Há quase dois meses escrevi um texto no qual anunciava que o município de Pacatuba estaria
de LUTO pela inadmissível e inconformável situação de RUÍNAS que então nos
apresentava.
Cantada em verso e em prosa por muitos dos grandes escritores
cearenses, a “cidade queridinha”, antes reconhecida pela existência e
permanência de seus casarões, sobrados e casarios que resistiram durante anos,
vem perdendo pouco a pouco o seu maior tesouro e maior atrativo: o seu
patrimônio histórico e arquitetônico.
Em apenas três anos, dois casarões foram demolidos.
Um deles, o maior de todos, o de Mariana Cabral, que conferia um charme todo
especial à praça onde, diante dele, se encena a Paixão de Cristo, completando
assim outra via-crúcis.
Agora, após um extenso período de abandono e sem
nenhuma ação preventiva de preservação, o sobrado, um dos dois que pertenceu ao
capitão Henrique Gonçalves da Justa e que compõe há séculos um majestoso
conjunto arquitetônico no centro de Pacatuba e que deveria ser para o povo
pacatubano o símbolo da própria origem e orgulho da cidade, está prestes a ser
demolido. E isso ainda não se deu devido à intervenção do Conselho de
Arquitetura e Urbanismo do Ceará e do Núcleo de Apoio Técnico do Ministério
Público do Ceará que requer, agora, a declaração de Patrimônio Histórico para o
sobrado. Contudo, passado esse tempo desde o acontecido, durante o qual a
administração da cidade chegou a passar pelas grades da lei por outros motivos,
nada mudou e a tônica da demolição assombra novamente esse legado desprotegido.
Henrique Gonçalves da Justa foi o primeiro
presidente da Câmara (ou seja, na época, o prefeito da cidade), também o
primeiro arruador e grande benfeitor de Pacatuba, que empresta o seu nome,
ainda hoje, à sua principal praça, que hoje assiste à tragédia causada não
pelas águas da chuva, mas pela desmemória, pela ausência de legislação e de políticas
públicas eficientes nesse campo e, pior, pela falta de vontade política e do
clamor popular por longos e imperdíveis anos. Dói-me supor que a população não
sofra e não se envergonhe com isso.
Além da sequência de prédios demolidos nos últimos
anos, percebo, toda vez que volto a Pacatuba, mais casas descaracterizadas, sem
nenhum incentivo de manutenção dessas fachadas. Este belíssimo sobrado, percebia,
indiferente à sua importância, estava cada vez mais deteriorado, mesmo quando
ainda ostenta na triste sacada de ferro as iniciais altivas de seu saudoso
proprietário: “H. G. J.”.
Em sua História da Seca, Rodolfo
Teófilo, protegido e grande amigo do capitão Henrique, escreve que no dia de
sua morte “a florescente Vila de Pacatuba cobria-se de luto e pranteava a morte
do seu benfeitor, o capitão Henrique Gonçalves da Justa. A fatalidade pesava
IMPLACÁVEL sobre a família cearense. Henrique Justa [...] dedicou-se, desde os
verdes anos [...] a trabalhar pelo engrandecimento e prosperidade de Pacatuba,
então pequena e acanhada povoação. Empregou grande parte dos seus capitais em
construir casas, aformoseando assim a futura vila, influiu para a regularidade
dos serviços públicos, animou a instrução, desenvolveu mais a indústria,
deu-lhe todos os elementos de prosperidade. Progredindo assim a Pacatuba, e já
ligada à capital por uma linha férrea, foi elevada à vila, de cuja Câmara
Municipal foi ele o primeiro presidente.”
E, então, nos chega essa fatalidade: a sua
residência, supostamente também a primeira sede da farmácia de Rodolfo Teófilo,
líder do movimento abolicionista em Pacatuba, a ponto de desmoronar. Não fosse
o Ministério Público, a Defesa Civil da cidade não se incomodou de
precipitadamente determinar a sua execução. A Prefeitura e a Câmara Municipal também
não cumpriram o seu papel. Mesmo provocada, a Secretaria da Cultura do Estado,
por meio de seu Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural, também
silencia, assim como o Iphan e a Assembleia Legislativa.
Perdemos, aos poucos, o doente, sem os devidos
socorros, sem a atenção merecida. Pergunto: é isso mesmo? Vamos ter que engolir
mais esse descaso com o nosso Patrimônio? Ainda há tempo de mudar o final dessa
história.
imagino você, ao escrever, tomado por reais sentimentos de inconformismo por esse está de coisas. comentários comuns de que o cearense não preserva seu patrimônio.
ResponderExcluirParte do prédio já foi demolido.
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