. Tem o inglês que ateou fogo em si próprio para demonstrar que aquela bebida era inflamável ou aquele rapaz que, em seu primeiro salto de paraquedas, estava tão ansioso em não esquecer a câmera para filmar e postar no facebook, que acabou esquecendo-se de colocar o paraquedas. Essa semana, num café, um amigo até me contou a história de uma senhora que morria de medo de morrer – essa é boa – de câncer. Algum vizinho com mania de médico, todos temos alguns, contou para ela ser a água uma das medidas milagrosas para evitar a doença. A mulher, obcecada, não podia nem ver torneira, passou a beber água feito uma louca. Resultado: escapou de morrer de câncer, pois morreu mesmo foi de “afogamento interno”.

A morte se parece menos terrível quando se está cansado, como dizia Beauvoir. Não há o que temer, apenas a lamentar, quando a vida é breve ou a produção pequena. Resta-nos à despedida, o alívio do golpe certeiro, da cabeça descer leve na cesta, sem remorsos nem arrependimentos a nos acompanhar na eternidade do derradeiro sono. Vai-se hoje, encontra-se amanhã. O mundo é redondo e a alma descansa mesmo é sobre os nossos ombros...

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Programação especial de Férias para a criançada na Livraria Cultura (26 de julho)

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Programação especial de Férias para a criançada!
Música, animação, contação de histórias e leitura na Livraria Cultura

As Edições Demócrito Rocha convidam para o lançamento-show de Um Narizinho no Fundo do Mar
de Flávio Stambowsky Nogueira, com ilustrações de Lyse Bourns.

“Loulinha era uma menina feliz. Adorava ir à praia com seu pai, onde era conhecida por
todos, até pelos peixes... imagine! Um dia, por brincadeira, um garoto cisma de tomar-lhe o
nariz, orgulho de seu querido pai, e o lança ao fundo do mar. “Onde está, onde está o meu
narizinho?” Sim, onde está? Ora, só tem um jeito de saber: prenda a respiração e leia
Um narizinho no fundo do mar... Glub! Glub!”

Data e horário: 26 de julho (sexta-feira), às 19h, na Livraria Cultura 
(Shopping Varanda Mall, Av. Dom Luís, 1010 - contato: (85) 4004.0800)
Atração: apresentação musical da banda do autor (com músicas de temática infantil)
e contação de histórias com a Cia. Bilu Bila.

 Imperdível!

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Coisas Engraçadas de Não se Rir XXVI: A Revolta do Centavo, crônica de Raymundo Netto para O POVO (03.07)


Nunca antes na história deste Brasil, quem sabe do mundo, uma manifestação assim. Parafraseando o Chico, andavam, não como corpos, mas sentimentos, explodindo aqui e acolá perante a despreparada pátria armada: salve, salve-se! O movimento tem pé – uma ruma deles –, mas não “cabeça”, e eles protestam. “Qual o motivo?”, alguém pergunta. “Isso, aquilo, aquilo outro...” Parece até que não sabem: são TODOS e VÁRIOS os motivos. Dói em qualquer canto, fica difícil apontar. Eles, os motivos, são velhos, desde trasanteontem, mas não caducos.
Os partidos – não conheço nenhum que não traga em seus quadros pelo menos uma reserva randômica de mau-caratismo – tentam adotar a criança, pois é gorda e vota. Porém, ela os rejeita, rasga as suas bandeiras enjoadas de TV, tapa os ouvidos às palavras de ordem doutros tempos que não mais têm significados ou que perderam seu eco no pó de tanta promessa congelada.
Nos ônibus, é como se todos se conhecessem. Qualquer um é “ser-manifestante”. Discutem, pensam diferente, é fato, entretanto, de uma forma ou de outra o que dizem é: “não é ISSO que eu quero. Basta (ou algo parecido), está tudo muito errado!”
Como sempre, em ambos os lados da linha de frente: oportunistas, bandidos, desmiolados, babacas infiltrados e covardes aproveitam-se do muito de gente para desrecalcar, pichar, quebrar, saquear, bater, gastar munição – até com prazo de validade vencido. Acho ridículas as análises diárias sobre o conceito de vandalismo, como se fora possível tomá-lo apenas para um lado ou outro de tal linha.
Mas “O gigante acordou!”, é o que gritam as cartolinas. “Brasil sem corrupção, a catástrofe social!”, “+ Pão – Circo!”, dentre tantas outras.
Os nossos políticos, é certo, erraram. Confortáveis e seguros de escaparem de tantas séries de abusos globais, desdenhavam e criticavam a manifestação, mas agora que tiveram que recebê-la em seus anais, discursam fervorosos a favor dos protestos, procurando, para não perder o hábito, uma forma de tomar proveito da situação. Eles temem, estão inseguros, sofrem junto – mas bem longe – com as gentes nas ruas: “Errei, confesso, mas quem nunca errou que atire a primeira pedra!” E eles atiram!
Outros, ao contrário, mostram suas garras ainda mais afiadas e se revelam, repetindo a mesma violência exposta em seus programinhas sanguinolentos de TV. Destes, queremos guardar bem as palavras... Representantes de si e de suas panelas partidas, filhos de uma democracia mouca e sanguessuga, que se diz representativa quando está mais para “espetaculosa”, que nada deve ao anônimo eleitor, e que aprende rapidinho, juntamente com a chegada das chaves do novo automóvel e da residência de cobertura, a andar de mãos dadas com o egoísta e insaciável capital, que rebola esmolas e prova a sua incompetência na elaboração de cotas e bolsas assistencialistas, sem a menor intenção de ousar e ir ao fundo do poço, raspar o lodo da deseducação, base do crescimento tosco de nossa sociedade emergente, que promete mundos e fundos (os nossos) em apoios e empréstimos a outros países, enquanto em seu quintal as árvores estão a ponto de cair com um vento ligeiro de um be-erre-o-bró.
Um governo incapaz de garantir a chegada de recursos a quem precisa, que não consegue calar a voz melodiosa da corrupção, que desprestigia a existência humana em favor da máquina fa(e)bril dos interesses mesquinhos do poder e phoder.
Não importa qual a bandeira, todas são justas e precisam mesmo ter a sua vez: Educação, saúde, transporte público, segurança, justiça, infraestrutura, mobilidade urbana, direitos humanos, reforma (que não seja remendo) política, enfim, são tantos e inumeráveis os seus PECados que a dúvida foi plantada, e a ela o parlamentar não é nem poderia ser imune.
Os políticos se alvoroçam, se coçam, se calam, ou emergem de repente como “monstros da lagoa” para ludibriar o povo com esperanças quatorzes de um velho candidato cheirando a leite e com queixo grande de predador e carnavalesco tucano, forjando um passado glorioso de mentirinha.

Ah, como eu espero e desejo que tal “gigante” tenha mesmo acordado – embora não goste da sentença – e que não seja apenas mais uma vez que ele tenha apenas se levantado para fazer aquele xixizinho...

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Lançamento de "O Afinador de Palavras", de Horácio Dídimo, e "Espelho Meu", de Vicente Vieira, dia 25 de julho no Ideal Clube

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Lançamento do Livro "Dolores Feitosa: resiliente como a caatinga", 19 de julho, no Ideal Clube


Em 2005, Dolores Feitosa passou a rabiscar alguns textos no intuito de publicar um livro de memórias. No entanto, o projeto não se concretizou por falta de tempo. Há dois anos, a jornalista e escritora Luiza Helena Amorim aceitou o desafio de reconstruir essa rica trajetória que resultou no livro "Dolores Feitosa – Resiliente como a caatinga". No próximo dia 19 de julho, o público terá acesso a essas histórias, nesta obra que foi publicada através do II Edital Mecenas do Ceará- Secult com o apoio da Coelce.  
No auge de seus 89 anos, Dolores Feitosa continua ativa dando sua contribuição cidadã, seja por meio de atividades ligadas à educação patrimonial, cultura, ecologia, seja pela paleontologia através da Fundação Bernardo Feitosa no Museu Regional dos Inhamuns. Sua atuação está além das paredes do Museu, pois viaja com frequência para participar de seminários, encontros e conferências nacionais, levantando bandeiras importantes como a defesa da cultura popular, da justiça social, do semiárido , do bioma caatinga e do turismo científico na Região dos Inhamuns.
A história de Dolores Feitosa começa em Sobral e chega a Tauá, onde a ambientalista e o marido, Joaquim Feitosa, criaram a Fundação Bernardo Feitosa, que está em atividade há 21 anos. Em Fortaleza, o casal foi um dos pioneiros no movimento ambiental cearense. "A principal causa de Dolores Feitosa sempre foi o social, por isso não consigo rotulá-la. Vemos a atuação dela, por exemplo, defendendo os direitos da população se manifestar nas ruas contra a Ditadura Militar, depois se aprofundando nas questões ambientais como a implantação do Parque Adahil Barreto", explica Luiza Helena Amorim.
Em uma passagem do livro é narrada a história de quando Dolores Feitosa e outros cidadãos bloquearam um trecho da Rodovia BR-020, em Tauá, para protestar contra às más condições da estrada. E, mesmo diante de tantas demandas, Dolores Feitosa sempre  se mostrou uma mãe, avó e bisavó atenciosa. Soube ocupar papéis importantes dentro e fora de casa. Para a jornalista e historiadora Isabel Lustosa, que assina o prefácio da obra, "O patrimônio histórico, natural e arqueológico do sertão cearense deve muito à ação que Dolores Feitosa empreendeu e continua empreendendo, mesmo com quase 90 anos". O livro é um passeio pela história do Ceará e do Brasil, através também da coletânea de artigos, discursos e poemas inéditos de Dolores Feitosa. Aos leitores fica o convite para reflexão e ação em prol de um mundo mais justo social, econômico e ambiental.
 Serviço
Lançamento do Livro "Dolores Feitosa: resiliente como a caatinga"
Ideal Clube
19 de julho às 19h30

Lançamento de "Um Olhar de Criança", da Profa. Vera Moraes, na sexta, 19 de julho!

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Coisas Engraçadas de Não se Rir XXVII: A Odisseia Masculina, crônica de Raymundo Netto para O POVO (17.7)


A esposa pergunta para o marido se ele prefere uma mulher muito bonita a uma muito inteligente. Ele, na ingênua sinceridade masculina, responde que nem uma nem outra, pois que ama tão somente a companheira. Nesta noite, mesmo sem entender o que mal disse, foi dormir, sem direito à janta, no sofá.
O homem é um abestado, e defende atavicamente o direito de sê-lo. Desde os paradisíacos tempos, quando o Senhor curtia o latifúndio, a caminhar ao vento brando do meio-dia, Eva, fruto de uma, dentre as 24, das costelas masculinas – antevisão bíblica da balança desfavorável feminina em tempos heteroafetivos –, já exigia de um Adão despreparado para causas matrimoniais: ou come ou desce! Ele fez os dois. Comeu a maça da noiva e desceu direto da Quinta da Boa Vista para o Complexo do Alemão.
Não se sabe, dentre tais costelas, qual originou a mulher: se das 14 “verdadeiras”, das 4 “flutuantes” ou das 6 “falsas”. Não há registro dessa classificação na época, nem tampouco se o Grande Engenheiro, e não médico, tinha, assim, qualquer noção anatômica ou experiência para empreender uma costelectomia exitosa – a tecnologia divina, sempre mais parecida, nos primeiros tempos, com bruxaria, deixa em nossos ímpios corações uma centelha de dúvida –, mas de uma coisa acordamos: Deus tem todo o tempo do universo, pressa nenhuma, e paciência de sobra.
A intrigante, a serpente kundalini, continuou a residir no idílio, só que agora tinha que arrastar-se por sobre seu ventre e reencarnar-se como vizinha, cunhada, amiga do peito e/ou colega de trabalho a se vingar dos filhos varões de Adão por toda a eternidade, usando, para tal, dos ouvidos receptivos da companheira insegura de si e de seu par, sempre crendo que merecia coisa melhor, coisa esta que homem nenhum do mundo um dia será.
A impossibilidade masculina de satisfazer as suas mulheres só é disfarçada pela truculência de alguns de seus representantes e, às vezes, das algemas sociais e financeiras, braceletes de luxo de algumas eleitas. Salvo esses casos, resta ao homem sábio apenas servi-las, atendê-las, acarinhá-las, amá-las sempre que puder e até desistir delas – há quem diga maior prova deste amor – quando perceber-lhes a frequência de dores de cabeça, a pele fria, a fala pouca – ou normalmente exaltada – e, principalmente, quando do cerrar das portas do mesmo olhar que, ao fuzilar, apaixona!