segunda-feira, 9 de julho de 2018

"Cadê a banca de revistas que estava aqui?", de Luiza Helena Amorim para O POVO



Todas as pessoas desse mundo, nas suas vidas virtuais ou reais, se acham no direito de ao menos um dia no ano entregar-se a resmungar por algum motivo, ou protestar contra um mau serviço postando uma denúncia nas redes sociais. Pois bem. Hoje é meu dia.
Quero gritar aos quatro ventos: que fim levaram as bancas de revistas de Fortaleza?
Assumo a mea culpa. Sou de uma geração que passou a consumir informações, literatura, entretenimento em plataformas digitais. Foi um processo tão sutil que nem me dei conta que estava ali a acompanhar quase tudo nos sites e redes sociais. O acesso é rápido, prático, barato. Que pecado há nisso? Contudo, fecham as bancas.
Das lembranças mais agradáveis que eu guardo da infância, as bancas situam-se em um lugar de destaque. Será que esse hábito teria influenciado minha escolha em tornar-me jornalista? Talvez, pois me lembro dos primeiros textos publicados nos encartes infantis. Esperava os finais de semana para andar pelas ruas do bairro, passar no armarinho e comprar papéis de carta, como muitas meninas da minha geração faziam. Para em seguida, ir correndo ver as revistas em quadrinhos da Turma da Mônica ou os novos álbuns de figurinhas...
Depois veio a fase das revistas de adolescentes, dos materiais de estudo, das revistas de culinária e por fim as de literatura e jornalismo... Nas bancas comprávamos os jornais para ver as listas de aprovados no vestibular, se não tivéssemos nervos para ouvir pelo rádio ou pelo simples prazer de guardar aquele documento sentimental.
É contraditório, porém, sou entregue às novas plataformas, mas, não totalmente. Tenho o gosto “antigo” de ser feito traça, de ter a leitura como uma experiência sensorial de tocar o papel. Seguindo sempre um ritual: gosto mesmo é de folhear rapidamente, um jornal ou revista e já selecionar os conteúdos de meu interesse, e depois fazer a leitura cuidadosa dos textos. Quando trabalhei em uma editora, era dia de festa quando as revistas chegavam da gráfica, abrir os pacotes e sentir o cheiro de publicação nova... Novos comportamentos de consumo de informações, baixa demanda por jornais e revistas impressos, a crise. Como sobreviver a essa avalanche? Não sei. Só lamento.

Luiza Helena Amorim
luiza.helena.amorim@gmail.com
Jornalista e escritora


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