Airton Monte (1949-2012),
nascido “numa madrugada de temporal, entre raios e trovões, com o cordão
umbilical enlaçando o pescoço feito a corda de uma forca”, razão pela qual
deram-lhe o nome de Antônio “para que não corresse o risco de morrer afogado”,
era, em suas próprias palavras, “um animal notívago, com alma de vira-latas,
coração de velho gato de beira de telhado” ou mesmo “uma espécie de Peter Pan
que não transformou-se em capitão Gancho quando cresceu.” Na sua natural
vocação de bípede, sonhador incorrigível, caçador de discos voadores à noite
escura, que “escrevia como se trocasse sopapos com a linguagem numa briga de
rua”, e ciente de que “quem escreve só para agradar a crítica e ao público
comete a mais covarde forma de suicídio literário”, havia na alma desse
escrevinhador “uma doce nostalgia, além da compreensão de que a sua vida estava
impressa em papel de jornal” e também a de que ele próprio era “um homem feito
de papel e tinta fragílimos, que resistem ao passar do tempo, dando uma
sensação de tênue imortalidade”. Cria: “qualquer dia podemos renascer pelas
mãos de quem se lembre que algum dia existimos.”
Em seu exercício,
postado à fiel Olivetti,
rascunhando o caderno-presente da primamada Sônia, ou mesmo em blocos de
receituário, defendia: o bom cronista tinha “que saber emocionar, dosar porrada
com afeto, crueza da realidade com poesia do cotidiano. Ter opinião própria,
escrever o que realmente sente e pensa. Ser de uma sinceridade suicida. Diante
do leitor, o cronista deveria se sentir um pouco, a exagero da metáfora, como
uma mulher na primeira consulta com o ginecologista.”
Com A Primeira Esquina, as EDR e
o jornal O POVO prestam uma legítima e merecida
homenagem a esse grande artista, um dos maiores representantes da crônica
brasileira, hoje repousando ao lado da velha ponte, aquela que traz o sol entre
as pernas. Airton, que iluminou as páginas da histórica folha e o sorriso de
seus leitores durante todos os dias de anos a fio, tem agora mais esta seleção
de crônicas entronizadas em altar de LIVRO. Fica a dica do autor: “A primeira
esquina a gente nunca esquece.”
Raymundo Netto
SERVIÇO
Lançamento de A
Primeira Esquina, de Airton Monte
Apresentação: Urico Gadelha e Demitri Túlio
Quando: dia
16 de maio (sábado), a partir das 17h
Local: Espaço
O POVO de Cultura & Arte (av. Aguanambi, 282 - anexo à sede do jornal O
POVO)
Em seguida, às 19h: show de Isaac Cândido e Marcus
Dias "Algo Sobre a Distância e o Tempo"
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