“A Aratanha, em Pacatuba, chegaria aos
nossos dias com sua mesma fisionomia de ontem, a de antigos sobrados que vão
diminuindo sob a erosão do tempo, e casario modesto em que vivem os seus
moradores, guardiães da natureza perseverante com sua vestimenta secular.” (Eduardo Campos, em Pouso da Águia, 2000)
E falando em Eduardo
Campos, eu não poderia deixar
de enaltecer a surpresa que tive, regressando a Pacatuba há poucos meses, ao conhecer
o inspirador projeto realizado pelo Instituto que leva o seu nome, por meio do
seu filho, Eduardo Augusto Cortez Campos. O “Sobrado da Abolição”, denominação
conferida a um dos dois imponentes sobrados à frente da praça principal, hoje é
sede de valiosa atuação de “preservação do patrimônio cultural material e do
fomento de linguagens artísticas cênicas, musicais e visuais”.
Você pode
estar se perguntando o porquê dessa denominação do sobrado. Naquele imóvel, em
2 de fevereiro de 1883, diversas personalidades – abolicionistas – de
Fortaleza, de Pacatuba e do entorno estiveram presentes na solenidade de
emancipação dos escravizados da região, sob a liderança do farmacêutico e escritor
Rodolfo Teófilo (o “Marcos SERRANO” da Padaria Espiritual, primo de Juvenal
Galeno), que viveu na cidade e ali teve uma farmácia – segundo Manoel Albano
Amora, no prédio vizinho, o “ sobradão encarnado”, também de Henrique Gonçalves
da Justa, considerado por Rodolfo o seu “melhor amigo” – antes de fixar-se em
Fortaleza.
Rodolfo,
que teve o seu retrato heroicamente carregado à frente da grande procissão, contou
com apoio de diversas associações do gênero, inclusive da recém-fundada Sociedade
Libertadora Pacatubana. O evento mobilizou toda a cidade, enfeitada com arcos
de palmeiras, bandeiras e flâmulas, ao som da banda de música do 15º Batalhão
de Infantaria e de estouros pirotécnicos, anunciando ser Pacatuba a primeira
comarca livre do Império. A esposa de Rodolfo, Raimundinha Cabral, cunhada de
Galeno, era uma das diretoras da Sociedade das Cearenses Libertadoras,
presidida por Maria Tomásia, que também estava presente e foi a autora do
discurso que abriu a sessão.
Na última
vez em que estive em Pacatuba, aquele magnífico sobrado de dois pavimentos
estava fechado, abandonado. Apesar da beleza arquitetônica e toda a história
contida nele, nós sabemos o que o futuro reserva a esse abandono: tratores!
Porém, desta vez foi diferente, o sobrado estava lindo, limpo, restaurado,
amado e vivo!
Com apoio
do Rotary e da Prefeitura de Pacatuba, entre outros, o Instituto transformou o
sobrado no centro difusor da arte e da cultura no município, através de ações
de educação patrimonial, incentivo à leitura (o projeto “Bibliotecas
Conectadas” é original), inclusão e acessibilidade, economia solidária, programação/mediação
artística e cultural, exposições, cursos/oficinas, concertos, formação de
acervo de registro e memória, visitas guiadas etc., acolhendo um público anual
de cerca de 50 mil pessoas – entre elas, alunos das escolas públicas
municipais.
Eu de já me
convido a ser parceiro contribuinte desse grandioso projeto. Creio que o Centro
Cultural Eduardo Campos – como também é conhecido o Sobrado – merece uma grande
campanha formal de doadores permanentes que assegurem e fomentem essas ações,
que visitem o local nas suas programações, que contribuam com a sua arte – no
caso de artistas parceiros – na formação de uma nova geração de artistas que já
pontuam por lá, em sorrisos ainda esperançosos de um futuro melhor, com a ABOLIÇÃO
dos males que impedem que nos tornemos uma sociedade livre, justa e solidária,
sem pobreza, preconceitos, discriminações e desigualdades sociais.
O Sobrado
da Abolição, sobretudo, é um símbolo de transformação: os sonhos são possíveis
e eles não morrem. No palco da imortalidade, Eduardo Campos abre as cortinas!
PS: ao chegar ao Sobrado, ainda besta com aquela fortuita surpresa, fomos muito bem recebidos e participamos de uma visita guiada pela Juliana Ferreira Pinto e Cristina Vasconcelos, não apenas coordenadoras do projeto, mas visivelmente apaixonadas pelo que fazem, mais uma razão pela qual o sucesso do projeto e a atratividade e acolhimento pelo público é tão grande. Não deixem de conhecer o Sobrado da Abolição, de Pacatuba, pelos endereços a seguir. E curtam mais algumas fotos:
@sobradopacatuba
www.facebook.com/sobradopacatuba
www.youtube.com/channel/UCg3BlcIkvQc6ECDXSo1Eutg
mapacultural.secult.ce.gov.br/espaco/1020/
Quarta e última parte de um escrito de grande valor histórico e afetivo sobre lugares,equipamentos e personagens caros à nossa história e cultura cearense. Parabéns e, como cearense e historiador que sou, muito obrigado.
ResponderExcluirVocê é uma das minhas inspirações, amigo Tião Ponte, então, parabéns para nós. rsrs Abração.
ExcluirGostei muito em saber sobre personagens mais conhecidos da nossa cidade, porem sinto falta da citação de pessoas que não deixam de ser importantes na história da cidade por exemplo:Família de Dona Etelvira Viera Cunha e seu avô o Barão de Aquiraz, cuja propriedade ainda hoje ocupada pela família e parte transformada numa RPPN-Reserva Particular do Patrimônio Natural,nossa contribuição para preservação de tão bonita serra que compõe a paisagem da cidade que nos permite uma vez por ano,admirar a bela floração dos Ipês amarelo Arvore Símbolo do Brasil
ResponderExcluirNão conheço, ainda, essas personagens. De qualquer forma, o espaço, mesmo dividido em 4 textos, não foi possível escrever sobre várias pessoas. Um dia eu consigo. No dia que eu voltar a Pacatuba, gostaria de saber. Abraços
ExcluirMoro em Fortaleza desde 2011. Ainda não conheço Pacatuba. Mas esses retratos trazidos Raymundo despertaram uma vontade danada de conhecer esses lugares.
ResponderExcluirObrigado!
Vale a pena. E é, como dizem, "bem aí"... rsrs Que bom que essa leitura o provocou a conhecer a cidade. Abs
ExcluirAcompanhei todas as partes do texto. excelente.
ResponderExcluirMuito grato pela "fidelidade". rsrsrs Grande abraço.
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