domingo, 7 de novembro de 2021

"O Sobrado da Abolição - Parte III", de Raymundo Netto para O POVO


Antiga estação de Pacatuba


Juvenal Galeno é, sem dúvida, a maior glória literária de Pacatuba, mas não é o único. Manoel Albano Amora, seu “Cidadão Honorário”, em Pacatuba: geografia sentimental (Ed. Henriqueta Galeno, 1972), apresenta uma extensa relação de personagens de áreas distintas cujo berço é a cidade serrana-sertaneja. No que se refere à literatura, José Valdivino de Carvalho (ensaísta, poeta, cronista), Miriam Benevides Pamplona (poeta e cronista), Genuíno de Castro e Silva (poeta), Raimundo Amora Maciel (romancista, poeta e cronista), José Lino da Justa (ensaísta), entre outros que nos deteremos a seguir.


Casario em processo de descaracterização

A obra Pacatuba: antologia do Centenário (Ioce, 1969) traz, além da poesia e da prosa de pacatubanos “de raiz”, as de pacatubanos “de coração”, confirmando seu tradicional poder de encanto e sedução. Então, ali, encontramos Álvaro Martins, Rodolfo Teófilo, Otacílio de Azevedo, Antônio Girão Barroso, Waldery Uchôa, João Clímaco Bezerra e, entre outros, João Jacques, cronista do O POVO, irmão de Paulo Sarasate e filho do maestro Henrique Jorge. Em “Poema do Centenário”, Jacques confessa: “um dia,/ naturalizei-me pacatubano.” Suas lembranças passam por vários aspectos da sua queridinha Pacatuba cotidiana, a princípio, em sua travessia de trem, “fumaçando e apitando”, e na chegada à “estação do velho Fausto Benevides”, a ouvir os insistentes pregões de meninos: “Banana seca e mariola!” – não se esqueceu da famosa goiabada do Coelho e dos tabuleiros de cocada preta e branca. Como outros, para ele, Pacatuba sempre foi “uma escada de trilhos e dormentes.” No poema, descreve costumes e relaciona nomes e tipos da cidade. Entre as lembranças, “o sobrado da Marianinha, cheio de assombrações”, o mesmo que hoje está à venda, preocupando aqueles a entender que, se não houver uma atitude do governo municipal e/ou estadual, poderá, sim, tornar-se mais um “fantasma” na história de seu patrimônio arquitetônico, como aqueles que, inexplicavelmente hoje, assistimos a demolir ou descaracterizar.


O "sobrado da Marianinha" (Mariana Cabral)


Casarão demolido para dar lugar a uma loja.

Outros renomados escritores pacatubanos são:

Carlos Cavalcanti, o “Caio Cid” (1904-1972) do Correio do Ceará e d’O POVO. Também poeta e contista, foi na crônica que encontrou seu maior reconhecimento, atuando no Ceará, assim como no Rio, em breve passagem.

Arthur Eduardo Benevides (1923-2014) concluiu seu primário no Educandário Santa Terezinha, ainda em Pacatuba. Reconhecido, principalmente, como poeta – eleito o 4º “Príncipe dos Poetas Cearenses” –, escreveu em outros gêneros, como contos, ensaios e até, mais tardiamente, literatura infantojuvenil. Membro da Academia Cearense de Letras, foi professor de Literatura Brasileira no curso de Letras da UFC. Atuante em Fortaleza, nunca deixou de exaltar seu torrão natal: “Pacatuba nunca é menos:/Ela em mim é sempre mais.”

Eduardo Campos (1923-2007), o Manuelito Eduardo da rádio PRE-9 – atuou ao lado de Paulo e José Cabral de Araújo, João Ramos, Luzanira Cabral (Stela Maria) e Laura Santos, todos originários de Pacatuba –, foi também contista, cronista, dramaturgo, folclorista, pesquisador e biógrafo, com mais de 70 títulos publicados. Membro da Academia Cearense de Letras e do Instituto do Ceará, é um dos fundadores do Clã, grupo responsável pela consolidação do modernismo no estado, entre tantas outras incansáveis e relevantes ocupações que não caberiam nesse espaço. Por ora, em direção à quarta e última parte do passeio nesse trem de memórias, vamos contemplar a paisagem de ipês amarelos, sacolejando ao som “pa-ca-tu-be-a-bá”, “pa-ca-tu-be-a-bá”...


(Continua em 15 dias)











Antony Fernandes, mais um "pacatubano de coração", é jornalista, historiador, artista plástico e dramaturgo. Foi proprietário do extinto Cine Aratanha de Pacatuba (63-69). É diretor da famosa "Paixão de Cristo" desde 1974. Criou e foi diretor do Museu Histórico da cidade até 2020. Por suas mãos, encontramos parte da Pacatuba construída.




 

12 comentários:

  1. Obrigada por dividir tantos conhecimentos..eu sempre fui apaixonada por está cidade, mesmo sem saber que aí, tinha tantos filhos ilustres.

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    1. Sim, muitos filhos e amigos. Isso não é tão comum e acho que a Pacatuba deve se apropriar dessa qualidade e crescer de uma forma sustentável, inclusive para seu patrimônio e cultura.

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  2. Queria comentar primeiro que a Unknown, mas pelo visto ela acorda ainda(!) mais cedo que eu. Só me resta fazer minhas as palavras dessa misteriosa senhora/senhorita. Acrescento, porém, que por conta do amigo-irmão Severiano, que lá mora e namora o patrimônio (bastante descuidado, ele alerta), também sou pacatubano de coração.

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  3. Depois dessa série de crônicas e fotos, estamos nos tornando pacatubanos de coração. Que se invista na ideia de fazer de Pacatuba a nossa Paraty. Assim teremos também uma Flip. O Festival Letras e Músicas já está alicercando.

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Caro Raymundo Netto, belíssimas são suas crônicas a respeito da minha, da sua, da nossa amada PACATUBA!Como bem expõe em suas entrelinhas que a história não vire "Fantasma", mas sim permaneça viva em nossos corações e mentes! Antony Fernandes é um grande amigo e também mestre desse que comenta! Parabéns por sua iniciativa!

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